— Sim? — Proferiu Taehyung ao atender o interfone que acabara de tocar. — Ah, certo, já estou indo.
Avisou e, com uma pressa estupenda, correu pelo corredor do apartamento onde residia. Pegou as notas de dinheiro que havia deixado sobre a mesa da cozinha — as quais correspondiam à quantia exata que fora combinada por telefone há cerca de meia hora atrás — e continuou o percurso até a porta de entrada do apartamento.
Abriu a porta e, sem demora, entregou a quantia ao rapaz ali parado. Tomou em mãos o que tanto ansiava provar:
Uma pizza média sabor quatro queijos e calabresa.
Nada poderia estragar sua noite, a qual passaria na companhia da pizza e da televisão.
Ergueu o olhar para fechar a porta. O entregador sorriu interessado para si e por instantes Taehyung se perguntou se havia algo de errado consigo para aquele homem o encarar tanto. Todavia, logo entendeu o motivo.
Fechou a porta em um baque alto e, seguidamente, trancou-a. Escorou-se na madeira da porta com a mão sobre o peito, sentindo os próprios batimentos.
Seu rosto estava fervendo e tinha total e plena certeza de que as maçãs de seu rosto estavam rubras. Céus, ele havia ido receber o entregador usando nada além de uma calcinha e um moletom cor-de-rosa! Constrangedor, sem dúvida.
— A culpa não é minha se me esqueci de vestir uma calça. Ah, e o que tem de errado em eu ter saído para recebê-lo assim? Aish... mas, se bem que... Não... será? Hum — andou pela casa resmungando as palavras de modo embaralhado.
Estava acostumado a ficar sozinho no apartamento desde que o comprara há alguns meses atrás, e já havia se tornado costume pensar em voz alta e resmungar pelos cantos. Não havia ninguém ali para rotulá-lo de louco ou de idiota, de qualquer maneira.
Pôs sua tão amada pizza sobre a mesinha de centro de sua sala — a qual era ocupada por uma latinha de refrigerante, doces e, agora, a pizza — e atirou-se sobre o sofá.
Só então percebeu que não havia pegado o controle remoto, que repousava em uma das prateleiras da estante.
Tornou a ficar de pé e tomou o controle em mãos. Ligou a televisão bem a tempo de ver a vinheta de abertura de sua série favorita.
Ótimo, tudo nos conformes.
Relaxou o corpo sobre o estofado do sofá de cor vinho e atacou os lanches, alternando o olhar entre a tela da TV e as comidas ali dispostas.
Cerca de meia hora mais tarde, quando grande parte da pizza já havia ‘desaparecido’, o interfone soou estridente, irrompendo o silêncio do apartamento.
A série estava no intervalo então aproveitou o tempo ganho pela publicidade para atender o interfone.
— Sim?
— Kim Taehyung, preciso que abra a porta, rápido — a frase fora dita em tom autoritário.
Taehyung reconheceria aquele timbre de voz beligerante em qualquer lugar. A voz pertencia à ninguém menos que seu chefe. ‘O cara que comanda a porra toda’, como gostava de chamar — em seus pensamentos, claro. No dia-a-dia, chamava-o de...
— Namjoon?
— Taehyung, não tenho tempo para conversa, abra esta porta. Seja rápido.
Taehyung agradeceu aos céus por, dessa vez, ter se lembrado de que estava vestido inadequadamente para atender quem quer que fosse.
— Sim, senhor. Eu só vou...
— Taehyung, eles estão chegando, abra! Por favor!
O homem estava praticamente gritando consigo. E, por mais que parecesse impossível aos olhos de Taehyung, conseguira notar uma fina camada de medo envolvendo as palavras.
Que se dane a vestimenta, ele precisava — e gostava — daquele emprego.
Correu até a porta, patinando diversas vezes com suas meias brancas com estampa de bichinhos pelo piso escorregadio. Destrancou a porta e a abriu. Entretanto, assim que o fez, foi empurrado por dois homens que entravam em sua casa com pressa.
A porta tornou a ser trancada por um deles e só então Taehyung teve chance de se recuperar das ações repentinas.
