P.O.V. LEO VALDEZ
–Inferno!
– Que humor mais agradável e tão cedo! -meu pai não parece achar graça do meu comentário, mas entendo seu estresse. Ele saiu do hospital há alguns dias e os médicos o proibiram de fazer qualquer atividade física que exija muito esforço ou qualquer atividade estressante, ou seja, sem trabalho por um bom tempo. Isso sem contar a enxurrada de exames que ele está fazendo. Então ele está basicamente confinado a ficar em casa assistindo televisão, fazendo refeições saudáveis em intervalos regulares, tomando remédios e procurando ficar calmo, e agora, bom... Ele já tomou os remédios no horário e comeu, e o controle da televisão não quer pegar, nada demais, mas não me atrevo a dizer isso em voz alta perto dele.
–Sei que deveria estar mais do que grato por estar vivo, mas que saco ficar em casa assistindo... o que é isso, filho? – ergo os olhos do notebook e vejo uma série famosa passando.
–Grey's Anatomy. –Hefesto bufa e passa as mãos no rosto, então Festus se aproxima e coloca a cabeça no joelho dele. Hefesto começa a fazer carinho na cabeça do meu cachorro e suspira. Meu pai. Suspirando. Bom, se ele não quer assistir televisão, tenho uns assuntos pendentes com ele, que acho melhor resolver agora.
–Se o senhor não quer assistir televisão, podemos fazer outra coisa.
–O que você tem em mente, garoto? –meu pai me olha desconfiado e estreita os olhos. Quase perco a coragem de dizer o que preciso. Quase.
–Nós temos assuntos mal resolvidos... achei que seria...hm...legal... a gente resolver...tipo... agora. – Hefesto parece em dúvida sobre o que dizer, ele me encara fixamente e sua boca se abre e fecha diversas vezes ao longo do minuto que ele permanece em silêncio. – O que o senhor acha? – ele pigarreia.
–Eu... eu acho que... podemos tentar. – solto o ar que nem percebi que estava prendendo e respiro aliviado, ok, talvez a gente consiga fazer isso. Fecho o notebook e me arrumo no sofá. –Sobre o que você quer conversar? –respiro fundo mas no fundo eu só quero saber de uma coisa.
–Por que você me abandonou nessa casa durante anos? – Hefesto começa a retrucar, mas então para e respira fundo, encarando as mãos entrelaçadas.
–Eu não queria que você se sentisse abandonado, filho. –sinto um caroço começar a se formar na garganta. –Eu... quando a sua mãe... quando ela se foi... eu percebi que eu não queria sentir aquilo de novo, uma parte de mim morreu com ela, Leo. – me forço a continuar em silêncio e esperar que ele termine. –Eu não queria que você sentisse o que eu senti de novo. Eu me afastei de você, porque eu pensei que seria mais fácil para você quando eu... morrer.
–Isso nunca vai ser mais fácil para mim, pai. – sinto minha voz embargada, mas não me importo. –Mas vai ser mais difícil se eu perceber que perdi você e não tive momentos que vou poder guardar comigo. –Hefesto está parado, as mãos segurando o cabo da bengala, ele me encara mas não diz nada.
–Eu achei que estava fazendo o melhor para você.
–Eu sei. –sinto uma lágrima se formar no canto do meu olho. –Só queria ter tido a chance de escolher o que era melhor para mim.
–Eu sinto muito, filho. –Hefesto sorri amargamente e estala os lábios. –Você sabe, eu não sou bom com pessoas, ao que parece, só me dou com máquinas. –Festus resmunga no joelho do papai, como se para contradizê-lo, dou de ombros.
–Você está melhorando. –ele me encara surpreso e dou um mínimo sorriso. –Obrigada por isso. Eu achava que você me culpava pela morte da mamãe. –engulo em seco.
–Leo, isso nunca, nunca foi considerado por mim. –sua mão envolve a minha em um aperto firme e desajeitado. –Foi um acidente. E espero que me perdoe por deixar que você acreditasse nisso por todos esses anos. –aceno com a cabeça e aperto sua mão de volta.
–Estou feliz que estamos começando a nos resolver, e vamos ter bastante tempo, já que vou fazer faculdade aqui perto. – Hefesto retira a mão da minha e pigarreia.
–Ah, é. Sobre isso, garoto. – ele volta a segurar a bengala com força. –Você não vai fazer faculdade aqui.
–O quê?
