Capítulo três:
Itadori nunca entenderia seu chantageador
Por: NIPHON
— ‘Tu é um fodido — falou assim que ouviu a porta ser fechada.
— Foi você quem começou — Itadori vociferou entre dentes. Amassando o papelzinho na mão esquerda, em cima do balcão gelado da secretaria.
Depois da briga que tiveram, infelizmente, foram detidos a tempo de cometerem o próprio assasinato em público. Mandados a coordenação, ficarem sentados e serem obrigados a escutarem o falatório do diretor por trinta minutos sobre ser um bom cidadão ao mundo ou sobre o caráter podre que alguns tinham, e que não deveriam ir pelo mesmo caminho. Era tudo uma grande merda.
O que restou de ambos foi o sangue derramado pelo chão do ginásio e vários ferimentos abertos, e lógico, depois da coordenação, foram à enfermaria e só depois passaram na secretaria para ver a tal da detenção.
Se arrependeram imediatamente de terem brigado quando viram as tarefas. Receberam três semanas com trabalhos comunitários, das quintas às sextas, onde aconteciam as educações físicas do terceiro e segundo ano, e claro, limpeza do refeitório no final dos dias.
Estavam fodidos. Não apenas em situações como esta, eram também em ferimentos e dores frequentes pelo corpo. O lábio de Itadori havia estourado com o soco que recebeu, e por sorte, não perdeu um dente. Megumi estava com um olho roxo e ambos estavam com os narizes fodidos. Um pouco da maquiagem de Megumi havia saído, mas por sorte, ninguém percebeu que uma das tatuagens estava quase à mostra.
Itadori não sabia se chorava de raiva por ser tão imprudente com suas atitudes não pensadas de última hora ou se Megumi batia mais na bunda gorda de Yuuji por ser tão imbecil. Talvez eles fizessem os dois. Afinal, estavam errados na mesma proporção.
Megumi mexeu o maxilar doído, enquanto sentia o band-aid dançar entre sua testa enrugada e sua raiva dançar tango vendo seu rival encostado no balcão de mármore, pensativo.
Esperava que estivesse preocupado em receber outra surra.
— Uma semana de suspensão, ‘cê entendeu isso? — disse com raiva, simplesmente, aproximando-se mais. Itadori não deu um passo, ainda olhando para dentro da recepção. — Só um filho da puta, burro e idiota fica de suspensão porque quer!
— E está junto comigo nessa, então você é um filho da puta, burro e idiota também — respondeu com a mão no queixo, com o semblante despreocupado.
— Por sua culpa, seu merdinha — empurrou o ombro do outro com força, fazendo Yuuji perder o desequilíbrio por alguns segundos.
Megumi tinha certeza que se ficasse mais um minuto naquele lugar, acabaria entrando em outra briga, e dessa vez, teria um vencedor.
Quando Itadori viu seu vizinho ir embora, a passos raivosos e pesados, suspirou.
Que cara insuportável.
Itadori pressionando as mãos na bancada de mármore. Deixou o corpo relaxar por alguns segundos. Que merda. Estava sentindo partes do corpo ficarem doloridas, enquanto sentia o coração bater freneticamente pensando na hipótese de seu pai saber que está suspenso por três dias e irá prestar trabalho comunitário durante esse período também.
Estava terrívelmente encrencado, como sua irmã diria.
Tomar coragem e sair de queixo erguido, assumir suas mancadas e fingir que estava bem não era algo que amava fazer, tampouco algo que estava acostumado a fazer com frequência, então só respirou fundo. Era difícil e chato.
Tinha certeza que viriam várias pessoas perguntar por qual motivo havia entrado naquela briga idiota, imaginava as fofocas circulando pelos corredores do colégio como um vírus. Pensou nas “fanfics” criadas por eles, pelo simples fato de Yuuji Itadori e Megumi Fushiguro brigarem em público. Infelizmente, estava mais preocupado com seu pai do que com os outros: ele era a fera perante seus problemas.
Não sabia o que diria para sair dessa, ainda mais que estava "de compromisso" e teria que ter a responsabilidade que nunca teve com alguém. Claro que, já tivera alguns relacionamentos, mas não era nada muito sério: não ao ponto de ter um casamento marcado com alguém que não conhecia ou ouviu falar em toda sua vida medíocre. Estava tão lascado quanto qualquer outra pessoa nessa escola, mas o seu caso era mil vezes pior. Não sabia o que pensar ou o que dizer ao velho.
