*País do Fogo, 1880*
Quatrocentos anos se passaram desde que Konoha fora quase totalmente destruída pela Raposa. Tudo estava mais moderno, mais vistoso (no sentido antigo, lógico). No entanto, o que continuava a imperar era o mal.
Se os antigos pensavam que Toneri tinha morrido, se enganaram. O maldito continuava vivo, muito vivo, graças à um pacto feito com Karin Uzumaki, uma bruxa vampira imortal que havia sido expulsa do clã anos antes, e que o ressuscitou. Os três maiores clãs ficaram impotentes contra o novo Toneri, que revelou poderes inimagináveis. O clã Uzumaki havia sido quase totalmente exterminado, assim como os Hyuuga e os Uchiha, não sobrando quase ninguém. Os aldeões viviam a mercê do medo, ainda mais agora, por que Toneri se transformara em um vampiro depois de ser ressuscitado, e duas vezes por mês matava uma ou duas pessoas para se alimentar, geralmente viajantes desavisados que penetravam em seus domínios por engano.
À medida que os Uzumaki eram brutalmente assassinados, o clã ficava totalmente sem opções para quem seria o novo Jinchuuriki da Kyuubi, já que os membros do clã eram os únicos com poder o suficiente para sustentar o selo que a mantinha presa. Por isso, a única opção era se casarem com membros de outros clãs para manter a linhagem Uzumaki e também a Kurama selada.
Durante esses quatro séculos os Uzumaki se miscigenaram com vários clãs diferentes até quase serem totalmente extintos. Atualmente, só havia um único membro vivo: Naruto Uzumaki, um garoto de sete anos, loiro e de olhos azuis como safiras, o último Jinchuuriki. Toneri matara seus pais no dia de seu nascimento com intenção de finalmente pegar a Kurama, porém só não conseguiu por causa de Jiraya, seu padrinho, que o protegeu. Infelizmente, o Sábio da Montanha do Sapo desaparecera há muitos anos e ninguém nunca mais soube notícias dele.
Apesar de ser só um menino inocente, Naruto não era bem visto pelos habitantes de Konoha, a quem consideravam um monstro. Os pais não deixavam seus filhos se aproximarem dele, e ninguém queria ser seu amigo. Era um menino triste, solitário, e chorava, se perguntando o por quê de tanto desprezo, sem saber que possuía um demônio dentro de si.
Quando completou seus sete anos, finalmente pôde fazer amigos, mesmo que poucos. Foi nessa época também que conheceu Hinata Hyuuga, a bonitinha e tímida filha do líder de seu clã, além de Sakura Haruno, a quem chamavam de "testa de marquise", e Sasuke Uchiha, que assim como o loirinho, também era o último membro de seu clã.
Os quatro, brincando ou brigando entre si, eram muitos amiguinhos. Claro que, apesar de serem amigos, Naruto e Sasuke tinham uma certa rivalidade entre si. O moreninho era conhecido por ser um prodígio, inteligente e excelente manejador de armas, além de popular entre as meninas por ser bonitinho, coisa que Naruto não era (por enquanto). Sakura, assim como as outras meninas de sua idade, também era louca por ele, exceto Hinata, que só tinha olhos para o loirinho, e o mesmo só tinha olhos pela rosadinha.
Porém, houve um dia em que essa era de paz acabou quando o Uzumaki e o Uchiha foram expulsos da aldeia graças a um grande engano.
Em uma tarde em que brincavam de guerreiros no Vale do Fim, Sakura perguntou a Sasuke o que ele queria ser quando crescesse. Este apenas respondeu:
— Eu quero ser o melhor guerreiro de todos, e quero restaurar o meu clã.
— E você Naruto-kun? — perguntou Hinata timidamente. — O que você vai ser quando crescer?
O garoto subiu em cima de uma pedra e respondeu, com um largo sorriso nos lábios:
— Eu quero ser um grande caçador de monstros, o melhor de todos! Eu vou defender a nossa aldeia do Toneri e todos vão me respeitar, 'ttebayo!
Sorriram.
— Eu estou destinada a ser a próxima líder do meu clã — disse Hinata serenamente — apesar de que eu só queria ter uma vida normal.
— Já eu quero ser uma grande bailarina de dança do ventre — comentou Sakura animada — A mais famosa do mundo. E me casar com... — evitou terminar a frase, corando. Queria se casar com Sasuke, mas com certeza ele iria debochar.
