A festa dos White estava em seu auge, a casa branca dos White, sem trocadilhos, transbordava de vida e cores. A espaçosa sala estava adornada com tapeçarias finamente bordadas. Nas paredes, candelabros de prata flutuantes espalhavam uma suave luz dourada.
Uma grande mesa marrom de carvalho ocupava o centro da sala, repleta de delícias culinárias. Pratos brancos exibiam iguarias preparadas com maestria por Rose White: suculentos assados de carne de grifo, tortas recheadas com frutas exóticas das terras do leste e os mais requintados licores de uvas místicas colhidas nas terras do sul. Os aromas se misturavam, seduzindo os sentidos dos convidados.
A mesa estava enfeitada com uma variedade de arranjos florais, cada um exibindo uma paleta de cores única. À medida que a melodia da festa fluía, as flores mudavam harmoniosamente de tonalidade, e um suave murmúrio musical emanava delas ao serem acariciadas.
Risadas de alegria ecoavam pelo ambiente, enquanto Samuel White segurava seu filho, o pequeno Daniel nos braços, o novo membro da família que acabara de nascer, o motivo de toda a celebração. Aurora White, uma mãe, radiante e orgulhosa, estava ao lado de Natan, o filho mais velho do casal, que olhava carinhosamente para o irmãozinho recém-chegado.
Em um canto da espaçosa sala, um grupo de harpas e flautas tocava uma música animada de forma mágica, pois não havia ninguém para tocá-las. As melodias se espalhavam convidando os participantes a dançar em uma pequena pista especialmente preparada no centro da sala.
"Espero que ele não se pareça muito com você; para sorte dele, tomara que se pareça mais parecido com Aurora," brinca Alfredo com seu grande amigo Samuel White, enquanto olha o pequeno Daniel no colo do pai.
"Em fazer piadas, você é bom, mas tenho certeza que será um ótimo pai também, você e Eleonor, estão pensando em filhos? O Daniel precisará de um amigo para brincar," responde Samuel com tom de brincadeira.
"Você sabe que o sonho de Eleonor era entrar para os Emeralds, e agora que ela conseguiu, não temos mais tempo para quase nada juntos, quem dirá um filho, mas o que me importa é vê-la feliz, e agora sinto que agora ela está", responde Alfred, mostrando em seu rosto uma leve tristeza, enquanto olha para sua esposa Eleonor segurando o pequeno Natan, primogênito do casal White pela mão ao lado de Aurora.
O som suave de batida, quase inaudível devido à música alta, ecoou na porta da casa, interrompendo as animadas conversas que preenchiam o ambiente. Samuel apressou-se para abrir a porta, enquanto deixava o pequeno Daniel nos braços de seu amigo Alfredo, que parecia totalmente perdido, segurando o bebê, como se nunca o houvera feito antes.
"Aurora, poderia me dar uma mãozinha aqui?", gritou ele desesperado, enquanto Daniel escorregava pelos seus braços.
Ao abrir a porta, Samuel se deparou com uma lua radiante iluminando a estreita estrada de terra que levava à casa dos Whites, cercada por uma floresta encantadora. No entanto, o que o encheu de alegria não foi a cena noturna deslumbrante, mas sim o rosto de duas figuras familiares: o Professor Rodrick e o Diretor Terry, bruxos respeitados no mundo da magia.
Professor Rodrick, alto e esbelto, com uma barba curta e cabelos levemente grisalhos, vestia-se elegantemente, assim como Terry, sua fonte de inspiração. No pescoço de Rodrick, um pequeno medalhão de Aurilith capturava a atenção de Samuel. Era dourado com o número 2 gravado em prata. O Aurilith, um metal raro e mágico, tinha a incrível capacidade de capturar e reter a luz, tornando-o perfeito para preservar memórias mágicas. Esse medalhão, em particular, guardava as lembranças felizes de Rodrick com seu trio de alunos.
Samuel tinha vívidas recordações dos tempos em que fora aluno de Rodrick na Escola Superior de Magos Luxmentis. Ele era parte do time 2 da turma de 2011, ao lado de Aurora e Eleonor. A amizade que cultivaram durante aqueles anos de aprendizado e treinamento perdurava até os dias de hoje."
