“I was told when I get older all my fears would shrink
But now I'm insecure and I care what people think”
Cerimônias de casamentos são tediosas, ter que usar aquelas roupas desconfortáveis, ficar ouvindo um discurso maçante por quase uma hora… tudo isso é um saco! Sem contar o protocolo que tinha que ser cumprido. Eu, Shikamaru Nara, até poderia ser conhecido como a mente mais brilhante de Konoha, mas uma coisa eu jamais seria capaz de entender: por que as pessoas davam tanta importância para cerimônias como essa e por que tinham que ser sempre a mesma coisa?
Há tempos eu já havia deixado de ser aquele garoto que reclamava de tudo, com o tempo passei a entender certas coisas e a reclamar um pouco menos - menos não quer dizer que eu não o fizesse mais. Apesar de preferir estar fazendo alguma outra coisa no conforto da minha casa, ou qualquer outra coisa que me permitisse pelo menos usar roupas mais confortáveis, eu entendia a importância daquele momento.
Dois dos Onze já estavam se casando, o primeiro passo para formar uma família. Realmente não éramos mais apenas a promessa do futuro de Konoha, éramos o presente e nossas histórias estavam sendo traçadas a partir de agora.
Desde a morte do Asuma-sensei percebi que precisávamos assumir responsabilidades e assegurarmos que tudo continuasse, que a vida não parasse. Ver o meu sensei partir e pedir para que eu cuidasse do filho dele assim como ele fez comigo, foi o acontecimento que mais mudou minha vida. Dali em diante, aquele garoto reclamão e preguiçoso, precisou dar lugar ao homem que tinha um papel fundamental para exercer na sua vila.
Embora não oficialmente, eu já atuava como conselheiro da quinta Hokage, Tsunade-sama, mas quando Kakashi assumiu, logo após o fim da Guerra, fui oficialmente instituído como conselheiro do Hokage. Sempre me consideraram a mente mais brilhante e inteligente de Konoha. Apesar de reconhecer minhas habilidades intelectuais acima da média, nunca usei nada disso para me vangloriar ou me sentir superior aos demais.
Minhas estratégias sempre foram tão óbvias para mim, mas todos achavam delas um grande feito. Eu apenas pensava em tudo o que poderia acontecer e como poderia tirar proveito disso para evitar o máximo de problema possível, e claro, utilizando o mínimo de esforço.
Sempre fui, assumidamente, o cara que detestava tudo que fosse problemático, e com isso acabei virando um bom solucionador de problemas quase que como um meio de sobrevivência. Além disso, sempre pensei demais em tudo: todas as possibilidades, todas as implicações e todas as consequências. Acho que por isso sempre estava tão indisposto. No fim, essas características inatas que eram tão minhas, se tornaram úteis e capazes de fazer a diferença para a vila. Por isso, aceitei sem relutar o papel a qual me foi confiado.
Entretanto, aceitar não tornava nada mais fácil. Eu tinha que tomar decisões importantes em que as consequências não seriam apenas mais sobre o número de horas livres que teria. As consequências das minhas decisões seria vida ou morte para alguém. Ao contrário de quando eu jogava Shogi com o Asuma, não poderia pensar em peões de sacrifício, cada peça envolvida era um vida e todas elas importavam.
Quando comecei a trabalhar com questões mais diplomáticas e complexas o nível subiu consideravelmente. Agora as vidas envolvidas não era apenas dos meus companheiros de equipe. A consequência das minhas decisões poderia ser uma guerra que acabaria com milhares de vidas e deixaria um grande rastro de destruição.
Apesar de com o tempo eu estar conseguindo lidar melhor com meu trabalho e tendo mais segurança e prática, isso definitivamente não tornava as coisas mais fáceis. A pressão e o estresse eram constantes. Nada poderia aliviar a grande pressão e responsabilidade que pairavam sobre mim.
Seria bom se isso se limitasse a torre do Hokage. A coisa parecia ficar ainda pior em casa. Após a morte do meu pai eu me tornei o líder do clã Nara. Agora, eu tinha que fazer jus ao seu legado e cuidar da minha família. Até minha vida pessoal tinha que ser pensada e calculada milimetricamente, caso contrário, as consequências poderiam afetar meu clã e manchar o legado do meu pai, que ele e aqueles que vieram antes dele lutaram tanto para manter.
Foi muito difícil lidar com a perda do meu pai e assumir as responsabilidades dele então nem se fale. Mas de certa forma meio que sinto que isso o mantém perto de mim. Agradeço imensamente a minha companheira de time Yamanaka Ino nesse quesito. Dividimos a mesma dor e o mesmo fardo. Inúmeras foram as vezes em que ela desabafou comigo e eu com ela. Às vezes ela achava que eu apenas a ajudava, mas ela também me ajudava bastante. Mesmo sendo um pouco doida, impulsiva e estourada, ela é uma mulher forte.