— Com quem? — perguntou Naruto, na esperança de que fosse com ele.
— Ninguém, deixa pra lá — disse ela com um sorriso sem graça. Continuaram a brincar despreocupadamente até o pôr-do-sol, quando tiveram que voltar para suas casas.
Durante o trajeto de volta eles ainda discutiam sobre o que queriam ser quando crescessem. Só perceberam que já era noite quando chegaram perto da vila e deram de cara com Hiashi, o pai de Hinata, e os pais de Sakura, os três muitos zangados pelas filhas estarem chegando aquelas horas.
— Onde você esteve que só veio chegar a essa hora Hinata? — perguntou o Sr.Hyuuga. — Esqueceu que é perigoso andar por aí a noite e desacompanhado?
— Gomen otou-chan, mas eu não estava sozinha, eu... — Hinata tentou explicar com sua vozinha fina, mas seu pai não quis nem escutar.
— Sem desculpas mocinha, vamos já para casa — disse ele e a menininha o acompanhou cabisbaixa depois de se despedir dos amigos.
— Vamos para casa Sakura, já brincou muito por hoje — falou a Sra.Haruno e Sakura a seguiu. Naruto ficou observando as meninas irem embora com seus pais com um olhar triste.
— Tudo bem Naruto? — perguntou Sasuke percebendo seu olhar.
— Sim — e voltaram a andar. — Mas estive pensando em como seria a nossa vida se nossos pais estivessem com a gente.
Sasuke olhou para o lado, pensativo. Diferente do amigo, o moreninho convivera com seus pais, mas só até os cinco anos, quando toda a família fora massacrada por uma matilha de lobisomens, servos de Toneri. Apesar de saber se virar sozinho, o menino também sentia falta dos pais assim como ele.
— Talvez fosse a mesma coisa — respondeu no fim de algum tempo. — Com toda a certeza.
Chegaram em frente a barraquinha de lámen do Ichiraku, onde jantavam todas as noites de graça por causa do bom coração do dono. Após jantarem, rumaram para suas casas.
* - x - *
Quando se aproximou de sua casa, Naruto percebeu que a porta não estava trancada como costumava deixar sempre que saía. Engoliu em seco, um pouco ressabiado, e entrou mesmo assim, com o coração a bater surdamente no peito. Apalpou os móveis a procura de uma vela e caixa de fósforos, e com a luz em mãos, foi revistando tudo para ver se não tinha nada fora do lugar.
Tomou um susto daqueles quando ouviu um barulho na cozinha, como se algo estivesse batendo, e seu coração acelerou. Foi até lá pé ante pé, suando frio, a chama da vela trêmulando ao vento que adentrava a casa e perpassava por ele como um arrepio. Respirou aliviado ao ver que era só a janela aberta, e mais calmo, prendeu a vela pingando cera na mesa e subiu em um banquinho para fechá-la.
Pensando bem... ele não se lembrava de ter deixado a janela da cozinha aberta!
"Mas o que está acontencendo? E... que cheiro de cachorro molhado é esse?"
A resposta para sua pergunta estava bem atrás de si, rosnando e com a boca pingando sangue. O loirinho sentiu seu coração acelerar mais e virou-se lentamente para então ver o lobisomem negro como carvão e olhos vermelhos o encarando. Ele não conseguia se mexer, paralisado pelo medo.
— B-bom g-g-garoto... — gaguejou, empalidecendo. — B-bom c-c-cachorrin-nho... o-onegai,n-n-não m-me m-machu-chu-que... AAAAAAAAHHH!
O lobisomem avançou e deu um com o focinho na parede, pois Naruto mergulhou debaixo da mesa e em seguida saiu correndo e gritando:
— SOCORROOO! LOBISOMEEEM! SOCORROOO! ALGUÉM ME AJUDEEE!
Alcançou a porta da frente e correu aterrorizado para fora com a fera em seu encalço. Gritava desesperado por socorro, sem saber para onde ia, até ser encurralado na floresta. O lobisomem rodeou sua presa e soltou um uivo terrível antes de atacar. O menino cobriu a cabeça com as mãos, gritando e julgando que era o seu fim, quando Sasuke apareceu de repente com uma lança em mãos, dando um salto bem alto e enterrando a ponta afiada nas costas da criatura, que urrou.
— NARUTO!
— SASUKE! — gritou ele correndo na direção do amigo.
