A noite havia chegado e depois de uma demorada - só da minha parte - despedida, o resto do grupo foi seguir o plano. Daryl estava no comando e isso era algo horrível de aceitar, pelo menos pra mim. Enquanto meu irmão, Rick e os outros tentavam achar a tal comunidade o nosso grupo tinha um único objetivo: ir para um pequeno conjunto de casas que ficava à alguns quilômetros. Caso algo desse errado eles nos encontrariam lá. E agora estava sentada do lado de fora, encarando a escuridão total com minha lanterna e arma enquanto Daryl organizava tudo para partirmos. Carl senta ao meu lado.
⁃ Posso pedir desculpas? - pergunta em um sussurro e me viro pra ele.
⁃ Desculpas pelo que? - me finjo de desentendida.
⁃ Você sabe.
Okay, vou ter que mudar meu jogo.
⁃ Pelo que me disse na estrada? Não se preocupe, já superei. - minto na cara dura e sinto sua mão em meu rosto, me virando para ele.
⁃ Não superou nada, você se importa só finge que não pra dar uma de durona.
Bufo. Eu odiava quando me jogavam as coisas na cara e pior ainda, quando descobriam exatamente o que sentia. Me solto dele e faço minha melhor cara de emburrada.
⁃ Não adianta fazer essa cara. - diz ele.
⁃ O que você quer Carl? Que eu te abrace e digo que te perdoo? Você me machucou. - admito.
⁃ Eu falei coisas pelas quais me arrependo, fiz coisas de que não me orgulho nem um pouco mas, me envolver com você mesmo desse jeito estranho não é uma delas. Você querendo ou não mudou alguma coisa em mim.
⁃ Não fala essas coisas, eu só não estou acostumada com isso... - digo com a voz embargada.
⁃ Acostumada com o quê?
⁃ Com essa coisa de se importar com alguém que não seja minha família, é estranho e me sufoca.
⁃ A mim também.
Me viro pra ele encarando seus olhos azuis indecifráveis, ele se aproxima de mim e seu hálito quente em minhas bochechas me deixava tonta. Olho para suas costas vendo Maggie parada à alguns metros encarando tudo com diversão.
⁃ Pode por favor não, n-não se aproximar? - peço.
⁃ Por que? - sorri ele me desafiando.
⁃ Porque você me deixa perdida, e me faz esquecer do que eu tinha que fazer. Sem contar que Maggie está de olho e pronta para me dedurar. - digo a última parte mais alto.
Ele dá um sorrisinho e continua me encarando, seus olhos azuis estavam impenetráveis. Suspiro, nem com todo o autocontrole do mundo eu ia conseguir ficar longe dele.
⁃ Não queria gostar de você, você é muito complicada. - diz ele.
⁃ Em uma coisa concordamos, ninguém queria gostar de ninguém aqui. - bufo.
⁃ Mas aconteceu, o que vai fazer? - me desafiou ele. O encarei e soltei um gemido.
⁃ Vou fugir de você o máximo que puder.
⁃ Não vai conseguir.
⁃ Eu sei. - digo derrotada. - Então é melhor ficar longe.
⁃ Por que? - diz e dá um sorriso provocativo.
⁃ Não quero me descontrolar.
⁃ Você está com medo de mim? - ele pergunta, a mesma pergunta que fiz a ele na igreja.
⁃ Eu estou com medo do que eu sinto por você. - admiti.
⁃ Não precisa ter medo.
⁃ Sentimento destrói pessoas. - digo.
⁃ Mas... eu gosto de você.
Sorri, isso é algo bom de se ouvir, aquecia meu coração.
⁃ É, eu também.
Entrelaçamos nossos dedos e ele sorriu, com seu cabelo sobre a testa. Eu simplesmente gostava de tudo nele.
⁃ Nina! - grita Maggie. Me viro para ela com cara de tédio. - Chega de namoro, temos que ir.
Me levanto.
⁃ Vamos? - pergunto à Carl lhe estendendo a mão.
Ele assente e a pega.
[...]
Depois da noite agitada de ontem eu finalmente senti meu coração se acalmar. Levanto minha cabeça do ombro de Carl e solto sua mão, indo até a maçaneta da porta. Saio do carro sentindo o sol em meu rosto e Carl sai logo em seguida.
Era incrível o tamanho dos enormes muros que cercavam a comunidade, eles a cercavam em um formato não identificado, vozes eram audíveis mesmo da distância que estava. Encaro os portões, e por um segundo podia jurar que eram os portões do paraíso. Vejo Daryl matar um gambá.
O portão se abre e a luz do sol invade meus olhos. Guardo minha faca. Um homem de cabelos encaracolados abre o portão e todos continuamos ainda parados em nossos lugares.
⁃ Tudo bem, podem entrar. - fala Aaron. Rick assente com a cabeça.
Todo o grupo abaixa as armas e entramos, no lugar que desejava mais que tudo poder chamar de casa. O homem de cabelos encaracolados se pronuncia:
⁃ Antes da gente continuar preciso que entreguem suas armas. - dá uma pausa olhando para nós. - Pra ficar entreguem todas.
Minha vontade era de chama-lo de idiota, mas Rick praticamente fez isso por mim.
⁃ Nós não sabemos se queremos ficar. - Rick olha o homem que aperta mais firme a arma em sua mão.
⁃ Tá tudo bem Nicholas. - Aaron diz.
