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História Nascidos Da Tormenta - Você não existe. - História escrita por DomiNyx - Spirit Fanfics e Histórias
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História Nascidos Da Tormenta - Você não existe.


Escrita por: DomiNyx

Notas do Autor


Nos vemos nas notas finais.

Capítulo 7 - Você não existe.


Parada de pé de frente para a varanda, a mulher de fisionomia esguia e longos cabelos dourados presos num coque observava amargurada uma brisa balançar cortinas de cetim cor de gelo naquela noite, e observar o modo gracioso e belo como o vento balançava o tecido da varanda do aconchegante apartamento apenas a fazia se questionar onde estava a beleza em sua vida.

"Eu lamento ter que informá-la de que a senhorita é estéril" Ouviu em sua cabeça a voz do médico que tinha visto há alguns dias. "As pílulas não foram muito eficazes já que estou grávida pela terceira vez!" Uma outra voz eufórica e enjoadamente doce de uma mulher cega entrou em xeque novamente contra ela. 

Ela levantou a taça até os lábios e deu um longo e nada elegante gole que passou cortando a laringe, a dor que o gole causou entrementes foi ínfima comparada á dor do ferimento em seu orgulho que apenas vinha se acumulando, o álcool a atordoou e foi como se ela pudesse sentir novamente as mãos que lhe seguravam o rosto enquanto aquele que amou a renunciava mais uma vez. Pela última vez.

Ela apertou os olhos tentando mandar a lembrança deveras recente para longe, porém quanto mais bebia para esquecer, mais se lembrava de tudo, se lembrava de como se rebelou contra o pai na adolescência e saiu da trilha que o mesmo tinha demarcado para ela, se lembrava da felicidade que sentiu por algum tempo em sua vida, da felicidade acabando, se lembrava de como construiu sozinha uma vida que era para dois, das idas e vindas, do perigo tão excitante, se lembrava do nascimento de cada um dos filhos que deveriam ter sido seus. Filhos. Filhos... Nunca poderei ter filhos. Mas não tinha sido por isso que ele a tinha abandonado novamente, se ele a deixou novamente foi porque ele era fraco, e ela não era, não, ela não.

-Eu não... - Balbuciou fixando esta ideia na mente e logo em seguida bebeu o último gole do vinho.

E com esse pensamento tentou encontrar a beleza em sua vida, talvez ela estivesse nas coisas que conquistou sozinha e sem o sedutor dinheiro do senhor seu pai, o trabalho como advogada no ministério público, o apartamento que comprou e mobiliou com este trabalho, a casa maior que estava terminando de construir, o carro, as roupas e sapatos alinhados, os vinhos velhos e caros...  Caminhando pela varanda até se debruçar no parapeito, ela riu sem humor pelo nariz ao constatar que seu "maior" bem agora se tornou a solidão.

-Acho que preciso de um maldito gato.

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Jon

Ele mal conseguia enxergar os punhos que subiam e desciam frente a seus olhos, mas sentia bem os calcanhares impactando firmes contra o asfalto, e a medida que respirava a lufada de ar vinha gelada ao encontro das bochechas, e o cabelo que ele até tentava deixar arrumado, com certeza estaria completamente emaranhado se ele fosse ver naquele momento.

No final das contas, a mãe estava irredutível, e ele também. Ele só conseguia pensar em Daenerys, e se ele estaria bem, se estava machucada, "Daenerys não aguentou ver e saiu correndo daqui." Aquilo tudo era culpa de Ramsay, queria que ele estivesse morto, mas será que era culpa de Jon também ? Se ele não estivesse ocupado batendo naquele verme, ele teria ido atrás de Daenerys, e nada daquilo teria acontecido, no final das contas, a culpa era de quem? Com a cabeça fervilhando demais e o olhos embaçados de lágrimas que um homem como ele não queria deixar cair, ele não notou a força e a velocidade que botou nos próprios pés, e só veio dar conta quando saiu bolando e se ralando todo pelo chão, ele foi parar de quatro sentindo pedrinhas cravando nas palmas da mãos, levantou o rosto e sentiu o lado esquerdo da face ardendo como o inferno, ele pensou que deve ter batido o queixo e mordido a língua, porque sentia um gosto amargo de ferro e terra na boca.

-Merda! - Praguejou suando de frustração enquanto batia a poeira e as pedras para fora do corpo.

Ele tentou não se intimidar de vergonha pelos veículos e pessoas que passavam olhando para a cena, mas parecia ser o menor dos seus problemas á medida que um carro escuro aparecia o trancando no acostamento.

-Pare com isso, garoto! Olha o que está fazendo com sua mãe! 

Ele não quis olhar para o tio que estava perceptivelmente puto ao volante fazendo luz alta em cima dele, ele detestava chamar esse tipo de atenção negativa de Ned, e agora tinha certeza que ia ser difícil de zerar esse saldo. Ele mal percebeu Lyanna pulando do automóvel carregada de preocupação até que ela encostasse os dedos finos em seu rosto machucado e ele ter que resmungar de dor.

-Jon, meu Deus! Porque você fez isso?! - Ela indagava aflita dedilhando o rosto do primogênito. - Olha só pra você...

-Eu te disse. - Ele murmurou sem olhar para o rosto da mãe.

Ele sabia que o que tinha feito estava errado, que não deveria ter ido contra a palavra da mãe e não era justo fazer mais ninguém passar por nada naquela noite desgraçada, mas era assim tão difícil só dizer pra ele o que estava havendo? Ou pelo menos deixá-lo ver a melhor amiga que ele tinha, nem que fosse de longe, só para saber que ela ia ficar bem. 