Reconheceu um dos sujeitos como se tratando de Namjoon. Suspirou, aliviado. Ficara levemente apavorado com tudo aquilo; chegara a pensar até mesmo que eram assaltantes. Ver Namjoon ali o acalmou como um entorpecente.
— Boa noite, Taehyung — cumprimentou Namjoon. O profissionalismo de Kim Namjoon era inabalável, já que ele sequer importou-se com as roupas um tanto quanto ousadas de Taehyung. — Desculpe pelo tumulto, mas estávamos sendo perseguidos por espiões da CIA.
— Mas eles não são nossos aliados? — O Kim mais jovem questionou, intrigado.
— Pensamos que sim mas, algumas informações importantes tem vazado do sistema desde que aceitamos a parceria. Parece que, dessa vez, não poderemos contar com ajuda de fora.
Taehyung assentiu, apreensivo.
À primeira vista, Taehyung parecia apenas um jovem-adulto recém-formado da faculdade. Mas, é como dizem, as aparências enganam. O dono das madeixas castanhas trabalhava como investigador de grande prestígio para o FBI. Namjoon, seu chefe e líder de um grande setor de agentes bem treinados fora quem o recrutara.
Taehyung conseguia preencher uma cruzadinha do New York Times em incríveis sete minutos cronometrados. O amante de roupas e acessórios do guarda-roupa feminino possuía sua vaga garantida na escala de jovens prodígio em ascendência do FBI.
Vinte e três anos de puro raciocínio avançado.
— Sinto informar mas, eles conseguiram ter acesso à algumas informações pessoais suas — falou Namjoon com pesar.
Taehyung franziu o cenho.
— Que tipo de informação?
— O tipo que faria você ter de mudar de estado ou talvez até de país. Descobriram sua identidade, sabem quem você é.
— Merda — resmungou Taehyung, deixando a compostura de lado.
— Mas, creio que resolveremos isso bem rápido, não é algo com que tenha de se preocupar. Os agentes das linhas inimigas que sabem das informações vazadas estão sendo caçados por nós e, se tudo fluir de acordo com o plano, estaremos com novas celas preenchidas em breve. Irá levar cerca de três dias para que possamos dar início à tacada final. Até lá, você estará sob a proteção de um de nossos agentes braçais.
Taehyung esforçou-se para não revirar os olhos em desdém, mas não pôde conter um suspiro desanimado.
De acordo com as palavras de Namjoon, teria de aturar uma espécie de guarda-costas indicado pelo FBI por três dias.
Poderia ser uma ideia plausível se os homens treinados para ocupar tal cargo não fossem tão cabeças de vento.
Achava-os um bando de idiotas com corpos bem desenvolvidos. Alguns eram tão malhados, grandões e burros que Taehyung gostava de vê-los parados ao lado de postes na rua e procurar por semelhanças e diferenças entre o objeto e os homens em questão. Bom, os postes não tinham peitoral cabeludo ou axilas clamando por uma depilação.
Sentiu arrepios desagradáveis ao mentalizar a imagem.
Ele não tinha nada contra a profissão que exerciam, de forma alguma, apreciava a coragem dos sujeitos quando infiltrados em um confronto armado, mas... tinham mesmo que ter o corpo tão grande e o cérebro tão pequeno?
— Taehyung — o jovem Kim já estava imaginando algum brutamonte o seguindo para todos os lugares quando Namjoon o chamou. — Este é Jeon Jungkook, seu novo segurança pessoal.
Taehyung estivera tão entretido com a conversa e com os próprios pensamentos — sempre descontrolados — que sequer lembrava-se da presença de mais um homem ali, o qual adentrara seu apartamento junto a Namjoon.
O homem aproximou-se de braços cruzados, com uma postura séria e comportada, e estendeu a mão para cumprimentar Taehyung.
O dono das madeixas castanhas tossiu engasgado com a própria saliva, tamanha fora a surpresa que tivera.
Desculpe o palavreado baixo, mas... porra, mil vezes porra.
Aquele homem de expressão sexy, semblante predador e corpo proporcional às medidas do próprio pecado passaria três dias em sua casa?