Enquanto voltava para casa, junto de Aoi, não dissera nada. O amigo estava tão calado quanto ele e sabia muito bem que o garoto tinha várias perguntas entaladas na garganta. E nenhuma tinha uma resposta, porque não saberia responder de acordo com cada pergunta.
Esse era o seu maldito problema. Ao invés de abrir o jogo e dizer o que realmente estava acontecendo; sobre seus sentimentos e que estava ruim, o seu único refúgio era ficar distante das pessoas que amava até a poeira baixar. Sentia que, és estivesse longe, ele não causasse mais problemas para os outros.
E essa poderia iria baixar, alguma hora?
Quando sentiu as costas entrarem em contato com o colchão, fechou os olhos e deixou a respiração leve. O dia no colégio havia sido uma merda.
Seus olhos ardiam de cansaço, queria apenas dormir e nunca mais acordar; talvez, depois de quatro anos consecutivos. Na noite anterior, não tinha tido uma boa noite de sono. E seu corpo estava desgastado pelo treino pesado que tivera hoje. Conseguia ver partes do corpo doloridas e seu rosto queimar em ferimentos fundos. Quando os abriu, o garoto olhou para o teto atento, como se sua vida passasse diante dos olhos.
E o que irá acontecer agora?
Perguntou para si, enquanto sentia uma lágrima teimosa cair.
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Sentia a garganta apertar enquanto fazia o nó em gravata. Sempre foi péssimo em fazer nós em gravatas, e naquele momento, não era diferente.
Itadori viu seu reflexo no espelho: parecia capenga, triste e com os olhos só remela. Os olhos também estavam fundos, e com algumas olheiras leves. Com facilidade alguém o confundiria com um defunto pelos seus cabelos ressecados e lábios rachados. Que horror. Nunca pensara que estaria nessa situação tão deplorável.
Não havera tomado um banho descente quando seu pai deu o aviso que sairiam para um "jantar familiar", e como pudera imaginar, seu ânimo estava lá embaixo. Assim como todos os dias. O mínimo que fizera foi jogar-se no box do seu banheiro e ficar lá por vários minutos, sequer passara sabonete ou algum tipo de shampoo ou condicionador: seu cabelo estava com cheiro de suor misturado com água e outros tipos de caspas existentes na face da terra.
Seu rosto estava com o semblante cansado, as costas doloridas pela noite mal dormida e ainda com as roupas de anteontem. A única coisa que Yuuji Itadori fizera de novo, foi apenas colocar o terno, escovar os malditos dentes, se entupir de perfume e colocar um desodorante nas axilas.
A primeira coisa que pensou, fora pegar seus velhos fones de ouvido e colocá-los ao redor do pescoço, em busca de alguma playlist do spotify que fizesse seu coração acalmar-se.
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There is a swelling storm
And I'm caught up in the middle of it all
And it takes control
Of the person that I thought I was
the boy I used to know
O violino transmitia uma melodia calma e contagiante, cantada pelos anjos e arcanjos do céu, que preenchia o salão de festa. Era um lugar inteiramente belíssimo e grande, com o ar da graça de uma classe alta. Itadori não reparava em muitos detalhes, mas poderia jurar que aquele chão era muito bem polido a ponto de passar a língua e não detectar nenhuma bactéria ou sujeira à boca. Os lustres eram de variados tamanhos, grudados ao teto, preenchidos com diversos desenhos da antiguidade e eram de uma beleza longínqua.
E as pessoas eram tão artificiais que sentia vontade de vomitar.
Seus pés entraram em constante contato com o chão, como se estivesse matando algum bicho imortal sem parar. E com a ansiedade transbordando em uma piscina cheia de problemas sem solução.
Seu pai fechou os olhos com força, apertou as mãos umas as outras e fazendo um ato despercebido perante a todos, colocou o pé em cima da do filho, apertando-o com força até que Itadori parasse com o ato persistente.
Itadori mordeu o lábio superior, enquanto beliscava os dedos, esperando que seu pai parasse de apertar seu pé.
Ainda estava de fones, e não estava escutando o barulho que fazia com os pés enquanto seu coração estava acelerado: ele não queria chamar atenção de ninguém, e era isso que tinha acabado de fazer.
Que merda.
Não tinha olhado na cara de sua futura esposa quando sentou sua bunda gorda naquela cadeira, e nem queria olhar para todas aquelas pessoas na mesa que estava.
