Era constantemente difícil concentrar-se em adicionar e equilibrar cada pingente no fio de silicone. Por isso, Jung Hoseok procurava respirar fundo e tornar-se impassível a qualquer ambiente ao seu redor, mesmo que apenas fosse seu solitário apartamento.
A pulseira que estava fazendo era encomendada por uma pessoa especial, sua antiga amiga japonesa, Sana. A garota, após retornar ao seu país de origem, veio para a Coreia novamente. Ambos se reencontraram em um bar pequeno e sórdido, o qual fazia um Yakisoba Bread delicioso, que, até então, o de fios vermelhos aprendeu a comer com a amiga.
Ao saber que o Jung estava trabalhando na internet e, nos tempos vagos da sua rotina, indo à feira vender, não perdeu tempo em encomendar uma miçanga especialmente para si mesma. Assim, quando voltasse ao Japão novamente, teria algo memorável de Hoseok, que era alguém muito importante.
Hoseok, por outro lado, havia ficado feliz. Sua semana estava sendo corrida. Seu trabalho estava puxado, assim como as contas para pagar no fim do mês. As encomendas e vendas constantes de suas miçangas, assim como sua ida à feira, tomavam muito de seu tempo. Precisava descansar, mas a palavra possuía um gosto amargo em seu paladar. No momento, Sana havia deslocado alguns problemas e, assim como a noite, criar e fazer as pulseiras eram um calmante sustentável e bom.
Estava pretendendo reorganizar sua rotina e equilibrar o que fosse possível, o que era fácil para ocupar sua atenção com mais precisão. Seu chefe já havia lhe dito que estava aéreo e que parecia atrapalhado, também perguntou se estava tudo bem e se precisava de ajuda. Foi estranhamente detestável. Poderia muito bem lidar com seus problemas sozinho, sem ter que depender de ninguém. Apenas estava cansado, é normal. Dias de luta são iguais a dias de glória, cada um você conquista de um jeito diferente.
Mesmo ignorando, o fato de aparentar estar precisando de algo o incomodou muito. Não queria parecer alguém tolo e necessitado. Quando saiu da casa de sua omma, foi uma decisão determinada que teve muito de seus pensamentos e confiança, mesmo sendo novo. Contudo, com vinte e seis anos, estaria passando por dificuldades ao não conseguir resolver suas pendências? Era frustrante. Entendia bem que todos, em parte, passam por fases assim, mas seu estresse, às vezes, não o deixava possuir empatia consigo mesmo.
Queria possuir todas suas funções em ativa sempre que precisasse, e isso se refere a um Hoseok trabalhando vinte e quatro horas por dia, cuidando da casa, limpando-a. Fazendo marketing e estudando empreendedorismo. Comprando de fábrica os materiais das miçangas. Fazendo uma por uma, ocupando no mínimo cinco horas de sua tarde, noite e início da madrugada. Cuidar da vida social e pessoal, assim como de si mesmo.
Era difícil, todos que viam de fora pensavam que o jovem era um extraterrestre, mas estava longe disso ser possível.
Por isso, e por outros motivos, iria reorganizar sua rotina e tentar achar tempo para outros afazeres.
Dando um mínimo nó cuidadoso no fio fino e delicado, pegou sua tesoura e cortou o que sobrou do material. Esticou a pulseira entre os dedos, analisando se estava forte e elástica o suficiente para não estourar no pulso de Sana, e sorriu. Havia gostado muito dela, talvez pelo fato de ser para um conhecido. Com cuidado, deixou a miçanga de lado e respirou profundamente.
Estava calor, o verão da cidade não era agradável, principalmente quando sua pessoa não está na praia. Isso contribui com sua impressão, era um admirador da estação, quando não precisava estar passando por ela, obviamente.
Levantou-se da cadeira giratória e esticou-se, a fim de recuperar o movimento de seu corpo, que estava, até então, por um longo tempo parado. Fechou o vidro da sacada e as janelas, logo achando o abençoado controle do ar-condicionado, cujo perdia frequentemente. Ligou o eletrodoméstico.