"Olá, Professor Rodrick, Diretor Terry, faz um tempinho que não nos vemos, vocês continuam ótimos", comenta Samuel.
"Você também está muito bem, Samuel. Aliás, quero te parabenizar pela sua nova carreira", diz Terry com um sorriso que sempre estava presente em seu rosto.
"Acho que você quis dizer bem acima do peso, não foi diretor", responde Samuel, sorrindo enquanto coloca as mãos sobre a barriga.
"A conversa está ótima, mas lá dentro parece estar bem quente e agradável. O que acham de continuarmos nossa conversa tomando um delicioso suco de uva? Além disso, estou ansioso para ver meus antigos alunos!", diz o Diretor Terry, que nunca perdia a oportunidade de tomar um suco de uva.
"Desculpe, Diretor, acabei me empolgando. Vamos entrar. Aurora e Elenor devem estar ansiosas para vê-los", responde Samuel um pouco constrangido. Antes de Samuel fechar totalmente a porta, uma voz familiar e ofegante ecoou em seus ouvidos, trazendo boas memorias.
"Espere, Samuel, não feche a porta!" exclamou a voz, quase sem fôlego, que vinha de uma mulher, que se aproximava tropeçando, quase caindo a caminho da casa dos White.
Com seus óculos de lentes espessas e cabelo desajeitado, era impossível não reconhecer a professora de poções e adivinhações, Araceli Johnston, ela tinha um ar peculiar e cativante.
"Boa noite, professora Araceli. Que prazer vê-la novamente; já faz tanto tempo desde a última vez," saudou Samuel, estendendo a mão para ajudá-la com o casaco.
"Muito obrigada. Você sempre foi tão gentil, senhor White," respondeu Araceli, entregando-lhe o casaco. "Como eu gostaria que alunos de Luxmentis de hoje em dia fossem tão educados quanto você," acrescentou.
"Venha, professora. Vamos nos juntar a todos no salão de festas; aposto que estão ansiosos para revê-la. Além disso, Rose preparou o seu prato favorito: Brócolis Estelares," convidou Samuel, indicando o caminho para a sala de festas, para Araceli que se Animou com a notícia.
Os Brócolis Estelares era uma pequena iguaria, que quando colhidos durante a lua cheia, possuíam um sabor especial, além de brilhar como vagalumes depois de cozidos.
Enquanto os convidados se reencontravam e conversavam na espaçosa sala, Aurora e Eleonor abraçaram Rodrick, finalmente matando um pouco da saudade que sentiam.
"Soube que agora você faz parte dos Emeralds, Eleonor. Estou muito feliz por você. Se me recordo bem, esse sempre foi o seu grande desejo", comentou Rodrick, transbordando orgulho.
"Não foi uma jornada simples professor, mas após várias tentativas, finalmente conquistei meu lugar. Infelizmente, Aurora teve que nos deixar, mas foi por um motivo nobre. Cuidar de dois filhos nunca é tarefa fácil e toma muito tempo", disse ela, sorrindo para a amiga.
"Mas não me arrependo, finalmente posso dizer com alegria que estou seguindo meu verdadeiro chamado, que é estar ao lado da minha família, além disso o sucesso do livro de Samuel me permitiu isto", afirmou Aurora, enquanto lançava um olhar orgulhoso para os filhos e o marido.
Do outro lado da sala Terry conversava com Samuel, Alfredo e Araceli "Sabia que seu livro se tornou a leitura base para as aulas de feitiços, Samuel?", perguntou Terry.
"Sim, diretor, fiquei sabendo disso. Quase não pude acreditar quando descobri", respondeu Samuel com empolgação.
“Você sempre foi um dos nossos melhores alunos, sabia que seria um grande bruxo,” completa Araceli
Rapidamente os olhares se voltaram para a entrada da cozinha, de onde Jon e Rose White, os pais de Samuel, surgiram carregando mais um banquete esplêndido que parecia ter saído diretamente dos livros de contos de fadas.
Rose, era a verdadeira mestra da culinária na família. Sua paixão por cozinhar para aqueles que amava transbordava, Mesmo a mesa já estando repleta com um delicioso banquete, ela sempre surpreendia com mais um prato irresistível.
"Rose, você não precisava fazer tudo isso. Deve ter dado muito trabalho," comentou Aurora, reconhecendo o esforço de sua sogra.
