Já fazia um mês que Theo tinha começado a faculdade e mesmo ouvindo frases clichês de seus professores como “Aqui vocês precisam se destacar” “Mostrem seu potencial” “Aqui e no mercado de trabalho vocês tem que ser o personagem principal da sua própria historia e não um figurante” Raeken continuava sendo mesmo garotinho tímido, introvertido e quietinho como era desde o fundamental e por isso já tinha passado por alguns desafios acadêmicos como o de falar em público para uma sala com sessenta pessoas foi um deles, Theo suou frio naquele dia, ainda mais por que eu garoto ruivo o encarava o tempo todo, enquanto tentava se concentrar ao maximo para não gaguejar ou errar algum termo apresentando seus slides sozinho, o ruivo o fitava e cochichava algo com os amigos, Theo engoliu em seco e agradeceu internamente ao ver o ultimo slide na tela.
−Parabéns Raeken você pontuou muito bem o que eu havia pedido no roteiro de pesquisa e sua apresentação foi rica em detalhes muito interessantes.
Elogiou a professora, Theo sorriu e desconectou sua pendrive do computador voltando ao seu lugar.
O tempo todo o tal ruivo o olhava como se ele fosse um pedaço de carne. Raeken sabia que aquele garoto não cursava contabilidade, na verdade aquela era a única aula que os dois se viam por terem a mesma matéria na grade curricular graças à universidade que fez uma junção de salas entre contabilidade e logística.
O sinal tinha acabado de tocar e os alunos que já tinha apresentado seus trabalhos estavam liberados para sair, Theo caminhava até o portão da saída distraído mexendo em seu celular quando o garoto ruivo apareceu fazendo seus corpos se chocarem, Theo quase caiu, mas o ruivo o segurou:
−Cuidado para não cair príncipe. –Disse o ruivo, ele tinha uma voz grossa e ridiculamente atraente.
−Er... Desculpa a culpa foi toda minha. –Falou Theo se afastando.
−Tudo bem príncipe não se preocupe, meu nome é Henrique, mas pode me chamar de Henri. –Piscou de uma forma de Theo achou um pouco esquisita, o que aquele ruivo queria? –Você deve ser Theo, o calouro de Contabilidade.
−Sim, nos temos gestão empreendedora juntos. –Falou com as mãos suando, Theo estava nervoso, Henrique era alto e forte, um rato de academia sem duvidas e isso fazia o Raeken se sentir vulnerável. –Acho melhor eu ir embor...
−Que isso príncipe, por que não vamos até a cafeteria da facul beber ou comer alguma coisa? Quero te conhecer melhor.
Príncipe, Henri parecia fazer aquela palavra ser tão importante, Theo tinha gostado do apelido. Theo é bisexual, mas desde que se descobriu gostando de mais de um gênero não tinha tido a oportunidade de chamar algum cara para sair, ou ser chamado como agora, estava com receio, mas aceitou o convite.
Naquela tarde Theo e Henri conversaram e o Raeken não podia negar que seu coraçãozinho estava batendo mais rápido por conta do ruivo, nos dias seguintes eles passaram o intervalo juntos, esperavam um ao outro na saída e até que num final de semana Henri pediu que Theo fosse até a sorveteria que ficava em frente à universidade e ele foi e acabou se surpreendendo com um pedido de namoro e o moreno aceitou.
A partir daí que tudo começou a dar errado.
Após um ano de namoro escondido, Theo finalmente saiu do armário de vidro que ele vivia e contou sobre ser Bi e estar namorando um menino aos seus pais, a reação que eles tiveram foi totalmente contraria ao que ele esperava com acolhimento e amor, sua mãe chorou e seu pai disse coisas horríveis e para piorar o casal tomou como decisão final a expulsão do filho, Theo foi jogado para fora de casa junto com suas roupas e livros da faculdade, ele chorou e implorou muito enquanto batia na porta do que ele costumava chamar de lar.