Não esperou para sentir o ar fresco e libertador, sentou-se novamente na cadeira. Pegou uma minúscula caixa de plástico, na qual cabia perfeitamente a miçanga, e guardou-a ali. Preparou o adesivo com sua logo e número para encomenda, colando-o na embalagem e, em seguida, enrolando-a em um laço rosa.
Com ternura, caminhou até seu quarto, guardando a encomenda especial de Sana em sua bolsa. No dia seguinte, levaria para ela, iria aproveitar e também entregar outras pessoalmente, coisa que raramente conseguia fazer, mas precisava.
Retornou ao assento e decidiu preparar mais duas, depois iria encomendar uma pizza ou comer o pote de sorvete que havia comprado. Havia comida do almoço, que poderia levar no dia seguinte para o trabalho, já que não curtia os lanches e alimentos do prédio.
Em suas contas, oito pulseiras estavam prontas para entrega, bastava embalar e postar fotos de algumas em suas redes sociais do negócio, para o engajamento, e, assim, os próximos dois dias estariam livres. Começaria o pacote de pulseiras na promoção apenas na segunda-feira. Enquanto isso, iria focar em distrair-se.
Com um copo de Sprite na mão, bebeu certos três goles. Deixou-o afastado, enquanto enfiava a mão em sua caixa de pingentes prateados, pronto para iniciar mais um processo.
Suas pupilas rolaram sobre as órbitas, e sua mão foi parar rapidamente na testa. O som enojante daquela moto insuportável lhe avisou que, a partir daquele momento, sua paz correria rua fora e, provavelmente, seria atropelada, com direito a ficar hospitalizada até o dia seguinte. Sorriu breve e cínico, praguejando em inglês. Esticou os dedos e fechou a mão em um punho. Levantando-os um por um, contou;
— Um… Dois… Três.
Foi certeiro. O interfone tocou e soou pela residência, foi obrigado a se levantar, tentando parecer incomodado, mas, satisfeito. Sentia as mãos formigarem e, inconscientemente, seus lábios já se transformavam em um mínimo sorriso. Agarrou o aparelho e o colocou no ouvido. Apertou os botões para abrir.
— Abriu? — questionou, baixo. Em seguida, um clique indicou que o portão estava liberado.
— Uhum.
Encaixou o interfone novamente na base e seguiu em direção ao seu quarto. Pegou uma camiseta e a vestiu, ajeitou alguns fios de cabelo e achou uma opção favorável retocar o vermelho, estava desbotado. Agarrou o frasco de perfume e espirrou uma mínima quantidade na parte inferior das orelhas, em seguida, voltou para sala. Quando iria retirar seus materiais de cima da mesa, a porta abriu-se, revelando a figura alta e intimidante de Kim Taehyung.
— Já falei pra você trancar a porta quando estiver sozinho. — A voz rouca e grave do Kim soou, tirando-lhe um arrepio. Virou-se para o mais novo, sorrindo minimamente.
— É fofo ver você se preocupando comigo.
— Isso não é preocupação, é medo. Capaz de você matar o coitado que invadir, do jeito que anda estressado.
Taehyung fechou a porta e caminhou em direção ao ruivo, que apenas jogou a franja para o lado. Sorrindo, o Kim agarrou-o pela cintura, logo depositando um beijo casto no pescoço cheiroso e branquinho.
— Vou levar isso na preocupação. Não é como se você não tivesse me visto assim antes — proferiu, admirando o rosto de uma beleza complexa.
— Estava fazendo suas pulseirinhas? — O moreno quis saber, observando os acessórios sobre a mesa e a luz portátil ligada.
— Sim. Eu estava. — Deu ênfase na última palavra, soltando-se dos braços do Kim e indo terminar de guardar seus materiais.
O cheiro de cigarro era evidente na jaqueta de couro. Negou com a cabeça, não iria se acostumar nunca com aquele vício.
— Te atrapalhei? — questionou, brincalhão, já sabendo a resposta. Observou o menor revirar os olhos e organizar as caixas uma do lado da outra cuidadosamente.