Taehyung estendeu a mão e retribuiu o cumprimento. Entreabriu os lábios involuntariamente. O tal de Jungkook tinha mãos macias e uma pegada decidida.
Puta merda.
Taehyung encolheu-se dentro moletom ao soltarem as mãos. Sentira arrepios apenas com a forma como o outro apertara sua mão.
Não que Jungkook fosse gostoso a ponto de derreter alguém com um olhar mas, cá entre nós, a carreira prematura no FBI privara Taehyung de aproveitar o melhor da adolescência e do início da fase adulta. O jovem Kim não tinha uma experiência íntima desde o colegial e, agora, uma via de mão única para seus sonhos mais eróticos estava parado à sua frente.
Namjoon voltou-se para Jungkook na intenção de explicar algumas informações adicionais sobre o cargo que o Jeon estava prestes a ingressar. Taehyung fingiu distrair-se, vagando o olhar de forma desinteressada pelas paredes. No entanto, seus olhos o traíram e ele acabou por direcionar o foco de sua visão para o homem de postura firme em sua sala.
Ah, Jungkook estava, aparentemente, fixado demais às palavras de seu instrutor para perceber seu olhar. Nesse caso, não faria mal algum olhá-lo mais um pouco, certo?
Observou a maneira como os cabelos de um negrume intenso e reluzente — com uma mescla de tons levemente arroxeados — repartiam-se ao meio em uma franja com ondulações sutis.
Os fios ônix contrastavam com a pele clara e lisinha. Sobrancelhas de expressão forte e impactante bem delineadas e olhos de íris escuras como um abismo. Lábios em um tom de pêssego rosado, cheinhos e atraentes. Quando o Jeon falava algo, era possível ver os dois dentinhos frontais destacando-se dos demais; salientes e brancos.
O pescoço era o último pedaço de pele visível antes da farda cobrir todo o restante do corpo.
Taehyung mordeu o lábio; deveria ser bem fácil deixar uma marca em uma pele tão clara.
O peitoral de Jungkook, apesar de coberto pelo uniforme, era largo e carregava um emblema da polícia de Seul, provavelmente um disfarce para que não descobrissem que ele trabalhava, na verdade, para o FBI.
Com um olhar mais minucioso, podia-se notar algumas poucas veias ressaltadas — e incrivelmente pecaminosas para Taehyung, visto que o Kim estava imaginando em que outro lugar daquele corpo ele encontraria belas veias assim — nos braços do rapaz.
Um par de algemas de aço preso à farda na altura da cintura refletia a luz do apartamento e produzia um tilintar baixo quando Jungkook se movia. Taehyung nunca quis tanto ser algemado como naquele instante.
Imaginava-se sendo algemado à cama por aquele homem que exalava um ar dominante; ter Jungkook sobre si abusando de seu pescoço com aqueles dentinhos salientes e percorrendo seu corpo com as mãos de maneira mal-intencionada. O tocando devagar...
Frisou os lábios e balançou a cabeça de leve. Isso lá era coisa para se pensar?
O uniforme surrado de policial não demarcava muito as coxas do Jeon, mas era possível perceber que, de acordo com sua fisionomia, eram belas e fartas.
As botas militares polidas com afinco serviam para complementar o traje. Sexy da cabeça aos pés.
Taehyung enfim ergueu o olhar novamente para o rosto de Jungkook. Seus olhos arregalaram-se ao ver que o moreno também olhava para si.
O sorrisinho ladino que Jungkook lançou em sua direção arrepiou pelos que Taehyung até então nem sabia da existência.
O Kim só então caiu em si e seu rosto tornara-se vermelho como um pimentão, ao lembrar-se de que estava trajando uma calcinha com babados delicados e um moletom cor-de-rosa.
Ah, ótimo! O outro com certeza estava rindo dele e não para ele.
Namjoon se aproximou de si ao terminar a conversa com Jungkook.
— Bom, creio que os agentes dos quais estávamos fugindo já tenham ido — deduziu Namjoon —, o que significa que já posso ir...
— Não! — Taehyung sobressaltou-se.
Jungkook tentou ao máximo manter a postura inabalável e profissional mas, ao notar o nervosismo e a voz levemente trêmula de Taehyung, riu baixo.