⁃ Se a gente fosse usar já teria começado. - continua Rick o ignorando.
⁃ Deixem eles falarem com a Deanna antes... - insistiu e Nicholas assentiu.
⁃ Quem é Deanna? - pergunta Abraham tão alto que me fez quase dar um pulo, quase.
⁃ Ela é quem sabe tudo o que vocês querem saber sobre esse lugar. Rick, por que você não começa? - sugeriu Aaron.
Antes que pudesse dar uma resposta ouvimos o barulho de um zumbi e todos nos viramos. Rick lançou um olhar a mim.
⁃ Nina. - diz ele e eu assinto.
Miro minha arma no crânio do zumbi e atiro, acertando em cheio. Minha vontade foi fazer uma dancinha da alegria. Rick se volta pra frente e começa a andar:
⁃ Que bom que estamos aqui. - diz ele enquanto o seguimos.
Aaron nos guiou até o quintal de uma casa - a mais grande de todas - que supus ser da líder. Sentamos todos por lá enquanto Rick e Aaron subiam a escada e desapareciam pela porta. Nicholas continuava nos observando e isso já estava me enchendo.
⁃ Não vamos te matar. - falei olhando pra ele que não relaxou.
Um por um todos foram falar com a tal Deanna. Rick, Carl, Maggie, Daryl, Michonne... Quando chegou a minha vez subi as escadas vendo meu irmão assentir como se dissesse que não devia ter medo. Entrei na casa e fui até uma sala, quando percebi Aaron já tinha ido e eu estava sozinha.
⁃ Deanna Monroe. - ela se apresenta e estende a mão. Não a toco.
⁃ Sente-se. - aponta com a cabeça para a poltrona.
Ela se senta num sofá, e aperta o play de uma câmera.
⁃ Pra que isso? - pergunto me sentando.
⁃ Gostamos de transparência aqui. - ela dá uma pausa e então continua. - Como se chama?
⁃ Nina, Nina Rhee. - respondo.
⁃ Perdeu muitas pessoas Nina?
"Não estou aqui super feliz e mega animada trazendo toda a minha família juntinho de mim, a única que restou inteira." Foi isso o que tive vontade de falar mas, não falei.
⁃ Sim. Perdi meus pais e minha irmã.
⁃ Tem alguém de sua família que esteja vivo?
⁃ Meu irmão, Glenn. - afirmo com a cabeça.
⁃ Hm, o asiático. Não parecem irmãos. - diz desconfiada.
⁃ Somos meio-irmãos. - explico, com certeza a desconfiança dela vem de eu não ter olhos puxados. - Mas essa coisa de meio não existe. Cresci com ele, ele é parte de mim.
Ela sorri.
⁃ Por que quer ficar aqui?
⁃ Nunca disse querer ficar aqui, pra ser sincera me sinto presa. Mas aqui é seguro. Pra mim, pra minha nova família e principalmente para meu irmão.
⁃ Se importa muito com ele certo?
Isso já estava me cansando.
⁃ Sim, eu me importo. Ele foi o único que me sobrou. - respondi dando um longo suspiro no final.
⁃ Como foi viver lá fora?
⁃ Não me sinto como uma garota de 15 anos com preocupações de garotas de 15 anos. Me sinto como uma senhora de 50 que tem que se preocupar em manter a família viva, alimentada e segura. Vocês não passaram por tudo que passei, estão seguros a muito tempo, não tiveram que lutar. Não iriam durar um dia lá fora.
Ela respira fundo e diz:
⁃ Você tem razão, por isso estão aqui. Pessoas são o único método de poder que esse mundo oferece.
⁃ E saber se defender, saber se defender é crucial. - digo já de saco cheio e me levanto, saindo da sala logo em seguida.
Desço as escadas e me sento no chão ao lado de Glenn.
⁃ Como foi lá? - ele me pergunta.
⁃ Um tédio. - bufei.
⁃ Não falou o que não devia não é? - o encarei e dei um sorrisinho.
⁃ Talvez eu tenha falado um pouquinho. - usei os dedos simbolizando o "pouquinho".
⁃ Nina! - me repreendeu.
Ri um pouco e me encostei em seu ombro.
⁃ Também te amo. - falei a ele.
Ele se virou e beijou minha testa. Sorri internamente. Depois de alguns minutos todos já tinham ido até lá em cima e esperávamos - acompanhados de Deanna - alguém que ia recolher nossas armas. Uma mulher gordinha e que usava um óculos aparece. Tinha uma aparência amigável, inocente e muito inofensiva. Acho que até Judith conseguiria se livrar dela.
Começamos a colocar nossas armas no carrinho e enquanto fazíamos isso Deanna falava:
⁃ As armas são suas, podem leva-las sempre que forem lá pra fora mas, aqui dentro guardamos por segurança.
⁃ Segurança! Tá mais pra medo. - falo sem pensar e Carl me dá uma cotovelada na cintura. Lanço um olhar que fingia estar brava pra ele que riu da minha cara.
⁃ Era melhor um contêiner. - falou a gordinha à Carol que riu amigavelmente. É. Isso sim foi estranho.
⁃ Estão livres para explorar a comunidade. Rick, venha comigo. - falou Deanna.
Rick entregou o bebê a Carol e chamou Carl somente com o olhar para lhe acompanhar. Observei os três sumirem de vista. Bom, vamos ver o que esse lugar tem a oferecer.
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