Sakura estava vistoriando a construção da muralha ao redor da Vila. Estava onde antes eram os portões. O terreno já estava limpo e preparado, a fundação estava quase pronta. Era meio-dia e o suor escorria pelo seu rosto. Limpou o suor da testa com as costas da mão e divisou ao longe, duas figuras que caminhavam em sua direção.
Uma delas, a maior, caiu no chão. Sakura imediatamente correu em direção àquelas pessoas. Ao chegar perto, não conteve a emoção ao ver os cabelos escuros em contraste com os olhos azuis e tristes de Himaware.
Hinata Uzumaki conseguiu voltar.
- Tia Sakura! - a menina a abraçou e logo se virou para trás - A minha mãe há dias não bebe água para deixar para mim – ela enxugou as lágrimas com a manga da roupa esfarrapada – Ela não está bem.
Sakura agachou ao lado da amiga e mulher de seu melhor amigo. Realmente Hinata estava desidratada e bem doente. Seu corpo estava magro e ela tinha perdido a consciência. A Hachidaime ergueu seu corpo esguio e constatou com alívio, que seus pupilos estavam chegando com a maleta de primeiros socorros, a maca e água potável.
Também divisou os cabelos brancos espetados de Kakashi, que vinha ao seu encontro, com o sorriso que ela aprendeu a reconhecer por baixo da máscara. Era impossível seu corpo não reagir ao cheiro dele tão perto.
- Sakura – ele falou baixo - É providencial que Hinata tenha chegado no momento em que desenterramos Naruto e Sasuke – ele suspirou – Ela será crucial para a retirada do que precisamos dos dois.
Ela ergueu seus olhos verdes para ele.
- Mas Kakashi, ela não tem condições de lidar com isso agora – apontou para a mulher que era colocada com cuidado em cima da maca – Hinata está desidratada e inconsciente.
- Eu consigo – a voz da pequena Uzumaki soou forte e decidida – Eu ajudo o tio Kakashi com o byakugan.
Os dois adultos olharam aquela menina meiga. Tinham que admitir, ela tinha a coragem do pai.
- Você já domina a técnica dos Hiuugas? - ele perguntou.
- Eu tive que aprender, para proteger minha mãe - ela olhou a mãe sendo levada – Eu tenho que mostrar para vocês o que eu aprendi.
Kakashi olhou para Sakura e sorriu. Claro que a filha de Hinata e Naruto tinha que ter um poder especial. Aquela menina era diferente, eles sabiam desde o princípio.
- Primeiro vamos cuidar de você, Hima – Sakura não podia esquecer que ela era apenas uma criança - Venha comigo.
- Mamãe disse que você é a Hachidaime.
- Sim.
- Está gostando do trabalho?
Kakashi ouviu o diálogo terno das duas. Ficou observando Sakura cuidar da menina e ponderou o quanto ela podia ser forte e meiga ao mesmo tempo. Ele tinha que trazer Sarada de volta. Sentiu uma vontade imensa de fazer as coisas voltarem ao normal o mais rápido possível.
Para ela.
Porque sentia que a amava.
Balançou a cabeça como se isso expulsasse esse pensamento. Chegou logo depois delas ao espaço destinado à enfermaria. Ainda estavam terminando a alvenaria, mas os atendimentos não podiam parar. Olhou Shikamaru sentado na cadeira de Gai.
Naquele dia que ele esqueceu o amigo no lago, ele voltou sem a cadeira e não explicou como fez. Tinha certeza de que o Nara tinha visto os dois, porque daquele dia em diante, eles quase não se falaram.
Sakura se sentia culpada por deixar Shikamaru sozinho. Perdida no sentimento que nascia por Kakashi, os dois chegaram ao acampamento onde apenas eles e mais alguns dormiam e viram o Nara já deitado.
Ela tentou se aproximar dele.
- Agora não, Sakura – ele murmurou e se virou para a parede.
Ela apenas engoliu seco e saiu, deitando-se ao lado de Kakashi. Ele apenas beijou a testa dela, envolvendo-a em seus braços e logo os dois dormiam.
