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História Nove Meses - Sombra - História escrita por julietamlx - Spirit Fanfics e Histórias
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História Nove Meses - Sombra


Escrita por: julietamlx

Capítulo 4 - Sombra


Fanfic / Fanfiction Nove Meses - Sombra

O sol fazia gotas de suor brotarem na testa de Julieta, que, ajoelhada na terra, usava as mãos para afofar as sementes que enterrava com cuidado e facilidade. Levantando-se, procurou pelo regador de metal, colocado sobre uma mesa de madeira que Tião havia trazido para o jardim. Enquanto molhava a terra com delicadeza, esforçava-se para manter-se de pé. Suas pernas doíam muito, mas ela ignorava, decidida a não se abater com o seu estado atual.

Ao descobrir a gravidez, dias atrás, entrara em um estado de profundo terror e um medo absoluto e intenso a tomou. Depois de quase 8 anos de um casamento difícil, seu único consolo era pensar não ser capaz de tornar-se mãe e, algo em seu interior, acreditava que seu corpo trabalhava de forma misteriosa para impedir que uma criança fosse gerada. A convivência com Osório era árdua e seu maior temor era não conseguir impedir o sofrimento de um filho. Ao receber a notícia, trancara-se em um mundo solitário, em um pânico inexplicável e crescente. Osório, indiferente, teorizou que o médico havia se equivocado e que a esposa não tinha mais idade para engravidar. Rômulo, no entanto, foi enfático ao confirmar e se disse surpreso por isso não ter acontecido antes.

- Julieta sempre foi lenta para tudo – Osório explicou.

No fundo, Julieta não precisava de confirmação nenhuma. Sentia, em seu interior, que algo havia mudado e, ao mesmo tempo que era tomada por um pavor insuportável, sentia-se banhada em uma nova e pura esperança, que quase a confortava.

Usando uma pequena flanela para limpar o rosto molhado, Julieta afastou-se em direção à casa. Seu estômago se revirou e, alcançando a porta da frente, apertou a madeira até seus dedos ficarem esbranquiçados como seus lábios e rosto. Sentindo-se enjoada e tonta, tentou caminhar até a poltrona, mas, suas pernas, agora bambas, não contribuíram para o serviço. Quando sentiu que perdia as forças, os braços de Catarina a ampararam e, com um suspiro grato, deixou-se ser guiada até o sofá pela empregada.

- O que há, dona Julieta? – Catarina perguntou de forma nervosa.

- Não é nada... Eu me senti tonta, só isso.

- A senhora está branca como um papel – Catarina disse, aflita. – Pedirei para Tião chamar o médico.

Antes que Julieta pudesse desencorajá-la, Catarina já saía correndo em busca de Tião, que, rapidamente, saiu a galope atrás de Rômulo.

Fraca demais para protestar, Julieta pediu para que Catarina a ajudasse a subir as escadas e, alcançando o próprio quarto, deitou-se, sentindo que seu corpo mole já não respondia. Ao colocar a cabeça no travesseiro, levou uma das mãos até o ventre. De repente, foi tomada por um pânico incontrolável e temeu pelo filho. Sentindo que as lágrimas escorriam de seus olhos, tentou controlar a respiração, agora agitada. Catarina, que se aproximava da cama, segurou em suas mãos.

- Acalme-se, senhora.

- Não quero perder meu filho, Catarina.

Quase uma hora depois, Rômulo apareceu. Com passos firmes, aproximou-se da cama e examinou rapidamente a paciente, que tremia.

Catarina, que tentava acalmá-la, fazia perguntas constantes ao médico, que, pedindo calma, continuava a consulta com paciência. Meia hora depois, ao guardar os objetos na maleta preta, disse:

- Tudo parece bem, Julieta.

Com um suspiro aliviado, Julieta esfregou o rosto.

- Eu me senti mal – ela sussurrou, ainda pálida. – Eu achei que... Achei que o pior tinha acontecido.

- Não se preocupe – Rômulo a consolou. – Não houve sangramento e sua pressão está boa... O bebê está bem. No entanto, vejo que você não tem seguido a minha recomendação de repousar.

Culpada, Julieta se sentou, segurando o ventre de forma quase involuntária.

- Eu estava me sentindo bem, Rômulo.

- Não há nada de errado com você, Julieta. Mas uma gravidez na sua idade torna as coisas um pouco mais difíceis. Esse mal-estar que sentiu é normal em seu estado, no entanto, se estivesse em repouso, a intensidade seria menor, o desconforto não seria tão intenso. Ao menos pelas próximas semanas, tente ficar tranquila.

- Ela estava cuidando do jardim – Catarina disse, em um tom delatório. Apesar do olhar fulminante da patroa, ela continuou firme.

- Osório tinha razão sobre sua teimosia.

- Ele não tem nada razão sobre nada – Julieta resmungou, fazendo uma careta.

O médico não entendeu, mas não se importou em perguntar. Levantando-se da borda da cama, onde tinha sentado para examiná-la, ajeitou as mangas da camisa.

