Joochan caminhava a passos longos e rápidos na direção do café. Estava exausto porque, naquela manhã, resolveu colocar a primeira parte do plano “fazer Sungyoon se sentir comprando um ingresso de teatro” em ação. Todos os cenários para o musical já estavam prontos, então Joochan se esgueirou para uma das salas de artes e pediu, jogando charminho, para usar os materiais que sobraram. Por sorte havia um pedaço de papelão perfeito para fazer uma pequena bilheteria. Na verdade, era só um retângulo com duas dobras e um buraco quadrado no meio, mas dava para o gasto. Depois de uma breve pesquisa no google, desenhou uma moldura, alguns detalhes com canetinha e fez uma luz e sombra bem meia boca só para dar impressão de relevo. Segundo um aluno de artes que estava lá, observando atentamente, seu trabalho de meia hora tinha ficado até que decente.
Depois, ele andou com aquilo debaixo do braço até seu apartamento, porque não podia deixar na escola e muito menos no café. Teria que levar sua obra de arte para lá em algum dia que Sungyoon não trabalhasse, a fim de que Mijoo escondesse em algum lugar até o momento certo. Assim que Joochan colocasse suas mãos no ingresso, daria início a segunda parte do plano.
Recebeu uns olhares meio tortos de Donghyun e Jibeom quando largou o pedaço de papelão no meio da sala, mas estava com pressa demais para se explicar. Além disso, não queria atrapalhar seja lá o que os amigos estivessem fazendo juntos na cozinha. Joochan deu uma ajeitada no cabelo, jogou água na cara e trocou de roupa. Não podia se atrasar para o ensaio com Sungyoon e, seu segundo encontro não oficial, se é que podia ser chamado assim.
A rua do café ainda estava em obras, mas havia um pequeno caminho onde era possível caminhar com tranquilidade, o que implicava em um café quase cheio. Assim que colocou os pés para dentro, Joochan se lembrou do dia anterior. Olhou para os lados e não viu aquele amigo de Sungyoon, o tal de Jangjun. Era sempre interessante conhecer amigos da pessoa por quem estava apaixonado, porque Joochan queria fazer amizade e passar uma boa impressão também. Jangjun à primeira vista parecia ser uma pessoa legal, um cara extrovertido e engraçado. Joochan não conseguiu absorver muito da conversa deles porque estava mais preocupado em prestar atenção em Sungyoon, que parecia meio incomodado naquele dia.
Espero que ele esteja melhor hoje, pensou enquanto se sentava ao balcão, já que não tinha nenhuma mesa vazia. Mijoo logo apareceu com dois copos de chá quente e um sorriso ladino.
— Ele já tá lá na laje. — Mijoo empurrou os dois copos para mais perto de Joochan.— Pode subir, e leva esses aqui com você. Limão, hortelã e mel para a garganta. Cortesia da gatona aqui!
— Você é incrível, Noona! — Joochan pegou os dois copos com cuidado e se levantou, parando um momento para perguntar a Mijoo: — Como é que estou?
— Tá uma gracinha, como sempre! — Respondeu ela, rolando os olhos. — Vai de uma vez!
Joochan fez uma careta para a resposta da barista e olhou ao redor antes de seguir para os fundos. Queria se certificar de que não havia nenhum colega seu ali. Ainda estava neurótico com o caso das fofocas entre os alunos envolvidos no musical. Quando não reconheceu ninguém, se dirigiu para a área reservada aos funcionários e encontrou Sungyoon descendo as escadas. Por pouco os dois não se esbarraram.
Por muito pouco!
— Ah! Hyung! — Joochan deu um passo para trás, já imaginando chá quente voando para todos os lados. Felizmente, não aconteceu. — A noona fez chá para nós!
— Eu já estava indo preparar algo assim, acho que ela leu minha mente. — Disse Sungyoon, sorrindo enquanto pegava um dos copos da mão de Joochan. — Vamos subir?
Joochan subiu o mais devagar possível, porque era muito desastrado e não podia desperdiçar aquele chá super cheiroso. Quando finalmente chegou à laje, se juntou a Sungyoon perto de uma mesa de plástico onde eles colocaram os copos. As mãos de Sungyoon tremiam um pouco e ele parecia distraído. Joochan não pode deixar de sorrir, achando o barista muito fofo.