Parecia um garotinho mimado que não queria obedecer ao pai. Imaginava que os pais da moça eram de uma elegância sutil e refinada, só olhando de canto de olho para os narizes pontiagudos e os olhos transbordando ódio mútuo pela sua falta de educação, imaginou que fossem. Era uma coisa que odiava nas famílias amigadas de seu pai: pessoas frescas e mimadas.
Poderia mostrar uma grande lista de coisas que não gostava na família, desde ao trabalho de seu pai às atitudes imundas dele.
Olhou para sua família que estava na mesa, rindo e se divertindo com as conversas que jogavam ao meio da mesa.
Sua mãe sorria de orelha a orelha.
Sua irmã esbanjava um pequeno sorriso, conversando com sua noiva, de uma forma elegante.
Seu pai estava conversando com os pais de sua noiva.
O mais novo dos Itadori dava-se bem com sua mãe, haviam alguns desentendimentos, mas sua mãe sempre estava lá com ele. Ele também mantinha um bom contato com sua irmã mais velha, mas não ao ponto de falar suas intimidades; eram uma relação mais neutra e sem exclusividade.
Ah, tinha Sukuna também. Seu irmão gêmeo.
Ele estava atrasado, de novo. Seu pai deveria estar irritado por conta disto também.
Itadori tinha uma relação boa com o irmão, por incrível que pareça. Eles tinham aquela relação de amor e ódio, mas quando um precisava do outro, com certeza ambos davam tudo de si, porque se amavam, apesar de todas as brigas e supostas intrigas.
— Eu e Yuuji iremos nos retirar por um instante, com licença — ouviu uma voz, que o tirou de seus pensamentos.
— No meio do jantar? Para onde vão? — Seu pai perguntou, com a raiva disfarçada de curiosidade.
O rapaz sorriu de um jeito sacana.
— Você sabe, paizinho. É o que os homens fazem quando estão extremamente de saco cheio e loucos para mijar. Com licença.
Itadori segurou uma risada, antes de olhar o semblante de indignação de quem estava sentado a mesa.
Sentiu uma mão pegar em seu ombro, e Itadori sabia muito bem quem era, então apenas levantou-se e seguiu seu irmão.
— Que caras chatos do caralho. Você ouviu? Estavam conversando sobre vinho. Quem é o filho da puta que conversa sobre vinho em um jantar ? — Sukuna riu da idiotice deles, enquanto andavam até o toalete.
— Estava de fone, nem ouvi o que estavam falando. Um dando de idiotas — Itadori forçou um sorriso, enquanto seus olhos estavam fixos ao chão. — Tenho certeza que devem conversar sobre queijos também.
Sukuna parou os passos, ficando de frente a ele. Reparou no desânimo do irmão enquanto falava, quando estavam em frente ao espelho.
Quando Sukuna soube do suposto casamento da família, imaginou ser sua irmã do meio a atuar para tal, entretanto, surpreendeu-se quando descobriu que Itadori iria assumir o posto daquele boato nada amigável. Por um momento, quando a notícia preencheu seus ouvidos pelo viva voz da chamada, botou-se no lugar do irmão por alguns minutos. Soube que aquilo não era algo que ele estava gostando e tampouco aproveitando. Sabia que seu irmão mentia tão bem quanto respirava, mas para ele, aquela façanha não passava de uma fraude completa. Os sorrisos sem um pingo de felicidade, os olhos cabisbaixos, sem nenhuma vida e as falas alegres, não eram o que ele realmente transmitia em seu peito naquele momento.
Conseguiu ver a confusão em seus olhos, o arrependimento e toda sua tristeza através das orbes.
Por um momento, Sukuna deixou seu semblante descansar e mostrar um pouco de seus sentimentos, estava com pena do irmão. Aquela família poderia ser maldita quando quisesse, por isso que havia saído há tempos dela e seguido seu próprio futuro por pelo seu bem.
Itadori ekvantou a cabeça, viu os ombros tensos do irmão, a boca um pouco caída para baixo e os olhos frios de sempre, que agora, transmitia uma certa empatia por ele.
Não conseguia aguentar por muito tempo.
Sorriu. Seus olhos ficaram inexistentes por conta do sorriso. Tentou confortar o irmão mais velho com seu rosto feliz e que estava tudo bem, mas quando sentiu, as lágrimas grossas já caíam sobre suas bochechas, tão rápidas e quentes, que seu coração bateu mais forte. E fora tão rápido o ato, que quando sentiu os braços fortes do seu gêmeo em seu corpo, abraçando-o com força, como se ele fosse quebrar a qualquer momento, Itadori simples chorou. Ele chorou como uma criança de colo, no conforto do irmão e acolhido com o devido carinho que precisava.