-E qual era seu plano, Jon Stark? - Ela quase berrou exaurida. - Correr até colocar os pulmões para fora e matar todo mundo dos nervos? Você acha que isso vai ajudar a Daenerys em alguma coisa?! Se ela é tão importante assim pra você quanto você diz, você tem que me ajudar a te ajudar fazer as coisas da melhor maneira possível para todos, principalmente por ela, e sair correndo feito um doido da sua família não é isso!

Jon não pôde fazer nada além de encolher os ombros e abaixar a cabeça, não tinha como bater a sua mãe nessa, e ele tinha mesmo feito tudo errado, e naquele momento, todo arranhado e sujo de asfalto se sentia como Jon Stark, o grande imbecil de Westeros.

-Desculpa, mãe...

A maior sorte desse Stark todavia, era ser o maior amor e fraqueza daquela velha loba, ela o envolveu pelos ombros e o encaminhou até o carro com passos mais tranquilos e aliviados. 

-Seu pai disse que ela vai ficar bem, foi só um grande susto. - Ela lhe confidenciou, o coração de Jon deu um salto no peito e o cabelo arrepiou na nuca, ele elevou o olhar afoito na direção da mãe que era bem mais alta que ele, e ela lhe devolveu cúmplice. - Mas ela ainda vai precisar de você, então você não pode ficar desse jeito, certo?

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Daenerys

Devido a enorme quantidade de curiosos na cena do crime, a notícia do que aconteceu naquela noite se espalhou como brasa em palha, logo toda a cidade estava sabendo o que houve antes mesmo que a menina tivesse chegado ao hospital, redes de TV já comentavam sobre o ocorrido em programas de telejornal local, e repórteres e fotógrafos se amontoavam como formigas na entrada do hospital aguardando a chegada da menina para tirarem o seu pedaço do furo daquela noite.

Conforme a viatura se aproximava, uma Daenerys um pouco encolhida na ponta do banco de trás podia ver pelo canto do olho pessoas bem vestidas segurando microfones e gravadores, câmeras grandes e pequenas, e um embrulhado de vozes que saíam uma por cima das outras,  embora o vidro fumê não fosse permitir que ninguém a visse, ela esticou em volta de si o grande casaco emprestado por Robert quando sentiu o carro dar um solavanco da esquerda para a direita quando muitas pessoas foram de encontro a viatura, imediatamente ela olhou para baixo para o piso do carro, onde três bolas peludas e resmungonas estavam se esfregando impacientes em seus sapatos, aqueles que ela se recusou veementemente a deixar para trás.

Daenerys começou a sentir um desconforto crescendo em si mesma na forma de um pinicar irritante na superfície da pele, ela olhava de um lado para o outro querendo que aquelas pessoas fossem embora pois não havia absolutamente nada que aquelas pessoas pudessem fazer por ela a não ser deixá-la mais nervosa. Tinha um policial sentado na outra ponta do banco, ele apertava o coldre também tenso com a multidão, era um homem loiro, de maxilar quadrado e olhos verdes, ela achou aquele homem familiar como alguém que já estivera com ela naquela mesma noite antes de tudo desandar, leu a identificação na farda e tudo ficou mais claro.

A viatura alcançou as portas da entrada, e Daenerys observou Robert se remexer no banco do passageiro e observar pelo vidro a espera de algo que logo veio, a equipe de segurança saiu como um batalhão de dentro do hospital, e trabalhou de maneira mais ágil e rápida  que pôde no isolamento afastando a imprensa, em questão de menos de quatro minutos, havia uma passagem reta e limpa do carro até as portas da entrada.

Robert deu uma lufada cansada pondo a mão na porta, entortou o tronco e olhou para a garota de cabelo platinado. - Tudo bem, Daenerys. Nós vamos entrar agora, mas não precisa se sentir nervosa com as pessoas, nós estamos aqui para proteger você, tudo vai ficar melhor, certo? - Ele lhe disse complacente, e Daenerys balançou a cabeça com incerteza sem ter nada pra dizer rangendo os dentes traseiros com ansiedade, ela se sentia segura perto de policiais, mas queria ir embora, queria ir para casa, queria seus irmãos, queria que Rhaegar e Viserys a cercassem no sofá espaçoso e eles passassem a noite junto dela em frente a tv até que pegassem no sono. 

-Cadê o meu irmão...? Alguém já conseguiu falar com ele? - Ela perguntou com a voz angustiada e um tanto cabisbaixa.

Percebeu com estranheza um semblante de reprovação passar rapidamente pelo rosto de Robert e logo ser substituído por algo que não fazia sentir-se bem, pena.

-Com nenhum dos dois ainda. - Ela percebeu que ele estava tentando ser gentil e cuidadoso no modo de falar, mas não amenizava a ânsia que ela tinha de só acabar com aquela noite.

-Eu só quero ir pra minha casa. - Ela choramingou com vergonha abraçando os cotovelos, e cercando os filhotes com os calcanhares.

Robert comprimiu os lábios que praticamente sumiram na barba cheia, como pai e agente da lei, era extremamente difícil atender um menor naquelas condições, era difícil saber como proceder de maneira adequada diante de cada caso, era ainda pior ver isso acontecer com alguém de dentro de casa, ele estava se sentindo particularmente puto pelo fato da menina estar precisando da única família de sangue que tinha, e nenhum destes estarem acessíveis para ela, do jeito que a vida da garota se encaminhava, o que estava acontecendo no momento poderia ser muito bem enquadrado por um juiz como abandono de incapaz da parte de Rhaegar, e ele poderia facilmente perder a guarda da irmã caçula.

-Escute. - Ele pediu o mais gentilmente que conseguia, e Daenerys elevou minimamente as orbes lilases. - Nós só queremos garantir que está tudo bem com você, então assim que a médica te examinar, eu te levo para casa, combinado?.

