História "Não fique bravo" - Solo Leveling - Capítulo Extra IV

Eu voltei para casa, podendo abraçar minha mãe e minha irmã, que choraram feito bebês pela preocupação que as fiz passar.

Talvez parecesse algo besta e bastante infantil para todos, mas eu arredei o sofá, coloquei os colchões na sala, e dormimos nós três ali, amontoados juntos.

Eu podia ver nos olhos da minha mãe que ela sentia que meu pai tinha morrido, e aquilo era tristemente doloroso.

No outro dia, durante a manhã, eu saí na minha rotina da Quest Diária, chegando em casa as duas ainda dormiam, então preparei o café da manhã, deixando tudo organizado e saindo outra vez.

Fui para a casa de Jin-Hoo, podendo ver ele esparramado na cama, além do quinto sono.

Me deitei ao lado do mesmo, que se virou para mim, abrindo os olhos sonolentos.

—Que horas são? – a voz estava rouca e fraca pelo sono

—Quase oito e meia – tirei alguns fios do rosto dele – bom dia, raio de sol – sorri sarcástico

—Vai se foder – escondeu o rosto debaixo das cobertas, resmungando palavrões aleatórios.

—Prefiro foder você – rebati, sendo jogado da cama em seguida 

—Idiota! – me xingou, se sentando na cama e se espreguiçando – como está sua mãe e sua irmã?

—Estão mais calmas por eu estar vivo, elas estavam dormindo quando eu saí – respondi, vendo ele se levantar, pegar uma camiseta gigantesca de cima da cadeira e vestir.

A camisa era tão grande que cobria até metade das coxas. E ele realmente gostava de dormir só de cueca.

—Que bom. Não julgo elas, eu quase morri de susto quando… – ele coçou os olhos, desconfortável – bem, já passou, você está vivo. É a única coisa que importa – entrou no banheiro

Eu segui o mesmo, me encostando no batente da porta, ele primeiro lavou os olhos, e depois começou a escovar os dentes.

—Jin-Hoo, você ficou com muito medo? – perguntei de braços cruzados.

Vi o moreno tirar a escova da boca, e cuspir a pasta de dente, ele olhou para a torneira.

—Eu fiquei apavorado – foi sincero, ele abriu a torneira, em seguida limpou os resquícios de espuma da boca e da escova – eu quase morri de medo, eu pensei que eu tinha te perdido – me encarou, os olhos lacrimejavam, apesar de estarem meio molhados pela recente lavada – a gente tinha brigado, eu sequer tinha visto você depois daquela briga idiota, você sumiu do mapa – ele pegou a toalha e secou o rosto e mãos – e a única merda de fofoca que saia sobre onde você, possivelmente, estava não me agradou nem um pouco – passou por mim, voltando para o quarto

—Ei, não fica assim – me virei para ele, que pegou o celular mais logo jogou dentro de uma gaveta – o que houve? – perguntei, eu não sabia o motivo que fez ele jogar o celular na parede

—O que houve, você pergunta – riu sarcástico – você sumiu do mapa, depois que brigamos porque você acha que eu sou muito fraco para estar aqui – me acusou, não era isso que eu pensava, mas não tinha como mudar a mente desse teimoso – e para piorar, depois de discutirmos você resolveu ter um encontro com Cha Hae-In – revirou os olhos – foi isso o que houve, Sung Jin-Woo – deu as costas para mim, ficando de frente para as janelas 

—Você quebrou seu celular por ciúmes?

—Eu odeio você – me mostrou o dedo do meio, eu ri – é sério. Você foi num encontro com outra, e quando eu vi aquela… Aquela coisa… Fazer aquilo com você – me olhou, os olhos vermelhos por tentar prender o choro – eu pensei que além de ter perdido você, a última coisa que você tinha ouvido de mim era “vai para o inferno” – confessou

—Eu te amo demais, sabia? – andei até ele, pondo uma mão no rosto do mesmo e outra na cintura – quando eu, tecnicamente, morri… Tudo o que eu pensei foi “quando Jin-Hoo chegou aqui?”, eu fiquei com medo também, fiquei com medo do que aconteceria a você, no meio do fogo cruzado – contei, vendo ele me olhar com atenção – eu vi quando o Monarca das Bestas agarrou seu pescoço, eu fiquei com tanta raiva… – puxei o ar, respirando fundo – eu fico com raiva toda vez que lembro, eu nunca consigo proteger você, nunca! – ele ficou nas pontas dos pés e me beijou