Orava que o banheiro permanecesse só com a presença deles por mais tempo. Só não queria ir embora dali. Daquele momento.
Seus soluços preenchiam o banheiro como se fossem pedidos de socorro, e eram tão fortes e dolorosos, que partiu o coração de Sukuna a cada tremor contra seu corpo.
— Vai ficar tudo bem.
Foi a única coisa que Sukuna conseguiu falar, enquanto passava os dedos em suas costas, em um carinho desajeitado.
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Da mesma forma que odiava e não sabia lidar com seu sentimentos, Sukuna não sabia lidar com a dor alheia. Imaginava que ele estava dando o seu melhor para ajudar, mas tudo tinha limites. E ele não conseguia ver que aquilo não era ajuda.
Sabia muito bem que seu irmão tinha o levado ali para deixá-lo feliz, e até cogitaria em estar como antes, mas naquele momento queria apenas estar nos braços de seu amados tigrinhos. Chorando, de preferência e amaldiçoando-se por ser infeliz.
Kotaro, um de seus colegas de classe, estava dando mais uma de suas festas contagiantes, e por consciência, Sukuna o conhecia. De imediato, Sukuna e Itadori meteram o pé daquele jantar tosco e foram direto para a bagunça que os esperava. Ok. Sabia que o pai iria, uma hora ou outra, descobrir que os tão amados irmãos gêmeos, não estavam no banheiro e iria surtar quando percebesse que eles haviam fugido do seu jantar perfeito.
É, definitivamente, estava fodido de novo.
O primeiro contato com aquela área contaminada de pessoas, foi quando pôs os pés no gramado da casa: a música explodia os ouvidos de qualquer pessoa que passasse perto daquela casa e os gritos de dentro eram piores ainda. Itadori torceu para que quando entrasse na casa, suas vistas não fossem afetadas pela iluminação exagerada que sempre continha em uma maldita resenha.
Bingo. Eram mais exageradas quanto lembrava quando seu corpo atravessou a porta.
Enquanto Sukuna o levava para todos os cantos, com o braço entrelaçado ao seu, esbarrava em diversas pessoas que dançavam em sincronia e empolgação de acordo com a música. O cheiro de álcool e cigarro estava impregnado no ambiente pequeno e fechado, fazendo o rapaz ter algum embrulho do estômago.
Só queria ir para casa.
— Senta aí, vou pegar uma bebida pra você.
Foi a última coisa que Sukuna disse naquela noite, antes de abandoná-lo em uma cadeira perto dos tira-gostos, e ficar há trinta minutos sentado esperando a maldita bebida, que Itadori sabia que não iria mais vir.
Desabrochou a gravata do pescoço, tapando os ouvidos, apoiando os cotovelos na mesa e fechando os olhos. A música insistia em atrapalhar seus pensamentos alheios, enquanto amaldiçoava-se por estar ali. Ou pior: confiar em Sukuna.
Sua casa ficava há algumas quadras da casa de Kotaro. Andar um pouco não era tão ruim assim.
Amanhã Itadori iria esgoelar o irmão mais velho.
Esticou as costas e levantou-se da cadeira, com a mão no colarinho de sua camisa social, tirou sua gravata por completo antes de ir embora.
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There is a light in the dark
Há um luz na escuridão
And I feel its warmth
E eu sinto seu calor
In my hands, in my heart
Em minhas mãos, meu coração
why can't I hold on?
por que não posso aguentar?
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Itadori foi para o colégio sozinho. Assistiu a aula sozinho. Passou o intervalo inteiro sozinho e voltou para casa sozinho.
Agradecia mentalmente por não estar tão rodeado de pessoas ao seu redor, porque sabia que iria surtar por não saber fingir estar bem para muitas pessoas. Passou a manhã inteira desenhado e escutando suas músicas favoritas no celular, fingindo que estava bastante ocupado para conversar com qualquer outra pessoa — inclusive Aoi.
Itadori sabia que estava sendo um filho da puta com seu melhor amigo, e deveria urgentemente, dar explicações sobre o que estava acontecendo com ele. Porém, era tão difícil falar sobre aquilo.
Suspirou, fechado os olhos.
Provavelmente ele desconfiava de algo. Claro. O melhor amigo afastando-se aos poucos e agindo diferente de como deveria agir? Já é algo bastante preocupante para si, imagine para Aoi, que o conhecia desde moleque. E tinha certeza também, que várias outras pessoas desconfiavam que o solzinho estava distante do seu mundo alegre e divertido.