Daenerys não queria concordar, apesar de todo o horror que viveu, ela sabia muito intimamente que teve a sorte que centenas não tinham, ela não tinha sido ferida nem violada, talvez tivesse alguns roxos e arranhões pela pele, mas não passava disso, o seu maior terror era o psicológico, e tudo que ela queria era estar no seu lugar, onde tudo lhe pertencia e era confortavelmente familiar, ela não queria que aquela situação continuasse se prolongando, no entanto, que escolha ela parecia ter naquele instante?

Robert saiu do carro invacilante, bateu a própria porta e em seguida abriu a de Daenerys, ele fez um gesto sugestivo que ela reconheceu, ela estendeu os braços e deixou que o homem a segurasse, mais uma vez ela escondeu o rosto no peito do delegado e se encolheu em seus braços, desta vez tentando fugir das luzes dos flashes que batiam nela, ela sentiu o sobe-desce dos passos de Robert a carregando até as portas, estas que já estavam sendo seguradas abertas por uma equipe médica, em outras ocasiões, provavelmente não haveria tanta alarde, mas todos no hospital que tinham bom senso e estavam a par do ocorrido estavam nervosos por se tratar da "jovem chefe", alguns já pensavam nos problemas e no tipo de crise que aquilo poderia trazer para a rotina do hospital.

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Rhaegar

Após passar muitas horas em um jantar de negócios tratando de possíveis alianças e investimentos que se estendeu para uma pernoitada com uísque e tira-gostos, Rhaegar pôde finalmente chegar ao aconchegante quarto do hotel em que estava hospedado, seus olhos  sonolentos correram instintivamente para a luz azul do celular que tinha deixado plugado a uma tomada em cima da cama, puxou o aperto da gravata no pescoço a jogando no chão com um suspiro de alivio, desabotoou a camisa e caiu na cama só de calças e sapato, olhou de soslaio para o aparelho e percebendo que o carregamento ainda não estava completo decidiu ligá-lo outra hora. Para se distrair melhor resolveu pegar o controle da tv, ligou a tela de aproximadamente 20 polegadas pregada a parede, e foi passando entre os canais até achar algo que prendesse sua atenção, avançando o botão, percebeu que um dos canais pelos quais passou, fora a rede jornalistica de Westeros, optou por deixar no canal que rodava as notícias do dia para assim se sentir mais perto do seu continente e assim cair no sono.

Ele acomodou a cabeça no travesseiro e repousou a mão acima do umbigo entrando em estado de relaxamento, e então uma luzinha começou a piscar em sua cabeça e virou o rosto na direção do celular se lembrando de seus irmãos, em especial Daenerys, e sentindo que deveria checá-los e garantir que estava tudo bem, voltou atrás com a decisão de só ligar o aparelho depois que estivesse completamente carregado, no momento que seu polegar tocou o botão do celular, o seu corpo paralisou quando se deu conta da fala que entrou por seus ouvidos. "Nesta noite por volta das 21:00 horas um homem ainda não identificado atacou a herdeira mais nova da casa Targaryen, Daenerys. A menina foi encontrada usando apenas a roupa íntima e ensanguentada, o suspeito foi encontrado morto, e a investigação inicial aponta que Daenerys foi abusada pelo suspeito antes dele ser morto de maneira bizarra por um cão. Mais notícias sobre o caso em instantes.". 

Ele torceu o pescoço rapidamente para ver a repórter segurando um microfone em frente a fachada do hospital de sua família, ele não queria que aquilo fosse verdade, como poderia ser? Como aquilo poderia ter acontecido com sua irmã em um curto período de 4 horas? Se ela estava tão bem e segura quando se falaram mais cedo. Uma vontade incontrolável de vomitar veio escalando da boca do estômago para a garganta, ele correu debilmente para o banheiro segurando o celular que foi arrancado abruptamente do carregador, e afundou a cabeça no vaso tão logo tinha chego até ele.

Ergueu a cabeça em meio um ataque de tosse após colocar tudo para fora, com a cabeça girando e a visão turva, ele apoiou o braço na tampa do vaso e pôde ver que seu celular estava lotado de chamadas perdidas, Robert Baratheon, Lyanna, Baelon Blackfyre, Viserys... Enquanto apertava as teclas para retornar a chamada, um filme perturbador estrelando Daenerys passava pela cabeça de Rhaegar.

-Atende, Viserys! Atende...! - Murmurou engasgado pressionando o celular contra a orelha.

 

Daenerys

Se ela precisasse de uma única palavra para descrever a noite inteira, "desconforto" cairia perfeitamente bem, já fazia um tempo que ela estava com uma médica que ela não conhecia dentro de um consultório, a mulher tinha pedido que ela tirasse tudo o que estava usando e examinou cada pedaço de seu corpo enquanto lhe fazia perguntas, por fim, ela estava deitada numa maca com os joelhos dobrados enquanto algo que parecia um cotonete era passado por toda sua região íntima, a doutora tinha lhe avisado que ia precisar entrar um pouco com o cotonete dentro da "caverninha" dela. Caverninha. Daenerys tinha 12 anos, e sabia muito bem o nome. Sentiu um ardor e uma sensação de rasgar a pele, mas conteve a dor mordendo os lábios e apertando os olhos, por todos os deuses ela só queria que aquilo acabasse, pensou ter ouvido um burburinho por um breve momento do lado de fora, foi quando ouviu os berros.

"Me deixe entrar, seu subalternozinho! Você não sabe quem eu sou?!", a elevação da voz e a urgência pelo cumprimento de suas vontades eram quase indiscutíveis. "Robert, diga para esse seu tira imprestável sair da frente! Eu vou ver minha irmã!".  Viserys... Pelo menos ele estava lá, fazendo uma cena porém lá, ao menos algo começou a se aquecer dentro de seu peito com a presença do sangue do seu sangue apenas alguns metros de distância dela.