— Nervoso?
— Um pouco. — Admitiu Sungyoon, sorrindo tímido.
— Tá tudo bem, sou só eu. — Assegurou-o, colocando a mão sobre o peito. — O hyung tá me fazendo um grande favor, eu não vou te julgar nem nada. Mas se você quiser mudar de ideia, tudo bem também…
— Não! Eu vou fazer. — Exclamou Sungyoon, bem mais confiante de repente. — Só não sei como começar.
— Me segue — Joochan sorriu e, depois de explicar a cena, começou a declamar suas falas.
Ensaiar com Sungyoon era uma experiência muito diferente. Era perceptível que ele não tinha costume de interpretar, mas estava se saindo muito bem para sua primeira vez. Sungyoon estava com o maço de folhas na mão, para acompanhar o roteiro, mas quase não olhou para ele. Tinha decorado quase todas as falas com perfeição. Joochan estava impressionado. Na verdade, estava sentindo um misto muito perigoso de emoções naquele momento.
Já tinha visto Sungyoon sorrir, mas era diferente vê-lo abrir um sorriso meio tímido por conta das falas melosas que tinha que dizer ou quando ele ria de algo que Joochan, ou melhor, Youngjae, dizia. Joochan já havia segurado a mão dele antes, inclusive no dia anterior. Porém, seu coração batia descompassado cada vez que buscava as mãos de Sungyoon para cumprir um requisito da cena. Joochan decidiu que gostava muito de segurar as mãos dele, entrelaçar os dedos e sentir seu pulso. O áspero do curativo roçava sobre sua pele e ele sentia cócegas, se lembrando de não apertar os dedos de Sungyoon por conta do machucado. Foi tudo muito leve e gentil. Suave e delicado. Era como se realmente fossem dois adolescentes apaixonados pela primeira vez.
Felizmente (ou infelizmente) eles não iriam treinar as músicas e coreografias juntos. Joochan jurava que iria ter um troço se pudesse encostar mais, sentir um pouco mais… Era muito bom. Pouco, porém ao mesmo tempo muita informação para seu pequeno coração. Sungyoon tinha as mãos fortes, porém macias e quentinhas. Eram consideravelmente maiores que as de Joochan e, na opinião dele, elas se encaixavam perfeitamente.
Distraído, Joochan só notou que havia chegado naquela parte da peça quando já tinha dado um passo para frente e estava tão perto de Sungyoon que pode notar uma pintinha em sua bochecha. Bom, sem as músicas a encenação ficava bem mais curta. Joochan não tinha programado ensaiar a cena de beijo naquele dia… Bom, em nenhum dia. Ele havia esquecido completamente da desgraça do beijo.
E agora ele estava tão perto que tinha medo de assustar Sungyoon de vez. Medo de estragar tudo.
— Ah! — Disse baixinho, pronto para se afastar e proferir alguma frase que seu cérebro ainda não tinha elaborado. Sungyoon, porém, parecia estar mais atento ao roteiro do que ele.
O barista levantou a mão, que não estava segurando a de Joochan, e tocou sua própria bochecha com o indicador, bem em cima daquela pintinha recém descoberta. Joochan então se aproximou ainda mais, sem pensar muito, como se um dos divertidamente da sua cabeça tivesse esbarrado nos controles.
O beijo foi mais rápido do que o movimento das engrenagens de seu cérebro. Apenas um encostar leve e seco sobre o rosto de Sungyoon. Joochan mal pode aproveitar a sensação, já que estava muito preocupado em colocar distância entre os dois caso Sungyoon mudasse de ideia ou caso ele tivesse o entendido mal.
Era isso que Sungyoon queria dizer né? Ele queria que eu o beijasse no rosto, não é? Não é?
Nos milésimos de segundo que seguiram depois do beijo, Joochan notou algumas coisas. Primeira; Sungyoon estava levemente corado, o que não era para menos depois do que haviam feito. Segundo; eles tinham praticamente a mesma altura, o que deixava muito fácil a tarefa de, hm, beijar. Joochan não tinha que se abaixar como fazia com Soyoon. Terceira; ainda estavam de mãos dadas. Joochan abriu um sorriso meio indefinido (porque nem ele sabia exatamente o que estava sentindo) e soltou a mão de Sungyoon bem devagar, dando um passo para trás. Era importante se acalmar e tentar não deixar a situação estranha, porque tudo poderia mudar dali para frente.
