— Quando você me disse que ele tinha te chamado para um encontro, eu pensei em um restaurante ou algo do tipo. — Resmungava Mijoo enquanto afastava os cabides um por um na loja. — Mas se estamos na sessão de roupa de ginástica…
— Ele me chamou pra correr, noona, para aliviar minha ansiedade. — Explicou ele, procurando uma regata que não fosse verde neon.
— Dava para aliviar a ansiedade bebendo vinho num lugar legal! — Continuou ela, bufando. — Como você vai se declarar todo suado enquanto correm?
— Quem disse que vou me declarar? — Joochan desistiu daquela arara de regatas e partiu para a próxima, puxando Mijoo pelo pulso.
— Joochan. — A barista se colocou na frente das roupas e obrigou que Joochan olhasse para ela. — Vai por mim, confessa de uma vez.
Joochan a ignorou, indo para a próxima arara de roupas. Ele podia ver umas regatas menos chamativas ali. Precisava comprar roupas novas porque só tinha um conjunto para fazer exercício e não queria repeti-lo a semana toda. Trouxe Mijoo junto para pedir opiniões sobre as roupas, mas ela claramente preferia falar sobre outra coisa.
— Você pode me dar alguma garantia que é a hora certa? — Perguntou, tirando um cabide e colocando em frente ao seu corpo. Mijoo fez que “não” com a cabeça, então ele devolveu.
— Eu não preciso, você sabe! — Sentiu o indicador dela o cutucar no ombro, e quando ele se virou para olhá-la, a expressão malandra da amiga o fez se sentir meio envergonhado. Até chegarem na loja, Joochan não parou de falar sobre como Sungyoon estava diferente na última vez que se viram no café. — Você mesmo me disse que ele tá caidinho por você.
— Não usei essas palavras… — Fez uma careta, lembrando claramente que disse algo como: — “Ele parece estar dando sinais de que pode gostar de mim”, foi o que eu disse.
— Para de enrolar e fala logo! — Esbravejou Mijoo, fazendo algumas pessoas na loja olharem para eles. Ela não parecia ligar. — Sério, se até o fim dessa semana você não falar nada…
— Eu vou falar quando for a hora certa. — Disse Joochan, tirando um conjunto preto de regata e calção de uma das araras. Mijoo fez uma careta mas depois concordou, e eles foram andando até o provador.
Experimentou mais algumas combinações e chegou no caixa com dois conjuntos diferentes. Estava chorando desconto para a atendente quando viu Mijoo entregar seu próprio cartão para ela.
— Ei!
— Presente da noona. — Disse ela, sorrindo. — E você vai agradecer me prometendo que vai se declarar até o fim de semana!
— Por que tanta pressa? — Franziu as sobrancelhas. — Ele não vai fugir… — Fez uma pausa e depois continuou, meio receoso. — Ou vai?
— Eu espero que não.
Joochan tentou ignorar a incerteza na face de Mijoo. Apesar de tudo, ele ainda não conhecia Sungyoon tão bem quanto ela e era muito difícil arrancar informações valiosas da barista. Ele respeitava a escolha dela de não expor o melhor amigo daquele jeito e que os dois deviam se conhecer melhor sozinhos, mas ao mesmo tempo sentia que estava velejando a noite sem uma lanterna. Mesmo refletindo sobre todos os sinais: o tom de voz, os olhares e as expressões, e concluindo que Sungyoon parecia realmente gostar dele, Joochan ainda tinha muito medo de dar tudo errado.
— Se ele fugir, pode contar comigo. — O sorriso confiante estava de volta no rosto de Mijoo quando saíram da loja. — Eu cato ele de volta.
Sorriu, aceitando que Mijoo o puxasse para um breve abraço. Não conseguia imaginar Sungyoon simplesmente dando no pé, mas do jeito que Mijoo estava falando talvez ela soubesse muito mais sobre isso do que deixava transparecer. Ela falou algo sobre ele fugir naquele dia do shopping também.
Joochan foi dormir agarrado no coelho de pelúcia recomendo esses pensamentos até a manhã do dia seguinte. Donghyun estava chocado por vê-lo acordado tão cedo. Quando o viu com a sobrancelha arqueada, Joochan apenas se colocou no meio da sala e fez pose.
— Ficou bom?
— Pra ir pra academia? — Perguntou ele, bebendo da sua caneca de café.