Foda-se.
Itadori apenas se jogou de bruços sob a cama e pegou seu celular. Deveria falar alguma coisa com Aoi. Esse era o ponto. Deveria abrir o jogo e não estar tão distante, que nem esses últimos dias. E faria isso antes que as coisas ficassem mais difíceis.
Desbloqueando o celular, viu algumas mensagens e notificações chegando.
O número desconhecido o intrigou mais.
Número desconhecido
Tô te esperando aqui em casa para resolver o lance do trabalho, coração. Avisa quando vir.
Fechou os olhos e respirou fundo para que não jogasse o celular na parede.
“Coração”. Odiava aquele apelido com todas as suas forças e não sabia o motivo de deixá-lo tão zangado quanto a simples existência do maldito vizinho. Sabia que o universo não gostava de si, mas jogar o maldito emo para cima de dele também, já era sacanagem.
Estalou a língua e levantou-se em sobressalto.
Não gostava da ideia de estar na mesma casa do emo — principalmente a moradia sendo a dele —, mas já que era sobre o infeliz do trabalho, esperava que ele só depositasse suas ideias e cada um faria individualmente, e que acontecesse tão rápido que quando visse, já estava em sua cama, dormindo em um sono profundo.
Desceu as escadas rapidamente, passando pela porta de entrada e acostumando às vistas ao sol que fazia fora de seu quarto escuro, e atravessando a calçada, enfim, chegando em frente da casa do vizinho.
Bateu uma ou duas vezes na porta. Ninguém atendia.
Tudo o que desejava era acabar de uma vez por todas com aquilo, mas Megumi insistia em fazer as coisas mais difíceis. Sempre fazia.
Impaciente, Itadori bufou. E apenas abriu a porta com madeira branca, com detalhes em preto de anjos na porta, ignorando o detalhes super bonito, adentrou a casa.
A casa não era muito diferente da sua. As paredes em cores gélidas, com pouquíssimos quadros de família e jarros de flores. O que percebeu foi que, pinturas e pinturas estavam penduradas ao redor da casa. Vários artistas tinham um quadro, e Itadori conhecia todos. Estava em choque. A decoração era simplesmente linda. Entrando mais a frente, percebeu que chão era de madeira polida, com um tapete aveludado logo no começo.
Não sabia qual era o quarto do emo, mas imaginava que era subindo as escadas.
Com um primeiro passo, subiu as escadas e chegou a um corredor extenso com apenas seis portas. Três de cada lado e uma janela no final do corredor, junto de uma mesa com flores que iluminava o corredor escuro.
Engoliu em seco.
Andando mais um pouco, reparou em cada porta. As três da esquerda eram totalmente brancas, e também as da direita, com exceção de uma. O emo era sujo e rebelde, provavelmente sua porta também era. E aquela porta com pôsteres da Marvel e desenhos de Shingeki No Kyojin diziam aí, eram bem bonitos, ao contrário do ser desprezível que ele era.
Pegando na maçaneta da porta, contou exatos três segundos, olhando para o desenho do Levi na porta até abri-la.
— Estou aqui, emo o que vo-
Itadori não estava acreditando no que estava vendo.
Não, não, não! Só poderia ser brincadeira!
— E aí, cocó.
Ouviu uma voz de fundo, que não estava vendo exatamente aonde estava. Pois seus olhos estavam fixos naquelas fotos. Fuçando com os olhos, viu que Megumi saia do que imaginava ser, banheiro de seu quarto. Estava apenas com uma calça moletom e uma toalha envolta do pescoço, e mesmo assim, nada escondia todas as tatuagens pelo seu maldito corpo leitoso. Junto dele, o cheiro de sabonete de coco e cabelo úmido recém lavados.
A raiva transbordou de seus olhos. Itadori estava prestes a surtar quando percebeu estar cerrando os punhos, olhando em direção ao maldito vizinho.
Haviam várias fotografias dele. Não. Não era ele, eram fotos de Sukuna, na última festa que esteve, e com algumas garotas. Eram várias em cada fotografia.
Que porra era aquela?!
— Não… — engoliu em seco olhando para cama do emo. Não era possível. — Megumi, o que é isso?!
O menor, que estava com seu peitoral à mostra e com os braços refinados, olhou de relance para ele, antes de dar um mini sorriso, enquanto andava até seu guarda-roupa, pegando uma camisa cinza de uma das gavetas e a deixou no ombro, bastante tranquilidade, sem muito preocupação.