Hoseok era uma pessoa extremamente organizada. Taehyung ocasionalmente se irritava com isso. Era pontual, caprichoso, responsável e bonito, mas rígido em certas situações. Geralmente — cinquenta por cento do tempo que passavam juntos —, era repreendido pelo ruivo, ou por ser irresponsável, ou pelos seus cigarros. Mais pelo cigarro, na maior parte do tempo. Todavia, estava acostumado.
No começo, quando começaram a se ver em um bar qualquer, era difícil. Hoseok não podia, ou era muito tarde, ou precisava fazer miçangas. Não gostava de pessoas que fumam, além de sempre tomar cuidado com a bebida e lhe encher a paciência, dizendo o que deveria ou não fazer. O Kim não era o tipo de pessoa que suportava seguir regras e ser mandado, mas quando se tratava de Hoseok, era tudo diferente. Parecia que havia nascido para obedecê-lo e suportar o quão sexy e gostoso o outro se tornava quando estressado ou mandão. Coisa de sua personalidade forte e determinada.
Quando passaram a se conhecer, viram que não daria certo nem para ficar um dia ou outro sem relacionamento e sem se apegar. Taehyung era louco e corria conforme o vento levava. Viciado em nicotina e pura adrenalina. Pratica corridas ilegais com sua gangue de motoqueiros, malucos que nem sua pessoa, completamente sem limites. Não pretendia abdicar de nenhuma de suas práticas costumeiras, mesmo que fosse para ficar com Hoseok, que, na época, era sua meta.
Meta era a palavra, pois havia colocado como conquista. Ao ver o Jung pela primeira vez, não precisou pensar ou repensar, queria ele para si, pelo menos por uma noite. O menor era belíssimo, sempre foi. Se um dia pensou ver alguém bonito o suficiente antes dele, pensou errado. Hoseok era a pessoa mais bonita que já havia visto, e mais deliciosa também. No entanto, ao conhecer sua personalidade, a qual o menor não fez questão de omitir ou esconder, se viu em uma enrascada. Ele era um homem difícil, tanto que só depois tiveram a primeira vez após três semanas. Depois que o Kim realmente provou que o queria.
Conforme o tempo foi passando, o encaixe tornou-se perfeito. Ambos se completavam, e Taehyung sentia que ficava mais responsável a cada dia, mas não sabia se isso era ruim, ou muito ruim. De qualquer modo, se acostumaram com a presença e hábitos do outro e possuíam uma relação convencional. Sem sentimentos, respeitosa e quente. Apesar de, na maioria das vezes, parecerem um casal.
A única coisa que não havia mudado era a rivalidade de Jung Hoseok com seu cigarro e sua moto — e todas as suas outras coisas —, mas, fora isso, estava tudo bem.
— Sim ou claro? — Hoseok respondeu, irônico.
— Sim. Porque sei que você adora quando venho te ver sem avisar.
— Avisar, você avisa. Aquele "negócio", infelizmente, virou seu interfone particular. Todos já sabem que o cara da moto é ficante do vizinho.
Taehyung riu, tirando a jaqueta e pendurando-a sobre a cadeira giratória, analisou o Jung pegar o celular e um copo vazio e ir em direção à cozinha com o nariz empinado. Passou a língua rente aos lábios, analisando como cada roupa caía muito bem sobre as curvaturas dele.
— Aquele "negócio" não...
— GSX… e o caralho a quatro. Que tal você ir lavar uma louça, Kim? — zombou, abrindo a geladeira.
— Seu convite não é convidativo.
— Não era pra ser. Aliás, você não deve saber nem como se coloca detergente na esponja.
— Eu sei sim, hyung! Apenas não faço — defendeu-se, escorando-se sobre a parede e cruzando os braços.
Hoseok riu. Raramente Taehyung o chamava de hyung, por questões idiotas que ele dizia ser postura de gangster. Aceitou sem muita oposição, já que não possuíam nada que exigisse respeito. Além disso, a diferença de idade não era tão grande, muito menos notória. Deveria respeitar o estilo de vida do mais novo, mesmo que, por vezes, o incomodasse. Era um misto de adrenalina. A diferença entre ambos era o tempero satisfatório da relação casual que possuíam. Hoseok, mesmo que reclamasse em certas circunstâncias, ainda assim adorava a companhia do maior e suas palhaçadas.