Ela flexionou os joelhos sobre a maca e puxou o lençol branco que a cobria, bem a tempo de ver a médica dar uma olhadela de vergonha para a porta e em seguida encarar Daenerys com algo que ela pensou ser um "Está tudo bem, eu entendo." a médica tirou as luvas que usava e as descartou no lixeiro, a jovem Targaryen seguia cada movimento da mulher atentamente com os olhos lilázes, ávida pelo momento em que ela lhe diria que estava tudo bem e poderia ir para casa.

No entanto, observou com um tilt nos nervos a médica pegar uma prancheta e transcrever coisas muito calmamente em um prontuário. Impaciente, Daenerys deu um pigarro. A mulher levantou os olhos alarmada fazendo Dany engolir seco e pensar que poderia ter abordado de maneira diferente.

-Já terminou tudo? - A garota perguntou finalmente após ser encorajada a dizer o que estava se passando.

Dany percebeu o desconcerto em cada poro da mulher, talvez fosse assim sempre que precisavam tratar uma situação como aquela, era?

-Bom, sim.. Eu vou enviar o seu material para o laboratório para as analises. Mas pelo o que nós pudemos conversar acho que posso dizer que está tudo bem com você.

-Eu posso ir então?

A mulher deu uma coçada na nuca e o sorriso pequeno de esperança de Daenerys se desfez. 

-Eu não posso te liberar para ir sem a presença do seu tutor, e depois do que ocorreu, eu creio que o melhor para você é te deixar dormir com uma boa medicação.

Justo quando parecia que ia acabar... Daenerys se virou na maca, contrariada, porém vencida, se deitou sobre o braço esquerdo, e pôde ver as três bolinhas gordas e peludas que se amontoavam uma em cima da outra em cima de cobertas por baixo de sua maca, ela esticou o braço para fora e tocou com a ponta do dedo o cucuruto do negro, em circunstâncias normais, aquilo jamais seria permitido, mas pelo menos daquela vez, Daenerys iria tirar essa vantagem.

-Eu ãn... Vou chamar uma equipe pra te transferir para o quarto, ok? - Daenerys percebeu que ela parecia estar escolhendo bem as palavras, ao menos reconhecia que a mulher estava tentando ser gentil.

Ouviu o barulho dos sapatos estalando contra o piso do consultório, e o estalar do clique da maçaneta, quando confirmou que a médica a tinha deixado, ela olhou desconfiada de um lado para o outro, e colocou os pés no chão e os sentiu gelar de imediato, tudo estava congelando na verdade, a finíssimo tecido da roupa hospitalar que tinham lhe dado mal servia para tapar nada, e muito menos para aquecer, estava caçando e revirando tudo atrás do maldito controle do ar condicionado quando ouviu o barulho da porta abrindo de novo, e parou no lugar sentindo-se pega no flagra. Do que estou com medo mesmo? Eu sou a dona.

Ela girou o pescoço, e a imagem de Viserys se esgueirando pela porta se tornou a coisa mais bem-vinda de toda aquela noite, se esqueceu até do frio quando reparou as feições do irmão passarem de ansiedade para um alivio amargo, ele praticamente se teleportou de uma ponta para outra e jogou o corpo em cima dela a envolvendo.

-O que o desgraçado fez com você? - Ele perguntou sem querer saber de verdade.

Daenerys trincou os dentes antes de querer responder enquanto acomodava a cabeça no peito do irmão. - Ele apareceu do nada, me mostrou uma arma, rasgou toda a minha roupa, eu sei o que ele ia fazer comigo... - Ela fungou e sentiu o cheiro de perfume misturado com álcool barato.

Os olhos de Viserys se tornaram quase vermelhs, veias saltavam da testa enquanto ele trincava o maxilar, era um rapaz facilmente irritável, mas nada jamais o tinha deixado tão cheio de cólera, ele sentia vontade de descontar tudo na família do morto se ele tivesse uma, sentia vontade de achá-los e mandar um recado para que ninguém ousasse mexer com um Targaryen vivo ou morto na terra novamente.

-Robert prometeu que me levaria pra casa quando terminassem de me examinar. - Ela acusou resmungona, Viserys tentou entender o que estava acontecendo. - Mas a médica disse que não vai me liberar porque Rhaegar não está aqui. - Ela completou olhando com desconfiança para a porta esperando que a tal equipe que iria transferi-la para um quarto chegasse.

-Mais essa... - Ele bufou impaciente percebendo que só tinha uma solução. - Eu vou ficar.

Daenerys se sentiu ser afastada subitamente do abraço de Viserys, ele franziu o rosto e começou a tatear nos bolsos sentindo o celular vibrando, com um pouco de dificuldade ele puxou o aparelho do fundo dos bolsos do jeans apertado, e o seu rosto se transformou numa careta de descontentamento, era Rhaegar finalmente retornando as suas chamadas, mas no momento já não adiantava muito, o alvoroço já tinha passado, e agora só restava resolver a burocracia, Viserys podia não ser um gênio, mas sabia que não seria resolvida pelo telefone. 

-Rhaegar. - Viserys pronunciou sem muita vontade sob o olhar de expectativa da irmã mais nova.

-Viserys! O que está havendo?! Dany... Ela vai ficar bem?! - A voz de Rhaegar soou afetada e meio engasgada do outro lado da linha.

Aquele jeito meio arrastado e débil de falar, Viserys sabia reconhecer bem uma voz de bebedeira, uma vez que ele mesmo também estava se dando para o ácool.