–Eu pensei esses dias, você não quer fazer faculdade aqui e a que você passou perto da casa da sua namorada é melhor, eu falei com uns amigos para me informar. –nego mas ele estende a mão e me calo. –Eu sei que estamos nos acertando agora, e que é longe daqui, mas estava pensando... você não pode se prender em mim.
–Pai, eu gosto daqui! E quero ficar perto do senhor, eu... a gente começou a se aproximar e não quero perder isso, a Calipso vai entender. Além do mais, quero ficar perto do senhor, o senhor ainda não está bem e...
–Garoto, fico feliz com isso, mas espera eu terminar de falar. – fecho a boca e ele continua. –Estou pensando em abrir uma filial em New Haven, vou poder ficar de olho e você lá e você vai poder me ajudar na empresa e começar a ver como vai ser liderar uma empresa.
–Tá brincando...
–Claro que não, por quê?
–Isso é demais! – o abraço e ele parece meio que em choque. –Ok, pai. Lição número 1: isso é um abraço, você pode retribuir.
–Engraçadinho.
P.O.V. ANNABETH CHASE
Encaro a carta com o lacre fechado, o símbolo da Universidade de Amsterdã me deixa ansiosa só de olhar. Já recebi as outras cartas e passei em todas as faculdades que me inscrevi, Stanford, Yale, Columbia... Mas quando recebi as cartas delas, não fiquei nem um terço assustada de como estou agora. Minhas mãos estão suando e minha boca está seca. Acho que sei em qual universidade quero estar. Sei que o esperado seria ficar aqui nos Estados Unidos, mas eu pesquisei sobre a Universidade de Amsterdã e é onde quero estar, os professores são excelentes, o ambiente parece quase mágico, sem contar que vou conhecer uma cultura nova, novas pessoas, um novo idioma. É algo que eu preciso. Respiro fundo e rompo o lacre. Abro a carta e começo a ler tentando ler devagar o suficiente para entender o que está escrito, mas minha mente entra em pane quando leio a palavra “aceita”.
–Querida? – ouço a voz do papai do outro lado da porta. –posso entrar, querida? Sua mãe e eu estamos ficando preocupados. – tento encontrar minha voz, mas nada sai. Eu passei. Eu passei.
–EU PASSEEEEEI! –levanto da cama o mais rápido possível e encontro meu pai do outro lado da porta, ele parecia prestes a bater na porta novamente. –Pai, eu passei! Eu passei, merda! EU fui aceita na Universidade de Amsterdã! EU FUI ACEITA! – no momento seguinte eu pai já me abraça e me tira do chão.
–Parabéns, filhota!
–Mas o que está acontecendo aqui? –mamãe chega ofegante, provavelmente subiu as escadas correndo.
–A Annie foi aceita na Universidade de Amsterdã! –mamãe arregala os olhos e então sorri largamente.
–Claro que ela foi aceita, é a minha filha! – então me abraça. –Você vai mesmo para lá, filha? É isso que você quer? – aceno confirmando.
–Sim, eu... eu nem acredito. Eu vou estudar na faculdade que eu sonhei! –minha mãe me abraça apertado.
–Você vai arrasar lá, filha. –sua voz sai um pouco baixa, sei que a mamãe prefere que eu faça faculdade aqui, mas papai já conversou com ela, e eu também. A decisão é minha no fim e sei que ela vai me apoiar.
P.O.V. THALIA GRACE
-Sim, aceita Thalia! Eu fui aceita! –ouço os gritos de Annabeth pelo celular e reviro os olhos enquanto sorrio diante da empolgação da minha amiga.
-Como se alguma faculdade no mundo fosse imbecil o suficiente para recusar Annabeth Chase! –ela continua animada do outro lado enquanto eu tento não tremer para pegar na pequena caixa de veludo preto na cabeceira da minha cama.
-Eu acho que estou sonhando! Recebi a carta hoje de manhã e só abri agora há pouco. Estou tão empolgada, Thalia!
-Quanta empolgação para se livrar da gente. – brinco enquanto verifico meu visual e pego minha bolsa e a chave do carro. Annabeth fica em silêncio por alguns segundos. – Estou brincando, Annie! Eu sei que você vai morrer de saudades da gente, até de um certo cara aí...