Talvez o principal motivo de eu estar tão tenso nessa cerimônia não seja apenas o fato de eu detestar casamentos. Ver Naruto e Hinata se casando me lembra a responsabilidade que tenho com o meu clã. Eu também preciso me casar e constituir uma família. O que implicava escolher uma mulher e passar o resto da minha vida com ela. Mas as mulheres são tão problemáticas, o que acaba tornando tudo ainda mais difícil.
Eu até já tinha me apaixonado por uma que exalava problema aos meus 17 anos. Bem, o que eu tinha na cabeça? Temari além de ser extremamente difícil ainda era de outra aldeia. Mas ele é uma mulher como poucas, tão forte, independente, segura, inteligente… ah, uma mulher incrível por si só. De fato, como eu não poderia me apaixonar? A verdade é que eu sempre a admirei.
Mesmo com todas as suas qualidades, não posso negar que namorar aquela mulher foi difícil. Claro que tínhamos bons momentos juntos, mas também tínhamos incontáveis brigas das quais eu não sei como consegui sair com vida. Despertar a fúria da kunoichi mais impiedosa do mundo shinobi era, no mínimo, problemático.
Dizem por aí que os opostos se atraem, meu relacionamento com a Temari era a prova viva disso. Ela era capaz de acabar com a calma e tranquilidade que eu tinha em questão de segundos. Coisas que eu tanto valorizava ela jogava pro alto como se não fosse nada. Mas ela também me fazia feliz e nunca vou me esquecer dos momentos bons que tivemos juntos, porque eles eram realmente muito bons. Vê-la feliz era uma das coisas que mais me deixavam feliz nessa vida.
Porém, mesmo com o sentimento mútuo entre nós, as dificuldades vieram. A distância, as diferenças e as responsabilidade pesaram. Inúmeras foram as vezes que tivemos nosso coração esmagado pela saudade e nunca podíamos saciar esse sentimento conforme queríamos. Eu tinha as minhas funções que não poderiam ser deixadas de lado para que fosse até Suna. Ela da mesma forma. Além disso, ela ainda tinha os irmãos e uma necessidade enorme de estar ao lado deles, os irmãos Sabaku sempre foram muito unidos.
Lembro-me de uma vez que ela conseguiu vir até Konoha para passarmos um tempo juntos e eu não pude dar a devida atenção a ela. Kakashi tinha uma reunião importante com o Senhor Feudal e precisava de mim. Ela ficou furiosa e quando nos encontramos ao invés de passarmos um bom tempo juntos apenas brigamos. Depois disso, veio os ciúmes e uma desconfiança descabida. Sempre me perguntei como uma mulher tão maravilhosa e confiante de suas qualidades poderia ser tão confiante em um campo de batalha e tão insegura em outros aspectos. Como eu trocaria uma mulher como ela? Ou desrespeitaria o vínculo que tínhamos com qualquer uma por aí?
Com o tempo toda essa situação foi me desgastando e me prejudicando em outras áreas e o mesmo acontecia com ela. Uma vez conversando com Choji ele disse o que já estava claro tanto para mim quanto para ela, mas que nenhum de nós tínhamos coragem para assumir:
- “Vocês não podem continuar desse jeito. Ou vocês resolvem isso logo ou acabam de uma vez. Da forma que está não tem como ir para frente.”
Resolver logo. Bem que eu gostaria. Se nos casássemos acabaríamos com o problema da distância entenderíamos melhor as responsabilidades do outro e grande parte das brigas estariam solucionadas. Mas, quem de nós iria abrir mão da sua vida para recomeçar outra? Infelizmente, por mais que gostasse dela não estava disposto a deixar minha vila e minha família. E de forma alguma seria capaz de exigir o mesmo dela. Se ela largasse para trás tudo o que conquistou e aquilo que tanto valorizava não seria a mulher por quem me apaixonei.
Por isso tomamos a difícil decisão de abrir mão de nós. No começo foi difícil, mas com o tempo superamos e mantemos até uma certa amizade, na medida do possível. Saídas constantes começaram a fazer parte da minha rotina e volta e meia tinha alguns casos espalhados por Konoha, mas nada que valesse a pena levar para frente ou estender por muito tempo. No começo, esses casinhos foram importantes para eu me distrair do rompimento com a Temari, mas depois, se tornaram uma boa diversão.
Eu tenho pleno consciência de que essa vida de noitadas precisa acabar. Mas por que agora? Já aceitei que em breve terei que me casar e formar minha família, porém, acho que mereço um tempo de curtição antes de assumir mais uma responsabilidade. Acho que posso me dar um ano sabático, um ano livre de complicações amorosas apenas com diversão, para depois assumir certas responsabilidades que durarão toda uma vida.