-Ela está comigo... - Suspirou, e ouviu um arfar sofrido pelo alto falante. - Ela vai ficar bem, mas ela precisa que você venha para que o pessoal imbecil dessa porcaria possa deixar ela ir pra casa. - A irritação estava surgindo novamente e Viserys apertava o celular entre os dedos. - De que adianta ser dono dessa droga se ninguém fizer o que a gente mandar, Rhaegar?! - Indagou impaciente.

Daenerys estava querendo encolher até ficar muito pequena, não gostava de estar perto quando Rhaegar e Viserys começavam a brigar, era corriqueiro que o temperamento instável de Viserys colidisse com a postura perfeccionista e cuidadosa de Rhaegar, no final das contas eram sim três crianças, só que uma estava tentando ser pai das outras, e estava falhando, mas como não poderia?

-Viserys, eu estou arrumando minhas coisas, vou pegar o primeiro avião! - Se defendeu, Viserys ouvia ruídos e estrondos pela linha. - Eu quero saber da nossa irmã, o que fizeram com ela?!

O Targaryen do meio trincou o maxilar para responder. - Porque você não chega logo e pergunta pra ela?

Antes que pudesse ouvir qualquer coisa do irmão mais velho, ele encerrou a chamada, estava de saco cheio de Rhaegar, e da constante ausência dele, podia muito bem se virar sozinho sem o idiota do irmão hipócrita, mas Daenerys não, e ele estava sempre em falha com ela, sempre em algum lugar do mundo, ou com alguém mais importante, por outro lado, ele era um bom cobrador, os dois precisavam de boas notas, ser estrelas nos esportes e saber tocar ou dançar algo, não sabia porque Daenerys ainda dava bola para isso, ele mesmo já tinha deixado as artes marciais, tocava baixo porque era um bom passatempo para matar o tédio no quarto, mas nada que fosse para orgulhar Rhaegar o importava mais, que diferença faz ser bom em algo quando ninguém está lá para ver o que você é capaz de fazer?

-Eu não gosto quando vocês brigam. - Ela chamou sua atenção, e quando deu conta, viu que ela estava no chão perto da maca com três cães que ele não tinha notado até o momento. - Só somos nós três, a gente precisa cuidar mais um do outro. Como o pai e a mãe.

Viserys fez uma careta, estava gelado demais dentro do quarto para ainda receber um sermão da caçula.

-Qual das cabeças irritantes do dragão você é? 

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Rhaegar

Ele estava saindo do hotel desajeitadamente levando sua mala, tinha conseguido fazer o check-out em tempo recorde, e agora estava pegando um táxi rumo ao aeroporto, sua passagem estava marcada apenas para o meio dia da manhã seguinte, e já estava imaginando com quantas pessoas ele iria precisar falar para conseguir remarcar a passagem, ou se tudo falhasse, tentaria comprar uma passagem para o voo mais perto de decolar, talvez se tudo desse certo, só conseguiria chegar em casa nesta mesma hora da próxima noite, odiava escalas mais do que tudo na vida.

Pensou em centenas de formas de tentar resolver o problema da irmã, talvez se tentasse conversar com a médica para dar uma burlada no protocolo só daquela vez, mas e se ela também não fosse ficar segura em casa apenas com Viserys? Que tipo de vida ele vinha dando a filha mais nova de seu pai e sua mãe... Se o velho Aerys e a senhora Rhaella estivessem vendo tudo aquilo de cima, com certeza eles o receberiam a tapas e pontapés no outro plano quando chegasse a vez de Rhaegar de partir, e pensar nisso o fez dar um sorriso triste naquele banco traseiro de táxi.

Como se algum deus o estivesse ouvindo naquele momento, o celular dele começou a tocar de novo, ele o puxou do bolso da frente do casaco que estava usando, ele estava meio incerto de atender aquela chamada, talvez aquela fosse a última e a primeira pessoa com quem ele queria conversar naquele momento, mas ele estava temeroso, foi julgado por Viserys - com razão. - Sabe lá deus o que ela estaria pensando dele.

-Você ficou sabendo...

-Todo mundo ficou sabendo, Rhaegar. - E começaram as acusações.

-Eu nem sei o que aconteceu direito... Você a viu?- Quis saber com genuína curiosidade, talvez ela lhe desse mais informações que seu irmão arredio.

-Não, eu tive um problema com o seu futuro cunhado. - Rhaegar quase pôde ver o sorriso sarcástico porém sem humor dada a risada mórbida que ela deu. - Robert me disse que ela vai ficar bem, não aconteceu nada. Você tem que parar de viver pelos sonhos dos seus pais, Rhaegar. - O advertiu novamente, não era a primeira vez que Lyanna lhe dizia isso. - Você tem uma família que precisa de você em Westeros, essas crianças só tem você.

Ele suspirou pesado, era difícil não ter a sorte de ter uma matilha grande como a dos Starks.

-Eu sei... 

Houve um longo silêncio durante a chamada, ficaram apenas ouvindo a respiração um do outro, incertos do que poderiam dizer, Lyanna queria ajudar e arrumar uma forma de confortar Rhaegar, mas por outro lado, não tinha boas notícias, Rhaegar só queria demais resolver tudo.

-Robert me disse que você vai ter problemas com a justiça.

Ele recebeu aquilo como mais um baque forte, mas que ia seguir firme para não se deixar desmontar, ele já imaginava, ser tutor de um menor exigia tanto quanto ser pai de um.

-Eu já imaginava pelo o que aconteceu. Abandono de incapaz? Maus tratos? Tudo isso junto? - Ele brincou sem ter nenhuma graça.

Lyanna torceu o rosto de pena.

-Eu posso fazer alguma coisa? Qualquer coisa.

Rhaegar pensou um pouco, mas não demorou muito pra raciocinar, o álcool finalmente tinha saído do corpo dele.

