Após aquele dia na praia, onde eu pedi KiHyun em namoro, alguns momentos complicados se seguiram. Não com nós dois, pois desde o primeiro dia de nosso namoro tudo foi perfeito. O problema maior era nossa família, principalmente a de KiHyun. Por isso, assim que começamos a namorar KiHyun quis me apresentar a sua irmã antes de a seus pais.
—Está pensativo hoje, ChangKyun. –MinHyuk passou por mim, enquanto eu montava calmamente o prato de uma cliente. –Algum problema?
—Não, tudo bem.
—Certeza? Você parece preocupado.
—Vou conhecer a irmã do KiHyun hoje. Só estou ansioso.
—Ah sim. Entendi agora. –Riu de mim, dando leves tapas em minhas costas, mas logo se distraiu ao ver HyungWon sair de sua sala com cara de poucos amigos. –Hyunggie anda tão estressado ultimamente. Os pais tem enchido tanto a cabeça dele depois que se mudou. –Suspirou o loiro ao meu lado, apoiado na bancada, enquanto observava o namorado falar ao celular do lado de fora da cafeteria. –Olha como aquela garota está olhando pra ele! Mereço. –Mudou drasticamente de assunto ao notar uma menina de cabelos ruivos jogar charme para cima de HyungWon, fazendo-me rir de si. –Às vezes dá vontade de avisar a elas que ele tem namorado...
—O que foi? –MinHyuk arregalou-me os olhos como se tivesse tido uma ideia maravilhosa e, sem dizer uma palavra se quer, saiu andando rapidamente ao encontro do mais alto que já havia saído do celular e se encontrava adentrando o estabelecimento. Nos segundos que se seguiram, a cafeteria inteira se encheu de pequenos gritinhos animados e murmúrios de todas as meninas.
MinHyuk passou um pouco de HyungWon apenas para pegá-lo desprevenido por trás, encaixando seu rosto no pescoço do moreno e deixando um breve beijo no local, recebendo uma reação inesperada de HyungWon em resposta. O mais alto ficou alguns segundos processando o que havia acontecido, mas logo puxou MinHyuk para um forte e caloroso abraço, que fez todas as meninas do lugar ficarem olhando com cara de idiotas para a cena.
—Elas curtem em shounen-ai, ne?! –BaekHyun comentou ao passar por mim no caminho até a cozinha. –Isso me deu uma ideia. –Não tive a menor noção do que ele poderia estar pensando e apenas levei o pedido até a mesa de minhas clientes.
Aquele dia estava sendo bem agitado, mesmo chuvoso. Era incrível como a cafeteria se mantinha cheia sempre, não importava o clima, e isso de certa forma me alegrava. É bom olhar e ver que as coisas estão sempre em perfeita ordem, com tudo funcionando bem e harmonicamente. Por incrível que pareça, eu não imaginava que algum dia poderia gostar tanto de trabalhar no Butler Café como tenho gostado, e mesmo que tenham se passado apenas sete meses desde que comecei a trabalhar ali, ainda não estava enjoado do que fazia. A companhia dos rapazes era ótima, o ambiente era confortável e a proposta do local era incrível. Claro, depois que você se acostuma e vê que não é algo comparável a uma Hidra*.
Eu estava limpando uma mesa, ao fim do expediente, quando BaekHyun chamou a mim e alguns outros colegas para nos contar alguma coisa, talvez fosse sobre sua ideia de mais cedo.
—Gente, hoje mais cedo quando o MinHyuk e o HyungWon se abraçaram ali no porta, vocês viram como as meninas ficaram, não é?! –Perguntou ele, entusiasmado. Eu já estava vendo onde isso ia dar. –Então eu tive uma ideia! Se elas gostaram daquela pequena demonstração de afeto entre dois anfitriões, imagina o que elas não fariam se tivessem a oportunidade de ser atendida por dois anfitriões ao mesmo tempo, com um diferencial: Os dois anfitriões agiriam de forma que desse a entender que os dois tem alguma coisa. Como um mini show de shounen-ai. Claro que pra quem já é namorado é mais fácil...
—Ta. Você espera que, por exemplo, eu e Jongin sejamos tipo um casal pra fazer a felicidade das mocinhas? –Interrompeu KyungSoo.
—Isso. Cara, a ideia é genial! As meninas vão adorar e vão querer vir ver e chamar as amigas... Pensem só. É uma boa estratégia. –BaekHyun parecia querer colocar aquilo em prática de qualquer forma.
—Bem, é como você ia falando né?! Acaba sendo mais fácil pra quem já é acostumado e faz isso normalmente durante a vida, assim. Mas será que vai todo mundo concordar? KyungSoo já se doeu aqui. –MinHyuk estava cogitando a ideia, mas parecia pensativo e preocupado ao mesmo tempo.
—Ué, faz quem quiser só. Aí quem não fizer fica com menos clientes, haha! –O implicante que existe dentro de BaekHyun deu as caras, no momento em que soltou uma risada na cara de KyungSoo, que nem se mexeu ou abriu a boca para responder, apenas o olhou como quem diz “o que é seu está guardado”.