Só de pensar na futura senhora Nara me dá uma tremenda dor de cabeça. Eu terei que conhecer alguém com quem eu quero compartilhar o restante da minha vida e convencê-la a querer o mesmo. Onde essa pessoa estaria? A situação é inegavelmente problemática. As kunoichis de Konoha eram ótimas, mas nenhuma era uma possibilidade real. Hinata já estava fora de jogo, Ino era como uma irmã para mim, Tenten estava arrastando um luto eterno por conta do Neji e Sakura era… bem, problemática era um eufemismo para descrevê-la. A garota amava um drama, um problema, tudo com ela era demasiadamente complicado. Ela resolveu se apaixonar pelo cara mais difícil da vila, não só ela fez isso, mas ao invés de fazer como as outras que com o tempo superaram o amor platônico, ela se afundava ainda mais.
Agora mesmo ela estava enchendo a cara no bar da festa, nunca a vi bebendo então provavelmente havia algum motivo para aquilo. E não precisava ser nem um gênio para saber qual era: Sasuke. Aposto que estava se sentindo mal por se dar conta de que talvez ela e Sasuke nunca se casariam assim como Naruto e Hinata.
Meu copo já estava vazio e eu extremamente entediado, então me dirigi até onde ela estava para pegar mais uma bebida para acompanhar o cigarro que decidi fumar para espairecer um pouco. Percebi que ela tinha acabado de pedir uma dose de whisky, durante a noite ela tinha apenas bebido umas bebidas coloridas e provavelmente absurdamente doces. Se ela continuasse naquele ritmo a ressaca amanhã seria infernal então resolvi dar um conselho, quem sabe ela acordaria e se daria conta do que realmente estava fazendo:
- Se quiser uma dica, é melhor não misturar tanto. Ou amanhã pode ser bem problemático.
Ela se virou em minha direção, dando um sorriso gentil e me cumprimentou:
- Ah! Oi, Shikamaru! Como vai? - pela sua voz pude constatar que sóbria era a última coisa que aquela garota estava. A ressaca amanhã dela já seria infernal independente do que ela viesse a beber.
Apesar de bêbada, ela tinha um sorriso bonito. Na verdade, ela era toda bonita, seu cabelo exótico, os olhos verdes, a pele alva e os sorrisos cheio de vida. Era uma das mulheres mais bonitas que conhecia. Ela tinha uma delicadeza natural que contrastava com toda a sua força e agilidade. Sakura era sem dúvida uma das mulheres mais incríveis de Konoha. Uma kunoichi extremamente poderosa reconhecida mundialmente, inteligente, amável e simpática. Tudo o que ela havia conquistado era por mérito próprio. Lembro-me quando ainda éramos os 9 novatos, apesar de inteligente, ela era a mais fraca do seu time e sinceramente, não conseguia enxergar um futuro tão promissor para ela.
Entretanto, ela mostrou que eu não poderia estar mais errado. Ela mesmo escolheu o caminho que queria trilhar e escreveu sua própria história. Não foi a única vez em que ela me surpreendeu, lembro-me de quando ela conseguiu se livrar o jutsu de transferência de mente da Ino, no exame chunin, apesar da luta um tanto quanto vergonhosa, aquilo era um grande feito. Houve também sua vitória contra o Sasori, juntamente com uma senhora kunoichi de Suna foram as primeiras a derrotarem um membro da Akatsuki. Também me lembro de quando ela mostrou o quão forte poderia ser quando decidimos que Konoha deveria ser a responsável por parar Sasuke. Ela se mostrou muito mais do que apenas uma garota apaixonada, agiu como a verdadeira kunoichi que era e tomou uma atitude, de eficácia questionável, claro. Mas ela fez o que podia e com certeza muito mais do que qualquer um esperaria dela. Isso tudo sem contar sua importância durante a Guerra. Nunca entendi como uma mulher dessas se prestava ao papel de sofrer pelo Uchiha.
Perguntei como ela estava e, de repente, ela começou a chorar. Uma mulher extremamente formidável, porém tão problemática... Decidi respeitar o momento dela e apenas ficar ali sem dizer nada, mas quando o choro se intensificou percebi que apenas ignorar seria rude. Estendi uma mão para afagar o seu ombro numa tentativa de prestar algum consolo. Perguntei se a razão do choro era o Sasuke e mais uma vez Haruno Sakura me surpreendeu:
- Não. É por mim mesma. Acabo de tomar a decisão mais egoísta da minha vida. - Ela disse enquanto se levantava para ir embora. - Eu decidi que vou ser feliz. Boa noite, Shikamaru! - e deixou a festa.
Sempre soube que mulheres poderiam ser problemáticas, mas aquela… Aquela parecia que tinha acabado de se resolver.
“Wish we could turn back time, to the good ol' days
When our momma sang us to sleep, but now we're stressed out”
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