-Eu vou demorar um pouco ainda a chegar, vou tentar resolver tudo no hospital daqui, você se importa de levar a Daenerys e o Viserys pra sua casa? Ela gosta daí, de você, e tem o Jon, Sansa, as crianças... Eu mando dinheiro pra as despesas deles se precisarem de algo.

-Pff... Seu idiota, não fale em dinheiro uma hora dessas! Nós vamos cuidar deles. Talvez assim eu mate dois coelhos de uma vez, Jon está surtando.

-Deixe esse garoto cheio de hormônio a uma distância segura da minha irmã. - Ele fingiu irritação.

Lyanna riu, ele também, eles quase se esqueceram de todo aquele problema. - Ninguém jamais vai ser pior que você nessa idade, Rhaegar.

Ele deu um sorriso nostálgico. - Não diga isso. 

Ela deu um sorriso travesso e seu cérebro lhe trouxe memorias de uma adolescência simples e alegre, olhou para a parede de casa lotado de retratos da sua família ao longo daqueles 13 anos, e deu um pigarro para se trazer de volta a realidade.

-Eu vou desligar agora, vou tentar trazer os dragões para a toca do lobo. - Rhaegar riu pelo nariz, "Você não existe, Lyanna". - Me ligue quando conseguir um voo. 

-Eu ligo. - Garantiu agradecido, e ouviu o beep de encerramento da chamada.

Rhaegar sentiu o peito mais leve depois de conversar com Lyanna, a verdade é que poderia, e talvez quisesse estar conversando com ela até chegar em casa, talvez assim ele pudesse se sentir mais calmo e menos ansioso, era terrível estar sozinho e sem ninguém do outro lado do mundo esperando chegar em casa para lidar com o mundo caindo em cima da própria cabeça. Ao menos tinha conseguido que alguém cuidasse de seus irmãos durante esse tempo, só precisava resolver tudo no hospital, e por esse mesmo motivo, teclava com rapidez e agilidade no seu celular.

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Lyanna e Jon

Depois de conseguir levar sua família para casa, a loba de Winterfell estava se preparando para sair mais uma vez, a cabeça estava fervilhando pensando na melhor maneira de acomodar Daenerys e Viserys, andava de um lado para o outro na casa com a mão no queixo sem na verdade saber o que queria fazer de verdade, ouviu o barulho do chuveiro ligado com Gendry no banho, passou por Jon que saía do quarto, o garoto estranhou a movimentação da mãe, mas tinha escolhido não contestá-la mais em nada durante aquela noite, já tinha atingido sua cota para uma vida.

Foi quando Lyanna voltou novamente passando pelo corredor na direção de Jon, ela parou na frente dele, e ele fez um sinal de cabeça indicando que estava ouvindo.

-Você incomoda de dividir o quarto com seu irmão esse final de semana? - Ela perguntou realmente preocupada com a resposta dele.

Jon franziu o cenho sem compreender. - Não, mãe. Não tem problema, mas porque?

-Isso é ótimo, filho. - Ela disse passando por ele e entrando no quarto dele.

Ela começou a abrir as portas dos armários procurando por cobertas e travesseiros, e já pensando em como arrumar o quarto para acomodar seus dois garotos.

-Mãe? 

-Sim? - Ela atendeu terminando de puxar colchas de cima do armário. 

-Você não respondeu por que.

Lyanna bateu de leve na própria testa, e cruzou o quarto com colchas e travesseiros nos braços. - Rhaegar me pediu para trazer Daenerys e Viserys pra cá. - Ela respondeu ofegante. - Prefiro já ter tudo arrumado antes deles chegarem, a coitadinha deve estar exausta.

Lyanna mal notou como Jon empalideceu e o coração começou a ribombar de surpresa, apesar dela já esperar esse tipo de reação do filho, esperava também que ele desse espaço suficiente para Daenerys se ela não estivesse bem para interagir ou estar rodeada de pessoas, por isso teria que conversar com ele, mas ela esperava que fosse o contrário.

Ela começou a puxar a segunda cama que estava guardada por baixo da cama de Jon até que ela estivesse completamente para fora, e então ela trocou os lençóis e pôs um travesseiro, ela se sentou por um momento na cama, e bateu com a palma da mão na cama encorajando Jon a se sentar ao lado dela.

Jon atendeu sem demorar muito, ele estava tentando manter o rosto impassível de emoções, Lyanna jogou a cabeça para trás soltando um suspiro enquanto se recuperava do cansaço momentâneo, quando sentiu o lado do colchão afundar, ela virou o pescoço e Jon já estava lá ao lado dela, ainda sujo e com a cara arranhada, olhando para ela tentando não transparecer a expectativa.

Lyanna deu mais um suspiro - Nós precisamos conversar.

-Sim. - Ele concordou se fazendo todo ouvidos.

-Deuses, por onde eu começo...? - Jon arqueou a sobrancelha a encorajando a simplesmente falar, Lyanna lambeu o cabelo chanel para trás com as mãos. - A Dany passou por uma situação muito traumática Jon... - Ela estava tentando escolher cuidadosamente as palavras, Jon sentiu o estômago embrulhando ao se dar conta que sua mãe finalmente contaria. - Um homem desprezível a encurralou e a levou para uma construção abandonada enquanto a ameaçava com uma arma. - Ele nem mesmo piscava tão atento que quase podia ouvir o barulho do próprio coração batendo. - Ele rasgou as roupas dela, e ele queria fazer aquela coisa ruim que alguns adultos muito ruins fazem com crianças.

-Eu não sou criança,mãe. - Resmungou entredentes afundando as unhas nas palmas das mãos. - Eu sei que ele queria fazer.