—BaekHyun está certo. –JooHeon finalmente se pronunciou. –Mas claro que eu tenho a vantagem de trabalhar na recepção e automaticamente não estou convidado pra participar dessa brincadeira de vocês.
—Quem disse que eu não quero participar? Vou precisar de um par, não acha? –Abracei JooHeon por trás e lhe dei alguns beijos no pescoço.
—Que nojo. –MinHyuk começou a separar nós dois, para a felicidade de JooHeon que tentava se esquivar de mim sem sucesso.
—Cinco minutos que eu me atraso e você já parte pra outro? –KiHyun havia entrado na loja fingindo indignação e eu nem tinha reparado, mas isso não fez a brincadeira parar. Continuei agarrando JooHeon até que ele conseguiu se soltar.
—Desculpe, não resisti ao charme dele. –KiHyun estava acostumado a me ver implicando com JooHeon, ele sabia que éramos bons amigos e não passaria disso. Além do mais, KiHyun não era ciumento e entendia perfeitamente meu trabalho, sem se preocupar com nada. Ele confiava em mim bem como eu confiava nele.
—Aí JooHeon, vai querer? Se estiver afim, pode levar. –KiHyun apenas saiu rindo até a mesa onde sempre costumamos nos sentar, deixando um JooHeon resmunguento para trás e alguns amigos risonhos.
—E então, como foi hoje? –Era de lei perguntar isso.
—Meu chefe está determinado a me promover. Vou ser um bibliotecário sênior. –KiHyun me deixou surpreso. Já havia me falado antes que seu chefe queria conversar com ele, mas não sabia do assunto ainda.
—Sério? –Fiquei empolgado por ele, mesmo sabendo que seu sonho não era continuar trabalhando na biblioteca pra sempre.
—Claro que não. Nem sei se esse cargo existe. –Riu de mim, caçoando da minha cara por eu não saber os cargos dentro de uma biblioteca, no entanto era verdade que seria promovido.
Conversamos mais um pouco enquanto ele tomava seu café preferido, e logo que a cafeteria fechou fomos juntos para a casa de sua irmã.
—Nervoso? –Perguntou-me gentilmente, durante a caminhada.
—Um pouco. Afinal, é a primeira pessoa de sua família que eu conheço. –Estávamos passando pelo parque, o mesmo aonde fomos em nosso primeiro encontro, me trazendo ótimas recordações. –Lembra-se daquele dia aqui, não é?! Tem tão pouco tempo, mas parece que foi ontem mesmo. –Parei a caminhada e olhei em seus olhos.
—Claro. –Se aproximou, sustentando nossos olhares. Uma coisa que aprendi depois de começar a namorar KiHyun foi que sou um pouco mais tímido do que ele com certas coisas e momentos. Nesse exato instante, por exemplo, eu automaticamente desviei o olhar. Não é como se eu pensasse antes de fazer isso, é apenas um reflexo que eu tenho tentado lutar contra. –Gosto quando você faz isso, sabia? –KiHyun foi se aproximando mais de mim, ficando tão perto que se eu olhasse para seus olhos não conseguiria ter uma visão clara, o que me obrigou a fecha-los. Passou uma das mãos por meus cabelos, suavemente aproximando nossos lábios e iniciando um beijo calmo, não demorando muito a nos separar novamente. –Não fique nervoso, minha irmã é legal, ok? –Enquanto ainda estávamos próximos KiHyun pegou em minha mão e me puxou de volta para a caminhada, deixando naquele parque apenas mais uma boa lembraça.
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O jantar na casa da irmã de KiHyun foi uma experiência muito interessante. Conhecer alguém de sua família era realmente bom, e KiHye foi muito legal comigo. Desde o momento em que cheguei a sua casa até a hora de me despedir ela foi gentil e acolhedora, disse que também estava ansiosa em me conhecer e que espera que eu e KiHyun fôssemos muito felizes juntos. Disse ainda que eu seria muito bem-vindo a sua casa novamente. Eu só esperava que conhecer os pais de KiHyun não gerasse uma confusão muito grande, mas isso ainda demoraria um pouco a acontecer, creio eu.
No Butler Café, a ideia de BaekHyun foi levada até SiWon que hesitou em aceitar a proposta, mas acabou concordando com tanto que apenas os que se sentissem a vontade fizessem o combinado. No entanto, também deixou claro que não queria que o estabelecimento virasse nenhum tipo de “parada gay”. Que?
—Gente, os únicos aqui que vão poder fazer coisas além de apenas “insinuações” são HyungWon e MinHyuk e SeHun e LuHan. Isso se eles quiserem também, né?! Mas vocês não vão precisar fazer nada de mais... –Explicava BaekHyun a alguns dos amigos mais resistentes a ideia, mesmo no próprio dia marcado para isso. –Já ouviram falar de bromance?
—Ah, agora sim você explicou direito! –Hoseok exclamou assim que conseguiu finalmente entender tudo. –Mas infelizmente eu e HyunWoo não servimos pra isso, vou passar essa tarefa para vocês.