-Ai, Thalia! Nós não conversamos desde o dia do hospital e acho melhor assim. – ela suspira antes de continuar. –Eu não sei o que dizer para ele, nem se estou pronta de verdade para perdoar o que ele fez, mas não consigo manter meu ódio por tanto tempo, eu simplesmente não consigo.
-Eu também nem sei o que dizer amiga, quer dizer, a tia Athena ainda odeia toda a família dele e eu não tenho ideia para qual faculdade ele vai. Percy anda misterioso esses tempos e eu estou sem saco para descobrir. Na verdade sem tempo. –respondo descendo as escadas e verifico se Hera não está por perto para que eu possa ir embora sem estresse.
-Sem tempo por quê? – ela pergunta desconfiada e xingo baixinho.
-Faculdade. Quer dizer, fui aceita em Harvard, sabia? Eu não tenho ideia de como. –Annabeth solta gritinhos animados. Eu na verdade estou bem animada também, quase não acreditei quando recebi a carta, mas mesmo assim sei que trabalhei duro para conseguir essa resposta.
-Meu Deus! Isso é incrível! E você pretendia me contar quando?
-Eu estava pensando ainda, estou guardando a informação para falar para o papai na frente da Hera, quero ver a cara dela quando souber que a ovelha negra da família não é tão inútil assim! –entro no carro e conecto a ligação no carro, para que eu possa dirigir melhor.
-Thalia, isso é maravilhoso em níveis estratosféricos! A gente precisa comemorar! Eu estou indo embora semana que vem, você poderia vir para cá para casa qualquer dia desses.
-Claro que posso, mas aí teríamos que chamar toda a galera, ou a Silena vai arrumar confusão. –Annabeth sorri. –falando nisso, eu ouvi dizer que ela recebeu umas propostas para estudar moda na França.
-Que incrível! E o Charles?
-Eu não sei, mas duvido que se desgrudem agora. Provavelmente ele vai com ela ou vai se arrumar em algum país da Europa.
-Você poderia vir hoje para cá, não é? – Oh, não!
-Hoje? –pergunto fazendo uma careta.
-Algum problema?
-Tenho planos.
-Mas o Luke disse que vocês não tinham marcado nada para hoje.
-Não é com o Luke, Annabeth! –um silencio se faz na linha e consigo ver as engrenagens girando na cabecinha dela.
-Ah. Então... boa sorte com qualquer que seja seu compromisso.
-Obrigada. Beijos. – desligo a chamada e respiro fundo. Coragem, Thalia.
P.O.V. LUKE CASTELLAN
-Você realmente quer fazer direito? –meu pai me pergunta pela milésima vez desde que recebi minha carta da faculdade. Ele está na poltrona do escritório dele daqui de casa, George e Martha estão ocupados no telefone e no computador, provavelmente cuidando dos negócios da empresa.
-Sim, pai. Pela milésima vez, sim. – ele bufa.
-Eu ainda tinha um fiapo de esperança que talvez você pudesse fazer administração e entrar de cabeça nos negócios da família. – George solta um som de deboche e Martha resmunga.
-Seriam bom alguém da família fazer isso. –meu pai ignora os dois e sorri simpático para mim.
-Você pode quem sabe, só começar com uns estágios na empresa, de meio período e... –Ah, céus! A porta do escritório é aberta, graças a Deus, e nosso mordomo informa que tenho visita. Verifico o relógio, estranho, marquei de sair com o Percy só no fim da tarde.
-Pode avisar que já estou indo. –respondo e me viro para meu pai. –acho que a nossa discussão acabou aqui.
-Bom, você ainda tem algumas semanas para mudar de ideia e...
-Tchau, pai! –saio o mais rápido possível, e ainda assim consigo ouvir um “ele vai mudar de ideia” seguido de sons de descrença, provavelmente de Martha e George.
Chego na sala de visitas e ela está surpreendentemente vazia.
-Kevin? –chamo o mordomo, que aparece imediatamente. –Você sabe onde a minha visita se meteu? – ele pisca e parece só então perceber que a sala está vazia.
-Senhor... eu não faço ideia. –mas o quê? –Ela me disse que iria esperar aqui, eu não sei... –ela? Thalia? Não... ela me disse que estaria ocupada hoje, então quem...?
-Kevin, a visita era por acaso a... – me viro e o mordomo simplesmente foi embora sem me avisar. Decido ligar para Thalia para saber se por acaso foi ela que passou por aqui, então subo as escadas e entro no meu quarto, ligo as luzes e...