Lyanna engoliu aquilo, e continuou. - Ele tentou, mas ele está morto. - Ela lhe confidenciou afagando seus cachos negros, e Jon sentiu a raiva crescendo em seu interior se suavizar conforme tentava dizer para si mesmo que o desgraçado teve o que mereceu. - Eu estou te contando isso porque você precisa saber como agir com ela. Talvez ela não queira falar sobre isso, e você não deve ficar fazendo perguntas, você tem que deixá-la a vontade.

Jon não tinha o que dizer, ele só tinha receio, e se não soubesse como agir de forma correta? Como ele iria saber? Lyanna percebeu como o filho se sentia simplesmente ao perceber como os ombros murcharam e os olhos se perderam pelo quarto, ela passou o braço pelos ombros dele e o trouxe para seu colo.

-Não precisa ficar assim, você só tem que continuar agindo como o melhor amigo dela. - E lhe sorriu com ternura.

Mas Jon sentiu a bile na garganta queimando tudo. - Eu nem sei se eu sou um amigo de verdade... Nada daquilo teria acontecido se eu não tivesse deixado que os idiotas da escola maltratassem ela, ela vai me odiar tanto quanto eles... Se eu fosse mais como Robb, eu seria muito melhor, eu queria ser como ele. - Murmurou aquelas palavras como se a mãe não estivesse lá, em seu estado normal, ele jamais diria aquilo para que ela ouvisse. - Não quero que ela me odeie.

-Jon! - Ela sussurrou quase como um grito, e puxou o rosto dele para que ela o olhasse. - Isso são coisas terríveis para se pensar. Não pense nisso.

-Você sabe o que é mais terrível? O que falam pra ela... E eu nem faço nada. Eu não sei como ser o amigo que ela precisa que eu seja.

Lyanna sabia perfeitamente do que seu filho estava falando, ela se lembrava bem da época da escola, e como era para Rhaegar se portar diante das chacotas que faziam com o relacionamento de seus pais, por outro lado, Rhaegar era o verdadeiro rei da escola, quem se metia com ele acabava saindo queimado de um jeito ou de outro, ela não tinha ideia que as coisas eram mais complicadas para a Targaryen mais nova. Ela inalou o ar demoradamente para dentro dos pulmões.

-Sabia que Rhaegar era meu melhor amigo na escola? - Jon levantou o rosto abismado com a revelação, sabia que Rhaegar era amigo da sua mãe, mas não tão intimamente, ela sorriu da cara de surpresa dele. - Nós éramos assim que nem você e Daenerys, talvez até mais. - Ela relembrou nostalgica olhando para o teto do quarto. - As pessoas também tiravam sarro dele, mas ele na verdade não se importava, 99 por cento da população amava ele demais para ele se importar com esse 1 por cento.

-É diferente com ela... - Jon murmurou. - E o que ele fazia com essas pessoas?

-Nada. - Ela riu. - Mas eu batia nelas.

-Mãe! - Ele não se conteve e caiu numa gargalhada alta que fez seus olhos lacrimejarem.

O momento foi interrompido por um Gendry só de toalha cobrindo a cintura e pingando água pela casa que abriu a porta. - O que tá havendo? - Ele quis saber com a mão na maçaneta.

Lyanna apenas conseguiu ver o garoto que estava encharcando todo o seu piso limpo. - O meu chão limpinho, seu moleque! - Ela berrou se levantando da cama.

Gendry grunhiu de medo e saiu correndo e escorregando na direção do próprio quarto com a mãe em seu encalço berrando coisas que Jon já não estava mais entendendo, mas ele continuou apenas rindo da situação, ele esfregou os próprios olhos para voltar enxergar melhor, e ficou com a conversa que teve com a mãe na cabeça, e pensou que estava tendo um esclarecimento.

Ele saiu do quarto deixando a porta aberta, e pôde ouvir a voz da mãe soando no corredor vindo do quarto de Gendry, ela estava lhe dando uma bronca e mandando ele arrumar todo aquele quarto antes que ela chegasse em casa, ou ele não veria um centavo do dinheiro do pai ou da mãe durante três meses, ele desceu as escadas, e foi até a cozinha, revirou armários, e geladeira, não tinha nada de especial ou diferente lá, e estava sentindo a fome bater finalmente, não tinha comido uma fatia de pizza sequer naquela maldita festa de Margaery, estava torcendo para que ela pegasse uma tremenda dor de barriga.

Quando esticou o braço para alcançar o pão no armário, o pensamento de Daenerys voltou, imaginou se ela também estaria com fome assim como ele, ele passou alguns segundos com o braço esticado tocando o pacote de pão, mas foi recolhendo devagar, e fechando as portas dos armários, foi na direção das escadas de novo, as subiu, e foi até o próprio quarto, remexeu nas gavetas da cômoda atrás de algum dinheiro perdido que pudesse juntar com o que já tinha nos bolsos, começou a contar algumas notas miúdas e moedas quando a mãe bateu novamente na porta que estava entreaberta.

-Eu estou indo buscá-los, Jon. Não deixa o Gendry bagunçar mais nada. - Avisou bem rápido e logo saiu.

Jon nem ouviu direito, logo depois que a mãe saiu, ele mesmo saiu de casa com esperanças de que o mercadinho da outra rua ainda estivesse aberto.

Ele foi andando pela rua com cuidado e atento, sabia que depois do que houve com Daenerys naquela noite sua mãe o mataria por ele estar no meio da rua aquela hora sozinho, felizmente o distrito Norte estava com uma boa iluminação nas ruas, mesmo que a prefeitura não desse tanta atenção atualmente para essas questões, os Starks sempre cuidaram do norte.