—Acho que nós dois ficamos com medo de perdermos um ao outro – me abraçou – eu só quero que você entenda, eu te amo, demais, eu sou um caçador de Rank-D, não sou forte como você, mas eu não sou fraco, Jin-Woo – me olhou nos olhos – o que eu quero dizer é que, mesmo não sendo tão poderoso quanto você, eu não vou fugir dessa guerra, não vou ficar escondido enquanto você corre o risco de morrer – ele sorriu fraco

—Eu sei que você não é fraco, mas eu não quero perder mais ninguém – ele concordou

—E não vai. Eu te amo. – me beijou outra vez.

Ficamos ali por algum tempo. Apenas abraçados um ao outro, sentindo o coração batendo acelerado.

—Então, Jin-Woo… – ele se afastou, andando pelo quarto espaçoso e pegando uma calça de pijama que estava pendurada no trinco da porta.

O porquê de estar lá eu não sabia, mas estava.

—O que foi?

—Você já viu as notícias? – me olhou, meio sem jeito, como uma criança que fez besteira e quer encobrir

—Não, porque? – fiquei desconfiado

—Acho melhor dar uma olhadinha… – me avisou – em minha defesa, eu disse que fiquei com medo de te perder. – ele andou até a escrivaninha, abriu o notebook que, aparentemente, estava apenas com a tela fechada, porque assim que ele abriu, a tela acendeu e ele somente digitou a senha. 

Assim que ele digitou a senha, ele me entregou o notebook, na tela estava um site de fofoca qualquer.

—Meu Deus. – eu ri fraco – eles até esqueceram que tem uma quebra de dungeon amanhã – comentei, ao notar o tanto de comentários e views que a postagem tinha

Era uma notícia sobre a luta de ontem, onde a manchete dizia “o caçador Sung e seu amante secreto — não tão secreto”

E tinha um vídeo de nós nos beijando, parecia ser uma filmagem do alto, o que me faz concluir que tinha sido filmada de um helicóptero.

A batalha de ontem estava sendo transmitida não só nacionalmente como também mundialmente.

E com a batalha sendo gravada, desde o início até a minha morte, também tinha sido gravada o meu despertar — após morrer e encontrar com Ashborn — e isso incluía o beijo que Jin-Hoo me deu.

—Parece que estamos, oficialmente, fora do armário – coloquei o notebook na escrivaninha – fomos assumidos, você tem algum problema com isso? – perguntei calmo, eu não ligava nem um pouco com isso, mas talvez aquilo fosse importante para Jin-Hoo

—Bem, mas ou menos – ele suspirou, eu sentei na cama com paciência, vendo ele andar até mim e se sentar no meu colo, sem malícia – eu estou com medo da reação dos meus pais, sabe? 

—Se quiser conversar com eles, eu vou te apoiar sempre – abracei a cintura do mesmo

—Eu sei, mas eu sei lá, estou aflito com isso – deu de ombros – eu só quero ver até onde isso vai ir – resmungou.

Depois disso nós conversamos sobre coisas banais, ele se arrumou para ir para o escritório e resolver uns problemas.

Em frente ao escritório da Guilda Ah-Jin tinham vários repórteres, aquilo pareceu deixar o menor desconfortável, então as sombras esconderam-nos até estarmos dentro do local.

—Acho que foi a pior besteira ter assumido nosso namoro daquela forma – se jogou no sofá – eu me odeio – resmungou.

Alguns dos secretários da guilda chegaram logo em seguida, vi eles olharem torto para nós dois. 

Os homens disfarçaram, e não falaram nada sobre aquilo, apesar de terem olhado para nós dois na cara de pau. Mas as mulheres acabaram sussurrando sobre, não precisei ouvir os sussurros para notar que falavam de nós.

