— Tem certeza de que isso é uma boa ideia, Yerim?
As quatro garotas observavam a destemida Choi, em frente a privada, encarando seu reflexo na água encardida. Certamente, frequentar o banheiro no intervalo, ainda mais com um pretexto daqueles, era uma péssima decisão.
Porém, Yerim tinha aquela mentalidade fixa há muito tempo. Não seria possível tirar os planos daquela cabecinha tão desvairada. Yeojin e seu gênio forte até tentaram, mas não impediram a mais velha de marchar até o sanitário feminino, arrastando suas melhores amigas junto.
— Se vocês quiserem amarelar, podem ir. Eu vou invocar a loira do banheiro, vocês vão ver.
Hyejoo engoliu seco, vendo que Chaewon não prestava atenção no que falavam, muito menos na loucura que a outra garota iria cometer.
As lúcidas apenas queriam ter ideia de quem dera a informação à Choi. Desprezadora de conceitos comuns, amante de inglês, que costumava defender mitologias toscas demais até para a namorada da Son gostar de — sim, Heejin franziu o cenho e começou a rir sobre a teoria sobre-humana da garota de que Hyejoo era um lobisomem, alegando que deveria ser a Bella. Até Yerim ficar nervosa e dizer que quem ficava com a protagonista, no final, era o vampiro, e se decepcionar ainda mais ao ver que a soulmate de sua melhor amiga não havia assistido Crepúsculo:
— Vamos embora, Yeojinie. Yerim é louca, como acabou de conhecê-la, deve estar assustada, mas ela tem dessas.
— Hollaback! — Gritou, vendo que Hyejoo já levava sua paixonite pela porta de vidro, e Chaewon continuava sem saber o que se passava. — Não me difame para a nossa nova amiga, Olivia Hye. Além disso, eu vou provar para vocês que essa mulher existe.
Encarando a Im, aluna nova do colégio onde estudavam e a garota de quem Yerim gostava, — em itálico, fogos de artifício, e um letreiro nada modesto. Qual é? Para a garota se interessar por alguém e ter chance de ser correspondida, nada era suficiente — e um pouco nervosa por estar defendendo sua tese; puxou um fio de cabelo entre as mechas loiras da Park. A menor comprimiu os olhos, emitindo um ruído de surpresa.
Hyejoo e Yeojin apenas reviravam os olhos:
— Prestem atenção! — Reforçou, jogando o cabelinho na privada. — Tá, agora precisamos seguir o ritual com afinco, se não ela não vai aparecer.
— Você precisa. A única interessada em invocar espíritos aqui é você, Yerim. — Yeojin replicou, com aquela postura imponente demais, para alguém com aquela estatura, arrancando as palavras da boca da Choi apenas por olhá-la daquele jeito. — Pelo contrário, acho que eles devem descansar em paz.
— Ai, até perdi o ar. — Sussurrou para si mesma, se abanando, como se fosse adiantar de alguma coisa. Quando teve seu foco de volta, tornado para o vaso onde o fio de Chaewon boiava, instruiu. — Certo, me ajudem a verificar se estou fazendo tudo certo.
Entregou a listinha feita em um papel de caderno, com as linhas azuladas características, para Hyejoo. E sentou na privada, batendo com o pé na porta, que ia e vinha, revelando a imagem das três garotas entediadas e nervosas a sua frente.
Depois, sentou-se sobre o aparato, e deu três descargas seguidas. Evitou, por negligência, checar se a madeixa da mais velha ainda estava ali. Saiu, ignorando as réplicas medrosas de todas, olhando no espelho:
— Tá bom — inspirou fundo, vendo que Hyejoo sibilava com os lábios para que não o fizesse. — Porra! Shit! Fuck!
— Yerim! — Sua melhor amiga gritou, brava por tê-la visto quebrar o pacto. Não deveriam pronunciar palavrões, nem mesmo em outras línguas. Era como uma irmandade, se uma não podia exercer o poder adulto das palavras feias, a outra não tinha o direito também.