Ele foi andando pela calçada enquanto fazia uma continha mental na cabeça para se certificar que o que tinha era suficiente, ele tinha um frio na barriga, e uma ansiedade o consumindo.

talvez ele tenha levado uns 30 minutos até chegar no mercadinho, e ele agradeceu por ainda estar funcionando, podia ver algumas pessoas passando compras nos caixas, e não se demorou mais em entrar em busca do que tinha ido pegar, chegou no freezer, e se sentiu frustrado quando viu não ia achar sorvete de chocolate, resolveu pegar o de napolitano, e saiu de la com aquilo congelando a mão enquanto pensava que deveria ter pego uma cestinha, foi até outra seção, e pegou uma barra de chocolate consideravelmente grande, e um pacote de Oreo, depois de correr para pegar tudo, foi até o caixa, bem a tempo do encerramento do expediente, enquanto aguardava na fila ele transferia o peso de um pé para outro, torcendo para chegar logo sua vez e ele poder ir para casa antes da sua mãe chegar.

Quando chegou sua vez, ele foi passando devagar os itens um por um para ter certeza de que poderia pagar por tudo, depois de passar por isso, ele embalou suas compras, e foi embora andando tão rápido que estava praticamente correndo, quando chegou nos portões de Winterfell ele começou a correr de verdade, mas parou de súbito quando percebeu que o carro da sua mãe já estava parado no estacionamento, antes mesmo que pudesse mover um dedo para criar coragem de entrar, sua mãe abriu a porta, quando o olhar dela baixou repreensivo e duro sobre ele, Jon crispou os lábios e foi andando em direção a porta, quando chegou perto da soleira, levantou as sacolas para que sua mãe pudesse entender, ela analisou tudo que ele tinha trago descrente.

-Você é um conquistador e tanto, garoto. - Debochou dando-lhe um tapa na nuca para que ele entrasse.

Jon não quis responder aquilo, ficava para não viver toda vez que sua mãe o constrangia daquela forma, ainda bem que pelo menos daquela vez não tinha ninguém lá para ouvir.

-Sobe logo pra tomar banho, vou fazer o jantar. - Ela ordenou com um sorriso ladino que Jon não viu enquanto pegava as sacolas dele as levava para a cozinha.

Jon suado e já não cheirando tão bem, apenas obedeceu, foi quando se deu conta de que Daenerys deveria estar lá, ele procurou não fazer barulho e esconder até tomar um banho para que ela não o visse todo destruído, subiu as escadas sem fazer barulho, ouviu no final do corredor a voz de Gendry conversando com alguém, virou na direção da própria porta, e a abriu com cuidado para não fazer barulho.

Quando entrou, parou estático no lugar quando percebeu que ela estava lá aquele tempo todo, de pé de frente para seu armário enquanto fechava a porta do móvel, ela estava descalça, de cabelo solto, e usando a camisa do Batman mais larga que ele tinha.

Ela deu um sorriso sem jeito para ele, e ele percebeu os olhos dela começarem a brilhar. - Roubei sua roupa.

Jon soltou um riso curto que saiu involuntário da garganta, e cortou o caminho do quarto bem a tempo de abraçá-la quando os olhos lilázes ficaram nublados de água. Ele sentiu os braços magros dela envolverem a cintura dele como se fosse um mastro de navio no meio de uma tempestade, ele devolveu o aperto duas vezes mais sem precisar sentir vergonha disso.

-Eu fiquei com muito medo, pensei que fosse morrer. - Ela lhe confidenciou num sussurro abafado pelo contato da boca com o ombro dele.

Jon balançou a cabeça em negação sem que ela percebesse, ela não podia morrer nunca. -Ninguém vai te fazer mal de novo. Eu prometo.

-Igual você prometeu me dar sorvete e chocolate todo dia? - Ela debochou sorrindo e chorando ao mesmo tempo recordando de uma promessa que já tinha anos.

Jon franziu o cenho, e tentou forçar na memória algo que ele estava perdendo, ele acabou esquecendo sem querer, ela não tinha esquecido daquela promessa que ele nunca tinha cumprido até então, ele começou a rir sem acreditar quando finalmente tudo bateu na sua cabeça.

-Você está falando cedo demais, Daenerys Targaryen. - A alertou enquanto a segurava nos ombros e a obrigava a encarar a tempestade cinzenta de seus olhos.

A sobrancelhas expressivas dela se envergaram enquanto ela piscava as últimas lágrimas para fora do campo de lavanda que eram seus olhos, e então ela o abraçou novamente, porque ela precisava achar em Jon tudo o que ela sentia que estava perdendo, e se sentiu grata por encontrar tudo aquilo nele, ainda que ele estivesse cheirando a terra e a suor e ela já estivesse banhada e limpa, não importava, quando foi se afastando dele, se deu conta que ele estava repleto de arranhões.

Ela tocou o lado arranhado do rosto dele com cuidado, e ele grunhiu baixinho. - O que aconteceu com você?

Ele olhou para baixo e retorceu o rosto numa expressão que Daenerys adorava. - Eu saí correndo atrás de você, e perdi uma luta pra o chão. - Ele resumiu, não queria falar da parte que pretendia correr até o hospital por birra.

O rosto de Daenerys formou uma nuance de preocupação ao mesmo passo que seu coração se aqueceu com a demonstração do quanto Jon se importava, quantos mais ao lado dela ela tinha daquele jeito?

-Você não existe, Jon. - Ela garantiu o olhando com ternura a ponto de deixá-lo desconcertado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Houve um tenebroso atraso, mas vou explicar.
Eu já estava com esse capítulo sendo escrito há bastante tempo, e só faltava finalizar, porém meu namorado fez uma limpa no meu computador e eu perdi tudo, bateu a depressão de perder todo o material e foi uma verdadeira luta pra conseguir algo que me deixasse satisfeita como o outro tinha deixado, (ainda não consegui ficar satisfeita por falar nisso)
Mas está aí, espero que nada atrapalhe o próximo. Por falar nisso, incentivem bastante!


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