Sentada na banheira, Temari deixou a água esfriar. Não dava para esquentar muito a água, não havia um sistema muito bom de distribuição elétrica e a luz oscilava bastante ainda. Um estalo e a luz apagou, mas a mulher não saiu de onde estava.
Nunca em sua vida ela havia imaginado o que tinha acontecido. Pelo que entendera, tinha ficado adormecida em uma outra dimensão durante quase um ano e nesse tempo, seu marido tinha ficado paraplégico e Sakura cuidou dele.
“Cuidou dele” pensou, “cuidou de diversas formas”.
Um frio passou por seu peito. Respirou fundo. Vários pensamentos lhe atravessavam a mente.
“Calma, ele achou que você tivesse morrido.”
“Mas não esperou muito para deitar-se em outra cama”.
“Não havia camas, ele disse, todo mundo se deitava junto em uma tenda, ele disse.”
Na verdade, não tinha como imaginar o horror que tinha sido com todos aparentemente mortos. A dor, a perda deles. Lá estava um memorial improvisado e o nome dela ainda estava lá.
Se fosse com ela, teria morrido de tanta dor, era certo. Não saberia o que fazer, mas certamente não se deitaria com Kakashi, por exemplo.
Sorriu.
Já tinha pensado nisso, uma vez antes de sair com Shikamaru. O diacho do homem era muito bonito.
A porta se abriu e Shikamaru entrou com uma espécie de lampião que usavam antes de estabelecerem a energia elétrica. Entrou a tempo de ver o sorriso bonito dela refletido na água da banheira.
- A água está muito fria? Quer que eu traga mais água quente?
- Quero mais calor sim, mas não da água - ela falou baixo e depois olhou para ele – Entra aqui, Shikamaru, temos algumas pendências para resolver.
Ele ficou alguns instantes parado sem saber se aquilo era bom ou não. Olhou para os lados como se algum tipo de problema apocalíptico pudesse ajudá-lo.
- Vamos, o que está esperando?
A voz dela o tirou dos seus pensamentos e automaticamente ele tirou as roupas.
Como nos velhos tempos.
Shikamaru colocou o pé na água fria da banheira estreita e sentiu frio. Mas não pode deixar de perceber os olhos expressivos de sua mulher em si.
- Não sei nós dois cabemos aqui – ele falou um pouco sem jeito e se sentou nas pernas dela, derrubando um pouco da água no piso.
Ela avançou sobre ele e o beijou. Depois se afastou e voltou a sentar na banheira.
- Senti sua falta – ela confessou – Senti falta de beijar você.
Ele sorriu. Não era um cara muito convencido, mas sabia que beijava bem. E sabia que isso era o que Temari mais gostava.
- Não sorria assim, seu presunçoso! - ela jogou água nele.
E dessa forma, ele ficou sério, muito sério.
- Senti sua falta, Temari. Quando achei que você tinha morrido, uma parte minha morreu também.
- Quer dizer além das suas pernas?
Shikamaru olhou para cima. As memórias das loucuras com Kakashi e Sakura vieram à sua mente e ele olhou de volta para ela.
- Você é tudo para mim, Temari. Será que algum dia você pode me perdoar?
- Eu não sei ainda o que pensar, Shika... - ela brincou com a água - Mas agora estou de volta e vim buscar o que é meu!
Ele sorriu presunçoso novamente. Gostava de ser dela.
A verdade é que ele era dela e ela, dele.
Começou a passar os dedos pela perna dela, despretensiosamente. Observou-a fechar os olhos e suspirar. Desde que ela voltou, não tiveram um momento deles.
- Vamos sair dessa água fria? - ele perguntou, quase implorando.
Temari sorriu e se ergueu antes. Shikamaru contemplou o corpo nu da mulher, a água escorrendo pela pele macia.
Kami, como ele a amava. Saiu da água e abraçou ela por trás. Temari chorou de saudade, de felicidade por estar de volta e ele sussurrou baixinho que a amava.
- Obrigada por me entender, Temari.
- Hoje não quero falar nem pensar nisso – ela respondeu e se virou para beijá-lo com amor, aproveitando a preguiça dele em terminar o beijo, lento, macio, adorável.
As mãos do homem acariciavam a pele dela, fazendo arrepiar. Ele se abaixou e beijou os seios empinados, que mesmo com o nascimento do filho ficaram firmes e redondos. Ela gemeu baixo e ele seguiu o caminho pela barriga e ela acariciou os cabelos úmidos dele.
Amava Shikamaru com todas as suas forças.
Ele beijou entre as suas pernas, coisa que fazia sem pressa, como tudo na vida. E no sexo, isso era uma enorme vantagem. Essa preguiça e calma que era dele, podia irritá-la em outros aspectos da vida em comum dos dois, mas na cama, ah na cama, ela simplesmente podia passar a noite toda nas preliminares dele e nunca ia reclamar.
Ele já estava pronto para ela quando terminou e a puxou para o colo, encaixando seus corpos como nunca havia deixado de ser. Mesmo com as pernas ainda não tão fortes, ele caminhou bravamente com ela até o pequeno quarto e se sentou na cama. Com ela por cima, eles se movimentaram na dança conhecida dos dois.
Shikamaru amava a previsibilidade da intimidade com a mulher, sabia exatamente o que fazer e ela sempre tinha dois ou três orgasmos antes dele.
E essa noite não tinha sido diferente.
O sol entrava tímido pela janela e o vento da manhã acordou Temari. Ela se levantou rápido e se vestiu. Estava ajustando a faixa na cintura quando ele acordou.