— Porque você é um gangster monstruoso que usa motos ilegais em lugares ilegais, acelerando em uma velocidade não permitida pela PNC. Imagino que não lave a louça mesmo.
Taehyung umedeceu os lábios, chegando à conclusão que aquilo era realmente verdade, apesar da ironia carregada na fala.
— Você vive me apontando, né, Jung? Parece até que não geme pra mim a noite toda — rebateu, sorrindo presunçoso ao ver as bochechas rubras do menor.
Hoseok fechou a geladeira e alisou a franja com os dedos, rindo cínico, enquanto servia-se de mais um pequeno copo de Sprite. Era incrível como nunca se cansava do refrigerante, que era seu favorito.
— Não vou exaltar suas mil qualidades só porque transamos, seu imbecil. De mil, eu acho cem.
— Vou levar isso como um contra-ataque.
— Por que você não aponta meus defeitos também? — Hoseok perguntou, curioso. Parando em frente ao Kim, ofereceu-lhe um gole de seu refrigerante.
— Eu não quero um gole de sua Sprite, Jung, eu quero você — murmurou, o tom breve e rouco. Tirando cuidadosamente o copo da mão do ruivo, deixou-o na bancada. Logo puxou o mais velho pela cintura, apertando o local esguio com ganância ao colar ambos os corpos.
— E eu quero uma resposta, Kim — exigiu, suspirando ao sentir a língua úmida e quente do maior em seu maxilar, trilhando suavemente até seu pescoço.
— Sempre tão exigente, não tem medo do perigo? — sussurrou, deixando-se levar pelo clima que estava se formando.
— De um gangster monstruoso que ama ver eu fazendo pulseirinhas? Talvez não — disse, irônico, permitindo-se rir, mas choramingando assim que recebeu uma mordida forte na clavícula. — Não vale, Taehyung!
— Você não vê meu valor? — dramatizou, admirando o sorriso brincalhão do menor ao parar para encará-lo.
— Você está falando dos cigarros ou dos negócios barulhentos e chatos pra caralho?
— Eu não te aguento mais, Jung Hoseok — sussurrou, rindo, deixando um selinho breve nos lábios do outro.
— Me largue de mão, então — disse, soltando-se dos braços do Kim, abrindo a gaveta e pegando duas colheres. — Vamos comer sorvete e assistir ao último capítulo de "My Name"?
Ao ver o maior concordar, Hoseok novamente saiu saltitando até o freezer. Estava esperando para comer o sorvete com alguma companhia. Possuía autoconhecimento sobre si mesmo, a ponto de saber que, se tentasse comer apenas uma colher, acabaria com o pote em segundos. Portanto, não era uma ideia relevante comer só, sendo que possuía Taehyung, mesmo que este não estivesse ali exatamente para isso.
Sorriu com o pensamento, mas amaldiçoou-se em seguida.
Às vezes, não entendia qual era o sentido da relação entre ambos. Em certos momentos, eram um casal, o que em sua consciência era estranho. Em outros, agiam como dois idiotas, orgulhosos, aguardando quem iria chamar ou visitar primeiro na sexta-feira. Eram ficantes, saciavam seus desejos entre várias noites ou rodadas. Amigos, eram amigos, se consideravam dessa forma, e, quando o clima não se encaixava exatamente para o sexo, pareciam meninas adolescentes fazendo fofoca. Era confuso.
Havia prometido para si mesmo que tomaria a iniciativa de começar uma conversa baseada nesse assunto com o Kim. Mas possuía um certo receio de ele o interpretar mal e achar que estivesse exigindo ou sugerindo um relacionamento sério — o que não seria novidade.
Sempre preferia tudo em seu devido lugar, independentemente do assunto, motivo, realidade ou mais. Tudo tinha que estar em suas mãos, para que não deixasse nenhuma peça solta, que poderia deixá-lo ou outros desconfortáveis. É como criar miçangas, mas em uma realidade completamente oposta em que os pingentes são pessoas, e o nó, sua decisão. Não vai importar o quão forte ou frouxo ficou, pode estourar, dependendo da ocasião.