-Ai meu Deus! – quase tenho um ataque cardíaco quando encontro ela sentada na minha cama com a cara mais inocente do mundo. –Thalia, pelo amor de Deus! Você quase me matou! –fecho a porta e me aproximo dela, depositando um beijo leve nos lábios, ela parece nervosa. –O que foi? O que você está fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa?
-Bom, não. Mas acho que vai acontecer. Espero que sim. – suas frases são atrapalhadas e ela parece prestes a desmaiar, seu rosto está pálido.
-Meu amor, o que foi? – sento na cama ao lado dela.
-eu estive pensando durante esses dias. –uma pausa. –E cheguei a algumas conclusões.
-Ok, estou começando a ficar com medo. –brinco e ela me olha séria, como se me repreendesse.
-Eu sempre soube que amava você. Desde o começo, meu amor por você nunca foi uma dúvida. – aceno confirmando.
-O meu também.
-eu só tinha muito medo do que poderia acontecer, medo de tudo dar errado e medo até de dar certo. – ela suspira e une as mãos. –Mas... eu não quero mais ter medo e... quando eu estava no hospital naquele dia horrível com o Hefesto, eu só conseguia me sentir egoísta por agradecer a cada segundo por não ser você naquela UTI. Por você estar bem e saudável perto de mim. –a declaração me deixa quase sem ar, não que eu não soubesse o que a Thalia sente por mim, mas ela me dizer e ser tão crua e sincera...
-Meu amor, tudo bem. Eu também ficaria louco se fosse você que estivess... –não consigo terminar de falar porque ao imaginar a situação, minha garganta fecha e sinto uma ardência nos olhos. Thalia me encara e assente, como se entendesse e ela entende.
-Então... eu pensei e, quer saber? Dane-se que somos novos e dane-se que ainda vamos entrar na faculdade! –ela mexe na bolsa e tira uma caixinha de veludo, ela abre a caixinha e fico em choque, duas alianças me brindam com seu brilho. São alianças lindas e finas, delicadas, mas parecem resistentes. –A proposta para casar ainda está de pé?
-Você... meu Deus...casar... mas você...- Thalia franze o cenho.
-Não hoje, idiota. São só alianças de compromisso. Queria tornar tudo mais real. Só isso, porque sei que vai acontecer em algum dia.
-Vai mesmo. – pego uma das alianças e coloco no seu dedo, em seguida dou um beijo leve nos nós dos dedos dela, e ela faz o mesmo comigo. –Você é uma pessoa romântica, Thalia Grace, quem diria? –ela ri e em seguida levanta da cama e desabotoar a camisa, revelando a parte de cima de uma lingerie minúscula e sedutora.
-E essa era só a primeira parte da surpresa, que tal vir aqui e descobrir a próxima? –não consigo evitar um sorriso quando respondo.
-Eu não devo negar nada para minha noiva, devo?
P.O.V. PERCY JACKSON
É incrível como as cosias ganham sentido diferente de acordo com os acontecimentos da nossa vida, o aeroporto sempre foi um lugar comum e com uma única finalidade para mim, mas hoje eu não consigo evitar de sentir um pequeno peso no estômago enquanto procuro dentre as pessoas, um grupo enorme de adolescentes barulhentos, encontro depois de alguns minutos, próximos da fila de embarque de um voo.
-Olha quem chegou! – Hazel se joga nos meus braços e sorrio enquanto aceno para o restante do grupo, quando ela me solta, consigo me aproximar melhor do restante, Piper parece prestes a se debulhar em lágrimas, Silena está radiante junto com Charles, Leo me cumprimenta com o mesmo sorriso torto de sempre e Thalia resmunga enquanto a abraço.
-Você está atrasado, seu palerma!
-Ah, o amor fraterno! –respondo ainda abraçado a ela e Luke ri, acena com a mão direita para mim e consigo notar o anel de noivado deles. Saber que os dois ficaram noivos dias atrás e literalmente do nada, me assustou um pouco, sei que Thalia é imprevisível, mas dessa vez ela se superou. –Eu só vim desejar boa viagem aos desgarrados do grupo. – Silena tem um sorriso tímido e Charles agradece.
-Ah, eu vou sentir tanta falta de todos vocês! – ela olha para irmã. –Principalmente de você, Pipes! Jason, cuida bem dela! –Silena tenta um tom ameaçador, mas ela é tão adorável que fica difícil se intimidar, Jason tenta disfarçar um sorriso, e acena confirmando.