Foi só um beijo no rosto, mas para Joochan era como um grande passo, um salto para o desconhecido. Ele não tinha certeza onde iria pousar, só estava caindo indefinidamente e em câmera lenta.
Dramático? Um pouco, mas ele era um aluno de teatro, então o que você esperava?
Joochan pegou seu copo de chá e tomou um gole maior do que o necessário, quase se engasgando no processo. Deu uma tossida falsa enquanto desviava o olhar de Sungyoon por uns instantes. Ele provavelmente precisava de espaço.
— Bom, agora só vem muita cantoria e acabou! — Resolveu interromper o silêncio, olhando ao redor. — É bem mais curto sem as músicas.
— É, eu percebi que passou bem rápido! — Respondeu Sungyoon, sorrindo. Ele arrumava o cabelo sem parar, como se fosse um tipo de tique nervoso, mas fora isso ele parecia estar bem. Joochan se sentiu aliviado por não ter criado um clima desconfortável entre eles. — Estou ansioso para ouvir as músicas. As letras são bonitas.
— Achei que estivesse ansioso para me ouvir cantar! — Provocou Joochan, sentindo uma vontade imensa de arriscar uns flertes. Era como se beijo na bochecha fosse uma faísca caindo sobre um monte de palha seca.
Ele sorriu e caminhou até o parapeito, onde se apoiou e direcionou o olhar para a rua. Sungyoon se juntou a ele, perto o bastante para que quase encostarem os ombros um no outro.
Só quase.
— Isso também. — Respondeu Sungyoon, sorrindo de leve. — Tenho curiosidade para saber como é sua voz cantando.
Talvez fosse a imaginação de Joochan, mas Sungyoon parecia estar na mesma página que ele, pelo menos naquele momento.
— Eu também quero te ouvir cantando! — Disse Joochan. Sungyoon abaixou a cabeça e a balançou pra lá e para cá, meio envergonhado. — Você disse que canta, eu não esqueci disso! A gente devia ir a um karaokê depois da estreia.
Sungyoon olhou para ele com um brilho expectante nos olhos e sorriu, concordando com a cabeça. Joochan suspirou e algumas cenas do ensaio deles passou por sua mente, então ele fez questão de elogiar o desempenho de Sungyoon:
— Hyung, você leva jeito para atuar, sabia? — Disse Joochan, olhando para o céu. — Eu não diria que era sua primeira vez se eu não soubesse.
— Isso é sério? — Perguntou Sungyoon, dando um sorriso meio desacreditado. — Eu me esforcei porque não queria passar vergonha na sua frente, mas não sei...
— Foi bom! — Exclamou Joochan, se virando de frente para Sungyoon. — Você não teria muita dificuldade se tentasse teatro.
— Acha mesmo?
— Claro, hyung. — Joochan sorriu de leve, torcendo para que sua expressão passasse a sinceridade de suas palavras. — Você seria ótimo.
Sungyoon ficou calado por alguns instantes, apenas encarando alguma coisa além de Joochan, algo no horizonte ou, quem sabe, ainda mais além. Joochan desviou o olhar e se viu encarando a mão que Sungyoon tinha solta ao lado do corpo. Bastariam poucos movimentos para Joochan segurá-la novamente. Seria tão fácil entrelaçar seus dedos de novo. Tão simples. Mas ficou só na vontade. Não tinha motivo para segurar a mão de Sungyoon fora da encenação.
— Eu nunca fiz algo assim, mas já me imaginei cantando em um palco. — Disse Sungyoon, agora olhando para o chão. — Enquanto eu treinava para debutar em uma empresa de entretenimento, pensava em diversas coisas assim.
— Então você já foi um trainee? — Perguntou Joochan, tentando não imaginar um Sungyoon idol e falhando miseravelmente.
— Por pouco tempo. — Respondeu ele, levantando a cabeça e mostrando um sorriso meio triste, nostálgico. — Eu e Jangjun fizemos audições para a mesma empresa e passamos, mas não duramos três anos lá.