Portanto, é fácil o Kim criar a hipótese baseando-se em sua personalidade estereotipada e objetiva, com a maneira que as palavras saem de sua boca.
E, realmente, não quer que isso aconteça. Não vai ser orgulhoso a ponto de dizer que não quer compromisso, apenas não o quer desse modo. As coisas, como estão, não lhe fazem bem. Apenas ficam e parecem um casal, isso mexe com seus parafusos, que estão meio soltos. Lutou contra sua maneira de ser para ficarem. Enquanto Taehyung respeitasse seu espaço pessoal, sua pessoa deixaria seus costumes ilícitos em escanteio. Mas, porra, era difícil.
Em diversos momentos, se pegou pensando no assunto, mas, mesmo assim, a dúvida pairava. Sempre que seus olhos batiam sobre o maior, suas forças caíam e ficava desarmado. Fazia as vontades do outro e em deleite com sua companhia divertida, tanto na cama quanto no pessoal. Não havia exatamente arrependimentos ou remorso, porém, ainda assim, sentia que uma conversa, mesmo que não atirasse exatamente nesse ponto, fosse sobreposta.
Do modo como estava, as chances de piorar quando se trata do Kim são mais predominantes do que as de melhorar. Muito enérgico com seu típico "foda-se" e sua indiferença a regras, a imposições e a restrições. Alguém difícil de lidar? Kim Taehyung.
Magicamente, havia conseguido isso de bandeja, certo? O que uma boa transa e um rosto bonito não compram?
Uma relação decente.
Ao se conhecerem, a energia pegou ambos de surpresa. A anatomia foi como um baque, assim como os toques, as palavras e o encaixe; as personalidades completamente opostas e as visões, também. Mas, estranhamente, permaneceram e construíram o que não imaginavam. Era para ser apenas uma noite, mas ficou para uma noite a cada sexta-feira.
Quando Hoseok viu Taehyung pela primeira vez, pensou estar vivendo em um circo. Riu com sua amiga sobre como Taehyung e sua gangue estavam vestidos e como se achavam donos do mundo com aqueles cigarros e motos cheias de enfeites. Mas, assim que seus olhos pararam sobre o dito cujo, conhecido ali pela vizinhança como V ou Tae, o circo virou um inferno, de tão quente. Pensamentos impuros invadiram sua mente feito o Cérbero, como se ele tivesse três cabeças, na qual todas estavam concentradas naquele homem.
Ele havia tirado a jaqueta e deixado à mostra suas tatuagens espalhadas por ambos os braços, enquanto trajava uma regata folgada e parcialmente transparente. Hoseok estava indo à loucura. Aquelas calças apertadas, os cabelos negros dançando conforme a brisa, os olhos negros e penetrantes, sempre observadores. Era demais para um homem só. Pediu para o garçom uma garrafa d'água, pois achou que o álcool já estava lhe consumindo, mas não adiantou. Recebeu incentivos de Jennie para iniciar uma conversa e conhecê-lo. Mas, oras, mal sabia os gostos do rapaz.
Foi em instantes, não demorou para aquele viciado que não tirava o cigarro dos dedos cravar o olhar em si e não o desviar mais. Era possível notar o clima e a atmosfera envolvendo os dois jovens. Os flertes, os olhares sugestivos e saqueadores de alma. Por que não?
Bem, era essa a pergunta que Taehyung fez ao ruivo, quando este negou o pedido para que ficassem, por ser reservado demais e não querer um gangster. O Kim era bonito? Tinha um sorriso adorável e um perfume enlouquecedor? Sim, mas possuía consciência de que não daria certo. Então era preciso cortar a raiz antes que a planta cresça e crie galhos.
Foi o que pensou. Todavia, logo estava entregando seu corpo e alma para o outro, sem pensar no que poderia dar. Era bem mais complicado do que simples. Mas isso não os impediu de construir uma relação de sexo casual, com ficadas aqui ou ali quando quisessem. Era prático.