-Pode deixar.
-Nem acredito que estamos começando a nos dividir, daqui a pouco o Leo vai embora, e depois a Thalia e o Luke e... Quando nós vamos nos ver de novo? Eu preciso de datas para manter minha esperança ou posso morrer literalmente de saudades de vocês!
-Quanto drama, Beauregard! –Annabeth aparece do nada com uma mochila de viagem e meu coração se aperta novamente. Hoje é o dia que ela vai embora para Holanda. E pelo visto, daqui a pouco.
-Annie!! –Thalia corre para abraçar a amiga. –Deus! Achei que você iria passar direto para o seu embarque e nem ia falar com os meros mortais!
-Eu só esperei os últimos minutos para ter uma entrada triunfal. –ela brinca, mas percebo seu olhar inquieto sobre mim.
-Não acredito que a Annie vai embora e vai me deixar aqui! Desamparado! Triste! Só! – Leo faz um pouco de drama, mas é exatamente assim que estou me sentindo, ela vai embora. E no momento que pisar naquele avião, acabou. Nossas vidas vão seguir, mudar e ela vai conhecer outras pessoas, pessoas melhores, que ela com certeza merece, e vamos nos tornar passado um para o outro. Cortar essa ligação, mesmo que mínima, dói bem mais do que eu esperava.
-Eu estou apenas deixando o trabalho de babá nas mãos da Calipso, falando nela, onde ela está?
-Nós vamos nos encontrar na faculdade, só. Ela tem algumas pendencias com a família para resolver e eu e meu velho precisamos organizar nossa ida para lá.
-Ótimo, gente! Vamos comer um pouco? Nosso voo só é daqui a duas horas e eu estou faminta! –Silena chama e todos concordam, menos Annabeth.
-Eu só vim me despedir mesmo, meu voo é daqui a quinze minutos, eu realmente preciso ir ou vou perder! – ouço alguns sons muxoxos do grupo e em seguida, uma série de despedidas carinhosas são proferidas, não consigo me forçar a me despedir dela, não posso fazer isso, evito até mesmo encará-la, porque... Deus! Ela está tão linda e empolgada, confiante e sendo ela, que é impossível não olhar para ela e cair de joelhos. Espero que ela vá embora, simplesmente siga a vida, mas ouço ela chamar meu nome.
-Percy? – me viro para ficar de frente para ela e ela parece insegura quando segue sua fala. –Você poderia me acompanhar até o portão de embarque? – Não me peça isso, por favor não me peça para levar você até longe de mim. Noto que nosso grupo ficou dividido entre fingir que isso é completamente normal e encarar sem a menor vergonha. Encontro minha voz depois de alguns segundos constrangedores.
-Claro. – respondo como o idiota que sou. Começamos a andar lentamente para o portão de embarque dela, sem falar nada. Até que decidimos falar ao mesmo tempo.
-Eu...
-Você...
-Pode falar. –digo e ela sorri tímida.
-Você já decidiu o que vai fazer? – por um momento me pergunto se ela está se referindo ao que vou fazer depois que ela for embora e eu ficar com um buraco no peito onde deveria ficar meu coração, mas então percebo que ela está falando sobre a faculdade.
-Acho que vou investir em biologia marinha, no final das contas, acho que você estava certa. Eu não consigo me ver longe da água por muito tempo. – ela parece contente com a minha resposta.
-Eu fico feliz que ajudei você em algo.
-Você ajudou em bem mais que isso, Annabeth. – ela baixa os olhos para os pés. –E eu não estou cobrando nada ou tentando fazer você se sentir culpada, só estou feliz por ter te conhecido. – ela acena com a cabeça, parecendo distraída, ainda sem me olhar.
-Eu acho que é um pouco frustrante quando as coisas não funcionam como a gente quer, mas a vida é assim. As surpresas dela que a tornam interessante, não é? – é a primeira vez desde que ela chegou que ela fala algo próximo a estar sentindo algo em ter que ir embora.
-Acho que só me resta concordar e esperar por mais surpresas. –ela sorri e abre a boca para falar algo, mas a fecha em seguida, então olha para o bilhete da passagem nas mãos e em seguida para o lado, percebo que chegamos ao portão dela.
-Eu... – escutamos a última chamada para o voo dela e sorrio sem graça, com certeza um sinal do destino para manter minha boca calada.
