Quando os passos da Taylor não foram mais audíveis, eu tive coragem de olhar novamente para os olhos do psicólogo a minha frente. Instintivamente minhas mãos foram aos bolsos, temendo por revelar alguma coisa.
-Então...- Eu fiz um leve biquinho, arrastando meu calcanhar para frente e para trás. – Diretor, eu serei mesmo obrigada a me “confessar” com ele?
Misha olhou para o lado, e vi Ryan suprimindo o sorriso do rosto.
-Sim Christie. E aconselho a ir agora.
Bufei baixo, e Misha estendeu o braço, indicando para que eu o acompanhasse, até a sala.
-Então...finalmente eu vou ter a honra de conversar contigo. – Ele falou enquanto andava, tentando ser agradável comigo.
-Finalmente...sim, eu mal pude esperar para isso. – Respondi irônica, e quando entramos na sala (que para minha surpresa era um ambiente bem agradável )logo me sentei na cadeira, que ficava bem de frente para a mesa dele.
-Não Christie...se você quiser, pode se deitar no divã. Acho que você precisa relaxar um pouco.
Eu deixei escapar um sorriso, e me pulei da cadeira, me deitando o mais confortavelmente (esparramada) no divã. Olhei para Misha, que parecia procurar alguma coisa na gaveta da mesinha. Achei engraçada a expressão dele, forçando levemente o olhar.
-Está procurando as minhas algemas? – Não consegui guardar a piada, referente ao livro que eu li, e pelo divã convidativo, sem falar no sobretudo do psicólogo a minha frente. Completei antes que ele respondesse. – Calma, calma, é só zueira minha.
Passei então a olhar para o teto, sem sorrir. Mais uma vez remoendo os sentimentos que tinha dentro de mim. Não havia mais ódio da Tay, somente um pouco de incompreensão, mesmo com as palavras dela. Eu nunca tinha ficado com nenhum dos rapazes dela...com exceção de um ou dois, mas só por causa da tara por ruivas, então não era minha culpa. Tá bom, talvez fosse um pouco. Escutei um barulho, e quando vi, Misha tinha arrastado a cadeira até ficar ao meu lado, com uma prancheta e caneta em mãos. Ele deu um leve sorriso.
-Então mocinha, quer que eu compre um sorvete para se sentir melhor como a sua amiguinha?
Sorri fraco, não pela tentativa dele de me fazer sentir melhor, mas por lembrar de Tay e seu pote enorme de sorvete quando se sentia mal. Ela e sua vontade de andar abraçada com o pote por aí.
-Eu não funciono como ela, doutor. Aliás, eu funciono bem diferente... –falei a ultima frase quase num sussurro, tornando a olhar para o teto, porque se eu encarasse muito aqueles olhos azuis, acabaria revelando mais do que gostaria.
-Eu queria tanto que só um pote de sorvete resolvesse meus problemas, mas vai ficar para a próxima. – completei rapidamente.
-Ninguém resolve os problemas com um pote de sorvete, Sta. Isso só é uma ajuda para alguns. – Collins disse rapidamente
-Oh Fuck...vai ficar mesmo que chamando de Sta.? Me sinto na época do feudalismo...meu nome é Christie, sabe.- Virei meu rosto para ele, e para minha surpresa ele não me observava somente olhava para a prancheta.
Ele apertou a caneta na mão e tomou nota, e eu senti meu rosto ferver, como em uma avaliação. Podia ser apenas mais uma avaliação comum de psicólogos, mas eu me sentia estranha com aquilo (Não sabia afinal eu nunca tinha ido num psicólogo antes, porque meu pai sempre dizia que eu precisava mesmo era de um psiquiatra). Collins passou cerca de dois minutos escrevendo, hora erguendo levemente a sobrancelha e apertando o olhar, hora só respirando.
Finalmente ele ergueu o olhar para mim, sério.
-Eu soube que você e Tay são boas amigas desde a infância...e também que é raro de brigarem, então me pergunto, o que poderia ser tão forte para causar isso? Amizades não podem acabar por qualquer coisa...
-Nossa amizade não acabou. –Respondi.
-Ah correto...- ele anotou mais uma vez na prancheta.
-Nem iria acabar assim tão fácil...não importa quantas burradas ela faça comigo, eu sempre vou achar um jeito de perdoar ela, porque é sempre isso que eu faço.
-Sempre faz? – ele me olhou diretamente nos olhos, e eu hesitei por um memento, e peguei o pequeno pingente de asas angelicais do meu colar e apertei, tendo mais coragem para prosseguir.
-Sempre. Eu sou estúpida.
-Não é estupidez perdoar as pessoas que se gosta, Christie. – Misha disse num tom carinhoso, foi impressão minha apenas.
-Mas e quando elas não merecem ser perdoadas? Porque eu continuo fazendo isso?- eu apertei ainda mais o pingente entre os dedos.
