Eu posso sentir no ar que essa vai ser a noite em que vou morrer
Talvez se eu deitar no chão e eu olhar para o céu
Ficarei bem.
Exisistencial – Brennan Savage.
Se eu fosse uma pessoa normal, eu começaria narrando sobre o clima e a temperatura do dia. Então, eu diria que estava frio quando eu saí de casa. Eu diria também que o vento gélido passou pelo meu rosto e jogou meus curtos fios de cabelo liso para trás dos ombros cobertos por um casaco preto que eu logo trataria de sumir. Ou talvez, eu começaria fazendo uma apresentação inicial, dizendo meu nome e idade, as pessoas que eu conheço, quem eu amo ou odeio. Mas eu gosto do suspense de não saber sobre do que se trata uma história.
Tendo esse pensamento, eu posso afirmar que começaria a partir do momento em que penso nisso, ou a partir do momento em que meus problemas começaram. Mas eu já comecei a história, tsc.
O amigo do meu irmão veio conosco, junto com a “namorada” do meu mano. Eles só não sabem ainda que estão namorando. Mas isso é um segredo meu e de Lee Know, e agora, seu.
Droga, por que sempre que eu lembro do meu amigo, eu sorrio? Isso está errado!
Mas não é como se isso importasse muito pra mim. Eu não vou mudar cedo.
- Hyunjinnie, porque estamos indo a essa balada num frio desses quando poderíamos estar em casa curtindo? – a garota perguntou ao meu irmão, chegando mais perto dele, encolhendo-se como um bichinho em seu casaco. Hyunjin, apesar de ter soltado apenas um riso fraco, foi possível ver a fumacinha branca saindo de sua boca causada pelo frio.
- Estamos saindo nesse frio porque esses dois... – meu irmão apontou para mim e para seu amigo. – Não conseguem controlar o fogo no rabo deles! – a garota, Hyeri, abriu a boca para dizer algo, mas foi interrompida pelo garoto. – Nem vem. Nunca que eu vou deixar esses dois irem à balada sozinhos.
- Você diz como se não esquecesse de mim assim que pisa no gramado dessas festas. – rolei os olhos pela falsidade e irresponsabilidade do meu irmão. – Olhem lá! Estamos chegando!
Foi então que eu notei que ele (o colega do meu amigo) não estava mudo. Mas seria... Hm... Muito interessante se estivesse. Jeongguk, ou Jungkook, como preferir, é um dos contatos de Hyunjin, meu irmão. Aliás, não chega a ser só um contato, Jeongguk é um amigo do meu mano. Quando chegamos ao jardim da festa, eu lembrei que ele ainda falava, e muito, quando o mais alto tocou sua mão na minha e sussurrou para meu irmão não ouvir:
- O que você anda falando de mim para ele? Que eu sou gostoso, todo mundo já sabe. – não deixou de colocar um sorriso brilhante e convencido no rosto. – Mas você falou alguma coisa pra ele não deixar você sair comigo, fato.
- Sai de mim! – soltei sua mão e ele se afastou com isso, e seu calor também se afastou de mim. Naquele frio da rua, eu só precisava de um dois negócios, e dos dois, um: o calor bem quente de um corpo ou de muita bebida. – Você chegando perto de mim, só vai fazer ele ficar mais desconfiado. – pronunciei baixo.
- Ah, então você assume que já falou alguma coisa pra ele! – denunciou em voz menos rouca e eu revirei os olhos de novo.
- Boa noite. – Hyunjin cumprimentou o rapaz que estava na entrada, e eu só voltei a mim quando olhei para o lugar ao meu redor.
Era uma casa grande. Essa festa vai ser boa, óbvio.
Ignoro o pensamento e procuro o bar mais próximo, com o intuito de ficar tão bêbada ao ponto de não me lembrar de hoje. E apesar de saber que eu irei acordar com uma ressaca horrível, eu arrisco. Nunca se sabe quando alguém vai me chamar de novo a essas festas. No caso de hoje, foi o garoto de dentes fofos, como os de um coelho filhote, um sorriso incrível e um humor divertido.
