História My Time (Imagine Jeon Jungkook) - Parte 100

Acabei me mudando improvisadamente depois de alguns dias para um apartamento pequeno. Jiyong se ofereceu para ajudar, mas ele já tinha feito tanto pela minha causa, que eu apenas disse que não precisava. Eu ainda não tinha começado a procurar um lugar fixo, pois a batalha judicial com a Big Hit tomava todo o meu tempo, e sem um assistente para fazer coisas supérfluas, minha vida se complicava. 

Depois de algumas reuniões com os meus dois advogados, decidi licenciar os master  rights até o final da turnê. Eu fui motivada pelo meu amor ao grupo e especialmente à Jungkook, pois sabia que podiam acabar descontando nele. Porém eles ainda estavam proibidos de gravar para DVDs, lives, ou qualquer outro tipo de comercialização, pois eu ainda não tinha licenciado os sync rights - direitos de sincronização -. Eu provavelmente licenciaria também. Eles estavam cuidando bem de Jungkook, e fora as multas, nada tinha acontecido com ele. Também não estavam me perseguindo e aparentemente tudo estava em paz, tirando na internet. Ninguém tinha se pronunciado sobre mais nada  e isso deixava os fãs cada dia mais angustiados, pois a Big Hit disse que Jungkook não estava namorando, porém nós dois tínhamos sido vistos juntos.

Quando a turnê começou, Kookie e eu nos falávamos bastante nos primeiros dias. Ele mandava mensagens e nos víamos por vídeo chamada. Eu estava tão aliviada com aquilo, que tinha decidido licenciar os direitos de sincronização também. A Big Hit também tinha me pedido para licenciar tudo até o fim do ano. Eu até estava cogitando. Mas depois de uma semana, as coisas começaram a mudar.

A empresa me pressionava a cada segundo e me lembrava sutilmente dos seus contatos e amizades. Ou seja… Eles podiam fazer com que eu nunca mais conseguisse me realocar na indústria da música. 

Além disso, Kookie me mandava cada vez menos mensagens e suas ligações eram raras. Ele me dizia que estava tudo bem e que não via a hora de nos encontrarmos, mas eu continuava achando aquilo esquisito. Perguntei para Namjoon se estava tudo bem e ele disse que estava, e que como o álbum seria produzido por eles, andavam muito ocupados. Por mais agoniada que estivesse, preferi acreditar, mas com o tempo até mesmo Namjoon começou a diminuir a frequência de mensagens e aquilo começou a me preocupar muito. Eu me perguntava se era assim que as coisas funcionavam quando se namorava um idol sem trabalhar com ele. Talvez fosse.

De qualquer forma, Jungkook e eu já tínhamos combinado de nos encontrar em Paris quatro dias antes do encerramento do Mundial do Lol. Eu viajaria para Singapura no dia seguinte, para ver minha família, e iria direto para Paris depois. 

Enquanto os trâmites dos direitos autorais rolavam, eu me perguntava se deveria realmente licenciar os sync rights até o final do ano. Eu não queria prejudicar o grupo, mas a Big Hit não estava colaborando.

E se algo estivesse errado?

Eu estava em um café com Jiyong e estávamos conversando sobre a vida, basicamente sobre o rumo das coisas para nós. Ele também estava no limbo da YG, pois depois do escândalo com Seungri e com Daesung no exército, a empresa não dava bola para ele. Mas ele confessou que se via obrigado a tomar uma decisão sobre sua carreira mais cedo ou mais tarde, e me aconselhou. 

-Eu estou tomando um tempo para mim, para descansar. Estou na indústria desde criança, e por isso está sendo muito bom esse hiatus - Disse, mexendo seu smoothie com o canudo.

- Eu preciso fazer alguma coisa, mas agora não consigo pensar em nada - Suspirei. 

-Eu aposto que a SM adoraria ter você.

-Não depois desse escândalo.

-Vá para a América - Ele bateu de leve em meu braço - Conhece a CL, minha amiga? Pois é, ela foi para lá. J Park também, depois de entrar na lista negra do k-pop.

-Sabe que não vou largar Jungkook - Virei os olhos. Meu celular tocou nesse instante, e vi que era meu advogado - Converso mais com o meu advogado ultimamente do que com Jungkook - Comentei em tom sarcástico, atendendo a ligação - Alô.

-S/n, podemos nos encontrar? É urgente.

-O que houve? - Perguntei, sentindo os músculos do meu corpo se enrijecendo e a ansiedade tomando conta de mim. Pelo tom de voz dele, a urgência não era boa. 

- A Big Hit entrou com um processo para você devolver todo o dinheiro recebido pela tour. Eles alegam que seus royalties não se estendiam para shows ao vivo - Falou em um tom preocupado. 

Não consegui responder nada. Senti as batidas do meu coração ficarem tão fortes que podia ouví-las. Eu era incapaz de acreditar naquilo. O que eles achavam que estavam fazendo? Eles achavam que estavam certos? Que eu concordaria com aquilo?

Eu estava sem palavras. 

-Parece que alguns eventos deles foram cancelados, principalmente no Japão. Eles também alegam que você prejudicou permanentemente a imagem da empresa e por isso os eventos foram cancelados. Olha, sobre os royalties…

-Você já prosseguiu com os sync rights? - Perguntei, tentando controlar meu tom de voz e não demonstrar o quão enfurecida eu estava. Eu estava com tanta raiva que meus olhos lacrimejavam.

-Não os enviei ainda, eu ia hoje até…

-Então os traga. Estou no Cofioca. 

-Tudo bem. Chego em vinte minutos -Ele disse e encerrou a ligação. 

