Tudo começou com uma única frase.
─ Você veio ─ foi o que Kaiser disse, em meio a um sorriso bobo, ao abrir a porta de casa e perceber que Joui estava ali.
Joui vestia roupas casuais dessa vez, e não seu costumeiro traje das missões. Não carregava armas, apenas uma sacola de presentes em uma das mãos, e uma mochila nas costas, cheia de coisas para passar a noite, Kaiser presumiu.
─ Desculpa pelo atraso ─ Joui disse timidamente, sorrindo de volta para Kaiser. ─ Tava cuidando de umas coisas, e acabei perdendo a hora...
Ele foi subitamente interrompido quando Kaiser se aproximou, inclinou levemente o rosto e tomou seus lábios nos dele.
Joui fechou os olhos, retribuindo o beijo. Seu corpo relaxou no mesmo instante em que sentiu a boca dele na sua, a barba roçando contra sua pele. Ele podia estar cheio de problemas para lidar lá fora, mas agora sentia que podia enfim respirar um pouco.
Kaiser afastou seus lábios dos de Joui devagar, com os olhos fechados e a respiração pesada.
─ Tava com tanta saudade ─ ele murmurou baixinho, bem próximo à boca do outro. Joui o viu contrair as sobrancelhas em uma expressão dolorida, e isso lhe cortou o coração de uma forma que ele não podia explicar.
─ Eu sei, Cesar ─ Joui murmurou de volta, depositando mais um beijo leve nos lábios do homem ─ Mas que tal a gente entrar e discutir isso na sala, hm? Eu tô cheio de coisas...
─ Ah. Ok ─ Kaiser se afastou rapidamente, se oferecendo para pegar a sacola de presentes da mão de Joui, que aceitou.
Eles entraram na sala de estar e Kaiser fechou a porta. O interior aconchegante da casa estava todo enfeitado para o Natal, que seria já no dia seguinte. Era tarde da noite, então todas as luzinhas pisca-pisca coloridas que adornavam a árvore de Natal estavam acesas, e eram a única fonte de luz intensa na sala de estar escura. A televisão estava ligada em volume baixo, passando uma propaganda com um papai-noel barbudo consumindo uma marca de refrigerante famosa. Fora os ruídos da TV, a casa estava em total silêncio.
─ E a Ivete e o Arthur? ─ Joui perguntou, olhando ao redor e tirando a mochila das costas.
─ Eles esperaram um pouco por você ─ Kaiser respondeu distraído, colocando os presentes de Joui debaixo da árvore de Natal, no cantinho da sala. ─, mas aí decidiram ir dormir, quando ficou muito tarde.
─ Eu quis vir mais cedo ─ Joui lamentou, sentando-se no sofá da sala.
─ Não tem problema ─ Kaiser deu de ombros, indo também até o sofá, jogando-se ao lado de Joui. ─ Eles disseram que queriam deixar a gente... eu e você... juntos... ─ ele se enrolou com as palavras, deixando a frase no ar.
─ Sei ─ Joui riu, se aproximando de Kaiser. Cruzou as pernas sobre o sofá, e o outro repetiu o movimento, para que pudessem ficar de frente um para o outro.
Joui tocou delicadamente o rosto de Kaiser, trazendo-o para perto. Beijou seus lábios de forma suave, depois encostou sua testa contra a dele. Trilhou um caminho vagaroso pelo rosto alheio, levando as mãos pelas bochechas até os longos cabelos escuros de Kaiser, que estavam presos por um elástico. Queria poder passar a mão livremente pelos fios.
─ Posso? ─ Joui sussurrou contra os lábios de Kaiser, que apenas assentiu como resposta.
Joui puxou lentamente o elástico, soltando os cabelos de Kaiser. Ele acariciou os fios, sentindo sua textura, e iniciou um cafuné lento no couro cabeludo de Kaiser, sabendo como ele gostava daquilo.
Estar com Joui, para o hacker, era como um alívio instantâneo em seu peito. Kaiser sempre tivera medo de deixar qualquer um se aproximar demais, física e emocionalmente falando, principalmente o último. E a falta que sentia de Joui quando ele estava longe, a saudade dos toques e de seu carinho, ainda o amedrontava muito. Nunca tinha experimentado tamanha vulnerabilidade em relação a alguém, se assim podia chamar; estava à mercê de Joui, por assim dizer, porque o amava tanto que não suportava ficar longe dele.
O carinho que recebia em seus cabelos era tão bom que Kaiser começava a ficar com sono, o que não passou despercebido por Joui.
─ Há quanto tempo você não dorme? ─ Joui perguntou baixinho, acariciando as olheiras abaixo dos olhos de Kaiser com uma das mãos.
─ Relaxa, eu tô bem ─ Foi o que recebeu em resposta, de um Kaiser sonolento e de olhos semicerrados.
Joui balançou a cabeça em negação, pegando as duas mãos de Kaiser nas suas.
─ Deita aqui ─ Ele puxou Kaiser em sua direção, inclinando-se para trás no sofá para deitar. Kaiser o seguiu em silêncio, deitando-se por cima de seu corpo e se ajeitando devagar. Joui prosseguiu com o cafuné, envolvendo Kaiser em seus braços.
As luzes pisca-pisca iluminavam-os em diversas cores, ora em azul, ora vermelho, e continuava dando beleza à já muito bem montada árvore de Natal. Na TV, um desenho temático daquela data estava passando, como o único barulho na casa. Para o dia seguinte, havia a certeza dos presentes, das risadas e da tão almejada calmaria, mesmo que fosse temporária. O mundo lá fora com toda certeza não havia parado para que o Natal pudesse acontecer para aqueles dois, mas um descanso era mais do que merecido. As feridas costumavam se criar mais rápidas do que eram curadas, e os problemas continuavam a aparecer, mas uma noite juntos era tudo o que Joui e Kaiser precisavam.
─ Joui ─ Kaiser chamou de repente, quebrando o silêncio. Ele tinha seu rosto escondido pelos cabelos escuros dispersos ao seu redor.
─ Hm? ─ Joui murmurou, ainda fazendo o cafuné com bastante leveza.
─ Pode me chamar de Cesar só mais uma vez?
Joui sorriu discretamente, depositando um beijo no topo da cabeça de Kaiser, e então chegando pertinho de seu ouvido.
─ Cesar... ─ ele sussurrou, e Kaiser sentiu um arrepio percorrer todo seu corpo. Abraçou Joui com mais força.
─ Queria que momentos assim pudessem durar pra sempre... ─ Kaiser sussurrou, soltando um suspiro cansado em seguida.
─ Eu também... ─ Joui concordou, sentindo seu coração apertar no peito. ─ Mas a gente aproveita o agora, tá bom?
Ele sentiu Kaiser mexer a cabeça assentindo, e ambos ficaram em silêncio. Kaiser sentia a respiração ritmada de Joui contra seu corpo, e podia ouvir as batidas do coração dele contra seu ouvido.
Foi assim que ele pegou no sono, e não lembrava a última vez que conseguira dormir tão bem nas últimas semanas.
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