Mas isso já estava deixando o ruivo desconfortável, que possuía um pressentimento que não batia com seus planos, e isso estava lhe atormentando.
Após trancar a porta e se certificar de que todas as luzes do apartamento estavam desligadas, apenas com a iluminação parcial da TV, jogou-se no sofá, deixando o sorvete sobre a mesinha de centro e pegando o controle.
— Passa esse sorvete pra cá, egoísta — Taehyung brincou, pegando o pote e uma colher da mão do ruivo.
— Enfia a cabeça aí dentro, insuportável.
Assim que colocou no episódio, se aconchegou no lado do Kim e enfiou uma colher de sorvete na boca, suspirando por estar matando sua vontade.
— Você percebeu que só apanhando é que a gente aprende? — Taehyung murmurou, retórico, sua atenção estava na tela.
Hoseok o encarou, para depois voltar ao seu glorioso objetivo: sorvete.
— Hm?
— Ela apanhou de quase todos os personagens da série, agora ela luta melhor que todo mundo. Será que, se…
— Taehyung, não começa — interrompeu-o, ameaçando o moreno com a colher.
— Deixa eu falar! — protestou, batendo com seu talher no do outro. — Então… Será que, se o Mujin tivesse matado o próprio amigo, ela o mataria?
O Jung pareceu pensar, levando mais uma colher à boca.
— Acho que, se isso fosse possível, seria um teste. Mujin estaria testando ela. No caso, ele teria matado o Donghoon e, com isso, pegaria a Jiwoo para treiná-la e fazer dela uma guerreira, com o falso indício de que encontraria o assassino do pai…
— Isso! Tipo, testar a inteligência da Jiwoo. Fazer com que ela chegue até o cara que matou o pai, mas sendo guiada por ele. Faz sentido.
— Mas eu não acredito que seja o Mujin… — analisou, deitando a cabeça sobre o estofado.
— Nunca se sabe. — Deu de ombros. — Às vezes, a ameaça pode estar ao nosso lado…
— Isso é uma indireta, Kim Taehyung? — observou, semicerrando os olhos para o maior. — Porque, se for, serve pra você, não pra mim.
— Eu sou um santo, está escrito no testamento da gangue — balbuciou retórico, pensativo.
Hoseok permitiu-se gargalhar alto, descontroladamente, jogando-se em cima do mais novo. Sentiu que poderia morrer rindo, não conseguia parar.
— Cínico do caralho! — Recuperando o fôlego, o mais velho deitou a cabeça sobre as coxas do outro, passando a mão sobre a barriga dolorida.
— Você fica tão sexy quando fala palavras sujas — elogiou, hipnotizado pela aura reluzente do ser em seu colo. — E, em minha defesa, estou falando sério.
Passando a mão na testa, o ruivo suspirou, encarando o teto. Taehyung era uma peça, ou, talvez, o teatro completo. Não perdia uma com o mais novo.
— Vou levar essas duas coisas como algo inútil que não mudará nada na minha vida — disse, irônico.
— Come esse sorvete e cala a boca de uma vez. — Taehyung, com uma falsa frustração, enfiou uma colherada do alimento gelado na boca do Jung, que choramingou.
Ao notar o canto de seus lábios sujo, Hoseok iria passar o dedo para limpar, quando sua mão foi impedida por Taehyung, que sorriu, sacana. O Kim levantou a cabeça ruiva e aproximou os rostos. Lentamente, passou a língua pelo local com sorvete e, após isso, mordeu o lábio inferior, apreciando o gosto doce. Abriu os olhos, que até então havia fechado, e encontrou os de Hoseok, que pareciam hipnotizados. Trocaram olhares, oscilando entre as bocas, e o mais novo tomou uma atitude.
Taehyung pegou uma colher de sorvete, com uma quantidade razoável de sobremesa, e, sem quebrar o contato visual com o ruivo, levou-a à boca, degustando. Enfiou a colher no pote e o empurrou para o lado com uma certa pressa. Arrastou sua mão até a nuca de Hoseok, colando ambos os lábios, que não demoraram a iniciar um beijo lento e deleitoso. A textura da língua de Hoseok através da sua, com o chocolate gelado, era de enlouquecer. Sentia que este parecia querer aproveitar o sorvete também, mas acabava se tornando mais devoto ao ósculo.