Na entrada da tenda Uehara observava seu plano falhar. Tinha tentado entrar em contato com Naô, mas os genins instruídos pela Hachidaime o impediram. Voltou para a casa destinada a ele e mais dois conselheiros mais jovens e não dormiu, imaginando uma forma de fazer virar o jogo a seu favor.
Naô se mantinha quieta. Ela disse que falaria apenas com Kakashi, mas Sakura não deixou ele saber disso.
- Se você não falar, será a primeira pessoa a ser presa na Nova Vila. É isso que quer? Precisamos de você, Naô, por favor, fale quem mandou o veneno para o Rokudaime.
- Hachidaime, não era minha intenção ferir ninguém - limitou-se a dizer.
- Sim, sim, claro – Sakura colocou a mão na cintura - E suponho que você só vai falar para o Sexto, não é mesmo?
Com raiva, viu o brilho passar pelo olhar da morena. Conteve-se.
- É o que pretende? - falou de forma neutra – Seduzir Kakashi com esses truques, como se ele fosse um moleque? - se aproximou o suficiente para amedrontar Naô.
- Ele parece estar disponível, Hachidaime, uma vez que a senhora já tem quem a esquente nas frias noites da Nova Vila – a olhou desafiadora – Todos falam de você Sakura! Ou você acha que ninguém sabe das escapadas dos Três Grandes? Tem até fila de apostas para saber quem vai matar quem quando isso terminar – apertou os olhos em uma expressão maldosa.
Sakura recuou dois passos sem, no entanto, transparecer o que sentia. Um misto de medo e vergonha. Sim, ela havia se descuidado, havia deixado brechas para que os habitantes sobreviventes falassem dela, em um momento em que não tinham mais nada a perder, as pessoas falavam de qualquer coisa que não fosse o luto, a morte e a destruição.
- Isso não é da conta de ninguém Naô - falou depois de um tempo.
- Assim como minhas pretensões com o Sexto Hokage, senhora – a maneira pejorativa com que a mulher lhe dirigia a palavra estava enojando a Hokage.
- Você ainda é uma criminosa, cuja tentativa patética de envenenamento só não deu certo porque você é incompetente - pôs as mãos na cintura e trouxe o peso do corpo para uma as pernas - Será indiciada como tal e presa. Terá a honra de inaugurar o primeiro Tribunal de Nova Vila da Folha.
Sakura saiu da sala, trancando por fora, consciente de que nunca havia sido tão rude com outra mulher em sua vida, que ela tenha se lembrado. A prisioneira tinha tocado em um ponto sensível.
Ao sair do local, ela contemplou a reconstrução que seguia ao seu redor, com o auxílio de todos. Ao passar pelos trabalhadores, eles baixavam a cabeça em sinal de respeito. Em nenhum momento lhe pareceu que zombassem dela ou desrespeitassem-na de alguma forma.
Apenas dentro da sua mente ecoava as palavras acusadoras de Naô. E um frio percorreu sua espinha ao pensar em perder aqueles dois homens que estavam ao seu lado e que ela tinha certeza de que dariam tudo de si para que ela tivesse sucesso.
Sentiu que era hora de conversar com Shikamaru. Queria pedir desculpa, queria o colo dele, sentia falta do ranger da sua cadeira atrás dela. Caminhou até a Tenda Vermelha, onde ele estava organizando os novos documentos de identificação dos habitantes da Nova Vila da Folha. Todos haviam perdido os papéis e também havia pessoas sobreviventes de outras Vilas
Ao chegar perto dele, preferiu não fazer barulho. Observou que ele fumava calmamente de costas para ela e observava o desenho que a fumaça fazia.
- É incrível como você consegue seus cigarros em meio a esse caos – ela falou em tom amigável, tocando de leve o ombro dele, que estremeceu um pouco.