“O que eu faço? O que eu vou fazer agora?”
Theo pensava enquanto juntava suas coisas que estavam na calçada até seu celular tocou, era Henri:
−H-Henri, deu tudo errado. –Falou ao atender a ligação com a voz embargada.
−Respira príncipe, o que eles disseram? –Perguntou Henri.
−Eu não quero repetir o que eu ouvi, mas foi horrível e... –Ele se sentou no meio fio. −Eles me expulsaram Henri! Onde eu vou morar? P-por sorte na faculdade eu tenho bolsa se não seria mais uma preocupação, mas mesmo assim eu não tenho um trabalho, não tenho dinheiro para pagar aluguel!
−Príncipe vem morar comigo na republica até vocês se acertarem, você fica aqui comigo.
−N-não sei Henri... Não me parece uma boa ideia.
−Pensa comigo príncipe vai ser bom ter você aqui todos os dias, isso significa que eu vou te fuder toda noite. –Theo não tinha gostado daquela frase ou do tom que Henrique disse, ele estava cheio de problemas e o ruivo estava pensando em sexo? –Theo você sabe que não tem escolha.
Henri tinha razão, Theo não tinha nenhum familiar a quem pedir ajuda, sua irmã que ele amava tanto tinha morrido quando ele era criança, ela era a única que o compreendia. Ele também não tinha nenhum amigo e mesmo que Henri estivesse pensando com a cabeça debaixo, era bom saber que pelo menos alguém iria acolhê-lo e o namorado tinha parcelas de culpa naquela situação, havia uma semana que o ruivo ficava trazendo o assunto se assumir para os pais a todo o momento, chegou a ameaçar de terminar com Theo.
“Eu sabia que devia ter esperado ou falado com mais cautela...” Pensou sentindo o peso da culpa em seus ombros.
−Eu vou, mas vai ser por poucos dias.
Esses “poucos dias” se tornaram quatro anos...
Henri se formou na faculdade e um ano depois Theo também se formou, o baile de formatura não passava de um borrão em sua mente, Henri tinha oferecido varias bebidas fazendo com que ele acordasse no outro dia na cama de um motel desconhecido e sentindo uma dor insuportável nas partes baixas.
Após a formatura o casal se mudou para um apartamento que os pais de Henri tinha lhe dado de presente, o ruivo vinha de uma família influente na cidade de Beacon Hills, os progenitores de Henrique eram os melhores e mais caros dentistas da região. Theo ficou apreensivo quando se mudaram para o apartamento, Henri exagerava nas bebidas e quando eles moravam na republica e o namorado tentava bater ou ameaça-lo os outros moradores ajudavam e protegiam Raeken, mas agora era só os dois, sozinhos naquela pequena casa.
A relação de Henri e Theo não era fácil, dia a pós dia durante esses quatro anos o ruivo se tornou cada vez mais ciumento, possessivo e agressivo. Era como se Theo andasse em um campo minado ao lado do namorado, pois cada passo que ele dava tinha que tomar muito cuidado para que uma bomba não explodisse. As brigas diárias se tornaram cansativas e chegou ao ponto do Raeken não contestar as ordens de Henri, ele abaixava a cabeça e fazia do jeito que ele queria para evitar maiores discussões.
Todas as vezes que Theo procurava um emprego para alcançar sua independência financeira Henrique o barrava e vinha com um discurso de que seu salário era suficiente e que ele não queria que Theo sofresse trabalhando várias horas, ao lado de funcionários que poderiam machuca-lo ou de chefes que iriam humilha-lo.
−Príncipe entenda... –Segurou o rosto de Theo apertando suas bochechas de forma dolorosa. −Você é muito frágil para o mundo, mas não se preocupe eu cuido de você ok?
−O-ok...
−Agora esqueça essa historia de emprego e me diga uma coisa que está me deixando muito nervoso.