Jeon Jeongguk pode ser considerado, para mim, duas coisas:
1) Ele é o amigo do meu irmão, fato;
2) Jeon também é meu companheiro de baladas. Como um acordo. Sempre que um de nós recebe o convite, o outro sempre vai, e agora, no caso, Jeongguk que recebeu o convite. Logo, eu fui junto.
Essa festa a qual ele me chamou era na casa do Jackson Wang, um garoto popular da escola, que metade da escola venera e a outra metade quer dar. Bem, para não dizer que eu sou superdiferente, eu digo que o venero. Mas a verdade é que eu não me encaixo em metade alguma da escola.
O soju¹ desceu rápido e ardente pela minha garganta, queimando-a. Todavia, eu já me acostumei; essa festa vai ser interessante, eu acredito. Meu corpo fica eufórico pela animação das pessoas. Sem nem pensar, começo a beber com Jeongguk.
Foram três, depois mais quatro shots. E eu parei de contar quantas foram. Isso é ser forte para bebida? Eu não sei. A dificuldade para andar ficou maior do que a gravidade proporciona, então tratei de tirar os tênis. Sem sentidos, passei a observar o ambiente e gostei do que vi, senti saudades disso: a bebida, a batida da música ensurdecedora, as pessoas lotando o local que me deram a falsa sensação de poder fazer tudo já que ninguém notaria; as cores que misturaram em uma só, e eu me misturei nesse meio, envolvendo meu corpo na dança.
Lá se foi mais algum copo de misturas de bebidas até a metade. O som da música estava alto, as batidas chegavam ao coração, e eu arriscaria dizer que é melhor que ouvir musicas pelo fone de ouvido. Ouvindo aquilo, deu vontade de sair dançando para o meio da pista.
Eu parei, em meio a mais um transe de loucura, e observei melhor as cores. O tema, as maquiagens, como tudo rodava. A música, a dança. As cores das luzes, a alegria que veio. Eu me avassalei, demasiado encantador. Eu continuo me entregando a isso, cedendo, mesmo sabendo que eu não possa.
E mesmo assim, eu me afundo cada vez mais.
Mas isso não importa muito.
Meu pensamento foi interrompido e eu voltei a tomar um pouco de consciência quando senti que estava tocando em algo macio, era um pano que eu agarrei. O pano do vestido de alguém. O tom agudo gritou algo que não fui capaz de lembrar três segundos depois. Com isso, cambaleei para a pista de dança lotada, e aí minha memória se apagou de novo.
Recobrei os instintos quando estava no meio de um corredor com várias portas, procurando algo... Ou alguém, depois de ter beijado algumas bocas e dado uns amassos.
Hyunjin!
Vim aqui procurar meu irmão. Empurro alguma das portas do lado esquerdo, no mesmo tempo que alguém de dentro abre mesma porta, me fazendo cair diretamente no peito dessa pessoa, que segura meu corpo no instinto de eu não ir direto para o chão. Levanto a cabeça, dando de cara com um garoto forte e pele amendoada, com a aparência de ter minha idade; seu semblante era de tédio. Observei nos poucos segundos, que seus olhos eram puxados e ao mesmo tempo grandes, quase como os de Lee Minho. Mas com certeza, Lee Minho é mais bonito.
Saí correndo dos braços desse garoto, me retirei do quarto e desci as escadas, mas eu tropecei nos próprios pés e caí no chão.
As minha visão turvou, o estômago se contraiu em dor, como se eu fosse morrer ali mesmo. O baque veio direto na cabeça, ardendo e doendo. Eu não tive forças para me levantar quando eu senti que estava desmaiando. Naquele momento, eu me senti incapaz.
- Que porra... Será que ela morreu? – gritou alguém e eu tomei um susto, mas estava com cansaço demais para mostrar que não morri.
- Isso é uma garota aonde? Só se for travesti. - uma voz grave criticou e eu quase voei no pescoço dessa pessoa.