"Cozinhar para família e amigos é um dos melhores momentos do meu dia, então não foi um trabalho e sim um prazer," afirmou Rose.
"Além disso, Daniel merece o melhor banquete do mundo.” Completa Jon com um sorriso para a esposa.
"Samuel herdou isso da mãe, pois ele adora cozinhar e finalmente temos tempo para fazermos isso juntos," acrescentou Aurora.
O clima descontraído e feliz envolveu a todos, enquanto Alfredo acrescentou suas palavras com um sorriso maroto.
"Em casa também é parecido," começou Alfredo. "Eleonor adora ficar deitada ao meu lado me vendo cozinhar," provocou ele, arrancando risos dos presentes.
Logo, todos se deliciavam com o magnífico banquete preparado por Rose e Jon, rendendo elogios sinceros às iguarias que ressaltavam os sabores únicos das terras de Prihonux.
No entanto, a alegria foi interrompida quando Araceli, em meio ao jantar, repentinamente fixou o olhar em um ponto distante, parecendo estar em uma espécie de transe. O que logo causou preocupação nos presentes levando o Diretor Terry a se aproximar dela.
"Professora Araceli, está tudo bem com você ?" perguntou Terry a sacudindo suavemente pelo braço.
Mas a professora não respondeu e não moveu um músculo, parecendo estar petrificada. Em um instante de agonia, ela deixa cair o prato e caiu de joelhos ao chão, emitindo um alto grito angustiado, que provocou calafrio em todos os presentes.
Preocupados, todos se aproximaram para auxiliar Araceli, até que finalmente ela se desfaleceu ao chão, como se tivesse perdido suas forças.
Após alguns segundos tensos de silêncio, ela finalmente começa a recobrar a consciência, mas visivelmente ela não estava bem, parecia assustada como se tivesse visto um fantasma. "Me desculpem por isso." Diz ele enquanto e ajudada a se sentar por Terry e Alfredo.
Terry que conhecia bem a amiga de longa data, e pergunta já suspeitando o que tenha acontecido, “O que aconteceu com você Araceli?”.
Eu tive uma Visão, responde ela respirando fundo para acalmar-se, mas ainda tremendo de medo.
Araceli, o que você viu? - perguntou Aurora, um pouco angustiada.
"Vi algo que preferia não ter visto, vi que os poderes de necromancia vão ressurgir, e Prihonux pode voltar a ser totalmente dominada por este poder. Afinal ninguém e capaz de lutar contra algo assim." Explica ela.
Samuel, com um misto de surpresa e preocupação, perguntou em voz alta. "Necromancia? Nunca se ouviu falar de alguém capaz de usar esta arte das trevas há séculos."
"Sei que parece inacreditável, mas a visão foi clara e aterrorizante. Vi um mago capaz de controlar os mortos."
“Mas a pior parte, e que este mago poderá trazer de volta a vida algo que é bem pior que todos os mortos juntos, ele o Senhor dos mortos”. Disse ele assustada.
Era possível ver a face de incredulidade e desespero de todos os presentes, afinal todos há ouviram histórias terríveis sobre o Senhor dos mortos.
"O Senhor dos mortos?! O poderoso mago capaz de aniquilar exércitos sem qualquer ajuda de outros mago, apenas com o seu exército de mortos vivos? O que é capaz de domar dragões? Em toda minha vida sempre acreditei que estas histórias não se passavam de mitos." respondeu Jon, incrédulo.
" Mas a parte mais aterrorizante vem logo a seguir, vi que os poderes do grande necromante ressurgiram em seu filho, e com este poder ele poderá salvar o mundo de uma terrível guerra ou esmagá-lo como um pequeno inseto embaixo dos pés." Completa Araceli visivelmente abalada, lutando para conter as lágrimas
Aurora assustada abraça seu esposo e filhos e diz "Não se preocupem, queridos. Isso é apenas uma visão e não sabemos ao certo o que isso significa, e se realmente ela se cumprirá."
"Araceli, sabemos que suas visões são poderosas, mas também são enigmáticas. Devemos tomar cuidado ao interpretá-las," ponderou Terry.
Araceli respondeu: "Você está certo, Diretor Terry. Eu não quero trazer medo ou aflição com meu dom, mas essa visão parecia diferente, mais vívida e urgente do que qualquer outra que tive antes."
