Acabei de descer as escadas após um banho quente. Tinha um sorriso bobo no meu rosto, do qual eu não conseguia me livrar. Nem queria, pra ser sincera.
Vovó havia deixado um bilhete avisando que estaria com as amigas, fazendo crochê, e voltaria logo. Fui até a cozinha, acendi a luz e procurei qualquer coisa para comer. Encontrei alguns pedaços de frango dentro do forno e um vasilhame com arroz dentro da geladeira. Coloquei tudo numa frigideira e levei ao fogo. Enquanto a comida aquecia, comecei a cantarolar qualquer música, e fazer alguns passinhos de dança pra cá e pra lá, pensando em tudo que havia acabado de acontecer. Ah, Deus, como eu estava boba.
O barulho do telefone de casa tocando me tirou da minha cantoria, olhei o relógio, ainda eram oito da noite. Pensei que poderia ser vovó, certificando-se de que eu já estava em casa.
- Alô? – eu disse animada.
- Alô. – respondeu uma voz rouca e baixa. Franzi as sobrancelhas.
- Quem é? – perguntei agora mais séria.
- Quem é? – a pessoa respondeu de volta, a voz ainda baixa e rouca. Mudei o peso do meu corpo de um pé para o outro, desconfortável.
- Claire. Com quem você quer falar?
- AH, UFA – escutei a voz ainda rouca, mas já não tão baixa. – Fiquei com medo de a sua avó atender.
- Rafael? – Eu disse surpresa.
- Não, a margarida. – Ele respondeu. Revirei meus olhos.
- Que queres? – perguntei.
- Teu número. – ele disse.
- O que? – Arregalei os olhos.
- Vi que ao menos WhatsApp você tem naquele monte de aplicativos no seu celular. – Ele disse – Então, estou ligando pra saber seu número.
- E pra que isso? – Perguntei. Comecei a sentir um cheiro estranho.
- Preciso te mandar uma foto. – Ele respondeu. Franzi as sobrancelhas, confusa.
- Uma foto? – perguntei, franzindo o nariz, que cheiro era aquele? – Foto de que?
- Segredo. – Ele sussurrou.
- AH, DEUSES RAFAEL, ESPERA UM POUCO, MEU MEXIDO ESTÁ QUEIMANDO. – gritei pra ele, enquanto largava o telefone na mesa da sala e corria de volta para a cozinha.
A coisa toda tinha ficado meio preta, mas ia dar pra salvar alguma coisa. Decidi jogar o arroz fora e esquentar o restante que havia ficado na vasilha. O frango não estava tão mal assim.
Enchi a frigideira queimada com água e a deixei sobre a pia, peguei uma nova e coloquei o arroz para aquecer em um fogo bem, bem baixo.
Voltei ao telefone.
- Desculpe, queimei minha janta. – Falei.
- Tenho um “mexido” aqui se você quiser. – Ele falou, estava claramente me zoando. Revirei os olhos.
- Obrigada, mas não. Vou me virar com meu frango e arroz. – Eu disse, rindo um pouco.
- Isso é teu mexido? – Ele disse meio incrédulo. – Bom, teu número. – Ele falou novamente.
- Ah é, verdade. – Eu disse me lembrando do motivo da ligação. Falei meu número pra ele.
Escutei a porta se abrir.
- Claire? – Minha avó chamou.
- Na sala vovó. – Eu respondi alto.
- Opa – Escutei ele dizer ao telefone. – Acho que essa é minha deixa.
- Obrigada. – Sussurrei pra ele.
- Obrigada você. – Sussurrou ele de volta, finalizando a ligação logo em seguida.
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Acabara de dar boa noite e subir para meu quarto, vovó havia me contado todo o seu dia, e sobre todos os tapetes de crochê. Quando sentei em minha cama, a primeira coisa que procurei foi meu celular. Havia uma mensagem de um número desconhecido.
Número Desconhecido: Ei
Eu: Ou.
Número Desconhecido: FINALMENTE APARECEU!
Resolvi guardar o contato, mas perdi algum tempo até resolver qual nome colocar. No fim, me decidi por Rafael L., não que tivesse qualquer outro Rafael em minha lista de contatos. Quando retornei à conversa, uma imagem acabara de ser carregada.
Eu: Meu pingente! Achei que o tivesse perdido...
Rafael L.: Perdeu. Mas eu o salvei.
Eu: Obrigada, de verdade.
Rafael L.: Venha me ver amanhã que eu te devolvo.
Eu: Te ver? Onde?
Rafael L.: Em minha casa, claro.
Eu: Não sei onde você mora.
Rafael L.: Me encontra na lagoa, as 10 da manhã?
Eu: Bem, preciso saber se tenho permissão da minha avó, antes.
Rafael L.: Claro que tem, ela me ama. – Revirei os olhos, ela amava mesmo.
Eu: O que vamos fazer?
Rafael L.: :D , vou considerar que você já aceitou.
Eu: Vamos ver. Mas o que vamos fazer?
Rafael L.: Vou cozinhar pra você. Algo melhor que um mexido de arroz e frango.
Eu: Você cozinha?
Rafael L.: Claro.
Rafael L.: Hey, preciso ir agora. A noite vai ser longa...
Eu: Vídeos?
Rafael L.: Vídeos.
Eu: Boa noite.
Rafael L.: Boa noite.
Rafael L.: <3
Ah. Meu. Deus. Ele me mandou um coração. O que isso significa? O que eu faço agora?
Rafael L.: ...
Rafael L.: ...
Rafael L.: :(
Eu: Como você é chato.
Rafael L.: :(
Eu: u.u
Eu: <3
Rafael L.: <3 :)
E então, ele deixou de estar online. E eu suspirei. Eu não tinha certeza do que estava acontecendo, muito menos do que eu estava sentindo, mas eu gostava, e não era pouco. Suspirei novamente, deitei-me e cobri-me. Eu não estava com tanto sono, mas não tardei a vagar-me para a inconsciência, voltando a sonhar com seus olhos azuis.
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