handporn.net
História .new frontier ; stray kids - Chapter 8 - VIII - História escrita por chanisteles - Spirit Fanfics e Histórias
  1. Spirit Fanfics >
  2. .new frontier ; stray kids >
  3. Chapter 8 - VIII

História .new frontier ; stray kids - Chapter 8 - VIII


Escrita por: chanisteles

Notas do Autor


Attention: Jisung POV

Capítulo 9 - Chapter 8 - VIII


A tarde já caía junto com a luz do dia, e a cada segundo que se passava eu ficava cada vez mais ansioso. Como prometido, assim que Lee MinHo se tornou meu guarda-costas, me disseram que na semana seguinte eu finalmente teria permissão para sair do palácio. O conselheiro ByungChul afirmou que eu poderia sair com mais frequência depois de um mês ou dois, já que ainda tinham que manter um olho em mim naquele primeiro momento, mas para mim apenas aquela única vez já seria suficiente. Só de pensar em sentir um pouco do ar fresco incomparável das colinas logo depois da cidade, meu coração se aquecia e se agitava.

Olhei pela janela impacientemente, o pincel de caligrafia ainda em minha mão suja de tinta. SeungMin disse que fora instruído para me dar as aulas diárias de caligrafia – e agora, introdução à política – e que apenas depois do jantar eu poderia sair. Disse que, como algumas pessoas me conheciam antes de passar a morar no palácio, precisava sair às escondidas; no início da noite era mais propício, quando as luzes estavam mais baixas e eu poderia me misturar melhor à multidão que saía para a vida noturna de Nancho. Era uma pena que eu não poderia sair durante o dia; queria poder ter uma visão mais ampla da paisagem e até mesmo cumprimentar alguns conhecidos, e não me isolar de qualquer contato social, exceto SeungMin e MinHo e poder ver até dois palmos à minha frente – se ajudado por uma lanterna –, mas eu não estava na posição de reclamar.

De repente, ouvi o estalar de dedos perto de meu ouvido, me chamando a atenção de volta. Me virei, encarando a expressão contrariada de SeungMin.

- Oh, desculpe. Pode explicar de novo? – Disse, piscando algumas vezes e me aproximando para ouvir melhor. No entanto, ele levantou uma sobrancelha e cruzou os braços.

- Eu nem disse nada, apenas pedi que reescrevesse este trecho. – Ele disse com irritabilidade contida, apontando com os dedos longos para um livro sobre os reis da dinastia Joseon. Durante aqueles dias de estudo, eu estava evoluindo até decentemente. SeungMin não me parabenizava com tanta frequência, mas pelo que ele escrevia rapidamente em uma caderneta como relatórios para ByungChul, eu aparentava estar indo bem. Concordei rapidamente com a cabeça, me inclinando sobre o papel para começar a escrever. No entanto, ele rapidamente puxou o livro e o fechou, colocando de volta em pequena pilha ao seu lado. – Na verdade, terminamos por hoje. Vejo que não conseguirá se focar como nos outros dias.

- Desculpe, mas não consigo evitar. – Retruquei, abrindo um sorriso enorme que reprimi durante o dia inteiro. SeungMin bufou, fazendo sinal para que eu fosse embora, começando a guardar os materiais que estavam em cima da mesa e ajeitando seus fios presos num coque apertado. – Você não irá nos acompanhar?

- Não, tenho outros afazeres. Além do mais, não me interesso muito por ar livre e armas. – Ele retrucou, sem me fitar.

- Por isso que é tão pálido e magro. Ficar o tempo todo ao redor de livros e papel pode te enlouquecer, sabia? E para se defender, como faria? Sei que eu sou bom de combate, mas eu posso não estar por perto o tempo todo.

- Eu disse que não me interesso, não que não sou capaz. Já fui parte do esquadrão de treinamento, sabia? Posso muito bem colocar um homem no chão em apenas vinte segundos. Contados. – Ele disse, olhando para mim com um ar irônico. Cruzei os braços, com um sorriso impressionado.

- A cada dia aprendo algo novo, não é? Poderíamos tentar lutar qualquer dia!