—A próxima pessoa que disser um “a” sobre o meu relacionamento com o vice-líder da Guilda vai ser expulso dessa guilda e desse estabelecimento, entendido? – fitei todos, os mesmos concordaram rapidamente, amedrontados

—Jesus Cristo.

E assim passou o dia. Longo e cheio de olhares insinuantes.

Jin-Hoo teve que se esconder no meu escritório o dia todo por causa dos olhares. Eu fiquei pouco tempo no escritório, fiz umas saídas, mas retornei assim que Jin-Hoo iria embora.

Mas antes que pudessem ir embora, ninguém mais que Thomas Andre passou pela porta, com um sorriso no rosto.

—Olá. – sorriu, olhando para mim e depois Jin-Hoo

—Olá, o que você deseja? – Jin-Hoo se posicionou ao meu lado, como eu não sabia inglês fluentemente, ele me ajudava a traduzir

—Nada em especial, vice-líder da Guilda Ah-Jin – ele olhou com deboche para o menor – soube sobre o relacionamento de vocês – comentou, Jin-Hoo suspirou, a mulher ao lado de Thomas apenas repetia o que o mesmo dizia em coreano, enquanto o moreno já perdia a paciência e não dizia nada – todos tem intimidade com o próprio vice-líder, mas acho que vocês ficaram mais íntimos que deviam – caçoou – será que eu deveria aderir isso? 

Jin-Hoo ficou indignado com a última fala, encarou o loiro com seriedade e raiva.

—Thomas Andre, vai se foder! – eu encarei o mesmo surpreso. Vendo que até mesmo a tradutora ao lado dele estava surpresa.

—Como é? – deu um passo à frente

—Caçador Andre, eu fui piedoso em deixar você vivo, mas se tocar nele, você não vai viver nem mais um dia – fiquei entre eles, a tradutora repetiu o que eu disse em inglês.

Thomas concordou, dando a ré.

—Língua afiada a sua – Thomas encarou o menor

—É, eu tenho essa mania, já mandei vários caçadores de Rank-S se foder, isso inclui o seu querido Hwang Dong-Suk – sorriu em deboche – Jin-Woo, quero ir para casa, está me dando dor de cabeça isso tudo – comentou e eu sorri concordando

—Bem, se era só isso, estamos de saída, amanhã nos vemos, na quebra de dungeon – segurei a mão do menor e nos teleportei para o apartamento dele.

—Cansado? 

—Exausto. Foi a pior burrada ter te beijado em rede mundial – me abraçou, escondendo o rosto no meu peito

—Não foi, você se acostuma – ri fraco, beijando o topo da cabeça dele

—Você me odeia? – me olhou, de canto

—Impossível te odiar – sorri fraco, vendo ele concordar manhoso

—Você vai dormir aqui ou na sua casa? 

—Acho que posso dormir aqui hoje – ri fraco, pegando o mesmo no colo e indo até a cama.

Jin-Hoo entrelaçou as pernas na minha cintura, e apoiou o rosto no meu ombro.

Assim que deitamos na cama, ele se arrumou de maneira que nós dois ficássemos confortáveis. 

O mesmo começou a desenhar círculos imaginários no meu peito.

—Sabe, eu não me arrependo de ter te beijado em rede mundial, é só que… – suspirou – é tudo tão confuso, e nem todos levam isso na boa, dois homens se relacionando, essas coisas – comentou

—O relacionamento é nosso, não importa o que pensam – conclui, vendo ele sorrir fraco

—Tem razão, mas eu fico meio receoso, e tem a quebra de dungeon amanhã, eu nem sei se vou voltar vivo. Beijar você, mostrar para o mundo que eu te amo, foi como marcar que mesmo se eu não estivesse ali, eu te amaria para sempre – ele confessou

—Você não vai morrer! Não importa o que tenha atrás daquele portal, você não vai morrer. Eu não vou te perder, Jin-Hoo – abracei ele com mais força – não vou. 

Escutei ele suspirar, me abraçando com força também. Ele sussurrou “eu te amo” no meu ouvido, e eu retribui, dando um beijo rápido no mesmo.

Depois daquilo nós só dormimos. Teríamos um longo dia amanhã, e Jin-Hoo sairia inteiro do campo de batalha!