— Vou caminhar com o Sungyoon hyung.
Donghyun então se levantou, andou ao redor dele e depois se sentou novamente, fazendo que “sim” com a cabeça enquanto mastigava um pedaço de pão. Ele não era a pessoa mais comunicativa pela manhã, não que fosse lá muito tagarela no resto do dia também. Antes que Joochan fechasse a porta, porém, Donghyun gritou da cozinha:
— Me conta tudo depois!
— Tá! — Respondeu sorrindo, depois fechou a porta.
Marcou de se encontrar com Sungyoon na entrada do metrô próxima ao seu apartamento. Ele já estava encostado na mureta da escada quando Joochan se aproximou, abrindo um sorriso fofo assim que o viu.
— Bom dia!
— Bom dia, hyung. — Respondeu, tentando não parecer tão bobo quanto se sentia. — Me atrasei?
— Eu que cheguei cedo. — Explicou ele, trazendo uma das mãos para ajeitar a franja escura. Joochan percebeu que ele fazia isso como se fosse um tique nervoso. Em sua outra mão estava uma sacola de plástico com duas garrafas d'água, assim como na tarde em que se conheceram. — Vamos?
Pegaram o metrô e seguiram conversando até a parada. Joochan estava tão nervoso que resolveu puxar o celular e ficar vendo vídeos de bichinhos no instagram com Sungyoon. O que não foi uma ideia tão genial assim, porque o barista se aproximou dele para conseguir ver a tela do celular e Joochan sentia vontade de gritar toda vez que ouvia aquela risadinha fofa perto de seu ouvido. Ele fingia estar sofrendo de fofura pelos gatinhos, cachorrinhos e calopsitas no seu celular, mas estava a ponto de esmagar Sungyoon ao seu lado se ele não parasse de ser adorável.
Quando finalmente chegaram, Joochan agradeceu aos céus por poder respirar ar puro e se recompor. Havia poucas pessoas andando pela calçada naquela hora.
— Faz muito tempo que não venho ver o rio Han. — Disse, se aproximando da grade de segurança e respirando bem fundo. — Foi uma ótima ideia vir caminhar aqui!
— Que bom que gostou. — Sungyoon soava acanhado, e Joochan constatou ao se virar e ver o sorriso tímido que adornava seus lábios. — Vamos, a gente tem que aproveitar o tempo.
Joochan concordou, mas antes de começarem a correr, se lembrou da sacola que Sungyoon carregava.
— Hyung, você trouxe uma garrafa para mim? — Perguntou, não querendo que Sungyoon carregasse as duas sozinho.
— É, eu achei que você não fosse lembrar de trazer uma…
— Bom, você tava certo! — Riu, estendendo a mão para pegar a garrafa. — Obrigado, hyung.
Começaram com um breve alongamento, depois deram início à caminhada. Joochan não conseguia ficar calado, apontando para as coisas e mudando de assunto antes que conseguissem aprofundar nele. Estava preocupado achando que sua euforia faria Sungyoon ficar irritado ou entediado, mas ele estava acompanhando seu quase monólogo com um sorriso doce nos lábios e prestando atenção o bastante para respondê-lo com coerência. Joochan não tinha culpa se falava igual um caminhão sem freio quando estava nervoso, Sungyoon tinha esse efeito sobre ele.
Assim que o fluxo de pessoas começou a aumentar, também apareceram os cachorros passeando com seus tutores. Joochan percebeu que era a vez de Sungyoon apontar e chamar a sua atenção com os olhos brilhando para cada cachorrinho que passava por eles. Ele parecia realmente gostar de cãezinhos, e Joochan não podia estar mais feliz com essa nova informação. Foi quando um golden retriever descontrolado os atingiu com um abraço de surpresa que Joochan concluiu mais uma vez que estava totalmente apaixonado.
O cão arrastava a coleira, balançava a cauda e não economizava na baba enquanto lambia o rosto de Sungyoon, nocauteado no instante em que o cachorro o atingiu. Estava sentado no chão tentando controlar o bicho, rindo do jeito mais bonito e puro que Joochan já tinha visto.
Era patético, mas Joochan estava com inveja daquele cachorro por ter tascado um beijo em Sungyoon antes dele.
— Ei! — Joochan se abaixou e tentou tirar o cachorro de cima dele ganhando uma lambida bem dada na bochecha. — Argh!