- N-não, esqueça o que disse. – Ele respondeu com um tom baixo e nervoso, os olhos consideravelmente arregalados e as pupilas inquietas desta vez. Parecia até mesmo que havia dito algo que não devia e só naquele momento havia se dado conta. Antes que eu pudesse perguntar o porquê de sua mudança repentina de expressão, ambos ouvimos um assovio alto e agudo vindo do jardim. Nos viramos para a janela, visualizando o espaço aberto e arborizado que cercava aquela área do palácio e MinHo parado perto aos portões. Ele não usava o uniforme dos soldados, sempre de negro dos pés à cabeça, mas agora roupas comuns, que muitos cidadãos de Nancho consideravam como “ordinário”; um hanbok de tom cinzento e uma outra camada de cor mais azulada, que estranhamente combinava com sua face. Se parasse para analisar, ele parecia como qualquer outro jovem da cidade, mas ainda assim único de sua própria maneira. Em suas mãos, duas espadas de madeira e atravessado em seu peito, meu arco e aljava. SeungMin voltou aos papéis, os guardando mais rápido. – Vá logo, para que não volte muito tarde.

- Tudo bem, até mais. – Me despedi, ignorando aquela situação inusitada e saindo do quarto às pressas para encontrar MinHo.

Aquele período crepuscular da tarde era especialmente frio e colorido, o que me deixou ainda mais animado para sair; com sorte, conseguiria ver o pôr-do-sol. Passei pelos corredores e escadarias que já havia decorado brevemente a localização, em direção à MinHo. Quando cheguei ao seu encontro, ele me olhou demoradamente de cima a baixo. Acompanhei seu olhar, procurando algo que ele provavelmente via em mim.

- O quê?

- Suas roupas são um pouco pesadas para praticar com instrumentos de curta distância. – Ele apontou para minhas vestes com a ponta de uma das espadas. Segurei as diversas camadas de tecido nas mãos, realmente maciças demais.

- Não tem muito o que se fazer, jogaram minhas roupas antigas fora. Só posso usar essas.

- Tudo bem, não tem tempo de trocá-las agora. Se quiser, pode tirá-las quando chegarmos. – Ele disse rodeios, me entregando uma das espadas. Ela era mais pesada do que MinHo fazia parecer e difícil de se equilibrar com apenas uma mão. A coloquei em meu cinto tentando evitar meu rosto de se avermelhar, tentando imitar uma bainha. Meu arco continuou com ele, mas decidi não pedir mais um peso para carregar comigo.

Ao invés de sairmos pelos portões principais, fui guiado ao redor do grande lote palacial até uma saída alternativa, que saía em um beco próximo à rua principal. Deveria ser uma área mais remota, onde apenas poucos funcionários vinham. No caminho passamos por alguns soldados conversando, criadas do castelo dobrando tecidos e alguns historiadores e secretários com grossos livros nas mãos discutindo algo que eu não consegui compreender. Era interessante ver como o palácio era muito mais ativo por detrás das densas paredes reais. Eu me via naquelas pessoas e com certeza sentia mais conforto ali, enquanto eu passava num passo apressado demais para que pudessem me reconhecer e fazer reverências.

Quando coloquei os pés na areia quente do solo da cidade, senti todo o meu interior se reavivar. Olhei para os lados com excitação, ainda não enxergando muito além das casas e tendas comerciais, mas já me sentia mais vivo do que a semanas. MinHo olhava para os lados com cautela, checando se ninguém nos observava sair do palácio. Ele me fitou com os olhos calmos, mas alertas.

- Acho que o senhor sabe o caminho melhor que ninguém para estas tais colinas.

- Com certeza! Vamos. – Exclamei, puxando seu braço comigo para mais adentro dos becos, já conseguindo me situar perfeitamente nos caminhos emaranhados e mais estreitos de Nancho, passando por toda a população que começava a encher os comércios e casas de festa tão discretamente quanto as próprias sombras.

Em algum momento, soltei MinHo para tomar a dianteira e começar a correr. Ah, correr; talvez meu corpo nunca tivesse conhecido sensação mais prazerosa. Era tão diferente de correr por dentro dos muros do palácio; por mais que eu pudesse correr por horas e horas por toda a vasta extensão territorial, a sensação devastadora de que, em algum momento, eu encontraria uma parede de tijolos me cercando pelos quatro cantos era quase desesperadora, sufocante. Mas fora, eu sabia que não possuía limites, que era livre. Durante todo o caminho até as colinas, tentei me desprender das últimas semanas e desfrutar daquela liberdade.