— O hyung e o Jangjun ssi? Eu consigo imaginar vocês como idols facilmente. — Joochan espremeu os olhos como se tivesse sido cegado pelo brilho de holofotes. Realmente, os dois garotos só precisavam de uma maquiagem e roupas da moda para passarem uma vibe de artistas. — O que aconteceu? — Apesar da curiosidade, Joochan ainda tinha algum senso, então balançou a cabeça e chacoalhou as mãos, desesperado. — Ah! O Hyung não precisa me responder se não quiser! Desculpa perguntar…
— Tá tudo bem, Joochanie. — O barista sorria docemente. — Só… Não deu certo. A gente desistiu. Acho que não era para ser.
Joochan podia ver nos olhos de Sungyoon que aquela resposta tinha muito mais profundidade, porém ele não perguntaria mais nada. A julgar pelo tom de Sungyoon, baixo e acuado, aquele era um assunto dolorido. Joochan se sentia feliz de poder ouvir sobre uma parte da vida daquele de quem gostava, porém triste por conta do contexto. Sungyoon parecia ter desistido de um grande sonho.
— Eu sinto muito. — Disse Joochan, se xingado mentalmente porque parecia até que Sungyoon tinha acabado de perder um peixinho dourado ou algo do tipo. Que resposta foi essa, Hong Joochan? — Mas acho que se o hyung quiser seguir pelo caminho do teatro e dos musicais, pode dar muito certo.
— Acho que tô velho demais para começar outra vez. — Disse ele, voltando a mexer no cabelo.
— Não acredito que a idade seja um problema. — Sem perceber, Joochan levantou a voz e se aproximou. Ele queria animar Sungyoon a qualquer custo. Não podia deixar que ele acreditasse que não tinha mais jeito. — Eu sei que hoje em dia as pessoas começam carreira muito cedo, mas no teatro você não precisa disso! Se você for bom, não importa se você não é mais um pirralho igual esses meninos que estão debutando agora!
Sungyoon arregalou os olhos, Joochan não sabia se era pelo que ele estava dizendo ou porque tinha acidentalmente segurado a mão de Sungyoon no processo. Oops!
Apesar de ter percebido, Joochan não a soltou.
— Além disso, o hyung é muito bonito e eu acho que qualquer empresa seria estupida de não te dar uma chance mesmo que você seja ruim, o que eu duvido, porque…
— Obrigado, Joochanie. — Sungyoon o interrompeu antes que Joochan ligasse o modo metralhadora de blá blá blá. — Eu vou pensar sobre essa possibilidade.
Dizendo isso, Sungyoon apertou levemente os dedos de Joochan, depois os dois soltaram as mãos ao mesmo tempo.
Joochan queria gritar, mas apenas sorriu.
— Se o Daeyeol hyung não me promover a gerente, talvez largar o café e tentar o teatro seja a solução. — Disse Sungyoon num tom brincalhão. — Seria patético trabalhar aqui minha vida toda enquanto você vira um astro dos musicais, não acha?
Joochan fez uma careta, fechando a cara. Não queria que Sungyoon se sentisse assim, ainda mais comparando os dois.
— Não acho! — Respondeu ele, cruzando os braços. — O hyung faz o melhor café que eu já tomei, e se você virar mesmo gerente, vou achar muito daora! Não é patético coisa nenhuma! — Bufou, depois sorriu, colocando as mãos na cintura. Sungyoon o observava com curiosidade. — E quem disse que vou ser um astro? Não dá pra saber se eu sou bom mesmo. Talvez dê tudo errado e eu acabe atrás do balcão do Starbucks.
— Não! Nunca deixaria você trabalhar para a concorrência! — Disse Sungyoon, depois de dar aquela risadinha linda que Joochan queria gravar e usar de toque no celular. — Vou arrumar um emprego para você aqui no café se tudo der errado.
— Promete? Eu vou cobrar, heim! — Joochan também estava rindo.
— Prometo, vou dar um jeito!
Joochan sorriu, sentindo aquele calor característico no peito. Por mais desastroso que pudesse ser seu futuro, nada teria gosto de derrota se no fim ele pudesse ver Sungyoon todos os dias no café e ainda receber salário. Patético? Nem de longe.
Perdidamente apaixonado?
Sim, com certeza.
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