Shikamaru empurrava a cadeira pelas ruas improvisadas de Nova Konoha. Em quase nada lembravam as ruas que eles conheciam. Tinham ideia de fazer totens indicando os locais antigos e históricos dos clãs da Vila da Folha para que a nova geração também conhecesse a história.
Mas mesmo assim, Kakashi sabia que aquele não era o caminho do lago.
- Para onde vai me levar? - perguntou e por alguns instantes imaginou que o outro o mataria. Não sabia se achava isso por causa das torturas que havia sofrido, se estava com a mente e o espírito enfraquecido, mas aceitaria seu destino.
- Para um local que estava sendo preparado em segredo por mim e alguns genins. Um local para você, Rokudaime – Shikamaru realmente queria que o amigo ficasse bem. Não sabia se conseguiriam tirar tudo de dentro dele, mas Kakashi era valioso para a Vila. E também para Sakura.
Chegaram em um lugar mais afastado das casas construídas e Kakashi demorou a reconhecer a grande árvore que fez parte da casa onde ele passou a maior parte da infância, antes de se tornar mestre assassino da ANBU
- É incrível como essa árvore ficou em pé - falou Shikamaru, levando-o para baixo dos galhos grandes e frondosos da árvore. Ao lado uma construção simples como aquelas feitas na Vila.
- O que isso significa, Shikamaru Nara? - perguntou Kakashi, observando a casa construída onde antes era a casa de seu pai.
- Eu e alguns genins, ajudamos a construir a casa do Rokudaime e... - ele pigarreou – da Hachidaime Hokage, senhor
A volta do “senhor” ao tratamento entre eles fez Kakashi perceber em que nível estava o relacionamento dos dois. Era um sentimento quase paternal vindo do conselheiro mais novo.
- Ela não vai querer, Shikamaru, não depois do que eu fiz - passou a mão na testa e afastou os cabelos brancos dos olhos tristes.
- Você não pode desistir dela assim, não sem tentar! - o mais novo falou, inflamado - Não podemos deixar a nossa Sakura se perder por causa de uma situação de guerra.
- Nossa Sakura? - Kakashi ergueu a sobrancelha.
- Sim, eu a amo, não como amo ainda a Temari, mas eu amo essa mulher que me cuidou, me tirou dos escombros e curou muito mais que as minhas pernas, Kakashi!
Apenas puderam ouvir o coaxar ao longe de um sapo perdido em algum lugar. O suspiro de Kakashi cortou o silêncio.
- Então devia investir nela, meu caro, tenho certeza de que ela... - foi interrompido porque Shikamaru o derrubou da cadeira
Shikamaru com um solavanco, derrubou o Sexto Hokage da cadeira, fazendo-o cair de cara no chão.
- Não seja covarde agora, Kakashi Hatake! Nós precisamos do assassino que você é! - permaneceu parado, observando o outro tentar levantar – Vamos, é só um bloqueio de chakra, mova essas pernas!
Kakashi não reconhecia o amigo e ao mesmo tempo sabia que ele tinha razão. Até poucos minutos atrás ele estava pronto para morrer. Havia aberto mão de Sakura e até das suas pernas.
Com um esforço de chakra muito grande, ele desbloqueou o chakra das pernas e conseguiu movê-las. Mas trouxe de volta para sua mente o vírus controlador.
“Ora, ora, você é mais forte que eu imaginava”. A voz o Otsutsuki ecoava dentro dele. “Vamos diga o que eu quero e eu deixo você livre para morrer com seus amigos. Vamos, é só me mostrar, pense e eu saberei onde está a semente.”
Kakashi se debatia no chão, assustando Shikamaru. Ele segurou a cabeça do amigo.
- Kakashi, resista! Seja mais forte! - ele falou, mas parecia que o outro estava imerso dentro dele, em uma luta interna muito grande.
Sakura entrou na casa e viu o sensei caído se debatendo.
- Ataque epilético? - perguntou calmamente enquanto segurava a cabeça de Kakashi.
- Ele está resistindo ao Otsutsuki dentro dele – disse Shikamaru.
Os olhos dela brilharam. Esse era o Kakashi que ela amava. Segurou-o com força e falou:
- Kakashi! Me ouça, sou eu, Sakura! - ela sentiu um leve tremor no corpo dele – Kakashi, resista, estou aqui, abra os olhos!
O corpo dele foi acalmando. Mas conforme ela se calava, ele voltava a se debater. Dentro dele, a luta era medonha.
- Estou aqui para você, Kakashi! - ela apertou-o contra o peito.
“Ela está mentindo, não acredite nela! Me diga onde está a semente!”
Percebendo que sua voz o trazia de volta ela molhou os lábios.
- Kakashi, meu amor! Abra os olhos! - ela embargou a voz – Eu... eu te amo, Kakashi!
Uma onda de choque percorreu o corpo de Kakashi e ele gritou ao abrir os olhos. Em uma fúria enorme ele agarrou a mulher e Shikamaru interveio.
- Não, não o deixe beijar você, Sakura – puxou rapidamente o sensei para trás, que desmaiou, assustando a médica.