Quando senti o perfume de casca de árvore úmida e as cócegas que aquele amplo gramado fazia aos meus pés, desacelerei. Nós subimos um dos pequenos morros, encarando a orla da floresta que já estava recebendo os raios de sol mais fortes do dia. Não pude evitar dar um sorriso maior que qualquer outro.

- Está pronto para praticar? – MinHo cortou o momento com sua voz macia, puxando a sua espada de debaixo do braço. Olhei para ele, suspirando fundo e devagar, mas com as forças renovadas para começar a treinar.

- Com certeza! Mas quero treinar com meu arco primeiro. – Disse com entusiasmo, e ele prontamente me deu a aljava e o arco de madeira lascada, colocando as mãos por trás das costas como se esperasse as próximas ordens. Não o ver relaxar nem por um minuto me deixava de certa forma cansado por ele, mas eu já tentara várias vezes e nunca conseguira tirar aquela expressão e movimentos tão duros e precisos. Acabei por dar de ombros e apontar para meus alvos nos troncos de árvore que, surpreendentemente, ainda se encontravam exatamente no mesmo lugar. – Diga aos seus generais que você me viu acertar aquele alvo bem em cheio com os seus próprios olhos.

- Bem, se me permite dizer... – Ele começou, enquanto eu ajeitava o corpo e os braços, já estirando o arco e preparando uma de minhas flechas. Ele me encarou novamente de cima a baixo, desta vez analisando minha posição e como o arco se posicionava. Ele deu um sorriso mínimo, mas ao menos foi um sorriso. – Eu duvido muito.

- Ah, é, sabichão? Pois veja. – Os cantos da minha boca se curvaram para baixo e contrariado, voltando toda a minha atenção para o alvo. Prendi a respiração e soltei a flecha, que voou alto. No entanto, assim que atirei a flecha, a linha do arco se partiu num estalo, o que fez com que a trajetória se voltasse levemente para a esquerda. Dei um passo para trás com o susto, podendo apenas acompanhar a madeira perder velocidade e altura, caindo tão longe do alvo quanto possível. MinHo riu.

- Eu avisei ao senhor.

- Como eu ia saber que o arco iria se partir?! – Exclamei com o rosto vermelho pela raiva e humilhação. Olhei para meu arco com tristeza e um quase luto, meu grande amigo e companheiro durante tantos anos. – De tanto dizer desgraças, os céus te ouviram e concretizaram seu pedido.

- Bem, mas era até óbvio. – Ele retrucou, se aproximando e tirando o arco de minhas mãos com delicadeza. Por um instante, seus dedos tocaram nos meus e eu me afastei inconscientemente; eram ásperos, quentes e calosos, bem parecidos com os meus. Ele me olhou de esguelha antes que voltasse sua atenção para o instrumento. – Quer que eu o concerte?

- Consegue fazer isso? – Perguntei com curiosidade, ao passo que ele puxou o ar e concordou brevemente, se sentando no gramado e começando a trabalhar na linha do arco. Sem muita escolha, fiz o mesmo, deitando a cabeça na terra fofinha e olhando o céu lentamente perder a cor. Um silêncio se instalou entre nós. A cada segundo, aquela falta de palavras foi se tornando desconfortável, deduzida pelas minhas mais frequentes mudanças de posição no gramado e os suspiros de MinHo, tentando preencher aquele vácuo. Minha mente vagou, tentando procurar qualquer coisa da qual pudesse falar; poderia discutir sobre um livro que havia começado a ler, sobre a quantidade de plantas diferentes que se poderia encontrar nos mais de seis jardins dentro do palácio, ou até mesmo sobre como a quadragésima lei criada por um rei já morto sobre direitos dos plebeus era tão estranha que chegava a ser engraçado, mas ao invés de tudo aquilo, disse a primeira coisa que me veio à cabeça. – Gosta de batata-doce?

Minha voz saiu estranha depois de tanto silêncio, mas a pergunta chegou a se superar. Fechei os olhos com força, desejando poder virar a flecha que tinha acabado de atirar; jogada no meio do campo, bem longe dali. MinHo pareceu não se importar com a pergunta, seus olhos e mãos ainda compenetrados na reconstrução do arco.