-Então é isso... obrigada por vir até comigo, Percy. – dou de ombros, como se não fosse nada. Ela me abraça e sinto minhas mãos tremerem quando me forço a soltá-la, mesmo depois dela se afastar, ainda sinto o cheiro dela e a textura da pele macia. –Até mais, Percy. Fica bem, e espero que entenda se eu não ligar. – E é assim que ela se despede e termina tudo, com palavras corriqueiras e gentis, sem drama ou choro, e com certeza sem deixar margem para declarações constrangedoras e clichês que não mudariam em nada nossa situação e apenas dificultariam as coisas. Com um último sorriso tímido, ela passa pelo balcão e entra para o embarque. Continuo no mesmo lugar, até ver a aeronave decolar e sumir no céu, meu único pedido no momento é que ela chegue bem em Amsterdã.
[...]
-Ela foi embora? – Thalia pergunta, incrédula, quando me aproximo do nosso grupo na lanchonete que eles estavam.
-Sim, ué. Ela tinha um voo. – respondo e Thalia bufa.
-Meu Deus! Eu esperava choro, lamentações, declarações e grandes gestos de amor e recebo uma despedida seca? – sorrio um pouco, o que parecia impossível segundos atrás.
-Thalia, ela está indo para Amsterdã, fazer o curso que ela ama na faculdade que sempre sonhou, esse provavelmente é um dos dias mais felizes da vida dela. Por que eu iria estragar esse dia para ela? – minha prima resmunga, mas afasta um lugar no banco para mim. A conversa flui animada e Silena nos conta das novidades e sobre o que espera em Paris, enquanto Charles comenta brevemente o perfil da universidade que ele vai. O clima é bem descontraído e divertido, mas não consigo tirar a sensação de ter perdido algo.
-Vai ficar tudo bem. –ouço Thalia dizer baixinho perto do meu ouvido e confirmo com a cabeça, mesmo sem ter muita certeza.
P.O.V. ANNABETH CHASE
Depois de horas e horas de um voo cansativo, eu só consigo pensar em tomar um banho quente e dormir, desembarco e chego em Amsterdã ainda pela tarde, o que desajusta meu fuso-horário, estou cansada e chateada por não ter conseguido dizer o que queria para o Percy. Talvez até um pouco chateada e ressentida por ele ter sido tão tranquilo na nossa despedida enquanto eu estava prestes a abrir o berreiro e me jogar em cima dele, felizmente ele não falou nada do que eu esperava e queria que ele falasse, isso me ajudou a ter certeza do que eu estou fazendo, o que nós tivemos foi especial, mas turbulento e se ele está bem para seguir em frente, eu também estou. Levanto os olhos do celular depois de responder algumas mensagens preocupadas dos meus pais e avisto uma cabeça com os cabelos negros se aproximar de mim, prendo a respiração por alguns segundos e minha mente começa a disparar: Não é possível! Não é possível! Vou erguendo meus olhos pelos tênis impecáveis, a calça jeans de bom gosto e noto o corpo atlético e bronzeado... que está se aproximando de mim...
-Minha nossa! Você parece cansada! – ergo os olhos rapidamente para o rosto da pessoa e me deparo com um desconhecido, o sotaque é carregado, seus olhos são castanhos e não verde-mar, e seu cheiro também não me lembra maresia. Recupero meu bom senso e falo algo ao invés de encarar o desconhecido como se ele tivesse chifres.
-Desculpa, mas quem é você? – ele parece se dar conta de que não se apresentou ainda.
-ah, que idiota! Desculpa! – ele levanta a placa que só agora percebi que carregava. –Sou o John, faço arquitetura e estou no segundo, fiquei responsável por instalar você na universidade e apresentar sua nova vida. –ele estende a mão e sorri simpático.
-Annabeth Chase. – apertamos as mãos e ele indica um caminho com a mão.
-Annabeth... ouvimos falar de você na universidade, dizem que você tem uma habilidade incrível para enxergar algo além do que está sendo mostrado. –sorrio sem graça e dou de ombros. –Você parece faminta, que tal passarmos em um quiosque e comer algo? –encaro o olhar animado do cara à minha frente.
-Por que não? –ele sorri novamente e me brinda com seus dentes brancos perfeitos.
-Esse é o espírito! –enquanto caminhamos para o quiosque mais próximo, sinto minha bagagem emocional ficar mais leve e mais leve, quase vazia...
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