O que deixava Itadori mais uma vez, irritado.
— Ficou cego? São fotos — respondeu simples.
— Isso eu sei, idiota! Eu só quero saber a importância e por quais motivos disso existir! — bateu na parede com força, arrancando um sorrisinho sacana do emo.
Ouviu-o estalar a língua, enquanto sentava-se ao lado das diversas fotografias jogadas à sua cama e Itadori permanecia em pé, no batente da porta, pasmo.
— São provas para o seu pai. — disse sério. Megumi com toda aquela pose de mal havia voltado, enquanto seus olhos pairavam sobre os dele. Fixamente. Itadori gelou dos pés a cabeça com os olhos frios e sem vida do vizinho. Nebulosos como seus pensamentos. — Seria mancada minha sair de uma briga sem te deixar todo fodido, né? Se pensou que eu iria sair assim… Errou feio, cocó, muito feio.
— Você quer provar o quê pro meu pai, Megumi?!
— Acha que sou burro, Itadori? — sorriu de ladinho, levantando-se indo em direção a sua presa em passos calmos e cautelosos. Megumi ainda mantinha as mãos nos bolsos, com a camisa no ombro esquerdo, que escondia coma tatuagem de cobra. O rapaz parou em frente a Itadori, olhando dos pés a cabeça. Respirou o ar que continha o shampoo dos seus cabelos úmidos, bagunçados e presos a testa. Yuuji pode ver seu rosto bem de perto, os olhos fixos aos seus, as pintas e os poros. Ele tinha a pele tão leitosa, com algumas tatuagens ao redor, que Itadori sentia inveja do desgraçado ser tão atraente. E Megumi estava tão perto, que molhou os lábios roséos, sussurrando a última parte como se fosse um segredo sujo e maldoso: — Vai casar e nem convida?
Megumi querida vingança.
— Você… você… o que ouviu naquele dia? — perguntou, cortando contato visual, com a voz falha demais para expressar mais a dor que estava sentindo.
Essa era a afirmação que o universo o odiava com todas as forças.
— Tudo.
Itadori arregalou os olhos. Tudo. Ele sabia de tudo, e não conseguia expressar o que estava sentindo naquele momento.
Desordem, talvez? Os sentimentos estavam burbulhando em uma grande panela quente e desesperada para explodir.
Tudo.
Suas mãos tremeram, encarando-o novamente. Seus rostos estavam a milímetros de distância, enquanto se via perdido nos olhos profundos e verdes.
Ele continuou, enquanto ficava na mesma posição, a frente de Itadori, com os braços cruzados:
— Principalmente a parte do "eu não quero que se envolva com nenhuma garota blá-blá-blá senão te deserdo". Olha, não era minha intenção ouvir ladainha de ninguém, mas ouvi, falou? E agora posso usar a meu favor.
— Filho da puta — xingou-o quando o empurrou para longe e virou a cabeça para a porta e a encostou, deixando as mãos em cima dos cabelos rosa.
O coração estava prestes a sair da boca, sentindo cada parte de seu corpo despedaçar.
Não, ele não sabe de nada. É tudo um sonho.
Pedia aos céus que acordasse daquele sonho maluco e que estivesse tudo bem, que sua vida não fosse tão ferrada quanto já estava.
É só acordar.
— Filho da puta não: um puto inteligente — ouviu-o dizer, junto a risada de fundo.
Virou-se com brutalidade, com os olhos já vermelhos de pura raiva, encarando os dele que eram frios e afiados, deixando ainda mais firme o olhar que ambos transmitiam para si, entrelaçados ao puro sentimento de ódio e desprezo.
Odiava-o. Tudo. Odiava tudo nele. E não sabia como expressar tudo isso senão gritar e se debater ao mundo.
— O que você quer?! Dinheiro? Uma moto nova? Eu posso vender meu carro e comprar uma novinha! — gritou, ainda com seu olhar fixo aos olhos alheios e preguiçosos.
Megumi pôs suas mãos nos bolsos de sua calça, sorrindo de canto e tombando sua cabeça para o lado.
— Não, não quero seu dinheiro 'inhaquento, coração.
Estremeceu aos pés a cabeça, arranhando umas das mãos e erguendo mais sua cabeça. Desafiando-o silenciosamente.
— Então o que você quer? — perguntou, com seu último fio de esperança na pergunta.
Observou Megumi dar um dos seus melhores sorrisos, molhando os lábios com o piercing desajeitado.
— Você.
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