- Você precisa descansar.

- Está bem – ela disse, com calma. Catarina, ao seu lado, sorriu em apoio.

Depois de levar o médico até a porta, a empregada voltou ao quarto para se certificar de que Julieta estava bem e confortável. Quis lhe servir um lanche, mas a patroa recusou.

- Você precisa comer.

- Eu não posso ficar presa a essa cama – Julieta bufou.

O pânico que a envolveu minutos atrás deu lugar a uma agitação preocupada e frustrada. Seu olhar amedrontado, logo se transformou em um olhar forte, teimoso e decidido. Catarina abafou um sorriso. Sempre admirara a capacidade de Julieta de se transformar e se fortalecer, mesmo diante das situações mais difíceis.

Com cuidado, a empregada se aproximou.

- Julieta, doutor Rômulo foi bem claro quanto ao repouso.

- Há muito a ser feito na fazenda. Não posso deixar os empregados sozinhos, sem supervisão, sem ajuda.

- A senhora só precisa ficar tranquila e deixar que cuidemos de tudo.

Cruzando os braços em frente ao peito, Julieta suspirou esmorecida. Sabia que não deveria questionar as ordens médicas e já tinha sido ousada o bastante trabalhando tanto desde que descobrira sobre o bebê. No entanto, mesmo que se sentisse aterrorizada com a possibilidade de fazer mal à criança, se sentia absolutamente frustrada por ter de se afastar das próprias obrigações.

- Tião comentou que o senhor Bittencourt contratou alguém para manter a propriedade mais segura. É isso que a senhora teme, não é? Uma nova invasão.

- Temo pela segurança de todos, Catarina, não só dos que estão em casa. Meu marido fez inimigos demais.

- A fazenda está bem vigiada – a empregada insistiu.

- Não o suficiente.

- E o que a senhora poderá fazer, hein? – Catarina questionou com a intimidade e carinho que Julieta lhe depositara desde o início. Quando patrão se afastava, se permitia usar um tom menos impessoal e distante.

- Ao menos... Garantir que todos estão cuidando de suas funções – Julieta disse, com incerteza, fazendo Catarina rir. – Eu preciso falar com Jorge – ela acrescentou, de repente. – Peça para que ele suba.

- Julieta, não é apropriado – Catarina murmurou, referindo-se ao fato da patroa lhe pedir para que trouxesse um homem ao seu quarto.

Irritada, Julieta suspirou.

- Eu preciso lhe falar sobre Soberano, Catarina – ela foi firme.

Apesar do receosa, Catarina acatou a ordem e, alguns minutos depois, voltou com Jorge, que, segurando o chapéu entre as mãos, parecia acanhado e desconfortável e tinha os olhos baixos.

- Preciso que fique de olho em Soberano – Julieta disse, muito altiva, como se nada lhe afligisse e, mesmo sentada na cama com o lençol cobrindo-lhe as pernas, não perdeu sua autoridade inquestionável. – Ontem um estranho quase o machucou arrancando um prego que ficou preso em sua ferradura. Quero que se certifique de que meu cavalo está sendo bem cuidado, Jorge.

- Não há com o que se preocupar, dona Julieta. Aurélio me contou sobre o que aconteceu. Ele tem muito jeito com cavalos, sabia o que estava fazendo.

- Ele foi muito atrevido – Julieta insistiu. – Você sabe bem que só confio em você para cuidar de meus cavalos, principalmente, de Soberano. Não quero vê-lo perto de meus animais, está bem?

- Não se preocupe. Aurélio ficará responsável apenas pelas rondas.

Depois de ouvir todas as outras recomendações a respeito dos animais, Jorge pediu licença e se afastou. Fechando a porta, Catarina voltou a se aproximar.

- A senhora foi muito dura em relação a esse homem – disse.

- Ele me pareceu extremamente espaçoso e mal-educado. Não o quero por perto.

- Bem, se quer lidar diretamente com os empregados, não sei como fará isso.

Irritada, Julieta cruzou os braços.

- Você me entendeu.

Catarina sorriu e confirmou.

- Vou preparar um lanche. E nem pense em recusar, a senhora precisa comer.

Julieta abafou um sorriso comovido e suspirou, concordando. Catarina era bem mais velha do que ela e trabalhava na fazenda há mais tempo do que estava casada com Osório. Catarina havia sido, por muito tempo, sua única amiga naquele inferno.

- Obrigada.

Aproximando-se, Catarina tocou sua barriga com cuidado, sorrindo com todos os dentes. Julieta suspirou. Os olhos doces daquela senhora a deixavam alagada e era como se aquele carinho quase maternal, junto com a criança que esperava, lhe dessem a força que precisava para seguir em frente.

- Essa criança tem muita sorte de ter uma mãe tão dedicada quanto a senhora.

Sorrindo, apertou as mãos envelhecidas da amiga.

- Estou tão aliviada que Osório tenha viajado – Julieta confessou abruptamente, sentindo uma necessidade quase incontrolável de dizer em voz alta o que guardava com cuidado em seu interior.



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