Shikamaru gostava dela e sim, sentiu ciúmes naquele dia em que ela parecia estar tão envolvida com o Sensei. Ele também gostava de Kakashi, não de um jeito sexual, embora até sentisse curiosidade, mas naquele momento ele não queria pensar nisso. Mas gostava do Sensei desde o tempo em que eles trabalharam juntos, conversavam sobre tudo e o mais velho o aconselhava sobre seus problemas amorosos.
Sorriu ao lembrar em como Kakashi se divertia com as suas histórias. Ficou feliz de ele estar vivo.
- Um shot de sakê pelos seus pensamentos, principalmente os que te fizeram sorrir – ela falou e ele se assustou, tinha esquecido de Sakura em seus devaneios.
- Apenas memórias, Sakura – os olhos inteligentes dele a fixaram – Precisa de alguma coisa?
Sakura olhou para ele pensando sobre o que precisava. Precisava dele de volta ao seu lado, precisava do abraço dele à noite, aquele abraço sem julgamentos, sem perguntas. Sentia falta dele.
- Como você voltou do lago naquela noite, Shika?
A pergunta tão direta o surpreendeu. Entendeu que não poderia fugir da resposta.
- Com minhas pernas – falou como se fosse óbvio.
- Então, o que faz sentado nessa cadeira?
- Ela representa para mim o cuidado que você teve e nos aproximou tanto – ele apagou o cigarro no cinzeiro improvisado.
- O que nos uniu foi a dor, Shika, a dor e o desejo de ver nossa Vila reconstruída. O que nos uniu foi a sua perseverança, o que nos uniu foi a sua inteligência...
Ela parou de falar quando ele se levantou da cadeira. Sakura também ficou em pé. Ele se aproximou com passos pequenos, porém firmes. Acariciou a face dela e enfiou os dedos na nuca, por baixo dos cabelos dela em um gesto suave e carinhoso.
Sakura fechou os olhos. Era disso que sentia falta.
Shikamaru aproximou os lábios da boca rosada da mulher, que estava totalmente entregue a ele. A beijou de forma suave. Puxou os cabelos levemente, a fazendo dar um pequeno gemido.
O tempo parou para eles. Calmo e tranquilo, Shikamaru Nara entreabriu os lábios e deixou que a língua sedenta dela entrasse em sua boca. Um frisson de desejo invadiu os dois. Sakura não conseguia resistir à tranquilidade que ele era.
- Sakura, preciso de você - a voz calma e controlada de Kakashi Hatake os interrompeu – Os corpos estão desenterrados e quero que você esteja lá para recolher a kekkei genkai do seu marido! - ele elevou a voz e virou o corpo para sair.
Sakura se fastou de Shikamaru.
- Me... desculpe, eu... - falou e ele se aproximou, a abraçando e não permitindo que ela falasse mais.
- Sakura, não se desculpe – soltou a mulher e voltou para perto da cadeira – Preciso me sentar, ainda não tenho tanta força nas pernas.
- Fiquei tão feliz de ver você se recuperando! - ela sorriu.
- Obrigado – limitou-se a dizer.
- Eu... ãh... preciso, você sabe! Ir com Kakashi – ela se sentiu envergonhada. Viu o olhar debochado do conselheiro e saiu.
Como explicar o que houve para Kakashi? E afinal, o que ela realmente sentia? Sakura não sabia por que estava tão confusa. Parou na porta onde conseguia divisar o corpo de Sasuke em cima da mesa de metal e suspirou. Não conseguiu dizer mais nada.
Kakashi olhou para ela sem nenhuma expressão e depois voltou a olhar seu aluno morto. Pediu o bisturi para Kimiko que prontamente alcançou o instrumento. Sakura não se moveu. Ele ficou por alguns minutos parado em frente ao olho do Uchiha.
- Vovô - Kimiko falou – Eu posso fazer isso para você.
- Obrigado, Kimiko – ele disse e devolveu a ferramenta para a menina, que prontamente se colocou na frente dele e começou o procedimento.