— Ele é muito amigável! — Riu Sungyoon, se levantando e oferecendo uma mão para Joochan.
— É, bem amigável. — Ele fez uma careta para o cão, ainda se sentindo traído pelos beijos babados. — Você gosta mesmo de cachorro, né hyung?
— Eu sempre quis ter um, mas ainda não deu. — Lamentou-se, estendendo a mão para fazer carinho no cão, que ainda tentava subir em cima deles, alternando entre os dois meio sem saber quem queria derrubar de novo.
Joochan estava tentando não dar muitas asas à sua imaginação, mas era difícil olhar aquela cena sem pensar nos dois morando juntos numa casa com um grande jardim e brincando com um cachorro. Ah, ele queria muito dizer algo como “vamos adotar um juntos!” mas era cedo demais para isso. Joochan não podia pular as etapas.
Declarar-se primeiro. Casar e adotar cachorro, depois.
O tutor do cão chegou logo em seguida, correndo e arfando. Pediu mil desculpas e levou o cachorro embora. Sungyoon acenou para o animal com uma expressão meio triste. Joochan não podia sugerir que adotassem um cão, mas ao menos já sabia onde levar Sungyoon em um próximo encontro. Sorriu orgulhoso, guardando a ideia de irem a um dog café em uma pasta na sua cabeça.
Decidiram correr até o próximo ponto do metrô e de lá foram para o café. Sungyoon precisava se arrumar para trabalhar e Joochan estava desejando um bom copo de café bem doce acompanhado de uma sobremesa mais doce ainda. Mijoo tinha acabado de abrir o local, então Joochan se sentou ao piano e ficou tocando as música que sabia de cabeça enquanto esperava Sungyoon aparecer novamente.
— Esses clientes chatos que querem que um barista específico faça o café são um pé no saco, heim. — Brincou ela, falando alto de trás do balcão. Só estavam os dois alí, então Joochan apenas se deixou rir.
— Não posso ter um barista favorito? — Perguntou, se virando no banco do piano para lançar um olhar maroto para Mijoo. — Já que sou o cliente favorito…
— Tá se achando, né? — Ela riu, se apoiando no balcão e abrindo um sorriso sonhador. — Vários clientes iam cair no tapa com você se descobrissem que o Sungyoon tem um favorito.
Joochan desmanchou o sorriso, e Mijoo soltou um “oops”.
— Bom, eu já devia saber… — Suspirou. — Você até teve que fingir ser namorada dele pra pararem de encher o saco.
— Você sabe que isso não importa, né? — Mijoo fez uma careta, chamando Joochan para mais perto com a mão. — Ele mesmo te disse isso. Nunca ouvi ele dizer mais do que “obrigado, volte sempre” para qualquer outro cliente. — Quando Joochan sentou-se no banco do balcão, Mijoo se esticou para dar um tapinha na bochecha dele. — Para com essa paranoia!
Joochan ia dizer mais alguma coisa quando Sungyoon apareceu. Não importava quantas vezes o visse com o uniforme do café, acharia a coisa mais linda e charmosa toda vez.
— O que vai ser hoje? — Perguntou ele, sorrindo. Joochan não podia culpar as pessoas por gostarem de Sungyoon, ele era muito atraente e mesmo o sorriso de trabalho que ele portava no café era muito bonito e brilhante. Se, não. Quando eles começassem a namorar, Joochan teria que lidar com isso. Nunca foi uma pessoa ciumenta, mas estava começando a pensar que talvez pudesse desenvolver aqueles sentimentos.
Balançou a cabeça, tentando não pensar muito para frente. Era seu maior problema, ficar se preocupando por antecipação. Estava pulando etapas novamente.
Declarar-se primeiro. Lidar com o ciúmes, depois.
— Hmm… — Por algum motivo estava com muita vontade de ser meio instigante. Talvez oxigenar o cérebro tivesse esse efeito sobre ele, ativando seu interruptor do flerte — Quero algo que combine comigo! — Olhou para o relógio na parede e xingou mentalmente, não podia ficar por alí para observar Sungyoon trabalhar. — E um doce, para levar.
Sungyoon arqueou uma sobrancelha e riu baixinho, pegando um copo para viagem e se deslocando até as máquinas. Mijoo os encarava de longe enquanto arrumava os últimos detalhes antes de abrir. Joochan sentia o olhar julgador dela bater em sua nuca, mas estava ignorando.