Jon, colocando a mão no ombro de Araceli, tentou confortá-la. "Confiamos em você. Se há algo que viu em sua visão e devemos fazer para impedir tudo isto, conte-nos."
"Sim, querida, estamos aqui para ajudar," completou Rose.
"Obrigada, Jon e Rose, mas não vi mais nada, apenas isso. Sei que precisaremos ficar atentos e preparados. O destino dos White e de Prihonux pode estar ligado de uma forma que ainda não entendemos." Explica Araceli.
Terry começou a falar com um tom de seriedade: "Escutem todos, faremos o seguinte. A partir de agora, estaremos atentos e preparados para qualquer eventualidade. Mas até descobrirmos ao certo do que se trata exatamente esta visão, manteremos isso em segredo máximo por enquanto." Diz ele, e todos concordaram com Terry.
Em meio a essa situação inesperada, o destino dos White e de todo o universo de Prihonux parecia estar mais uma vez conectado por forças misteriosas. O que eles fariam a partir de agora afetaria todo o mundo que conheciam.
Todos ali presentes fizeram um pacto silencioso de não revelar o que havia ocorrido, compreendendo a importância de enfrentar o futuro com cautela e sabedoria.
E assim, a noite prosseguiu, agora sem toda a alegria e sorrisos que antes eram vistos e ouvidos no local, mas agora em meio aos segredos e ao mistério, marcando o início de uma jornada que mudaria a vida de todos, não apenas dos magos das terras do norte, mas de todo o universo de Prihonux.
Meses se passaram desde aquele dia, e após uma busca incessante por respostas sem sucesso, todos precisaram retomar a normalidade, incluindo os White, que se esforçavam para manter uma vida comum em prol do bem-estar de seus filhos.
"Tenha cuidado para não deixar a comida queimar novamente", disse Samuel White com um sorriso, brincando com sua esposa Aurora ao lembrar da noite anterior onde ela se distraiu deixando o jantar com um gosto amargo.
O delicioso aroma dos ingredientes se entrelaçava no ar, envolvendo a cozinha como um abraço acolhedor. Enquanto Samuel se divertia provocando Aurora, um sorriso brincava nos lábios dela. Ela pegou um pano de prato para enxugar as mãos e levemente repreendeu o marido: "Eu só queimei uma vez, e foi um acidente. Você sabe que me distrai vendo as novas promoções da loja bruxas da moda", recordou, com um leve rubor corando suas bochechas.
"Ah! Querida, você sabe que eu adoro um prato defumado", brincou Samuel, erguendo uma sobrancelha sugestivamente.
"Mas onde estaria a graça de ter uma esposa tão talentosa na cozinha se eu não pudesse deixá-la um pouco vermelha e nervosa de vez em quando?", acrescentou, com um olhar travesso e um toque de medo da esposa.
Aurora soltou uma risada suave e balançou a cabeça, fingindo indignação. "Ah, muito engraçado! Agora chega de piadas e corte essa salada mais rapidamente, porque nossos filhos estão famintos", disse ela, observando o pequeno Natan, com os olhos brilhantes prestando a atenção em cada palavra dita pelo casal. Sua barriguinha já roncava impacientemente, esperando pelo jantar.
Samuel sorriu com ternura, inclinando-se para o filho pequeno, Natan, como se estivesse compartilhando um segredo valioso e profundo. Sua voz, suave como um sussurro, carregava o peso da experiência e do amor paterno. "Natan, meu filho, deixe-me ensinar a você o maior segredo que um homem pode compartilhar com outro: a verdadeira felicidade está em ter uma família feliz", disse ele, seus olhos brilhando como se realmente vivesse o que falasse.
"Portanto, quando você tiver um relacionamento, lembre-se sempre do que seu pai lhe diz agora. Nunca esqueça de que é melhor ser feliz que estar certo. Deixe sua amada sempre acreditar que ela manda na casa e ter sempre a razão, assim a alegria vai estar presentes no seu relacionamento e você sempre dormira na cama." Completa ele em tom de brincadeira.
"Estou adorando essa conversa, querido. Continue a dar conselhos ao nosso filho, mas não se esqueça de ensinar isso ao Daniel também, que está adormecido lá em cima, inconsciente das preciosas palavras que você compartilha conosco." Diz ela com um tom levemente irônico. Uma sensação de calmaria e alegria envolvia a cozinha, enquanto o toque suave do vento contra as cortinas criava um ritmo tranquilo.