—Tudo bem, não tem problema se não quiserem. –BaekHyun deixou-os para lá, voltando sua atenção para os outros que pareciam indecisos ainda. –Você e ChangKyun já praticamente tem esse tipo de relação, porquê não?
—Tudo bem, eu vou tentar. –JooHeon respondeu, logo seguindo para a recepção, onde ficaria por pouco tempo já que teria trabalho a fazer comigo.
Agimos o tempo todo do mesmo modo que agimos quando estamos implicando um com o outro, e para nossa surpresa estava funcionando. As meninas adoravam ver nós dois interagindo e fingindo que existia algum outro sentimento escondido em nossa amizade. Do mesmo modo, as clientes de MinHyuk estavam adorando ver como ele se comportava na presença do namorado e vice-versa, já BaekHyun estava fazendo de tudo para deixar SeHun sem graça na frente de suas clientes. É claro que não demorou para que a cada segunda-feira do mês fizéssemos algo desse tipo, trabalhando juntos para perceber o que chama a atenção das clientes e colocando em prática nossas ideias.
Era interessante pensar que KiHyun nem ligava para nada disso. Toda vez que me lembrava, agradecia mentalmente aos deuses por me permitirem encontrar alguém tão especial e perfeito como KiHyun, que apenas gostou de mim pelo meu jeito desajeitado e que me entende como ninguém.
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—ChangKyun, pare de ficar só me encarando. Presta atenção no que eu estou dizendo. –KiHyun reclamava, sentado àquela mesma mesa da cafeteria, tomando o mesmo café e com aquela mesma expressão séria que tanto me intrigava.
—Desculpe, eu não consigo parar de admirar o quão perfeito você é pra mim. –Deixei-o sem graça, mas não foi o suficiente pra derreter aquele coração frio que acabara de chegar de um dia exaustivo na biblioteca. –Vamos para a minha casa hoje? Maat deve estar com saudades.
—Só ela mesmo pra você me convidar pra sua casa, viu. –Sorriu fraco, segurando uma de minhas mãos por cima da mesa, acariciando-a durante algum tempo, e então voltou a falar segundos depois. –Eu te amo ChangKyun, e não vou deixar nada atrapalhar isso.
Já fazia um ano que estávamos namorando e havia alguns dias que passamos por uma situação complicada na casa dos pais de KiHyun. Eu finalmente fui até a casa do mais velho, ajudá-lo com coisas da mudança (já que não seria possível ele continuar na casa dos pais depois que eles descobrisse nosso namoro), e foi assim que terminamos a última leva de coisas para a casa nova de KiHyun que o mesmo me chamou a frente de seus pais e anunciou nosso namoro.
A mãe de KiHyun apenas ficou o encarando, como se estivesse em transe, e o pai sentou-se em sua poltrona e pegou a primeira folha de jornal que viu pela mesa.
—Nós não temos nada a ver com isso, você já não mora mais aqui mesmo. Que faça o que quiser, só não conte comigo para te apoiar nisso nem em mais nada. –Disse, ríspido sem ao menos olhar para o filho. A reação de KiHyun foi ficar calado e respirar fundo. Era claro que ele ficava mal com essa falta de consideração, como se os pais não se orgulhassem dele apenas por ele não ser como os dois. Naquele momento, eu pude ver KiHyun chorar. Mas não por fora e sim por dentro.
—Ok. Estou indo. –Respondeu o rapaz de cabeça baixa e expressão nada contente, que me pegou pela mão e saiu da casa sem dizer mais nada.
KiHyun foi forte naquele dia, e desde então ele tem tentado superar aquela frase do pai e o olhar de sua mãe, que diz nunca saírem de sua mente. Ele não havia falado com eles novamente, apenas ficava sabendo de coisas pelo que sua irmã lhe contava, e não pretendia voltar àquela casa tão cedo. Sabia que uma hora ou outra teria de estar lá, mas precisava superar aquele sentimento de rejeição antes e para isso ele contava comigo, com nossos amigos e com sua irmã, que insistia para que ele fosse ao psicólogo pelo menos uma vez a cada duas semanas ao invés de fumar dez cigarros em dias difíceis.
—Eu prometo que vou tentar fazer esse negócio de psicólogo e que vou parar de fumar. –Continuou, me libertando das memórias daquele fatídico dia. –Por nós dois. –Soltou minha mão, olhou em meus olhos e sorriu, daquele jeito sincero e não tão mais raro que eu tanto gostava.
Eu sabia que KiHyun realmente cumpriria sua promessa. Ele odeia mentiras e é determinado até a morte com as coisas que diz que fará, sempre dizendo que "a palavra de um homem é fundamental" e que sempre faria de tudo para cumpri-la. Nunca prometia o que não podia fazer e por isso eu sabia que seu sorriso era sincero, pois refletia sua alma e sua palavra.
E naquele momento, eu percebi que estava disposto a fazer tudo que estivesse a meu alcance por KiHyun, se ele simplesmente estivesse comigo e mantesse aquele lindo sorriso em seu rosto.
—Eu também te amo, KiHyun.
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