- Não sou fã.

- SeungMin disse que os soldados comem bastante batata. Dizem que dá muita energia para o combate. – Tentei continuar o assunto, aliviado por ele ter de fato respondido e não considerado apenas um murmúrio.

- Talvez. Sempre dei minhas porções para os meus colegas. – Ele respondeu, o que me fez levantar a cabeça e me apoiar nos próprios cotovelos.

- Oh! Por falar nisso, o SeungMin fazia parte do exército? – Questionei de repente, me recordando da conversa que tive com ele antes de sair. Min Ho por um segundo parou sua tarefa, se voltando a mim. – Vocês se conheciam antes? Eram amigos?

- Colegas de treinamento. Mas... não podemos exatamente falar sobre nosso passado, desculpe. – Ele respondeu simplesmente, parecendo imparcial, mas eu percebia que ele também estava minimamente incomodado, visível pelo desencontro de suas mãos ao passar a linha do arco pelos dedos. Ele também parecia contido, preso pelas próprias memórias que desejava revelar; era uma expressão que escondia a angústia, esta que passar a reparar em quase todos os empregados no palácio, que possuíam, sem exceção, um ou dois segredos para guardar.

Finalmente, MinHo terminou o concerto do arco quando o sol já dava seu último adeus no vasto horizonte, o entregando a mim enquanto se colocava de pé. Parecia completamente renovado, como se eu tivesse colocado minhas mãos nele pela primeira vez. Engoli a seco as outras perguntas que tinham se formado dentro de mim, sabendo bem que não conseguiria tirar nada dele, pelo menos não naquele dia. Além do mais, não queria que nada estragasse aquela curta noite de liberdade. Me ajeitei sobre os próprios pés cobertos apenas por meias, dando pulinhos sobre o solo para ganhar novamente a energia de quando cheguei.

- Aqui. Tente desta maneira. – MinHo se aproximou, tomando uma flecha da aljava; não era uma das melhores que eu tinha, a madeira de freixo estava gasta e quase se partia, mas eu tinha quase certeza de que ele não havia pego a melhor flecha de propósito. Ele a colocou no arco para mim, como se eu fosse um arqueiro iniciante, minhas mãos sendo posicionadas da maneira correta com suas próprias, os ombros tensionados ficando bem mais relaxados e os cotovelos bem alinhados com os pés. Logo passou para o meu torso, segurando minha cintura com delicadeza e endireitando minha postura. – Seu corpo deve seguir o arco, como se você e ele fossem um só. Até alcançar esse equilíbrio com a sua arma, qualquer que seja, não conseguirá a excelência.

Seu hálito morno tocou minha nuca enquanto falava, trazendo-me uma sensação estranha no meio do peito, e as pulsações que passavam pelas pontas dos meus dedos tornarem-se mais intensas contra minha pele. Não pude deixar de ouvir aquela frase ecoando diversas vezes em minha mente, deixando que eu absorvesse elas; elas não apenas valiam para a batalha, mas para qualquer outro objetivo na vida, especialmente aquele que estava destinado a mim em apenas alguns meses. Se não desse tudo de mim naquele desígnio, nunca seria alguém que pudesse satisfazer as necessidades de um povo. Apertei o arco mais forte contra mim.

Ficamos por demorados segundos em outro ciclo silencioso quase ensurdecedor, ignorando qualquer outra anormalidade que pudesse se manifestar em meu corpo, a quietude entre nós foi cortada pela flecha sendo soltada pelo arco, a ponta de freixo roçar levemente contra meu queixo e o vento sendo partido ao meio até o alvo.

Desta vez, a flecha acertou em cheio.

- Parabéns. – MinHo me felicitou, dando tapinhas em meu ombro. – Continue assim por um tempo e conseguirá atirar com os olhos fechados.

- Fala como se esse fosse meu primeiro tiro certeiro.

- Não me entenda mal, você é realmente muito bom para alguém que aprendeu completamente sozinho. É um dom. – Ele disse, estalando os dedos e tocando a alça de couro da aljava. – Quer tentar outra vez?

