As vezes, tinha impressão que não se acostumaria facilmente com a terapia, apesar de se sentir bem com ela. Mesmo conhecendo Sophia desde sempre, ainda se sentia um estranho naquela sala ar refrigerada, já tinha decorado todos os quadros pendurados na parede, de tanto que olhava, e achava de uma paciência anormal a mulher não se importar em esperar que ele dissesse alguma coisa.
— Pelo visto, a minha decoração parece mais interessante do que eu... — brincou, enquanto cruzava as pernas, com um leve curvar nos lábios.
— Desculpe, eu só estava destraído... — falou, com uma mínima culpa por ter dado a impressão de ter ignorado a psicóloga.
— Quer me contar?
— Sim, mas tenho um pouco de vergonha... — brincou com os dedos, observando aquele mesmo quadro colorido que ficava próximo a porta.
— Estou aqui só para te ouvir, não precisa ter vergonha.
— Eu sei, mas é que é um assunto...
— Íntimo? — interrompeu. Luba sinalizou que sim com a cabeça.
— Bem, por onde eu começo? Enfim, eu e o Lucas nós... hum... voltamos, como você já sabe. E outro dia nós estávamos sozinhos e... — mordiscou o lábio, arrependido do que ia dizer. Mas, Sophia já parecia entender onde o rosado queria chegar.
— Transaram? — ele arregalou os olhos e engoliu seco.
— O que? Não, nós só tivemos uma ... experiência sexual? — tentou explicar, de uma forma que não fosse tão explícita. E pedia mentalmente para que Sophia entendesse.
— E foi ruim? — questionou.
— Não, eu gostei. Gostei muito — sorriu fraco, sentindo as bochechas esquentarem.
— Então, qual o problema?
— Eu sei que uma hora apenas beijos não serão suficientes e que vamos sentir a necessidade de nos envolver de uma maneira mais profunda. — tentou dizer sem precisar ser óbvio. Se dissesse com todas as letras, se sentiria mais envergonhado do que nunca.
Se pudesse, cavaria um buraco no chão para se esconder, mas precisava falar sobre o assunto se quisesse se livrar dos seus medos.
— E você se sente pressionado? — perguntou, com as sombrancelhas arqueadas, analisando as feições do garoto.
— Não, eu nunca me sentiria pressionado. Quando aconteceu aquela coisa comigo, eu pensei que nunca poderia ter um relacionamento com alguém por me sentir marcado. Achei que nunca ia querer outra pessoa por medo de me ferir e acontecer a mesma coisa, e então o meu maior sonho se realizou, eu acabei sendo correspondido pelo cara que eu sempre sonhei e por mais que isso seja maravilhoso, eu tenho medo de não conseguir ter confiança o bastante pra me entregar a ele por inteiro.
— Do que exatamente você tem medo?
— Não quero olhar pra ele, me lembrar daquilo tudo e acabar surtando. Tenho medo que ele tenha nojo... Tenho medo de não ser o suficiente pra ele. Medo que o meu trauma acabe atrapalhando nós dois... — fez uma pausa e suspirou — Eu não me sinto obrigado, eu quero também, sabe? Por vezes eu imaginei como seria minha primeira vez, queria que fosse romântico e por amor. Na minha cabeça sempre pensei no Lucas, mesmo se ele não me quisesse da mesma forma, eu não conseguia pensar em outra pessoa que não fosse ele. E isso me foi tirado de uma forma tão bruta e covarde... — seus olhos marejaram ao se lembrar daquela noite terrível.
Luba tinha certeza que não encontraria ninguém capaz de aceitar seu coração depois daquilo e T3ddy quebrou essa suposição. Mas, mesmo assim, a boa aceitação do moreno era perfeita demais para que não sentisse medo.
— A coisa mais importante você já fez, confiou nele. Então continue confiando, você sabe que ele não te machucaria. Quando chegar a hora, olhe nos olhos dele e se pergunte o que vê, o que acontecer depois será consequência dessa sua resposta, assim você vai saber se está pronto. Tente esquecer por um momento de tudo e se concentre apenas em vocês dois, no que sentem um pelo outro, da mesma maneira que eu sei que aconteceu quando deram o primeiro passo. Pode fazer isso?
Luba pensou e concordou com ela, ele jamais saberia como agir se não seguisse seu coração, mesmo que sua cabeça insistisse em criar barreiras para lhe confundir, optou por apenas seguir a sua emoção.
— Eu acho que sim. — sorriu pra mulher e a abraçou.