Mas, de repente, um ruído perturbador ecoou do exterior da casa, rompendo a paz que antes reinava. O som penetrante como de passos de animais reverberou pelos corredores, fazendo Aurora lançar um olhar sério e preocupado para Samuel. Um sentimento de urgência tomou conta deles enquanto rapidamente avaliavam a situação.
Samuel segurou firmemente Natan pelos braços, como se já soubesse o que poderia estar rodeando sua casa, sua expressão muda rapidamente e que antes era um sorriso amoroso, agora é um face seria de um pai preocupado com a segurança do filho. "Vá para o quarto e cuide do seu irmão mais novo, agora!", grita ele em tom apressado, com a voz carregada de adrenalina.
Natan com seus olhos arregalados sem entender bem o que está acontecendo sobe as escadas o mais rápido que pôde, seus pequenos pés quase tropeçando em cada degrau, subiam com certa dificuldade a escada. À medida que progredia, um estrondo alto e assustador vindo da porta principal parecia se intensificar, como se algo implacável estivesse arrombando a entrada da casa.
A sensação de temor consumia Natan, mas ele não podia deixar que o medo o paralisasse e começou a correr. Chegando ao quarto de seu irmão, suas mãos tremiam enquanto tentava encaixar a chave na fechadura do lado interno da porta. O barulho ensurdecedor da luta e os gritos que ecoavam pelo andar de baixo alimentavam a preocupação em seu coração, tornando-o ainda mais determinado a proteger seu irmão.
Finalmente, a porta se trancou, oferecendo um breve alívio. Natan permaneceu imóvel ao lado da cama de Daniel, seus sentidos estavam aguçados enquanto o som da batalha prosseguia pela casa, como trovões estrondosos que reverberavam nas paredes. A cada estrondo, sua coragem era testada, mas ele se manteve firme.
Enquanto o caos continuava, o choro do pequeno Daniel, que depois de todo o barulho havia despertado preenchia todo o quarto. A angústia rosto no rosto diminuía a cada segundo, enquanto ele reconhecia a figura reconfortante de seu irmão mais velho, Natan estava preocupado com que o choro do seu irmão fosse ouvido pela pessoa ou sabe-se lá o que era esta criatura que estava invadindo a sua casa. Ele o abraçou com ternura, sussurrando palavras tranquilizadoras: "Fique calmo, Dan, seu irmão está aqui para cuidar de você". Suas palavras eram um calmante para o coração aflito de Daniel, que gradualmente acalmou seu choro, sentindo-se seguro nos braços do seu irmão mais velho.
O barulho de luta continuava a ressoar pelo ar, cada golpe e grito parecia entrar diretamente no ouvido de Natan, fazendo O coração bater acelerado em seu peito, deixando seu corpo tenso enquanto ele permanecia no quarto, abraçado a seu irmão Daniel, esperando pelo fim de toda aquela angústia.
Então, de repente, rompendo o tumulto caótico, um grito desesperado e dilacerante cortou o ar: "Nãoooooo!". O som agudo invadindo o quarto, preenchendo o ambiente com uma dor palpável. Lágrimas ameaçaram escapar dos olhos de Natan ao reconhecer a voz angustiada de sua mãe. Seu coração apertou-se em agonia, sua mente se encheu de temores inexprimíveis.
Mas a luta continuou, antes de finalmente cessar em poucos instantes. O silêncio tenso pairou no ar por alguns segundos, interrompido apenas pelos passos lentos e pesados que começaram a subir as escadas da casa.
Os passos se aproximavam gradualmente, cada vez mais perto do quarto de Daniel. O medo consumia Natan, fazendo sua respiração se tornar rápida e profunda, seu peito subindo e descendo em um ritmo frenético.
Então, o som metálico da maçaneta da porta ecoou no quarto, como um presságio sombrio. Natan sentiu uma onda de desespero e incerteza percorrer seu corpo frágil. Em um misto de medo e esperança, ele sussurrou, quase sem voz: "ma, ma, Mamãe?"
