Sentei-me na grama que rodeava a beira da lagoa, coloquei meus fones e enquanto escutava músicas aleatórias alimentei os patos. A água ali estava cristalina, o sol era branco, e a luz era pura. Os patos nadavam calmamente, e eu estava perdida em pensamentos, esperando o tempo passar. Quando percebi, ele já estava ali. Eu não precisei me virar para ter certeza de quem era, todo o meu corpo reagiu de forma a eu ter certeza de que era ele sentado ao meu lado, talvez eu tenha sentido seu cheiro no ar, esse tipo de coisa acontece o tempo todo, não é mesmo?
Resolvi que manter os olhos longe dos olhos azuis dele era mais seguro, não que isso estivesse funcionando muito bem, meu coração batia forte no meu peito, e eu comecei a sentir as mãos suarem.
PARE COM ISSO! Eu disse pra mim mesma. Isso é bobeira, finja que é uma pessoa decente e aja como se ele fosse alguém comum. Não que ele fosse alguém comum, ele era o Cellbit, e mais ainda que isso, ele era Rafael Lange.
Tirei os fones do ouvido, para caso ele falasse alguma coisa. O silêncio prosseguiu, e isso não ajudou em nada no suor das minhas mãos, ou na velocidade dos meus batimentos cardíacos. Meu nervosismo estava piorando tudo, eu deveria dizer alguma coisa? Sim? Não? Sim? ... Ah, foda-se!
- Quer um pão? – Eu disse. Ah, foi fantástico Claire, parabéns, você não podia tentar algo mais legal? Dizer um “oi”, ou um “e aí?”. Senti meu rosto corar de vergonha, e a minha vontade foi de fugir dali, ou me esconder, em qualquer lugar.
- Eu adoraria um pão. – Ele falou.
Fiquei surpresa o suficiente para soltar um sorriso bobo. Coloquei a mão dentro da sacola e puxei um pão, entregando-o para ele.
- Obrigada. – foi o que ele disse. – Você por acaso não teria café ai nessa sua sacola, teria?
Revirei os olhos.
- Os pães são para os patos, não para você. – eu disse, em tom irônico e brincalhão. Ele deu uma risadinha.
- Eu sei, mas o café seria pra mim, não para os patos. – ele disse.
- Ai, essa doeu. – eu falei rindo.
- hahaha, foi mal. Não foi de propósito. – ele disse. – Aliás, oi, estranha da biblioteca. – Ele começou a picar o pão em cubinhos pequenininhos.
Pensei muito no que responder, enquanto o olhava brincar com o pão entre os dedos e atirar alguns pedaços aos patos, que ficaram todos ouriçados.
- Olá, Cellbit. – arrisquei. Queria muito ver qual seria sua reação.
- Hahahahaha. De todos, é esse que você prefere?- Ele disse tranquilo, ainda jogando os cubinhos.
- Quais opções você quer dizer com “todos”? – Perguntei, atirando cubinhos de pão com ele.
- Lindo, gostoso, incrível, sensacional...
- Eu vou ficar com Rafael, obrigada. – Eu disse rindo, o cortando.
- A-há – ele disse de súbito, me surpreendendo - então Cellbit não é o seu preferido. Você me conhece de outro lugar, tenho certeza!
- O que te faz pensar isso? – Perguntei, tentando parecer casual, quando na verdade, sentia minhas mãos tremerem. Parei de atirar cubos.
- O YouTube não costuma reforçar que as pessoas me chamem de Rafael. – Ele disse simplesmente. - Por que não me diz de onde me conhece?
Porque eu quero ser importante o suficiente pra você se lembrar, por isso. Era melhor omitir isso da minha resposta.
- Eu era uma das suas fãs escandalosas nos seus eventos de São Paulo. – Falei, segurando uma risada.
Ele fez uma cara de pensativo por algum momento, como se considerando a ideia.
- Não, você não era. – Ele falou convicto.
- Então quem eu sou, Rafael? – Nesse momento me virei, e encarei seus olhos azuis. Os encarei de verdade. Queria que ele se lembrasse, se ele tinha tanta certeza que eu não era uma de suas fãs, como é que ele me via então?
Ele me olhou por algum tempo, e um monte de coisas pareceu ter passado por sua cabeça, meu coração palpitou de esperança, medo, ansiedade, mas no final, ele apenas sacudiu a cabeça confuso.
- Desculpe, não sei. – Ele disse, baixinho, parecia envergonhado.
Eu suspirei. O silêncio durou mais algum momento. Tentei de verdade não me chatear, não era culpa dele, afinal, éramos crianças, e ele não tinha obrigação de se lembrar...
- Você é de São Paulo? – Ele quebrou o silêncio.
Balancei a cabeça concordando.
- O que está fazendo aqui?
- Me mudei para cá, já faz duas ou três semanas.
- Por quê?
Não respondi.
- Não quer dizer?
Sacudi a cabeça negativamente. Ele concordou.
Mais um tempo de silêncio se passou, talvez tenhamos ficado meia hora ali sentados, juntos, olhando o sol e os patos. Mas em algum momento, por força da natureza, o sol começou a ficar muito quente, e de qualquer forma, o pão tinha acabado.
- Quer sorvete? – Ele perguntou do nada.
Arregalei os olhos e respirei fundo. Acredito que milhares de meninas morreriam por isso. E quer saber, eu não estava muito diferente delas.
- Eu adoraria. – disse, sorrindo pra ele.
Ele abriu um sorriso muito fofo. Nos levantamos e sacudimos nossas roupas, para nos livrarmos de qualquer resquícios de grama que estivessem em nós. Olhei bem a nossa frente, não pude deixar de fazer uma exclamação:
- Você está de bicicleta!
- Hm... Sim. – Ele me olhou sorrindo. – Assim como todas as pessoas, você acha que eu não ando de bicicleta, ou coisas assim?
- Não – eu disse – sei que você anda de bicicleta.
- Como você poderia saber disso, se não me conhecia até agora a pouco? E eu nunca, nunca falei sobre isso com ninguém?
Mordi minha língua. Essa não, isso tinha sido um deslize dos feios! Olhei pra ele com os olhos arregalados de pânico. Ele estava me encarando, definitivamente esperando uma resposta. Droga, eu pensei, ele me pegou.
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