***
— Eu não suporto! Não sei o que esse povo tem na cabeça pra ficar ovaciando essa garota. — Gabbie disse inconformada, enquanto via Maju e as outras quatro garotas se preparando para torcer pelo time da escola. Os alunos gritavam, chamando a atenção delas.
Faltavam alguns minutos para o campeonato começar e os jogadores dos dois times estavam na quadra, enquanto as líderes de torcida se aqueciam para começar a dançar e torcer pelos rapazes. Maju era a líder de torcida.
As meninas estavam vestidas de Arlequina, fazendo referência ao nome do time, que se chamava Coringas de Sampa. Nada muito original, mas não podia se esperar menos de Zeiva, a diretora era fã dos personagens.
— Nem eu. — Karen respondeu, parando de mexer no celular e abrindo seu pacote de salgadinhos.
— Ela é gata. — Mauro respondeu provocativo, cutucando Chris, vendo o rapaz lhe fuzilar com o olhar. O acastanhado sentiu vontade de jogar sua latinha de refrigerante na cara do outro, mas achou um desperdício.
— Por que não fica com ela então? Aproveita e entra na fila. — Chris falou como quem não quer nada. Na verdade, não passava de ciúmes e Mauro quis se divertir com aquilo.
— Sabe que eu prefiro você gemendo o meu nome enquanto eu rebolo no seu colo, não sabe? — sussurrou ao pé do ouvido do castanho. Chris lambeu os lábios e se arrepiou com o tom grave da voz do cacheado. Se concentrou para não perder a linha logo ali e disfarçou, sugando seu refrigerante pelo canudinho, enquanto Mauro riu baixo da cara envergonhada do namorado.
— Viu como ela fica se insinuando para o Olioti? — Karen comentou, dividindo os salgadinhos com o Mauro.
T3ddy estava na quadra conversando com o técnico e o time, mas na verdade mal prestava a devida atenção no que diziam, já que não tirava os olhos da arquibancada a procura de alguém especial que ainda não havia chegado.
— Ele nem liga... ela está pagando mico sozinha. — Mauro comentou de boca cheia, levando um tapinha de Chris pela falta de boas maneiras. Apenas ergueu os braços em rendição, roubando um selinho do castanho sem que ninguém pudesse ver.
— Com tanto carinha gato nessa escola, ela não larga do pé dele. — Karen acrescentou.
— Isso é obsessão dessa vaca desmamada. — Gabbie disse, um tanto irritada, cruzando os braços.
— Quem é a vaca desmamada? — Luba falou por trás dos amigos, que sorriram ao ver o garoto.
— Lubinha.. — gemeu, manhosa com um bico, se jogando nos braços do rosado. O garoto riu da amiga, que mais parecia uma criança.
— Vai machucar ele Gabbie, solta o coitado. — Karen pediu entre risos. Os outros se juntaram, formando um abraço em grupo, quase sufocando o menor.
— Por que não falou que vinha? — Mauro perguntou, assim que se sentou com cuidado, para não prejudicar seu tornozelo. Graças a lesão que teve, foi obrigado a ficar de fora do grande jogo.
— E vocês acham que eu ia perder a chance de torcer pelo cara mais gato do time? A única parte desagradável nisso tudo é aturar a Maria Júlia se jogando pra cima dele... — observou a morena, que não tirava os olhos de Lucas, basicamente comendo o rapaz com os olhos. Mesmo depois de notar a presença de Luba, teve o descaramento de continuar.
T3ddy ainda não havia percebido que Luba havia chegado, foi preciso Christian dar um grito para chamar a atenção do amigo. Luba só faltou afundar na cadeira de tanta vergonha, já que a maioria dos olhares se voltaram para sua direção.
Lucas sorriu assim que viu o seu garoto, faltavam poucos minutos para o apito soar indicando o inicio do jogo e ele correu arquibancada acima, indo até Luba e lhe abraçando forte. As pessoas ao redor acompanhavam com os olhos os passos do moreno.
— Que bom que você veio.
Embora tivesse participado de vários jogos e na maioria Luba estivesse presente, aquela ocasião parecia diferente, Lucas queria mais do que nunca vencer aquele jogo pelo seu garoto, queria ter incentivo para o que pretendia fazer mais tarde e ja sabia exatamente como ia comemorar quando levasse aquela medalha pra casa.
— Eu não perderia por nada.
Luba sorriu. Por mais que soubesse que estava sendo observado, não hesitou em beijar o amado.
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