-Bem...- Ele deu um demorado suspiro, e juro que vi pena nos olhos dele. Puta que pariu, a última coisa que eu queria era ver pena nos olhos de alguém, mais uma vez. Senti raiva percorrer pelo meu corpo, e para conter isso fechei os olhos. E ele prosseguiu. –Acho que é estupidez mesmo.
Ao ouvir aquilo, me sentei imediatamente, olhando para ele séria. Que porra de psicólogo era aquele?
-Qual o seu problema? Você devia me dizer que eu não sou estúpida, isso sim!- eu falei, me sobressaindo um pouco.
-E porque você não seria estúpida? Eu não vejo outra explicação para isso...
Cruzei os braços em exasperação, sentindo meu rosto ferver mais que nunca.
-Por que...porque talvez eu pense que a porra das pessoas possam mudar, evoluir, mas sempre de decepciono. De novo, e de novo! –Olhei para Misha, que agora sorria satisfeito.
-Ah sim,aí está uma explicação bem plausível para seus sentimentos. Não acha?
Eu fechei os olhos, respirando fundo. Não acreditei que tinha revelado aquilo com somente alguns joguinhos da mente dele. Precisava me precaver mais...não deveria me abrir assim, nem com um psicólogo. Quando abri os olhos Misha olhava para mim, agora sem sorrir.
-Apesar de todas as suas decepções Christie, creio que tirar do próprio sangue seja a solução. Isso além de poder trazer infecções, vai deixar cicatrizes pro resto da sua vida. E você não quer isso, certo?
As palavras dele me acertaram como facas, não queria que ele soubesse disso, nem viesse com mais um daqueles apelidos de emo...essas coisas. Que besteira, ele como psicólogo não podia contar(não é?) então o máximo que fiz foi acenar com a cabeça, positivamente. Estava sem coragem para olhar nos olhos dele agora, tinha sido burra ao revelar meu pensamento.
Misha se levantou da cadeira, e puxou esta até a mesa, guardando a pracheta, e passando a me olhar.
-Acho que por hoje já está bom, não? – Collins perguntou.
-É...eu acho que sim. – Me levantei mecanicamente, e parei na porta, olhando para Misha, pensando por alguns instantes antes de falar – Então...terei que vir amanhã?
-Sim, isso se você quiser.
-Okay...
Virei as costas para ele, e segui pelo corredor agora vazio do colégio. Não gostaria de ter que entrar no meio de uma aula qualquer, então aguardei do lado de fora da minha sala por alguns minutos, esperando até que batesse o sinal da próxima aula. Quando o sinal bateu, ouvi a conversa da sala e em seguida Depp saiu da minha sala, e me encarou ali na porta. Não tive tempo de correr nem me esconder, somente encarar aquele rosto.
-Christie...o que aconteceu?- Ele perguntou sério, ficando ao meu Aldo, e deixando que a outra professora entrasse, sem se importar com o atraso que teria.
-Como se você não soubesse.- murmurei, não queria chamar a atenção mais uma vez.- Eu não sou burra Depp. – Estava tão brava que usei o sobrenome dele, sem notar na hora.
-Não soubesse de que?- Johnny parecia confuso.
-Da sua foda com a Tay, seu idiota!- Eu tentava ao máximo falar baixo, mas estava difícil. – Por sua causa eu tive uma briga com ela, e isso tudo por causa de você! Não quero mais saber...
Johnny passou a mão pelos cabelos, com a boca aberta, mas sem saber ao certo o que dizer.
-Chris...precisamos conversar num ambiente certo, tenho que me explicar...
-Para o quê, eu o perdoar? Não preciso – engoli em seco – Não adianta. Mais uma vez eu depositei esperanças na pessoa errada... e isso quase me custou uma amizade! – Virei as costas para ele, e disparei pelo corredor, não antes de o ouvir dizer “Você ainda vai me escutar!” O corredor agora tinha alguns alunos que passeavam, mesmo sem poder, pelo colégio. Eu andava de cabeça baixa, mas rápido, quando senti meu celular vibrar. O peguei e vi uma mensagem de Depp. Guardei o celular de novo, quando senti esbarrar em alguém. Ele colocou a maõ no meu ombro, me aparando. Quando olhei pra cima (bem pra cima) vi que era Tom. Ele deu um sorriso consolador para mim.
-Minha aula é na sua sala agora, não é? – Hiddleston perguntou.
-Acho que não..não sei. – Respondi sincera. Ele checou o papel que tinha numa pasta, e em seguida disse
-Está certa...mas venha, te ajudarei a achar a sala de aula.- ele disse.
Eu andei ao lado dele, olhando para baixo, e entrei sem ânimo na sala, acenando para Tom. A professora parecia não se importar com a minha entrada. Então Me sentei na carteira, mais uma vez peguei meu pingente de asas, o olhando. Era sobre um anjo, lendário, que eu sempre pensei estar por perto para me ajudar. Como eu estava errada.
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