Antes que eu pudesse ter controle de minhas próximas ações, comecei a sentir uma queimação insuportável na garanta, era o vômito engasgado. Os dois que me criticavam tomaram a iniciativa de me virar para que eu pudesse vomitar, e um deles segurou meu cabelo por trás. O vômito se espalhou por algum lugar que eu não fiz questão de guardar como lembrança, e eu preferi pensar que era um balde. Depois disso, eu retornei à consciência. Era Jeongguk que apareceu na minha frente quando me endireitei.
- Saiam daqui antes que eu veja vocês como sacos de boxe! – Jeongguk gritou por causa da música e eu sorri.
- Jeongguk... – eu ia agradecer, porém refleti sobre o nome do garoto, como o som era ao se pronunciar, e me perdi no meio da frase, cortando-a. - Seu nome é engraçado. – afirmei meio tonta. – Seus dentes são fofos, mas você é sexy demais, que raiva!
Por que ele sorriu?
- Jungkook. Por favor, me chame de Jungkook. Será mais agradável quando você me chamar assim irritada. – pronunciou perto de meu ouvido e eu ri.
- Você é engraçado. – Fechei os olhos, sentindo o calor de seu corpo. Quando abri os olhos novamente, ele estava sério, me observando. – O que foi, Jung... Como é mesmo?
- Vem comigo. – o mais alto me levantou e me puxou até a parte de fora da casa, e eu já tinha vomitado bastante bebida para conseguir distinguir melhor as coisas. O quintal que estávamos tinha uma piscina no fundo e poucas pessoas estavam lá dentro. Claro, nesse frio do inferno (?). Ri com isso, porque, o inferno não devia ser quente? Como... – Olhe pra mim. – fitei seus olhos de íris escuras, semblante sério. - Você precisa ficar aqui. Sentada... Nessa cadeira! – o moreno quase que me jogou para ficar sentada. – Eu juro que já volto, huh? Fique aqui, e não saia de jeito nenhum. Se algo acontecer, você grita. – e ele saiu do meu campo de vista.
Ah! O nome dele é Jeongguk, lembrei!
De repente, eu me peguei observando a piscina. Tinha mais pegação aqui do que nos quartos, eww. Eu tomei um susto quando consegui focar em uma pessoa específica naquela piscina. Aquela não é a namorada do meu irmão?
Mas... Por que ela está beijando um garoto que não é ele?
Levantei da cadeira e fiquei a alguns metros da piscina, ainda distante, confirmei que era ela. Eu jamais esqueceria de sua pele em tons escuros, que costuma colorir o cenário de lá de casa. Eu jamais esqueceria de seu cabelo fofamente afro e macio, o rosa mesclando-os nas tranças que ela faz.
- Ei! Você! – ela não entendeu que eu a chamava, e foi uma tarefa difícil demais pra mim, no nível de alcoolismo, lembrar o nome dela. – Hyeri? – e como prova do crime, ela se virou, me olhando.
A cena foi muito desagradável: Hyeri estava no colo de um garoto, seu peito na altura de seu rosto, e ambos na maior “pegação”, como se a piscina fosse só deles. Nojento pode facilmente definir a cena, e substituir todas as palavras desse parágrafo.
Porém... Não foi só isso. Quando eu percebi que era a namorada do meu irmão, eu me senti mal por não estar fazendo nada. Ele já entrou até em porrada por mim, e eu só observei.
Diante da raiva, eu saí correndo na direção da piscina, e eu nem liguei em me afogar e ir por baixo para afogá-la junto. O mais frustrante, foi não conseguir chegar perto dela. Aish², aquela vaca!
Eu vi meu falecimento diante meus olhos, quando escorreguei na água da borda da piscina. De alguma forma, eu estive consciente até bater a cabeça em alguma superfície de pedra e ser lançada com força para a água, que me abraçou e me beijou de bom grado, com prontidão.
É lógico que eu estaria mentindo se dissesse que cheguei a essa festa sem a sensação dela ser a última. Meus olhos brilharam e arderam antes mesmo de eu sentir o baque e desfalecer nos braços da água suja da piscina.
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