Do frio gostoso do sorvete, as sensações passaram a se tornar quentes e insuportáveis. O gosto doce ainda estava presente nas bocas, que se moviam em uma velocidade gananciosa, na qual ambos queriam mais.
Os corações já se encontravam acelerados, e ambos os peitos subiam e desciam, tentando acompanhar a velocidade ardente que os lábios se machucavam ao buscar por contato completo. A falta de ar após alguns segundos foi inevitável e, com isso, tiveram que dar uma pausa. A respiração perdida nos olhares desejosos e mágicos misturava universos e compartilhava seus desejos a cada segundo, deixando-os prontos para colocarem em prática a famosa sexta.
Hoseok sentiu a mão que estava em sua nuca descer lentamente para sua cintura, impulsionando-o para cima. Seu corpo deu espasmos involuntários, conforme a destra gélida do mais novo ia em contato com sua pele, o resultado indo diretamente para seu pau. Logo sentou-se no colo alheio e apoiou suas mãos nos ombros fortes e largos.
Sem pressa, voltou a beijá-lo, acelerando o ritmo conforme sentia aquelas mãos quentes e grandes apertarem seu quadril possessivamente. Suspirou, contendo-se para não gemer naquele momento. Taehyung era bom de pegada, suas mãos se encaixavam tão bem em si, e a força que utilizava não era medida, o que tornava tudo mais intenso.
Para o Jung, era tudo meio indescritível. Não combinavam em personalidade, nem em hábitos e outros fatores, o que fazia ambos sempre estarem em discórdia, mas, na hora do fogo, tudo parecia tão certo. Parecia que eram feitos um para o outro, mas apenas para sexo. O beijo, os toques, os arrepios, as respirações, o clima e a atmosfera em geral. Eram como chocolate e morango, doce e satisfatório, completamente diferentes, mas com fins deliciosos e estupidamente gostosos.
(...)
Sentindo a textura macia do colchão colidir com brutalidade sobre suas costas em razão da força com que foi arremessado sobre ele, Hoseok torceu a cabeça para trás, sentindo que não era mais capaz de respirar, parecia que o ar não entrava pela sua boca. Seus olhos estavam focados no teto, enquanto sentia seu pau latejar na cabeça, a qual estava nublada e inconsciente pelo prazer.
Não demorou para sentir o estofado afundando, com as mãos de Taehyung em cada lado, cercando-o enquanto este já estava por cima de si, encarando-o como um troféu belíssimo. Hoseok, com a pouca iluminação que vinha dos outros cômodos, sabia que Taehyung sorria, e sentiu sua respiração fraquejar. Queria mais, ainda insaciado após a primeira rodada, onde, do sofá, foram parar no tapete xadrez da sala.
Gemeu baixo quando suas coxas foram pegas pelas mãos grandes, apertadas e, em seguida, abertas. O Kim enfiou-se no meio delas, deixando-se levar pelos braços apressados e esguios que o traziam para mais um beijo desesperado e quente. Aquele lugar nunca ferveu tanto quanto naquele dia. Parecia que nada mais fazia sentido, apenas o suor grudado na pele, o fervor das almas e os sons eróticos eram distinguidos e adorados.
Poderiam se esquecer de tudo, pois apenas queriam um ao outro.
Hoseok separou ambos os lábios ardidos para gemer em alto e bom som, arqueando as costas ao sentir Taehyung o penetrar sem o mínimo cuidado. Mordeu fortemente o lábio inferior, sentindo o gosto leve de sangue, enquanto era estocado em uma velocidade considerável, mas, ainda assim, estonteante. Rolou os olhos sobre as órbitas, a sensação de estar carbonizado em cinzas ainda mornas retornando, enquanto era completamente preenchido pelo Kim.
— Desgraçado — Hoseok grunhiu, quando sentiu um tapa estalado em sua coxa, onde ficou dolorido.
— Gosta de me xingar, não é, Jung? Você gosta do jeito que eu te pego, huh?