— Mas não deveriam ser todas na mesma língua, gênia? — Yeojin teve de dizer, com os braços cruzados e a sobrancelha arqueada. É, Yerim estava sendo esculachada pela menina de quem gostava, e estava amando isso.
— É que a loira do banheiro é uma entidade muito inteligente, sabe? Por isso, ela vai aparecer para mim. — Orgulhosa, puxou os cabelos para o lado, e deu de ombros, observando o que havia ao seu redor, além das três opositoras.
— Vai pensando assim. Vamos só ver quem vai levar o primeiro susto. — a Im demonstrou um total de interesse zero. Não se importando muito com os sentimentos, dos quais tinha conhecimento, da Choi. Mas tudo bem, ela até deixava.
— Eu amo quando ela se faz de difícil — Yerim sibilou.
Realmente, desde que viu aquela aluna nova, baixinha e cheia de personalidade e imponência, soube que estava perdidinha. Engoliu sua vergonha e se transformou na nice Yerim — mais conhecida como a Yerim de 100% do tempo, menos quando tinha um pânico interno — e a chamou para o bando. A pobre apenas não contava em estar dando uma aliada mais forte que Hyejoo na arte de avacalhar consigo:
— Ah, Yerimie — ouviu a voz da última mencionada. — está faltando uma coisa.
Chaewon saiu de seu transe e se aproximou da Son, buscando o papel para ler o último mandamento:
— Então, temos que dizer: loira do banheiro, loira do banheiro, loira do banheiro? — Repetiu, com a voz fraquinha. Recebia um olhar de aprovação da parte da Choi e um de fúria de Olivia.
Quando a mais nova ia replicar, ouviram um som vindo da última cabine. Esta que, juravam estar fechada poucos minutos atrás.
Yerim estremeceu da cabeça aos pés, sem pausa nem ao menos para os nós dos dedos ou as pontas dos pés. Nem mesmo ela queria acreditar que aquilo estava realmente acontecendo. Céus, o que falaria com a loira do banheiro? Ela nem tinha um video-phone para se tornar a nova deusa do Orkut, com um vídeo em primeira mão da oxigenada mais famosa.
Souberam que estavam perdidas quando a luz falhou um pouco, atraindo a atenção até da desvairada Park, cujos olhos estavam pregados na lâmpada ruim que pendia no teto. Respiraram fundo, incluindo Yeojin e seu senso cético de que era tudo uma coincidência, como se não estivesse prestes a correr gritando e sair dali.
A porta foi escancarada, e nenhuma das quatro teve coragem de se virar, mesmo com o susto. Aliás, qualquer pessoa sã sabe que a melhor coisa a se fazer em momentos como esse é: ignorar, se esconder e não procurar por coisas que você pode se arrepender de encontrar.
A iluminação falhou de novo, e Yerim piscou, uma, duas, três vezes; até notar um reflexo muito peculiar no espelho. A Choi soltou um grito, o mesmo que ficou preso na garganta de Hyejoo e que o cérebro de Yeojin não conseguiu processar.
Chaewon? Ela nem tinha notado.
Uma menina, num vestido branco, com alguns rastros de sangue sobre seu rostinho esbranquiçado e os olhos negros. Seus ouvidos, repletos de algodão, para os quais ela apontava incessantemente.
A primeira a se desesperar fora a corajosa cerejinha. Esta que levantou os braços e saiu correndo porta afora. Sem nem poupar suas cordas vocais e acordando as outras três para a vida:
— Eu vou morrer! — Dizia, como uma completa desvairada, correndo entre os corredores do sanitário (eram dois, mas jurava que parecia um labirinto, naquele instante) — A loira do banheiro existe e ela veio me matar! Socorro!
Os estudantes que ouviam de fora a encaravam com desdém. Louca, todos sabiam que Choi Yerim tinha uns parafusos a menos, mas não imaginavam que fossem todos.