- Não, vamos com a espada agora. – Falei, colocando o arco no chão e trocando pela espada. Já não estava sentindo o mesmo foco necessário para conseguir atirar, por alguma razão, então talvez utilizar toda aquela euforia com as lâminas fosse uma ideia menor. Não estava conseguindo entender toda aquela agitação dentro de mim e os batimentos acelerados demais; talvez por ser um dia incomum em minha nova rotina, e sair pela primeira vez após quase um mês tivesse me deixado um pouco animado demais. Troquei o peso de madeira de uma mão para a outra, tentando me acostumar com o peso. MinHo deu alguns passos para trás, colocando o pé direito na dianteira, segurando a espada na mão esquerda, como se fosse tão leve quanto uma folha de papel.

- Usarei a mão esquerda com o senhor. – Ele disse, me encarando com os olhos afiados, provavelmente calculando tantos possíveis movimentos que me colocariam no chão em segundos. Engoli em seco, não realmente me sentindo mais aliviado ao saber que ele não usaria sua mão dominante. Após o pequeno gostinho do que o exército de Nancho era capaz com um dos generais, sabia bem que qualquer um de seus pupilos poderia ser igualmente mortal, ainda mais o dito “mais confiável” deles.

Tentei me colocar na mesma posição que ele, porém tendo que segurar a arma com as duas mãos. Já estava escuro, e a penumbra apenas me deixava mais inquieto, visualizando corretamente apenas os olhos profundos e escuros de MinHo, como os de uma coruja. Soltei a respiração baforada, avançando com tudo o que tinha.

Ergui a espada e dei o primeiro ataque em seu lado esquerdo, este que conseguiu desviar com facilidade. Contra-atacou com um golpe quase desestabilizador no meio de minha espada, quase me fazendo soltá-la com o impacto. Mas consegui recuar, correndo novamente para ele e tentando atingir sua perna, que estava vulnerável. Mais uma vez, era como se ele apenas tivesse me dado um pequeno gosto da antecipação de conseguir encontrar seu ponto fraco, apenas para que ele desmanchasse aquela ilusão e me atacasse novamente com tudo o que tinha. Assim ficamos por vários minutos intermináveis, apenas o ruído de madeira batendo em madeira, nossas roupas cortando o vento e grunhidos de cansaço soltos inconscientemente por mim, que não desistira de tentar colocá-lo no chão.

Em dado momento, quando já estava prestes a cair no chão, tonto pelos movimentos bruscos do corpo e os braços já fracos demais para erguer a espada direito, dei meu último golpe em seu joelho, num mínimo instante em que a ponta do tecido de sua calça saiu para fora das botas e se prendeu em um galho próximo. Ele virou a cabeça bruscamente, os olhos se arregalando quando ele começou a perder o equilíbrio em seu joelho. Dei um sorriso aliviado e vitorioso ao finalmente tê-lo acertado, mas logo minha alegria se desfez quando ele caiu em cima de mim com todo o seu peso, nossos corpos indo de encontro com a grama na penumbra.

Os braços de MinHo foram rápidos o suficiente para apanharem o seu próprio corpo, mas ainda assim seu rosto estava a literais centímetros do meu. As respirações ofegantes se encontrando naquele pequeno espaço, o calor daquela noite abafada e o esforço físico causando gotas grossas de suor pingarem de nossos corpos, os dois pares de olhos se encontrando por um momento que, para mim, pareceu uma longa eternidade. Apenas suas íris com um brilho secreto, apenas visto de muito perto, a profundidade de suas pupilas dilatadas e os cílios surpreendentemente longos tocando suas bochechas finas delicadamente. Mais uma vez, ele era bonito.

- Belo golpe. – Ele sussurrou, me fazendo voltar à realidade; mas a verdade era que estava relutante em voltar. Quando consegui entender a situação em que estava, senti explodir de dentro para fora em vermelhidão. Prendi a respiração e fiquei imóvel, apenas o observando se levantar e se colocar de joelhos em minha frente. Lentamente recuei, tentando me focar em qualquer outra coisa? O que fora aquilo.

- V-você também..., mas foi muito difícil, achei que tivesse usado sua mão esquerda. – Retruquei, falando qualquer baboseira que me veio à mente, o que apenas piorou a minha imagem. Ele curvou um dos cantos da boca, quase como se sorrisse cúmplice.

- Bem, eu usei. Mas sou ambidestro. – Ele revelou, o que fez toda aquela vermelhidão incomum ir embora e olhos arregalados de incredulidade serem postos no lugar.