Gemendo baixo e sôfrego, Hoseok voltou a beijar o outro, meio desajeitado, mas conseguindo o gosto que tanto amava.
Talvez um pouco de cigarro ou de whisky, mas ignorava.
Os beijos logo desceram para seu pescoço, ali onde foram depositadas uma generosa mordida e lambidas inebriantes. Sentia a textura da pele do moreno contra suas unhas, que não estavam grandes, mas eram o suficiente para arranhar. Gritou passivamente quando sua próstata foi surrada, de novo e de novo.
— De quatro — Taehyung ordenou, autoritário, retirando-se de dentro do Jung, que resmungou baixo.
Sentindo que talvez não conseguiria, Hoseok ficou na posição dita, sentindo os espasmos dominarem suas pernas e seu pênis doer, fazendo-o suspirar extasiado. Era muita pressão para uma noite.
Dois tapas nada cuidadosos pararam em suas nádegas, fazendo-os ecoar pelo quarto, assim como seus gemidos.
— Minha visão favorita, obviamente, não existe coisa melhor.
— Que tal você tomar o rumo da puta que pariu, Taehyung? Eu te odeio, porra!
— Desconta o ódio nos seus gemidos, meu bem.
Hoseok descontou, descontou tudo. Tanto que sua voz não saía, enquanto sentia o Kim ir fundo em si, sem piedade ou compaixão. Era tudo muito intenso e complexo, aquela energia era impossível de conseguir individualmente, era apenas dos dois.
Estranhamente, aquilo estava gostoso demais. No escurinho da noite e nos gemidos contidos do maior, Hoseok sentia que poderia gozar a qualquer momento, independentemente da situação.
Acabou por se derramar nos lençóis, sem saber onde enfiar seus gritos, ainda que os vizinhos já soubessem que, às sextas, era a noite toda e mais um pouco. Se não sobrasse para a manhã seguinte.
Caiu sobre o acolchoado, afundando sua cabeça nos cobertores enquanto via Taehyung alcançar o ápice em uma curta masturbação. Lambeu os lábios, desejando que aquele jato fosse em sua garganta, mas não possuía mais capacidade para isso. Sentia que seu corpo não obedecia seus comandos, mesmo que quisesse.
O mais novo deitou ao seu lado, puxando-o para um abraço suado e bastante exausto. Os braços fortes envolveram seu corpo em um conforto no qual sempre desejava estar. Logo sentiu o nariz e os lábios de Taehyung em seu ombro, apreciando o local doce e a pele branca, macia e cheirosa.
— Eu vou desmaiar… — dramatizou o ruivo, sentindo-se extremamente cansado.
— Não irei deixar, tudo bem?
— Não confio em você.
— Ah, claro. Não mesmo — ironizou, apertando mais o ser em seus braços, este que resmungou baixinho. — Posso acender um cigarro?
— Proibido cigarro...
Um silêncio permaneceu, confortável. Taehyung pensou e repensou, enquanto a luz da lua adentrava pela janela, e as nuvens se moviam lentamente. Estava louco para fumar, mas respeitava o ruivo, e não seria bom para ele dormir com o odor.
Respirou fundo e lembrou-se de um detalhe importante, que havia sido apagado pelo seu desejo e, talvez agora, fizesse alguma diferença quanto a Hoseok pegar em seu pescoço ou não. Simplesmente não era tão grave, mas, como o ruivo era todo enroladinho e cheio de regras, era sim um grande caso.
— Hoseok, eu me esqueci do preservativo.
O silêncio se estendeu, Taehyung estava se preparando para os sermões e gritos, mas a paz era avassaladora. A respiração tranquila e o pequeno corpo relaxado e leve em seus braços denunciaram que o mais velho havia se entregado ao sono. Admirou, por míseros segundos, os lábios fofinhos e os fios bagunçados.
Hoseok era perfeito. Sorriu brevemente, ajeitando-se sobre o acolchoado. Agarrou mais o Jung e não demorou para sentir os olhos pesarem, com um pensamento esquisito:
Como adoraria ter um filho.
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