POV Rafael
- Sanduíche?
- Não.
- Sorvete?
- Não dá pra almoçar sorvete, Felps. – Eu disse.
- Você é que acha. – Ele respondeu, enquanto levava mais uma colherada de sorvete à boca. – Já sei, vamos pedir ajuda pra uma MENINA! TIPO A GABS. – Ele falou já pegando o celular.
- Não, porra. Precisamos fazer isso sozinhos. – ele largou o celular.
- “Precisamos” é muita gente Cellbit – ele disse enquanto pegava mais uma colherada de sorvete. – Você é quem vai sair com ela.
- Não devia ter falado que sabia cozinhar. – eu disse, colocando as mãos na cabeça.
- Ela não sabe? – Ele pergunta. Penso no tal mexido de arroz e frango queimado.
- Acho que não.
- HAHAHAHHAHAHAHAHA, vai sair nada desse tal almoço então.
- Você não está ajudando. – Eu disse, enquanto revirava em alguns arames.
- O que tu ta fazendo aí? – Ele pergunta, e posso vê-lo se aproximar da tela do computador.
- Um pingente. – Eu disse, chegando o emaranhado de arames mais perto da WebCam, para que ele pudesse ver melhor.
- Você vai colocar na pulseira dela, junto com o outro que encontrou?
- Se ela deixar, sim.
- Cara. – mais uma colherada de sorvete. – Você. Tá. APAIXONADO.
- Não.
- Sim.
- Não.
- Sim.
Suspirei.
- Talvez. – me rendi, ficando vermelho como um pimentão.
Felps viu a situação e riu um pouco da minha cara.
- Relaxa, amanhã vai ser tudo ótimo.
Dei um sorriso de canto de boca, sem dizer nada. Enquanto ele terminava o sorvete, eu tentava terminar o pingente. Pensando no talvez que eu acabara de dizer, e se eu estivesse mesmo me apaixonando por ela? Suspirei. Onde foi que eu me meti?
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As pessoas me cercavam por todos os lados, me chamando, me perguntando, batendo fotos. Olhei para todos os lados em busca de qualquer rosto conhecido, não havia ninguém.
Meu coração começava a doer, o pânico de estar sozinho paralisava todo o meu corpo. Sentei-me no chão, enquanto todo aquele amontoado de gente se posicionava ao meu redor. Olhei para teto e senti as lágrimas se formando no canto dos meus olhos, e eu não tinha força alguma para lidar contra elas.
- RAFAEL! – Ela gritava. – RAFAEL!
Olhei ao redor, mas eu não a via. Tive a nítida sensação de escutar sua voz, mas as pessoas ao meu redor cercavam tudo, não havia nada ali.
- RAFAEL?- Ela chamou novamente.
Eu tinha certeza que era ela, me levantei do chão, me virando para todos os lados.
- CLAIRE?! – Eu gritei.
- RAFAEL? – Ela chamou de volta.
Eu comecei a me mover por entre a multidão, indo na direção de onde parecia vir sua voz. O meu desespero em não encontrá-la só ficava pior, a dor no meu coração torturava e todo o meu esforço era em função de não ceder à escuridão que vinha com a solidão.
- RAFAEL? –Sua voz estava assustada, ela estava com medo.
Movi-me o mais rápido que pude, olhando em todas as direções. Mas ela não parecia estar em nenhum lugar daquele mar de pessoas. Pessoas marchando, pessoas gritando, só pessoas, que estavam me sufocando.
Até que vi seus cabelos balançando por entre as pessoas,ela estava de costas para mim, ela estava se afastando e quanto mais eu tentava me aproximar, mais todos me jogavam para o lado contrário, mais tentavam me afastar dela. Eu mal conseguia respirar.
- CLAIRE? –Gritei.
Ela não me ouviu.
- CLAIRE! – Gritei de novo.
Ela não me ouviu.
Parecia que meu coração estava sendo rasgado. A solidão me engolindo. As lágrimas voltaram, junto com os soluços, as pessoas gritavam e me empurravam.
- C-claire...- Sussurrei. Estendendo um dos braços em sua direção, sendo quase levado pela correnteza.
Ela parou. Meu coração bateu mais forte. Ela parecia estar respirando rápido, muito rápido.
- Volta pra mim... – Eu a escutei dizer, um apelo desesperado de angústia e dor.
- Claire..? – Sussurrei novamente, olhando fixamente para o lugar onde ela estava.
O corpo dela ficou ereto, e ela imediatamente virou-se pra mim. Nossos olhares se encontraram, havia lágrimas neles, nos meus e nos dela. E então tudo era silêncio, eu sabia que aquelas pessoas gritavam, que elas empurravam. Eu não me importei. Eu precisava chegar até ela. E a cada lágrima dela, uma nova brotava em meus próprios olhos. Ela começou a se esgueirar em minha direção, assim como eu fazia, lutando contra o mar de pessoas que tentava nos afastar.
O que pareceu uma eternidade passou, e eu pude sentir nossos dedos se tocando, nossas mãos se entrelaçando e uma corrente elétrica que percorreu todo o meu corpo.
Eu a puxei para os meus braços, como se daquele jeito eu a pudesse proteger no mundo. Nós voltamos ao chão, sem nos soltarmos por um segundo sequer.
Agora havia silêncio, e já não havia ninguém. Só havia o nós. Ela estava ali, e trazia consigo a luz da minha vida, afastando os medos, afastando a solidão, afastando a escuridão. Eu a segurei nos meus braços, olhando dentro de seus olhos, sentindo minha alma aquecida e aquietada pelo seu olhar enquanto ela se tornava meu mundo.
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