Kakashi não olhou nenhuma vez para Sakura. Os dois olhavam fixos para o corpo deitado na mesa. A roupa, a capa, estava tudo lá. Ela não conseguiu segurar as lágrimas. Sentiu a mão forte do Hatake a puxar para si e sentiu alívio ao poder enterrar seu rosto no peito dele. Ao sentir o cheiro familiar do homem, deixou todos os sentimentos saírem sem medo.
Kakashi sabia que era difícil para ela, mas tinha certeza de que ela não tinha chorado a morte do marido. Mesmo que o relacionamento dos dois não fosse o ideal, eles tinham uma filha e uma história. Ele queria que ela sentisse e conseguisse dar um passo adiante.
Kimiko terminou de retirar o sharingan e colocou no prato de metal. Limpou o bisturi, enquanto analisava a cena dos dois Hokages abraçados. Ela sorriu como a adolescente que era.
“Eu shippo” pensou ao deixar o instrumental em ordem e sair em direção ao refeitório dos gennins.
Shikamaru suspirou. Estava há duas horas tentando fazer com que Naô dissesse algo que fizesse sentido.
- Naô - ele disse, depois de passar a mão pelo rosto em um gesto apaziguador – Eu preciso que você diga quem fez isso e por quê. Nós sabemos que você não tem o perfil de quem faria uma coisa dessas.
Naô olhou para os olhos sinceros dele. Era difícil para ela mentir para aquele homem que ela admirava. Baixou os olhos. Tinha medo de Uehara. Nos últimos dias, tinha tido pesadelos com o homem a ameaçando.
- Se eu desistir, quem virá será o ex-assassino da Anbu. Você sabe que Kakashi não é aquele senhor amigável que você conheceu – sorriu de lado – Ele tem métodos bem eficientes para arrancar a verdade de você.
Ela estremeceu. Por algum motivo o fato de Kakashi ter sido um assassino não a amedrontou, ao contrário ela se sentiu estranhamente excitada. Como há muito tempo não se sentia. Ela sorriu, envergonhada.
Shikamaru ergueu uma sobrancelha. Naô olhou para ele apenas para pedir que o Sexto Hokage viesse interrogá-la.
“Por que isso não me surpreende?” ele pensou. Girou as rodas da cadeira e saiu.
Kakashi saiu da sala levando consigo Sakura, cujas lágrimas caíam copiosamente. A tristeza de toda uma vida saiu tão líquida quanto a sua certeza de que não tinha sido feliz todos aqueles anos.
O cheiro da pele do Hatake a confortava de alguma forma que ela não entendia. Ao ouvir a voa preguiçosa de Shikamaru, ela saiu do peito do outro para mirar o homem sentado na cadeira e que indagava por que ela estava daquele jeito.
- Kakashi o que você fez com ela? - a voz do conselheiro pareceu um pouco ameaçadora e por alguns instantes os instintos de defesa do Sexto Hokage se alertaram.
Ele não conseguia se mexer. Uma força escura puxou Sakura para longe dele e ela caiu sentada no colo de Shikamaru.
- Vou soltar o senhor depois de se acalmar, Rokudaime – ele disse, com as mãos firmes e os dedos em riste no seu jutsu.
- Não me obrigue a sair daqui e brigar com você - falou calmo e quem o conhecia, sabia que ele estava frio e calculista.
Sakura não pode deixar de lembrar do que Naô disse.
“Vamos ver quem mata primeiro quem nessa história”.
- Parem, não sejam ridículos - ela falou, olhando para os dois – Esse não é o momento para isso, não é o momento de nos separarmos. Eu... eu amo os dois, eu preciso de vocês dois.
Eles se desarmaram e agora estavam com a atenção toda nela. Em nenhum momento haviam planejado chegar a esse ponto, eles estavam se relacionando como se não houvesse amanhã.
Porque há algum tempo, não houve mesmo.
Sakura continuou:
- Eu sei que tudo isso está estranho, mas eu não tenho condições de perder mais ninguém agora. Então, por favor... - ela baixou a voz porque sentiu uma movimentação estranha vinda do hospital.
Um grito de mulher ecoou pelo ar da Nova Vila.
Hinata acordou e encontrou o corpo de Naruto.
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