História Nos teus braços, nosso mundo. - Sem Redes Sociais

Estávamos sentados em baixo de uma árvore, uma daquelas que são cheias de folhas por fora, mas meio ocas por dentro, sabe? Fora pra cá que eu viera no dia que saí correndo da biblioteca. As folhas da copa, por serem largas e espaçadas somadas ao emaranhado de galhos, seguravam grande parte da chuva. Era um lugar incrível, um achado incrível, e agora, ele estava ali comigo.

Enquanto ele me olhava, lá, na lagoa, eu pude ver seus olhos perderem o foco, enquanto me encarava,era quase como se ele não estivesse mais ali, e quando voltou, havia um brilho lindo nos seus olhos cor de céu, um brilho que eu não via nos vídeos. Lembro-me das lágrimas que escaparam quando ele sussurrou meu nome, enquanto seus olhos brilhavam daquele jeito. Eu chorei, pois naquele momento, eu tive certeza de que ele, o Rafael que eu conheci, ainda estava ali, em algum lugar, guardado, o meu Rafael.

Saímos da lagoa, e deixamos de lado também o sorvete. Nenhum de nós dois falou nada. Eu comentei que tinha um lugar que eu havia encontrado na noite anterior, ele acenou com a cabeça em concordância, e juntos, viemos parar aqui.

Agora estamos sentados, cada um escorado em uma parte do tronco. Ele está com os olhos fechados, mas seu rosto parece em paz, sereno. Como um anjo. Pergunto-me se ele está dormindo. Pergunto-me se ele sonha, e com o que sonha. Ah...! Suspiro.

- O que foi? – ele diz baixinho. Deve ter escutado meu suspiro.

- Achei que estivesse dormindo. – Eu disse meio alarmada.

- Não – Ele disse – Estou apenas descansando.

- De que? – Pergunto.

- Do Cellbit. – Ele diz.

Pensei um pouco sobre suas palavras, ele parecia realmente cansado, não sei se do Cellbit, mas parecia cansado.

- Está difícil? – Perguntei – Ser uma figura pública?

- Não é difícil – Ele respondeu ainda com os olhos fechados. – Eu amo o que faço, eu amo meus fãs. Mas às vezes, eu acho que eu me perdi um pouco nessa correria toda.

Olhei pra ele, ele sorria, mesmo que ainda estivesse com os olhos fechados. Sorri também.

- Me lembro da primeira vez que vi um vídeo seu. – falei, rindo.

Ele abriu os olhos e me encarou.

- Por que não me mandou uma mensagem? – ele perguntou.

- Por que você já tinha mais de um milhão e meio de inscritos. – eu respondi, calmamente.

- Ah... – ele disse, pareceu envergonhando e coçou a cabeça. – você nunca foi mesmo a um evento, não é? Aquilo sobre ser uma das minhas fãs era mentira.

Eu não pude deixar de rir.

- Não, nunca fui a nenhum dos eventos, eu não sou exatamente corajosa, e eu não tinha condição e disposição nenhuma de disputar sua atenção com elas. – Eu disse calma - Mas criei uma conta no YouTube para poder acompanhar seus vídeos. – Corei. – E os dos seus amigos. – Corei violentamente.

- Obrigada... – ele disse, meio sem jeito. – Você gosta?

- Sim. Divertem-me bastante.

- Os caras são incríveis. – Ele disse, olhando para a as folhas da árvore. – É muito bom tê-los para segurar a barra comigo.

- Você parece gostar muito de um, em especial.

- Quem?

- Hm... – eu fiquei envergonhada. – Felipe, acho.

- Hahaha, o Felps.

- ... – mantive a cabeça baixa, estava envergonhada.

- O que foi? – ele perguntou, preocupado.

- Eu não soube dizer o nome dele. –Falei.

- Claro que soube – Ele disse – O nome dele é Felipe. E ele é o melhor amigo que eu poderia ter conseguido no meio dessa história toda.

- Vocês são muito amigos, além dos vídeos?

- Sim. – Ele respondeu, e pareceu bastante sincero.

- Fico feliz. – Eu disse. E estava feliz de verdade. Nesse momento eu me lembrei de Anne, minha melhor amiga, que agora estava tão longe. – Minha melhor amiga está nos Estados Unidos, em um intercâmbio, eu não a vejo há meses.

- Fotos? – Ele perguntou.

Sorri e peguei meu celular, pensando se eu teria alguma foto para mostrar a ele. Ele se aproximou, observando o que eu estava fazendo. Enquanto eu corria o dedo sobre a tela, em busca da galeria, o escutei em tom de surpresa:

- MEU DEUS, VOCÊ NÃO TEM NENHUMA REDE SOCIAL AÍ. NENHUMAZINHA. – ele disse com uma voz muito fina e esganiçada, tomando meu celular das minhas mãos, enquanto procurava alguma rede social dentre todos os aplicativos.  Eu ri.

- Não. – Eu disse, tomando o celular de volta. – Nenhumazinha.

- Por quê? – ele perguntou, parecia incrédulo.

 Revirei os olhos.

- Meu círculo social não é tão grande assim. – eu disse. – Encontrei a foto. – falei, passando o celular para ele.

- Vamos resolver isso da rede social, logo, logo. – Ele falou, tomando o celular das minhas mãos, para ver a foto. – Hey, você está linda aqui.

Senti meu rosto queimar, eu não sabia o que dizer.

- MERDA! – Ele falou. Olhei pra ele confusa. – Esse horário aqui está certo? – Ele disse me mostrando o celular.

- Está sim – Eu falei.

- Droga – Ele disse. – Preciso ir... Os meninos devem estar me esperando para gravar... – Ele me olhou com cara de quem se desculpava.

- Tudo bem... – Eu disse já me levantando.

Mesmo com a minha insistência, dizendo ser desnecessário, ele me acompanhou até a casa da minha avó. Despedi-me dele na porta, meio sem jeito, só lhe dando um tchauzinho com as mãos, e me virei para colocar a chave na fechadura. Nesse momento, senti seus braços me rodearem em um abraço, quente, e muito, muito aconchegante, o seu cheiro estava em todos os lugares, e a sua respiração no meu ouvido.

- Por favor – ele sussurrou, com uma voz suplicante que me partiu o coração. – Não vá embora de mim.

E antes que eu pudesse ao menos pensar em dizer qualquer coisa, ele me soltou, subiu na sua bicicleta, e se foi, me deixando ali, parada, com o coração na boca, as mãos suadas, as pernas bambas e a certeza de que eu não iria deixá-lo, de forma alguma.