Dentro da mente de Kakashi, o silêncio e as palavras dela...
“Eu te amo!”
Sakura mediu os sinais vitais e a quantidade de chakra. Tudo normal, como se ele tivesse feito muita atividade física e estivesse apenas repousando. Eles o colocaram na cama no quarto de casal da casa e só aí Sakura perguntou de quem era aquela casa, que ficava totalmente fora da Nova Vila.
Sentados nas cadeiras simples que acompanhavam a mesa de madeira no centro da cozinha, um modelo que era igual em todas as casas com a exceção dessa, que tinha um pequeno guardanapo quadriculado e um jarro pequeno com flores de plástico.
Sakura olhou os armários e encontrou uma caixinha de chá e esquentou a água na chaleira nova de alumínio. Tudo estava funcionando dentro da pequena casa de dois quartos.
- Quem mora aqui, Shika? - ela se virou depois de ligar o fogão e posicionar a chaleira em cima da boca acesa - Está pronta para alguém, pelo visto, só achei um pouco longe do centro, achei que tínhamos combinado que os moradores ficariam todos perto um dos outros.
- Sim, os moradores comuns ficariam perto do centro, mas a Hokage e o marido não - ele baixou a cabeça e depois olhou para o pequeno corredor que dava para os quartos.
Sakura sorriu e olhou para ele.
- Está me pedindo em casamento, Shikamaru Nara? - a voz sarcástica e baixa, havia um cuidado com a pessoa no quarto.
- Bem que você gostaria, não é? - ele sorriu de lado e acendeu um cigarro improvisado – Mas depois de hoje, eu tenho certeza que não sou eu – tragou e mesmo que não fosse a mesma coisa, o sabor trouxe uma certa nostalgia de Temari brigando com ele.
Sakura suspirou. Eles haviam feito uma casa para ela morar com Kakashi. Era certo que aquele terreno era da antiga casa do Hatake, ela não tinha memória do local, mas sabia que era por essas bandas. Manteve o silêncio confortável entre eles e a chuva começou a cair lá fora, com os pingos caindo e fazendo a sinfonia de gotas de água.
A chaleira chiou e por alguns instantes, Sakura lembrou de antes, de quando eles era felizes e ela preparava chá para si e para Sarada. Uma vez, Kakashi preparou o chá à moda japonesa, com todos os rituais e eles tiveram uma tarde agradável, onde não havia o desejo entre eles, apenas a amizade, como se ele fosse um primo muito querido.
Serviu o chá para ela e para Shikamaru.
- Não tem açúcar - falou como se se desculpasse pela falta, afinal a casa era dela, não era porque soube há apenas alguns minutos que ela não poderia ter se apegado à ideia de ter um lar novamente.
- É verdade o que disse antes para trazer Kakashi de volta? - Shikamaru sempre preciso, cirúrgico nas perguntas certas no momento certo.
Sakura bebeu um gole quente e reconfortante. Teria mesmo que responder?
Kakashi sentia o ar frio que entrava pela janela da casa. As gotas de chuva fina molhavam seu rosto e só aí ele percebeu que estava sem a máscara. Desde quando não havia mais pudores de tirarem sua máscara do rosto? Sentia-se nu sem ela.
Sentou devagar na cama onde o colchão estava sem nenhum lençol e era novo. Via-se as costuras grosseiras, mas era confortável. Pela porta entreaberta do quarto branco e claro, ele ouviu as vozes das duas pessoas que mais importavam a ele naquele momento.
Seria realmente ele que pensava agora? O maldito vírus tinha deixado sua mente em paz? Respirou fundo e fechou os olhos, como se esperasse uma intervenção divina de Kami ou as vozes do diabo ecoarem em sua cabeça.
Nada. Só o silêncio e o aroma fraco de chá, daqueles que vem em caixa e você mergulha na água quente, um tipo que de chá que ele nunca teria em casa. Mas agora seria tão bom uma xícara quente.
Ao ficar de pé, sentiu um pouco de tontura e escorou o corpo na parede. A tinta saiu um pouco na sua roupa porque era feita de uma mistura de cal de gesso, que tinha muito dos prédios que caíram e eles misturavam com água e passavam nas paredes como se fosse tinta branca. Dava um aspecto de pronto.
Abriu a porta no momento em que Shikamaru perguntava para Sakura se era verdade o que ela tinha dito a ele, quando estava em crise. Parou e tentou ouvir a resposta, que demorou a vir.
- Sim, Shika, é verdade – conseguiu ouvir o suspiro ruidoso de Sakura – Mas não consigo me ver com ele depois do que aconteceu.
“O que aconteceu?” se perguntou Kakashi e sua mente o levou ao dia em que seu corpo, manipulado pelo Otsutsuki tentou abusar de Sakura. Uma dor forte no peito, como se uma kunai o atravessasse, o atingiu. Embora não fosse ele realmente que tivesse feito aquilo, tinha a noção que seu sentimento e seu desejo por ela tinham sido usados pelo seu hospedeiro.
Apenas ficou ali, encostado na parede que soltava o pó fino de cal que lhe irritava as narinas.
Sakura nunca mais seria sua.
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