— CORRE NARUTO, CORREEE! — e puseram sebo nas canelas. O lobisomem arrancou a lança das costas e voltou a perseguir os meninos ainda mais furioso.
Os dois garotos correram para a aldeia a fim de ver se alguém os ajudava, mas não encontraram ninguém. Os uivos do lobisomem mantinham os moradores fechados em suas casas com medo. Sasuke guiou Naruto até a barraquinha de lámem e lá se esconderam embaixo do balcão. Estavam suados, ofegantes e com muito medo.
— O que vamos fazer? — ofegou Naruto abraçado a seus joelhos. — Aquele monstro não vai desistir até nos pegar, 'ttebayo.
— Precisamos pedir ajuda a alguém e ...
Paralisaram ao ouvirem ruídos de patas pesadas enormes perto deles. Se entreolharam, os olhos arregalados e apavorados, e viram um par de patas negras e peludas com unhas afiadas paradas a frente deles. Não se mexeram, não deram um pio, mal respiravam; viram essas mesmas patas andarem de um lado para o outro da barraquinha e em seguida sumir. Quase desmaiaram de alívio, recuperando o fôlego.
— Graças à Kami! — disse Naruto deitando no chão.
— Ainda bem que ele foi embora — disse Sasuke apoiando as maõs no chão. — Melhor saírmos e procurar alguém que nos ajude.
Após verificarem se o lobisomem tinha realmente ido embora, saíram de debaixo do balcão e ficaram olhando de um lado para o outro, decidindo-se que rumo tomar, quando ouviram novamente o uivo atrás deles. Se entreolharam com expressões de choro e exclamaram:
— AH, CARA!
E correram alucinados no instante em que a criatura apareceu, destruindo a barraquinha de lámem e voltando a persegui-los. Já era um pega-não-pega, quase os alcançando, eles estavam esgotados pela corrida, quando os uivos simplesmente pararam. Os meninos pararam também de correr no mesmo instante.
— O que será que aconteceu? — indagou Naruto. Viraram-se e viram o lobisomem ali, parado a poucos metros deles. No entanto, na frente da criatura, havia alguém coberto por uma capa negra da cabeça aos pés, que parecia estar segurando algo perto do peito da fera. Em seguida, o encapuzado se afastou e então os garotos viram uma enorme estaca de prata enfiada no coração do lobisomem.
Naruto e Sasuke ficaram observando embasbacados. Assim que o lobisomem caiu, o estranho assobiou e surgiu da escuridão um cavalo cor de canela, no qual montou e foi embora. Os garotos então se aproximaram cautelosamente da criatura já morta e viram que todo aquele pêlo começava a cair. Qual não foi o seu susto ao verem que era Hayate, um dos guardas do governador Sarutobi! Ele, que tantas vezes defendera Naruto dos moleques esncrenqueiros da aldeia! Eles mal conseguiam acreditar no que viam.
— H-Hayate-san?! — murmurou o loirinho espantado.
— Mas como? Como o Hayate-san se transformou em um lobisomem? — indagou Sasuke arrancando a estaca do peito do homem.
Naquele momento os aldeões começaram a sair de casa e vislumbraram a cena. As mulheres ficaram escandalizadas e os homens espantados.
— Hayate-san?! — um dos homens se aproximou. — Como...? Vocês o mataram?!
— N-não, nós não fizemos nada disso, foi um... — Naruto tentou explicar, mas foi empurrado para o lado por uma mulher de cabelos castanhos, que agarrou Sasuke pelos ombros e o sacudiu, dizendo:
— Por que fizeram isso? Como tiveram a coragem de matar o Hayate-san? Como tiveram?!
— Mas não fomos nós! — disse Sasuke se desesperando.
— Eu sempre soube que esse menino Uzumaki era um monstro! — vociferou uma velhinha. — Todos os Uzumaki são aberrações, não deveriam nem ter existido! E ainda arrastou um menino inocente com ele! Monstro!
— Mas...
— Assassinos!
— Monstros! Aberrações!
Todos começaram a xingá-los e a jogar pedras neles. Sem saber o que fazer, os pobres meninos tiveram que sair da aldeia em meio a uma chuva de pedradas e xingamentos até ficarem bem longe, no Vale do Fim. Estavam machucados por causa das pedradas e muito tristes. Sasuke ainda tinha em mãos a estaca de prata.
— O que vamos fazer agora? — disse o pequeno Uchiha chorando. — Para onde nós vamos?
