— Vocês sempre saem juntos? — Todoroki perguntou quando a viatura dobrou a esquina.
— Sim. — A resposta de Katsuki foi simplista, permanecendo com o olhar na pista, sem entender a profundidade das palavras do colega. — Uma vez Aizawa disse que eu costumo dar menos problemas indo com o Eijirou, então ele começou a nos mandar sempre juntos.
— E ninguém nunca desconfiou? Sabe, da relação de vocês?
A rua à frente tornou-se mais estreita, por pouco poderia ser dita como mão única, e segundo a placa, em breve eles chegariam ao final — sem saída — dela.
— Acredito que não, eu costumo dar muito gelo no Eijirou e ele limita as palavras comigo. Ao meu ver, os outros acham que somos educados um com o outro porque, supostamente, se brigássemos, daria empate, então ficamos na nossa, sem discussão, com medo do vexame que seria se perdêssemos um para o outro. Porém…
— Jura que tem um porém… — Os olhos bicolores minimamente se arregalaram e o rapaz até se ajeitou no banco, apoiando o braço na janela do veículo para dar total atenção ao que imaginava ser algo interessante.
— Não duvido que o Shouta já saiba.
Os polícias se entreolharam e sorriram; não podiam negar, era engraçado que o delegado realmente soubesse do caso e estivesse acobertando, ou no mínimo, fazendo vista grossa.
Como a rua ficou estreita demais, dando visão de um terreno baldio poucos metros à frente, Bakugou, que já estava exageradamente devagar, parou o carro.
— Aí!
A parada não foi brusca, mas o findar do movimento do pneu da viatura fez uma pedra ser arremessada, atingindo o braço de Shouto, que estava para fora da janela.
— Que foi? — perguntou o loiro, tentando ver o que o amigo tanto olhava do lado de fora, e claro, o motivo de seu grito desnecessário.
A atenção do policial dos cabelos bicolores estava na roda do carro, ou mais necessariamente, nas pedras à volta.
— Kat, vem cá, olha as pedras na rua.
A porta da viatura foi aberta antes que Bakugou conseguisse processar o pedido, não vendo o que podia haver de tão interessante em pedras, porém, não demorou em desafivelar o cinto e descer para acompanhar o que seu parceiro olhava com tanta atenção, perdido a passos lentos.
— O que aconteceu, porra?! — gritou, olhando para o chão como Todoroki, sem fazer a menor ideia do estavam "olhando".
Katsuki começou a duvidar das habilidades do outro e do que falavam sobre ele ser um excepcional oficial.
— Esse tipo de pedra… — falou, agachado, recolhendo outra das mini rochas. — Tem delas por toda a cidade?
O rapaz levantou a cabeça, tendo parte dos olhos escondidos pela franja, onde a luz do dia só alcançava a íris azulada, fazendo a pergunta como se a resposta fosse simples.
— VOCÊ FICOU LOUCO, SHOUTO?! — Não havia necessidade de brutalidade, mas era Katsuki Bakugou, que para se fazer entendido, agarrou a gola da farda do colega, quase o levantando do chão. — Como é que eu vou saber de pedras, droga!? — rosnou, soltando o outro. — Devem estar por toda parte, são pedras!
Ajeitando a roupa e exibindo uma face de insatisfação por causa da atitude de Bakugou, Todoroki se levantou e caminhou para frente.
— Ontem, na casa do Denki, quando eu fui para a área, Inasa e eu ficamos conversando.
— O que isso tem a ver, idiota? Resolveu dar uma chance?
— Não viaja. — O loiro ainda riu debochadamente, mas sabia que era realmente impossível haver algo entre os dois. — Pouco antes de voltarmos, alguém jogou uma pedra — colocou-se a explicar, ainda andando, lentamente, olhando o muro de madeira à sua direita e o mato alto; havia mais daquelas pedras ali. — Deixamos por aquilo, pois não vimos nem ouvimos nada e já era tarde. Porém, vindo trabalhar hoje pela manhã, não vi mais dessas pedras por aí, e agora cá estão elas, apenas aqui.
O loiro ainda não entendia onde o parceiro ia chegar, mas se aproximou, acompanhando seus passos, julgando que ele devia ter razões e conclusões justificáveis.
— Não há razão para alguém guardar uma pedra de outro lado da cidade, para apenas atirar em um desconhecido por diversão. — Talvez Katsuki já estivesse compartilhando dos pensamentos de Todoroki, olhando tão atentamente para o asfalto quanto ele.
— O que tem por ali? — perguntou Shouto ao apontar para a trilha à esquerda — felizmente larga o bastante para um carro passar — porém, mantendo o olhar para o extenso terreno vazio à frente.
— Hum… A gente saiu do trajeto que deveria estar fazendo, mas julgando por nossa localização, acredito que era para ter um ferro velho desativado nessa direção.
Os dois pararam, encarando-se e anuindo ao mesmo tempo.
— Vamos, juntos, verificar — disse Kat, firme, para se fazer entendido.
— E depois o terreno baldio.
Em silêncio e com parte de um plano, os dois caminharam lado a lado; a mão no coldre e os olhos atentos. Não podia ser coincidência, certo? Seria ridículo.
Como Bakugou havia falado, realmente tinha um ferro velho naquela direção, poucos metros à frente, cercado por mato alto, entulhos de construções e pedaços de toras apodrecidas.
— Ei — chamou baixo —, você vai por ali, e se vir algo, não aja sozinho. — Foi um pedido, o loiro explosivo sabia, lembrava-se de que, apesar de Shouto não ter aberto a boca quando Kirishima pediu para cuidar dele, o atual parceiro havia levado aquelas falas a sério.
— O mesmo vale para você.
Os policiais se separaram, agora com as armas em punho, mantendo a postura de alerta, caso realmente encontrassem algo.
Naquele cemitério de carros velhos, onde a vegetação tomou conta, eles — de certa forma — por puro instinto, sem pistas verdadeiramente relevantes, caminharam observando e procurando sinais de que a maldita pedra não foi um mero acaso. O silêncio reinou por três minutos.
— Katsuki!
Sentindo o sangue fluir em suas veias como sentia em meio a tiroteios, Bakugou correu na direção de onde a voz do amigo ecoou, torcendo para que estivesse tudo bem.
— Shouto. — Parou, soltando um suspiro de alívio por ver o outro sozinho. — Viu algum-
— Olha aqui…
Todoroki estava parado ao lado do que deveria ter sido uma caçamba de lixo; sua voz havia soado indecifrável para o loiro, mas, bem sutilmente, havia um pontinho de alívio nela.
— Mas que- — As mãos bronzeadas apertaram o metal, quando o corpo se debruçou para olhar mais de perto. — Ela…
— Kyoka Jirou, a última a desaparecer.
Slenderman, homem magro, anormalmente alto, com uma cabeça branca inexpressiva e que veste um terno preto; indivíduo fictício, existente apenas em lendas urbanas… supostamente.
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