Não demorou muito para Sungyoon aparecer com uma sacola pequena e o copo de café. Ele sorria tímido quando o entregou.
— Obrigado, meu barista favorito! — Agradeceu, e aproveitou apenas meio segundo do choque no rosto de Sungyoon, porque ouviu o sino da porta da frente tocar e algumas pessoas entraram no local.
Droga! Os viciados em café não podiam esperar um pouco mais? Pensou. Será que são os fãs malucos do Sungyoon?
— Espero que goste, Joochan-ah. — Foi o que ele respondeu antes de mudar o sorriso para aquele fabricado. Joochan se sentia privilegiado por poder ver os outros, aqueles que ele abria só quando estava realmente feliz e à vontade.
Isso, nada de sentir ciúmes. Você é especial. Dizia para si mesmo.
Despediu-se com um aceno, não querendo chamar muita atenção das pessoas em volta. Levou as palavras de Mijoo a sério. Não queria colocar um alvo em sua cabeça. Sabia como era ter admiradores um tanto quanto exagerados, então não duvidava que poderia esbarrar com alguém assim.
Resolveu pegar o metrô para voltar para casa. Ainda tinha que tomar banho e se arrumar para o cursinho. Por sorte, havia lugares vagos e ele foi sentado. Aproveitou para tomar o café e abriu um sorriso quando sentiu o gosto doce invadir sua boca.
Macchiato de caramelo.
Quando afastou o copo da boca, viu o que estava escrito à caneta preta no papel.
“Joochan-ah”
“Aconchegante, doce e…”
Oh!
Joochan tinha se esquecido do seu pedido.
“É bom ter algo além do meu nome escrito no copo da próxima vez”
Mas Sungyoon lembrou.
Ele colocou o café entre as pernas, o segurando com os joelhos, enquanto abria o a sacola de papel com rapidez. Seu coração batia muito rápido e ele provavelmente parecia um esquisito, mas não ligava. Dentro da sacola tinha um pequeno saco de papel onde geralmente colocavam biscoitos. Nele estava escrito:
“...fofo”
De dentro do saco de papel, Joochan tirou um biscoito em formato de cabeça de gato. Parecia um biscoito de natal, decorando com açúcar colorido para fazer os olhinhos, boca e bigodes do gato.
Aconchegante, doce e fofo.
“Quero algo que combine comigo”
Joochan usou toda sua força para suprimir a vontade de sair pulando pelo vagão do trem. Segurou o biscoito com tanta firmeza que quase o quebrou. Não tinha nem coragem de comer. No fim, ele levou o biscoito intacto para casa, onde tirou mil fotos do copo com o gatinho de açúcar do lado. Donghyun o julgou em silêncio.
— Ele acha que sou aconchegante, Dongie! Eu tô a ponto de surtar!
— A gente vai é se atrasar pra aula. — Resmungou ele, já com o pé na porta do apartamento.
Joochan tirou mais algumas fotos e guardou o biscoito num potinho. Tinha aula de matemática então seria o curativo perfeito para curar suas mágoas depois de tantas contas e números. Ficou tagarelando o trajeto todo sobre como foi a caminhada. Donghyun não reclamou, afinal ele mesmo tinha pedido para ouvir. Ele parecia feliz por Joochan, à sua maneira.
— Saiu andar com ele uma vez e já tá falando de casamento?
— Não posso evitar, acho que ele é o amor da minha vida, Dongie…
Donghyun suspirou e balançou a cabeça, mas ele tinha um sorriso orgulhoso nos lábios.
— Você vai ser meu padrinho, né?
— Jojjya, promete que vai com calma? — Agora ele parecia sério. Donghyun parou no meio da calçada, o encarando. — Eu sei que você tá apaixonado, mas tenta ir mais devagar.
Mijoo falava para ele se declarar logo e Donghyun para ele ir mais devagar. Joochan aceitava a ajuda e opiniões dos seus amigos, mas no fim ele sabia que nem ele mesmo podia controlar o que ia acabar saindo de sua boca. Era difícil prever quando os seus sentimentos iriam explodir para fora de seu corpo. Não era algo que ele ia conseguir planejar, pelo menos nunca foi.
— Prometo.— Disso, mesmo sem saber se podia cumprir.
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