O quarto parecia congelar em antecipação, a tensão preenchendo o ar até o limite. Sua mente girava com uma infinidade de possibilidades assustadoras. Um estrondo ecoou pela casa quando a porta foi partida ao meio com um único golpe, revelando uma cena terrível. Não era a figura materna esperada do outro lado, mas sim uma presença sinistra e aterradora.
Através da porta despedaçada, emergiu uma figura sombria, semelhante a um homem, porém distorcida e monstruosa. Sua estatura era imponente, Natan nunca tinha visto homem tão grande, com músculos sinuosos e uma aura de poder assustadora. Longos cabelos despenteados cobriam seu corpo, mesclando-se com densos pelos que pareciam se mover. Garras afiadas adornavam suas mãos, e seus dentes pontiagudos reluziam com um brilho perverso.
Ele começa caminhar e direção a Natan e cada passo da figura macabra deixava marcas profundas e sangrentas no chão, como se o próprio ambiente sofresse sob sua presença. O cheiro que o acompanhava era nauseante, remetendo cachorro molhado.
Natan parecia estar congelado enquanto observava a cena horrorizante diante de seus olhos. Antes que pudesse reagir, o estranho ser investiu, arrancando o pequeno Daniel de seus braços com uma força sobrenatural. O garoto indefeso foi brutalmente jogado ao chão, ele nem sequer conseguira ver o movimento da criatura, parecendo que se movia mais rápido que um raio de luz.
Mas ao ver se pequeno irmão nas mãos da criatura, movido por uma mistura de desespero e coragem, Natan tentou se levantar, sua mente pequena não conseguia pensar em nada pela adrenalina e com um punho cerrado, ele lançou um soco feroz em direção ao gigante peludo ensanguentado, esperando fazer justiça ao seu irmão. No entanto, seu golpe encontrou apenas uma parede impenetrável de músculos, e resultando foi apenas uma dor gigantesca, enquanto o homem monstruoso permanecia imóvel diante do ataque ineficaz.
O olhar sádico do invasor se fixou em Daniel, estendendo suas garras como lâminas ameaçadoras. Em um movimento preciso, como se fosse cortar a garganta do indefeso garotinho. Nesse momento de desespero, algo extraordinário aconteceu.
Uma luz brilhante, enchendo o quarto com seu esplendor. Era tão intensa que poderia ser vista a quilômetros de distância, rompendo a escuridão e silêncio do quarto, um som de vários gritos foram ouvidos por Natan, todo esse brilho e barulho o fizeram perder repentinamente as forças, seu corpo desfalecendo no chão.
O corpo de Natan pesava como chumbo enquanto ele lutava para recuperar a consciência alguns minutos depois de ter desmaiado, os olhos piscando rapidamente para afastar o véu que turvava sua visão. A fumaça branca que pairava ao seu redor começou a se dissipar lentamente, revelando os contornos assustadores do que restava do ambiente em que se encontrava.
Os primeiros sons que alcançaram seus ouvidos foram os soluços angustiados de seu irmão Daniel. Natan virou a cabeça na direção do choro, com o coração apertado de medo. Lá, no chão, encontrava-se seu amado irmão, desamparado e mergulhado na tristeza que a situação impôs sobre ele.
As imagens aterrorizantes do agressor que havia ameaçado a vida de Daniel surgiram na mente de Natan como flashes sombrios, acendendo um fogo implacável em seu interior. Seus olhos varreram freneticamente o espaço em busca do responsável por tamanha crueldade.
Não demorou muito para que seus olhos encontrassem o homem peludo, caído envolto por um mar de sangue. Natan sentiu um alívio momentâneo varrer seu ser diante da cena, apesar de ainda ser jovem ele sabia que a morte era algo horrível, mas não a deste ser. Um suspiro de alívio escapou de seus lábios, , pois ao menos o agressor estava aparentemente neutralizado.
Porém, enquanto seu olhar se afastava da figura monstruosa, ele se deparou com a visão dilacerante de seu pai, deitado imóvel no chão. Seu peito exibia uma ferida profunda, como se tivesse sido brutalmente rasgado por garras afiadas de um lobo faminto. O sangue manchava suas roupas e o chão ao redor, criando um quadro desolador de dor e sofrimento.