Viu uma figura conhecida na saída do local. O que Jungeun fazia ali? Estava com um vestidinho branco, com rendinhas bonitas — coisa que até a lembrava um pouco da figura de minutos atrás, mas balançou a cabeça, querendo evitar:
— Yerim? O que aconteceu? — Tentava acalmar a garota, que respirava ofegante, com as mãos nos joelhos e o coração quase pulando para fora.
— Eu. Encontrei. A. — Pausa para respirar — Loira. Do. Banheiro.
— Ai meu Deus! — Disse, com um sorriso ladino. — Deixa que eu expulso esse espírito do mal, vamos, vá descansar.
— Obrigada, unnie, não sei o que seria de mim sem você. — Deu seu melhor sorrisinho, vendo que as suas amigas já deixavam o banheiro, com aparências tão alvas, como se houvessem passado mal. — Tome cuidado, certo? Ela pode tentar te matar.
— Eu sou forte, tem noção de em quantos moleques que tentavam pixar a minha arte eu já bati? — Deu uma piscadinha, como se fossem confidentes. E se dirigiu a todas as meninas. — Não contem sobre isso a ninguém! Nem mesmo falem entre vocês, dizem que, uma vez que a loira é chamada, a pura menção sobre si pode invocá-la novamente…
— Cruz credo. — Yerim fez uma versão de cruz afobada em seu peito, enquanto Jungeun adentrava o banheiro assombrado. — A Jungeun unnie é demais, não é? Uma baita duma Bad Girl.
[...]
— Por que o seu ouvido sangra tanto?
Sentada sobre a privada, Jinsoul estava com a pior expressão de dor possível. Vendo Jungeun acima de si, retirando cada algodão de dentro de seus pobres órgãos auditivos, sem o mínimo de delicadeza:
— Se a gente ia tirar as fotos da formatura como anjinhos, eu tinha que estar preparada, não é? — Brincou, vendo a feição brava da Kim. — Certo, talvez eu tenha exagerado na maquiagem, e deixado meu rosto branco demais. Mas eu estava tão enjoada e tonta, e além disso, enquanto eu me arrumava, meu nariz e meus ouvidos começaram a sangrar.
— A própria Maria Sangrenta… — Jungeun pegou um pouco de demaquilante, retirando selvagemente o pó claro que cobria a pele da mais velha. — Não assuste mais as crianças, Soulie, depois quem aguenta o discurso de ‘’preservar a juventude’’ da Haseul, sou eu.
— A culpa não é minha se a escola da namoradinha da Heejin tinha o melhor cenário. E, principalmente, se a pessoa mais fácil de assustar é a Yerim.
— Não diga isso da garota mais destemida que conheço. — Replicou, sarcástica. Estavam fazendo piada com a atitude da mais nova, mas realmente, a pose sabichona e brava de Yerim era desmantelada ao mero sinal de uma loira com sinais vermelhos e uma aparência pálida. Aliás, era tão assustada, que nem ao menos notou a semelhança da mulher com sua unnie Jinsoul, pulga atrás da orelha de Hyejoo, que se concretizou quando viu Jungeun entrar, não temendo nem um pouco, no sanitário maldito. Mas iria deixar que a Choi acreditasse na tal loira, era engraçado vê-la se desesperando por tão pouco.
Todavia, quando a Jung e a rebelde sem causa deixavam o banheiro, solitário e sem nenhuma pessoa, foi possível ouvir uma descarga. Com o mesmo fio de cabelo de Chaewon de volta à superfície, a única diferença sendo o tom avermelhado que a água adquirira.
A luminária elétrica tremeu vacilou novamente. O sinal tocou e todas as almas vivas da escola puderam deixar o local tão repudiado. Porém, não se precisava de uma alma viva para ver o que estava acontecendo ali, com o total contrário desta.
Da última cabine, e no espelho, uma figura mais assustadora que a própria Jinsoul procurava quem havia tirado seu sono. É, talvez fosse realmente uma péssima ideia mexer com espíritos, principalmente quando envolve uma certa loira com tendência a lugares úmidos.
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