Yokoyama Aiko
— Yokoyama… — escutei uma voz abafada me chamar e em seguida “tum, tum, tum”, alguém bateu com os nós dos dedos na porta em um volume quase inaudível, como se não quisesse me acordar.
— Humm — respondi ainda sonolenta, afastando as cobertas do rosto e tentando abrir os olhos na claridade.
— Yoko… eu já estou saindo… ok? — a voz abafada falou de novo de trás da porta.
— Humm — era o único som que eu conseguia emitir. Antes que conseguisse abrir os olhos de fato caí novamente no sono. Não tenho certeza de quanto tempo passou, mas de repente eu despertei subitamente e me lembrei que dia era e quem era a pessoa me chamando na porta.
— Droga, droga, droga…— pensei alto, atirando as cobertas para longe e correndo de pés descalços para fora do quarto. — Kage… — Iria chamá-lo, mas quando bati o olhar no relógio da sala e vi que horas eram, concluí que ele já havia saído de casa a algum tempo, inclusive, o jogo já deveria ter começado aquela hora.
Depois daquela manhã, na qual Kageyama e eu ficamos trancados por mais de uma hora no almoxarifado do ginásio, eu havia desistido de acompanha-lo nos treinos secretos às 5 horas da manhã. O garoto saía bem cedo, antes de eu acordar, nós nos víamos no almoço quando eu entregava seu bentô e então eu só o via de novo por alguns minutos quando ele voltava do treino noturno. Havia sido assim a semana inteira, ele passava tão pouco tempo em casa que às vezes eu me esquecia que estávamos dividindo o apartamento e só me lembrava quando ele chegava em casa tarde da noite.
Eu sabia que Kageyama estava se esforçando para entrar no time da Karasuno e como colega e amiga eu queria mostrar meu apoio. Por isso, mesmo estando absurdamente atrasada, corri à todo fôlego até o ginásio da escola naquela manhã ensolarada de sábado.
Meus cabelos estavam uma bagunça, eu havia vestido a primeira camiseta limpa que encontrei no varal e não tinha certeza se havia lavado direito o rosto. Mas Kageyama estava acostumado a me ver com cara de sono e cabelo amassado, não era nenhuma novidade. Tudo o que eu queria era chegar a tempo ao ginásio.
Quando cheguei aos portões da escola, minhas panturrilhas ardiam como brasa pelo esforço da corrida. Mas me forcei a mais uma pequena corrida até o ginásio, alguns metros longe já podia escutar o barulho da fricção dos tênis contra o tablado e a bola rebatendo no chão.
Me aproximei da porta, mas hesitei. Se eu abrir a porta agora vai fazer barulho e desconcentrá-los talvez — refleti. Então, notei que havia uma estreita basculante na parede do ginásio, pela qual eu poderia espiar para dentro.
Eu já fui ginasta, não parecia um movimento muito difícel de executar. Tomei impulso com as pernas e pulei, agarrando as grades da janelinha com força para me segurar. Apoiei os pés na parede e projetei meu corpo para cima, para conseguir enxergar.
E lá estava ele, Kegeyama Tobio deslizando pela quadra em movimentos precisos e calculados, mas que pareciam quase naturais e graciosos para aquele garoto. Olhei para o placar, eles estavam em match point. O saque era de Daichi-san, o capitão que estava na equipe adversária. Prendi minha respiração e assistir com atenção.
Tanaka fez uma boa recepção e passou para Kageyama. Pelo o que Kageyama contava sobre Hinata, pensei que o garotinho não fosse bom jogando, ainda mais por aquela altura, mas então, em um movimento inesperado, Kageyama levantou para Hinata, que pulou tão alto que parecia estar voando. O garoto cortou a bola e marcou o ponto da vitória.
Os garotos vibraram e num reflexo de alegria eu também, levantei os braços em comemoração, mas antes que eu percebesse que havia soltado as mãos das grades da janela, eu caí para trás como um saco de batatas, me espatifando no chão.
O ginásio foi tomado por um silêncio súbito e 2 segundos depois escutei a porta de metal ser aberta.
— Yokoyama?? — Sugawara exclamou surpreso. Em seguida mais alguns rostos apareceram para espiar o que estava acontecendo, enquanto eu apenas continuavam estatelada no chão sem reação.
— Yoko? — reconheci a voz de Kageyama. — O que diabos você está fazendo no chão? — ele perguntou estendendo a mão para me levantar.
— Hã… Eu estava assistindo o final da partida… — Respondi apontando para a basculante. — Mas eu meio que caí… — completei, aceitando a mão de Kageyama para me ajudar, ela estava quente, mas ainda era macia como me lembrava.