No mesmo instante, disquei o número pessoal de Hitman impacientemente. Nunca desejei tanto poder grudar a garganta de alguém pelo visor de um celular.

-S/n…

-Seu porco filho da mãe, pode ter certeza que não vai conseguir nada de mim!! - Gritei em tom ameaçador, ainda assim tentando controlar o volume da minha voz para não chamar ainda mais a atenção. Se eu fosse colocar todo o ódio que estava sentindo para fora, alguém ia morrer - Pode tentar tirar todo o dinheiro que eu tenho, mas saiba que você nunca mais vai receber um centavo por nada do que é meu! Espere sentado por suas licenças! - Ameacei e desliguei a ligação antes que ele pudesse dizer alguma coisa.

Jiyong me olhou assustado, enquanto tomava seu bubble smoothie.

- S/n, se acalma. O que aconteceu?! - Perguntou. 

Eu fechei os olhos e puxei o ar, tentando me acalmar. Era difícil acreditar que eles queriam tirar ainda mais dinheiro de mim. Parecia que estavam tentando me cercar de todos os lados. 

Abri os olhos, sentindo minha respiração voltando ao normal e olhei preocupada para Jiyong. Na verdade, eu tinha certeza de que eu estava a cara da derrota.

- Eu vou falir.

xxxXxxx

Meus advogados me asseguraram de que a Big Hit não ganharia aquele processo, então eu estava confiante. Em contrapartida, eu rasguei os papéis das licença dos sync rights, e assim que a turnê acabasse, além de não poderem comercializar a tour, eles não poderiam nem ao menos cantar as músicas. Eu ainda estava dividida sobre isso. No fundo, não teria coragem de travá-los totalmente. Uma parte de mim se preocupava com os meninos, porém se a Big Hit achava que, só porque éramos amigos, eu faria todas as vontades dela enquanto assistia toda minha carreira desmoronar, estava enganada.

O tempo na casa da minha família me fez bem. Talvez Kookie tivesse me mudado a ponto de eu ter me tornado condescendente o suficiente para gostar deles. Ou talvez fosse porque eles se importavam tanto com status e dinheiro, que estavam me apoiando com unhas e dentes. Durante os jantares, por exemplo, discutimos por horas sobre os processos e sobre as possibilidades de ganho e perda. Para os meus familiares, aquilo tudo era inconcebível.

Quando saí de Singapura, me sentia mais leve, mas a cada minuto dentro do avião, indo para Paris, parecia uma eternidade. Eu estava muito ansiosa e morrendo de saudades de Kookie. Mal podia esperar para vê-lo, ainda mais porque não estávamos nos falando com muita frequência nos últimos dias, e tinha sido quase um mês sem vê-lo. 

Eu cheguei de manhã em Paris e fui para o hotel. Eu estava tão ansiosa que saí dar uma volta pela cidade, pois não conseguia ficar parada. Mandei mensagem para Jungkook avisando que tinha chegado, junto com uma foto da cidade.

Nós tínhamos combinado de nos encontrar em uma lanchonete, perto da estação de trem naquela tarde. Cheguei adiantada alguns minutos e pedi uma cerveja. Eu abri um jogo no celular e tentei me concentrar nele, mas a cada segundo eu checava as horas, que pareciam se arrastar. O jogo estava muito entediante, e eu olhava para fora da lanchonete mais do que para a tela do celular, na esperança de vê-lo entrando. 

Olhei no meu relógio e eram cinco horas em ponto. Finalmente. Olhei para fora novamente, mas nem sinal de Kookie. Peguei meu celular e mandei mais uma mensagem avisando que já estava na lanchonete, mas vi que nem as mensagens anteriores tinham sido lidas. Senti uma sensação ruim e liguei para ele, mas a ligação foi direto para a caixa postal. Ok, talvez a bateria do seu celular tivesse descarregado, e como estava com pressa, talvez ele não tivesse tido tempo de carregar. É isso. Provavelmente Kookie tinha pegado no sono no voo e esquecido de dar carga no celular.

Pedi mais uma cerveja e esperei, dessa vez sem o jogo. Estava inquieta demais para jogar. As mensagens ainda não tinham sido recebidas. Mesmo assim continuei perguntando onde ele estava, e tentei ligar novamente. Caixa postal. 

Quarenta e cinco minutos já tinham se passado, e ele ainda não tinha dado sinal de vida. Talvez o voo tenha atrasado, com certeza. Mas se ele estava no avião ainda, porque não carregava o celular e me avisava? Será que eu devia me preocupar?

Minhas mãos começaram a suar, por mais frio que estivesse. Senti um nervosismo e uma sensação ruim na boca do estômago, mas tentei manter a calma. Onde Jungkook tinha se metido? Será que ele estava bem? 

Mais uma vez tentei ligar para ele, mas sem sucesso. Engoli em seco e decidi ligar para Namjoon, Talvez ele soubesse de alguma coisa. Mas ele também não me atendeu. Decidi esperar mais um pouco antes de começar a surtar de verdade. 

O voo tinha atrasado. Com certeza era isso.

Depois de duas horas esperando Jungkook - e três garrafas de cerveja - comecei a realmente a pensar que talvez ele não fosse aparecer. Aquele pensamento me doeu tanto que senti os músculos do meu rosto se contraindo em tristeza. Tentei evitar com que as lágrimas se formassem, mas aquela sensação ruim crescia cada vez mais. Ele estava bem? Ele… Tinha… Mudado de ideia…?

Meu celular vibrou e por um segundo coloquei toda minha esperança no toque que indicava uma mensagem. 

Mensagem de Namjoon (via Kakaotalk):

S/n, ele não vai aparecer. Apenas vá embora. :(