- Seu trapaceiro! – Exclamei, o que o fez apenas erguer as mãos num gesto de rendição. Maldito, ele era esperto. Cruzei os braços, ainda tentando manter as últimas gotas de dignidade que sobravam em mim. – Bem, mas levando isso em consideração, conseguir derrubá-lo foi até impressionante, não é? Espere só, se eu continuar treinando, conseguirei colocar três de você no chão em menos de...

Minha voz foi lentamente morrendo ao observar a expressão de MinHo, que encarava um ponto fixo no gramado. Seus lábios estavam comprimidos e as sobrancelhas retas, completamente alerta. Me calei, tentando descobrir o que ele estava fazendo sem que eu dissesse algo mais que pudesse tirá-lo daquele estado incomum. Tudo estava silencioso novamente, mas era diferente, quase macabro de se ouvir.

No momento em que abri a boca para perguntar o que estava acontecendo, ele olhou em minha direção. Não exatamente para mim, mas acima da minha cabeça. Numa metade de segundo, entendi.

Alguém estava se aproximando.

Tudo aconteceu tão rápido quanto um raio atingindo o solo. MinHo se pôs imediatamente de pé e pulou em cima da pessoa desconhecida que se aproximava, uma lâmina real de espada brilhando brevemente sobre meus olhos. De onde ele havia tirado aquela arma? Foi a única coisa que eu consegui me perguntar. Imediatamente me joguei para o lado, batendo as costas na aljava e em mais alguma coisa, mas estava tão agitado que não conseguia sentir nada. Me virei para trás, onde pude visualizar MinHo e sua espada, a lâmina tilintando incessantemente com outra, pertencente a um homem alto e completamente misterioso, o rosto coberto por tecidos negros, assim como todo o seu corpo. MinHo avançava sem medo, se esgueirando facilmente e se igualando ao homem. Pela maneira que o desconhecido lutava, era experiente na batalha, mas a maneira como se movia era completamente diferente dos golpes certeiros e disciplinados de MinHo; ele o lembrava do açougueiro, com ataques selvagens e impulsivos, acostumados a ferir a carne com sua lâmina. Um assassino.

Da mesma forma que vi um momento de descuido em MinHo a poucos minutos atrás, ele viu no assassino. E aquele instante foi mais que suficiente para ele. Numa velocidade quase impressionante, MinHo conseguiu cortar a coxa do homem, que gritou em agonia e perdeu suas forças na perna esquerda, caindo em um joelho. Sua espada foi quase entregada nas mãos do outro e deu um outro golpe em seu pé, no calcanhar. O homem deu outro ganido, completamente entregue à derrota. Soltei a respiração que nem lembrava de prender. Foi simplesmente surreal.

Com o homem prestes a desmaiar pela quantidade impressionante de sangue que jorrava de seu calcanhar, MinHo se ajoelhou e lhe disse algo ao pé do ouvido, longe demais para que eu pudesse ouvi-lo. Ele se virou com os lábios entreabertos, soltando baforadas de ar, eufórico. Ele correu até mim, as duas espadas sendo colocadas em uma bainha secreta, do outro lado de seu torso; então foi ali de onde tirou a espada.

- O senhor está bem?

- M-mas o que foi aquilo?! – Consegui pronunciar apenas aquilo, estupefato demais para qualquer coisa. Comecei a tagarelar, hábito que fazia quando estava em estado de puro choque. Gritei para ele como tudo havia sido impressionante, sobre sua espada secreta e perguntando sobre como aquele homem que agora estava jogado no gramado havia nos encontrado. Ele apenas me encarava, seu olhar descendo lentamente para baixo e seus olhos se arregalando. Parei no meio de uma gesticulação importante, onde meus indicadores eram MinHo e o assassino, e os dois dedos queriam atacar um ao outro. – O quê, o que foi?

Segui seu olhar para minha perna e arregalei os olhos também. Meu joelho estava quase estraçalhado com um corte feio na pele, o tecido da calça partido e sangue pingando do pano sujo de terra. Olhei um pouco mais para o lado e vi no que tinha me cortado; a ponta afiada de uma flecha caída no chão.