— Por que não entrou?? — Ele perguntou, parecia estar segurando uma risada. Não o culpo, era uma situação bem cômica mesmo.
— Não importa, traga ela para dentro, vamos colocar gelo — quem se pronunciou desta vez foi uma garota. Ela tinha cabelos escuros e usava óculos, parecia da minha altura, mas com certeza era mais velha, enfim, ela era linda.
A garota bonita era Shimizu-san, uma veterana do terceiro ano que participava do clube como assistente. Eu não tinha certeza se era por causa da queda que estava me deixando zonza, mas ela era tão bonita que até eu podia me apaixonar por ela. Ela colocou a bolsa com gelo atrás da minha cabeça e eu senti um arrepio gelado correr por meu corpo.
— Kiyoko, — Daichi a chamou. — Pode trazer aquilo para os meninos? — ele pediu, dando ênfase na palavra “aquilo”. Me questionei mentalmente sobre o que poderia ser.
Shimizu entregou a bolsa de gelo nas minhas mãos e foi em direção ao almoxarifado. No mesmo momento Kageyama se abaixou ao meu lado.
— Ei, — ele sussurrou, — por que está usando minha camiseta? — ele perguntou, arqueando as sombrancelhas.
Do que ele está falando? — pensei. Mas quando olhei para baixo, percebi que a camiseta que eu estava usando era na verdade mais branca do que bege e que estava realmente mais larga do que o habitual. Senti minhas bochechas corarem bruscamente, na pressa de sair de casa, eu puxei a camiseta errada do varal.
Eu estava prestes a explicar o mal entendido, quando Shimizu voltou com uma caixa e chamou os primeiroanistas.
De longe eu não conseguia enxergar direito o que havia dentro da caixa, mas vi os olhos de Kageyama brilharem, o garoto deu um legítimo sorriso de pura felicidade, e aquela visão foi o suficiente para deixar meu coração quentinho.
A assistente puxou da caixa 4 casacos pretos com inscritos em branco e os garotos vestiram-nos. Hinata saltitava pelo ginásio como um pequeno corvo feliz. Kageyama acenou para mim e virou de costas para mostrar o que estava impresso no casaco: Karasuno high school clube masculino de vôlei. Eu não conseguia esconder o quão feliz estava por ele, então não suprimi o sorriso que surgiu.
Após limparem o ginásio, todos se encaminharam para a loja de conveniências que ficava próxima a escola, eu apenas segui o grupo, ficando atrás de Kageyama como um pintinho assustado, aqueles garotos eram muito barulhentos.
Enquanto comiam nikuman (o pãozinho com recheio de carne), eles fizeran mais silêncio, suas bocas estavam ocupadas demais para tagarelar. Observei todos aqueles corvos com suas jaquetas do clube, ver Kageyama no meio deles me fez sorrir novamente.
— Yokoyama-san — Hinata me chamou, enquanto empurrava sua bicicleta. — Você também joga vôlei? — ele perguntou animado. Mas quem respondeu foi Kageyama:
— Ainda não, ainda — ele disse dando ênfase no ainda.
— Kageyama prometeu que me ensinaria — respondi, explicando para Hinata. Os olhos do garotinho brilharam com a possibilidade de ser ensinado por Kageyama, e os dois começaram uma discussão turbulenta, com Hinata implorando para que Kageyama o ensinásse e Kageyama se recusando até o último fio de cabelo.
— Eles são assim o tempo todo? — cochichei ao outro primeiroanista que estáva próximo, ele tinha os olhos grandes e sardinhas no rosto. O garoto apenas acentiu com a cabeça.
— Com a Aiko é diferente! — escutei Kageyama argumentar enquanto ainda discutia com Hinata e de repente todos ficaram em completo silêncio. Aquela frase podia estar fora de contexto, mas fez meu rosto corar novamente.
— Hmmmmmmmm — quem murmurou foi Tanaka, em tom insinuativo.
— Não foi isso que eu quis dizer — Kageyama contestou, mas Tanaka continuou a provocá-lo. — Vamos pra casa, Yoko — o garoto me puxou pela mão caminhando para longe do grupo, enquanto ainda ouvíamos as provocações ao longe.
A mão do garoto estava quente e era tão grande que minha mão se perdia dentro da dele. Aquele contato fez meu coração disparar tão forte que eu podia ouvir as batidas ressoando nos ouvidos.
Eu não tenho certeza se ele não percebeu que ainda não havia soltado minha mão, mas ele continuou a segurá-la por quase todo caminho, fazendo meu coração dar giros dentro do peito. A verdade, é que uma parte estranha de mim não queria que ele soltasse...
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