E, caralho, aquela voz em forma de risada o deixou com um ar um pouco mais solto; ainda mais atraente, se é que isso era possível.
— Não? — Namjoon franziu o cenho. Só então percebeu o quanto o rapaz estava corado. — Está tudo bem, Taehyung?
— S-Sim, claro — Taehyung praguejou-se por sua voz ter falhado. — É só que, os agentes inimigos podem estar esperando do outro lado da porta — replicou a primeira desculpa que conseguiu pensar.
Na verdade sabia que não haveria agente algum ali. Ninguém seria bobo o bastante para permanecer em frente à um apartamento com um segurança, dois agentes do FBI e um telefone que possibilitava que chamassem reforços.
Taehyung estava com medo de não saber como conviver com aquele homem gostoso e com a mente maliciosa que tinha, tudo debaixo do mesmo teto. Entre as mesmas paredes, que bem poderiam ser as de seu quarto...
Um arrepio de excitação desceu por sua coluna.
Droga, era difícil conter tais pensamentos, anda mais dividindo o mesmo cômodo com quem os causava.
Fora que, era ótimo sentir o efeito daqueles pensamentos em seu corpo. Estava ficando quente debaixo daquele moletom.
Não, não e não! Mas o que diabos estava pensando?
— Agradeço sua preocupação, Taehyung, mas conheço meus rivais e tenho certeza de que eles não iriam manter-se expostos por um período de tempo tão longo. Minhas sinceras desculpas por não ter avisado que viria, fiquei com medo de que grampeassem a ligação. Espero que você possa arrumar o quarto de visitas para Jungkook, ele te acompanhará até resolvermos o problema. Amanhã cedo, mandarei alguém trazer uma mala com as roupas dele — dito isso, o líder aproximou-se da porta, destravou a fechadura e saiu.
Taehyung trancou-a novamente após a saída de Namjoon. Era tarde da noite e deixar a porta aberta com o emprego que tinha não era uma ideia pra lá de inteligente.
Assim que deu as costas para a porta, teve as íris escuras focadas nas suas.
— O quarto de visitas é para cá — falou Taehyung, comemorando internamente por não ter gaguejado.
Ouvia o som emborrachado das botas andando atrás de si. Sua respiração parecia travar em certos momentos, quando o homem com vestes de policial aproximava-se demais.
— É aqui — informou, apontando para o interior de um quarto simples.
— Obrigado — agradeceu Jungkook.
Taehyung podia jurar que sentira uma pitada de diversão na voz levemente rouca que arrepiou seu corpo pela milésima vez.
— A propósito — complementou Jungkook, expondo um sorriso de canto —, bela calcinha.
Taehyung engoliu em seco, sentindo seu corpo imóvel quando Jungkook voltou-se para si. Observou-o dar alguns passos adicionais, chegando tão perto que pôde sentir a farda roçando-se contra o tecido macio de seu moletom.
Via-se frente à frente com o perigo.
Jungkook foi se aproximando devagar. Parte de Taehyung gritava que aquilo era arriscado demais, que Jungkook aparentava ter o dobro de sua força e poderia lhe machucar. Mas, a outra parte... ah, a outra parte estava implorando para que continuasse ali, ou que levasse Jungkook para o quarto consigo.
A respiração quente e ritmada do Jeon se chocou contra a pele de seu pescoço, deixando-a arrepiada de imediato. Sentiu outro arrepio quente descer por sua coluna.
Definitivamente aquele era seu pior pensamento da noite, mas... merda, estava louco para descer a mão e se tocar. Seu corpo estava quente; apenas a imagem que tinha de Jungkook seria o bastante para deixá-lo entretido por uns bons minutos.
— Sabe, Sr. Kim...
— Me chame de Taehyung — pediu em um sussurro, comprimindo os olhos ao que o par de lábios macios do outro desferiu um selar sobre a lateral de seu pescoço.
— Então, Taehyung... — sibilou com malícia, abocanhando um pedaço farto da pele acobreada. Taehyung suspirou em deleite. Céus, aquele homem era tentador e, ao que tudo indica, sabia como criar boas preliminares. — Bela ereção marcada nela também.
Porra.
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