Natan sentiu uma onda de desespero e raiva inundar seu corpo, suas mãos tremendo enquanto ele lutava para processar a gravidade da situação. Uma sensação de impotência se misturou ao seu desejo de vingança, será que está criatura havia feito isso com o seu amado pai? Ele sabia que não podia ficar paralisado pela tristeza e pelo choque.
"Paiii!" ecoou o grito de Natan. O silêncio era a única resposta que recebia, deixando-o em um vazio angustiante. Seu coração se apertava com força enquanto as lágrimas, quentes e salgadas escorriam pelo rosto, ele arrastava-se com determinação pelo chão frio e empoeirado em direção ao corpo inerte de seu pai. Seus movimentos eram lentos, como se o tempo se esticasse cada vez mais, e suas mãos tremiam.
A cada centímetro percorrido, as lágrimas se multiplicavam, transformando-se em um dilúvio que embaçava sua visão e confundia seus sentidos.
Finalmente, após uma jornada que parecia interminável, Natan alcançou o corpo ferido de seu pai. Uma mistura de alívio e angústia o invadiu. A pele que outrora emanava calor e conforto agora estava marcada por cortes profundos e hematomas sombrios. O calor humano se extinguira, substituído por uma frieza implacável que parecia permear o ambiente.
Com as mãos trêmulas, Natan tocou o rosto pálido de seu pai, esperando sentir qualquer sinal de vida que lhe trouxesse um vislumbre de esperança.
"Pai, fale comigo, sou eu, Natan, seu filho!" o grito de Natan naquele ambiente silencioso e desolado, foi como um apelo desesperado para romper a barreira da imobilidade.
Decidido a encontrar uma conexão com o pai que parecia tão distante, Natan deitou-se ao lado dele, permitindo que suas mãos se entrelaçassem com as do pai, como um último elo. A cabeça do menino repousou no braço do pai, buscando conforto na proximidade, como se desejasse compartilhar sua força e vitalidade com aquele que agora parecia tão frágil e distante. De repente, um ruído foi ouvido no andar inferior, rompendo os pensamentos de Natan.
"Meu Deus! O que foi que aconteceu aqui?", indagou uma voz trêmula, carregada de angústia e surpresa. Se podia escutar novamente algo subindo as escadas, mas agora de formas muito mais suave, Natan nem se preocupou em se mexer ou olhar para ver quem estava se aproximando, nada mais importava para ele apenas o seu pai, os passos ficaram próximos e formalmente revelaram uma figura frágil e atormentada. Era Eleonor, uma mulher de estatura pequena, com uma expressão de choque estampada em seu rosto pálido. Seus cabelos negros caíam em mechas desalinhadas, emoldurando seus olhos marejados.
"Samuel? Você está bem?" A voz de Eleonor ecoou no quarto. Seus passos vacilantes se aproximavam da cena caótica que se desenrolava diante de seus olhos, a cada passo aprofundando sua perplexidade. Ela era incapaz de compreender o que havia acontecido.
Com determinação e agilidade, Eleonor se aproximou de Daniel, o garoto frágil e assustado que chorava em desespero, e o acolheu em seus braços. Sua voz se tornou um sussurro reconfortante, enquanto tentava transmitir segurança ao menino que tremia em seus braços.
Pouco depois, Alfredo, de semblante sério e olhar compassivo, adentrou o quarto. Seus olhos encontraram os de Eleonor, compartilhando uma troca de olhares carregada de preocupação e tristeza.
"O que aconteceu aqui, Eleonor?" perguntou Alfredo, sua voz era carregada de preocupação.
“Agora não é hora de fazer perguntas, primeiro vamos ajudar os garotos”.
"claro, claro"
Ele se aproximou de Natan, ajoelhando-se gentilmente ao seu lado, com um gesto cuidadoso e empático ele diz:
"Eu não posso nem imaginar o que esteja sentido, garoto. Mas saiba que s eu e Eleonor estamos aqui e cuidaremos de vocês".
Nesta noite, Eleonor, Alfrede, Natan e o pequeno Daniel perceberam que A vida não se desenrola em uma tela em branco, onde moldamos nossos caminhos dependem exclusivamente de nossa vontade própria, na verdade ela é um novilho de lã entrelaçado pelas atitudes e escolhas de outros. O destino, frequentemente, se forma em teias invisíveis, conectando indivíduos de formas inesperadas e surpreendentes.
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