— Não nos deram nem a chance de provar a nossa inocência — rosnou o pequeno Uzumaki chorando de raiva. — Sempre me consideraram um monstro e até hoje eu não sei o porquê. Não sei por que a minha família é tão odiada.
E chutou uma pedrinha, que caiu na água do rio. Sasuke lavou o rosto, limpou os machucados e a estaca na água e se levantou, uma expressão séria e decidida no rosto.
— Não podemos ficar aqui a noite toda — disse. — Pode aparecer um lobisomem ou outra coisa pior para nos atacar.
— E para onde iremos?
— Nem eu mesmo sei. Mas seja onde for, temos que nos recuperar, ficar mais fortes. E aí um dia vamos voltar para a aldeia e provar nossa inocência.
Naruto fitou a expressão decidida do amigo e resolveu aderir também.
— Vamos sim. Irei sentir muita falta daqui, principalmente da Sakura-chan e da Hinata — suspirou tristemente. — Mas se é necessário irmos embora, que assim seja.
— Também vou sentir muita falta delas. Vamos mostrar quem somos quando a gente voltar de novo um dia.
O lorinho assentiu e se foram pelo Vale, sem saber para onde se dirigir ou ficar.
* - x - *
No dia seguinte, Sakura foi procurar Hinata no clã Hyuuga, desesperada por causa do que acabou de ouvir dos pais. Encontrou-a no portão da mansão principal já preparada para sair.
— Hina-chan! — gritou a rosadinha correndo ao seu encontro.
— O que foi Sakura-chan, o que houve? — perguntou a moreninha, assustada. Sakura estava quase sem fôlego e mal conseguia falar.
— O Sasuke-kun... e o Naruto-kun... eles... eles...
— Não Sakura-chan, você precisa respirar um pouco. Vamos entrar — pediu Hinata e entraram. A morena deu-lhe um copo de água para que se acalmasse.
— Agora sim Sakura-chan — disse a morena. — O que você quer falar sobre o Naruto-kun e o Sasuke-kun?
— Os meus pais acabaram de me dizer que eles foram expulsos da aldeia ontem a noite.
— Expulsos?! Por quê?! — perguntou Hinata em estado de choque.
— De acordo com os outros habitantes, eles mataram o Hayate-san, aquele guarda do governador Sarutobi, com uma estaca de prata a sangue-frio e... — lágrimas assomaram aos seus olhos esmeraldinos. — Hina-chan, eles foram expulsos sem nenhuma chance de se defender.
Hinata não conseguia acreditar. Não podia ser verdade! Eles eram apenas meninos! Nem sabiam se defender direito, quanto mais matar alguém assim! Os adultos foram muito cruéis em expulsar duas crianças inocentes da aldeia sem dar à elas o direito de defesa!
— Eu tenho certeza de que eles não fizeram isso! — falou, mal podendo segurar as lágrimas. — Eles não são assassinos!
— Eu também acredito nisso, mas quem garante que os aldeões acreditam também? Só Kami sabe aonde eles estão agora, o que eles estão passando agora — acrescentou soluçando.
Neji, o primo de Hinata, apareceu naquele momento e viu as duas chorando de dar dó. Perguntou o que estava acontecendo, e depois que elas explicaram, ele sentou-se com elas no chão da cozinha e falou:
— Os adultos às vezes são mais crianças que nós, sabiam? O Hayate-san era muito conhecido por aqui, e como Naruto e Sasuke estavam na cena do crime, os acusaram e eles foram banidos. Mas eles são crianças, e bani-los da aldeia sem falar com o governador Sarutobi foi muito injusto. Eu também acho que que eles são inocentes e que há uma explicação para tudo isso.
— Tem que ter algum jeito de provar a inocência do Sasuke-kun e do Naruto-kun — Sakura murmurou pensativa.
— Hai! — Hinata se levantou. — E nós mesmos vamos atrás de provas que os inocentem! — disse decidida.
— Nós? — indagaram Neji e Sakura juntos.
— Hai! Eles são nossos amigos, e amigos devem ficar unidos, né?
Neji e Sakura se entreolharam e fizeram sinais afirmativos com a cabeça. Se ergueram.
— Pode contar comigo prima — disse o garoto dos olhos perolados.
— Comigo também! — garantiu a rosada.
— Arigatou minna. Vamos ajudar nossos amigos a sair dessa enrascada e assim eles voltarem para casa sãos e salvos.
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