Henri sentou no sofá passando as mãos pelos cabelos, Theo engoliu em seco tentando pensar em qualquer mínima coisa de errado que ela possa ter feito naquele dia.
−Henri sobre o que você está falando? –Perguntou apreensivo.
−Não se faça de burro, eu estou falando da mulher que você andou flertando hoje de manhã! –Praticamente cuspiu as palavras.
−Mas...
−Você não me engana Theo, ou você acha que eu esqueci que você gosta dos dois gêneros hein? Isso... Isso me deixa louco! –Falou irritado. –Eu odeio que você seja assim, só me traz mais preocupação, além de me preocupar com os caras que podem dar em cima de você, tenho que me preocupar com essas putas que você fica de papinho!
−H-Henrique como você tem coragem de odiar a minha sexualidade, ela faz parte de que eu sou!
Não era a primeira vez que o ruivo usava a sexualidade de Theo contra ele mesmo.
–Aquela é só nossa vizinha, e-ela namora e tem até uma filha...
Raeken se levantou para tentar se aproximar de Henri, mas este o empurrou com força de volta para o sofá.
−Henri eu nunca dei motivos para que você desconfiasse de mim, eu sempre fui fiel e eu te amo! –E Theo realmente amava Henri, seu amor por ele ultrapassava barreiras que lhe causavam muitas dores emocionais e físicas.
−Príncipe me escuta sim? Você é só meu. –Falou apertando o braço de Theo que gemeu. −Se eu descobrir que você anda me traindo eu acabo com você e com a pessoa.
−Henri você está me machucando. –Disse assustado.
−Essa é a intenção. –Finalmente soltou o braço de Raeken e pegou as chaves do carro. –Você me estressou demais hoje, por sua culpa eu preciso de um gole, acho bom não reclamar dizendo que eu bebo muito, sendo que se você não fizesse essas merdas eu não precisaria beber. Ah e eu não sei que horas eu volto.
Foi a ultima coisa que ele disse antes de bater a porta, deixando Theo à beira de uma crise de ansiedade, ele foi até a cozinha beber um pouco de água para se acalmar e derrubou o copo de tanto que tremia, se agachou para limpar os cacos com a visão borrada pelas lagrimas que estavam brotando.
“Eu faço tudo errado... É por isso nós brigamos sempre. A culpa é toda minha.”
Pensou sentindo uma lagrima escorrer por sua bochecha e rapidamente limpou com as costas da mão.
“Se Henri se cansar de mim eu estou na rua... Preciso trabalhar nem que seja escondido dele assim se acaso ele me expulsar não passarei por aquela mesma situação que tive com meus pais.”
Theo aproveitou que o namorado tinha saído para pegar seu notebook e olhar por vagas na sua área de formação, tinha achado algumas, mas uma em especifico lhe chamou a atenção, era um pouco longe de onde ele morava o que significava que ele teria que pegar pelo menos dois ônibus para ir e mais dois na volta, mas a carga horária era o que mais importava.
−Nesse horário eu conseguiria sair depois dele e voltar antes dele.
Analisou a carga horária para a vaga de Assistente de contabilidade era das oito da manhã ás cinco e meia da tarde e Henri saia às sete da manhã em ponto para o trabalho em uma empresa de logística na cidade vizinha e só voltava às oito da noite, às vezes as dez quando ia com os colegas de trabalho em algum bar.
–Perfeito, vou me candidatar.
Dunbar Pencils Contrata:
Assistente de Contabilidade
-Inicio Imediato
-Carga Horária: Seg. á Sex. Das 08h00min ás 17h30min
−Salário Compatível com a função.
−Benefícios: Almoço na empresa, Vale transporte, Plano Médico.
Deseja se candidatar á esta vaga?
(x) Sim ( ) Não
−Oh céus que eu não me arrependa dessa decisão... –Disse anexando seu currículo no site.
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