Apenas senti a dor dilacerante quando MinHo se ajoelhou rapidamente e tocou a ferida com os dedos, checando a profundidade do corte. Soltei um grito agudo, rangendo os dentes. Ele tirou sua bandana e amarrou em minha coxa num nó apertado, me fazendo querer gritar mais uma vez.

- O levarei ao médico real. – MinHo disse, a voz incrivelmente calma, contrastando com meus contínuos gemidos de dor, semelhantes aos do assassino desmaiado. Rapidamente, ele recolheu todas as armas e então eu mesmo, me erguendo nos braços como um saco de arroz. Quando ele segurou na dobra do meu joelho, quase vi estrelas, mas mordi um dos dedos para abafar minhas súplicas dolorosas. Ele logo começou a correr colina abaixo a toda velocidade, apesar de sua visível exaustão. A cada passo eu me xingava internamente por estar causando problemas àquele ponto de ter que ser carregado nos braços por ele. Me xinguei por aquele dia, totalmente arruinado. Me xinguei por tantas outras razões incoerentes, mas continuei fazendo aquilo para desviar os pensamentos da dor que parecia piorar ainda mais.

Quando senti as luzes amareladas que adornavam os enormes muros de pedra e calcário, soube que havíamos chegado ao palácio. Os portões foram abertos e no interior do palácio, perto das escadarias principais, dois soldados de rosto embaçado que estavam fazendo a ronda se viraram para nós.

- HyunJIn, YongBok! – MinHo gritou pelos nomes dos dois, que nos encararam com a expressão – provavelmente – alarmada.

- MinHo? O que está acontecendo?! – Um deles gritou.

- Vossa Alteza?! – O outro, de voz extremamente grave o acompanhou, os dois corpos negros se aproximando, ajudando MinHo a segurar meu peso. Fui colocado entre os dois, seus braços segurando meu torso para que não precisasse nem tocar o chão arenoso.

- Rápido, para a tenda de EunKi, ele não pode perder mais sangue que isso. – MinHo instruiu, ao passo que os outros dois assentiram, o acompanhando com agilidade até a área lateral do castelo.

- Céus, aguente firme, Vossa Alteza! – Um deles pediu enquanto me equilibrava nos braços. Engoli um pouco de saliva na garganta seca, virando a cabeça minimamente para ele.

- Sou... J-JiSung...

- Ele já está começando a alucinar, mais rápido! – A voz grave ecoou em meus ouvidos, apressando o passo.

MinHo que estava na dianteira, abriu as portas para uma sala que cheirava fortemente a quase todas as ervas do mundo misturadas com um incenso que queimava lá dentro. Todos entramos no espaço que não realmente parecia uma tenda: era claro, luz jorrando de várias luminárias, prateleiras e mais prateleiras cheias dos mais variados potes de cerâmica, provavelmente cheio de medicamentos, além de dezenas de livros grossos e aparentemente encadernados a dezenas de anos. Papéis colados na parede com desenhos complexo de um corpo humano cortado pela metade, manchas negras simbolizando todos os órgãos, e linhas finas como veias, perfeitamente alinhadas com a tinta. MinHo abriu caminho para uma cama de lençóis brancos, assim como a visão de um homem aproximadamente da mesma idade que ele, vestido em roupas brancas e uma bandana da mesma cor; deveria ser EunKi, o médico real.

- Garotos, o que está havendo—Vossa alteza?! – Ele gritou, a voz melódica que mal parecia a de um médico aterrorizada. Lentamente, fui deitado na cama, fios de cabelos grudados em meu rosto e fazendo cócegas em meu nariz. Eu literalmente tentava focar em qualquer outra coisa que não fosse a dor lancinante em meu joelho, mas estava ficando cada vez mais difícil. Meus sentidos lentamente estavam se esvaindo, tudo se tornando nublado como um dia chuvoso. – Aigoo, vocês de Taeyang só trazem problema, não é?

Olhei por um instante para MinHo, o nome de Taeyang vagando em minha boca, tentando ser pronunciada com o pouco de força que ainda tinha, mas não era suficiente. Quando os dedos frios do médico tocaram o corte com uma força controlada, mas insuportável, eu enfim desmaiei, deixando os quatro ali naquele mundo consciente, vagando apenas na escuridão reconfortante das minhas pálpebras.


Notas Finais


iiiiiirrraaaaaaaaaa

[Checkpoint - Capítulo revisado em 09.09.2020]


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...