- Aonde vai tão cedo? Volta aqui... - ele disse preguiçoso.
- Preciso conversar com a Sakura.
Ele olhou para o teto.
“Complicado”.
Sakura já tinha saído do quarto de Kakashi há horas quando finalmente ele acordou. Sentia-se melhor da perna, mas não podia se levantar. Ficou surpreso quando a porta abriu e Temari passou por ela decidida, fechando logo depois.
- Bom dia? - ele perguntou. Sempre achou a mulher muito intensa para seu gosto.
- Sensei, sei que não somos próximos, acho que nunca conversamos nada além de trivialidades.
Ela usando palavras difíceis acendeu um alerta na mente dele.
- Continue – ele falou.
- O que houve exatamente entre meu marido e Sakura?
Kakashi olhou para ela e ponderou que ali era um terreno desconhecido e perigoso. Ele podia ter enfrentado muitos inimigos, ter estratégias inteligentes, conhecer mil jutsus..., mas o relacionamento humano lhe era um mistério.
- Você conversou com Shikamaru sobre isso? - ganhar tempo era uma boa ideia.
- Eu perguntei para o senhor.
Ele não tinha como escapar.
- Quando eu cheguei aqui, o caos em que estavam era grande. Muitas perdas. Shikamaru em uma cadeira de rodas e Sakura devastada.
“Merda” pensou Temari. Eles vão sempre apelar para isso. Deixou o Rokudaime continuar.
- Eles se apoiaram um no outro, confundir os sentimentos foi inevitável - ele disse.
- O quanto foram profundos esses sentimentos, o senhor sabe me dizer?
- Eu posso arriscar dizer que eles são como irmãos - Kakashi se sentou na cama, tirando a perna de lado com cuidado.
Temari ficou exatamente onde estava.
- Caso não saiba, sensei, irmãos não transam – sentenciou.
Ele riu.
Ela percebeu que ele estava sem a máscara e tinha se dado conta do sorriso lindo que ele tinha.
- Temari, eu estou com a Sakura e pretendo me casar com ela. E não vejo nenhum problema no que houve entre eles. Agradeço ao Shikamaru por estar com ela nos momentos difíceis. Eu sei como é importante alguém em quem se apoiar.
- Quando o senhor chegou, eles já estavam juntos?
A pergunta de milhões. Ele olhou para cima, respirando fundo. A culpa tinha sido dele, Shikamaru nunca iria atrás dela se ele não fosse junto. Aliás foi ele quem empurrou a cadeira do rapaz até a cabana do sítio de obras.
Sorriu ao lembrar.
- Sabe Temari, vou lhe dar um conselho de alguém que viveu mais que você. Isso não é importante, acredite, não é importante – falou enfatizando as palavras – Foi somente uma vez e nós tínhamos bebido bastante...
- Nós?!? - ele arregalou os olhos - Nós quem?
A porta se abriu de repente e Sakura entrou.
- Kakashi Hatake, deixe essa perna para cima, pelo amor de Kami! - se aproximou o suficiente para somente ele ouvir – E feche essa boca!
Temari ficou no mesmo lugar, cruzando os braços.
- Ótimo! Sakura, me esclarece o que aconteceu entre você e meu marido para que eu possa sair daqui e tomar alguma decisão - Temari pôs as mãos na cintura, resoluta.
- Que decisão, Temari? Nós achamos que você estava morta! - a Hachidaime gritou - Você e todos que a gente amava, ficaram só as crianças e os velhos! - ela bradou – Os malditos velhos do Conselho ficaram vivos!
Kakashi olhou para Sakura, mas não se sentiu no direito de pedir que baixasse o tom. Ela era quem era e Temari e os outros deveriam saber disso.
- Isso não me parece uma desculpa para isso, Sakura! Vocês deviam estar de luto, não deviam? Seu marido também morreu.
- Sasuke já tinha morrido faz tempo para mim, Temari e isso é assunto meu – ela respirou fundo – Nossos filhos estavam longe, nós apenas nos seguramos onde deu.
- E isso inclui o pau do meu marido?
Kakashi olhou para cima. “Não ria, não é hora de rir” pensou. Tentou se distanciar, mas lembrou da noite dos três e um sorriso pervertido surgiu em seu rosto.
Mas não passou despercebido por Temari. Nem por Sakura.
- Quantos anos você tem, Kakashi? - Sakura perguntou fingindo brabeza.
Ele não conteve a risada.
Temari iluminou a face tensa. A típica feição de quem teve uma ideia brilhante.
- Eu estava pensando em ir embora com Shikadai depois disso tudo e retornar à Suna, onde é meu lar – ela disse, sem tirar os olhos de Kakashi.
- Não pode deixar o Shikamaru – disse Sakura, aflita – Nem Konoha! Nós precisamos de vocês, precisamos do Shikadai.
Os olhos felinos de Temari fixaram Sakura.
- Shikadai precisa assumir Suna no lugar de meu irmão.
Gaara infelizmente não tinha voltado.
- Mas você e o Shikamaru são importantes na reconstrução de Nova Konoha – Sakura estava quase suplicando – Por favor, não há nada que eu possa fazer para que você mude de ideia?
- Ah tem – ela disse erguendo o canto da boca num sorriso cínico - Tem sim – seu olhar foi de Sakura para Kakashi em segundos – Quero que ele me beije.
- O quê? - Sakura e Kakashi disseram juntos.
- Isso que ouviram – ela pôs novamente as mãos na cintura – Quero que ele me dê um beijo que me convença a ficar, que me faça perdoar essa bagunça que vocês fizeram com Shikamaru.
“Como se o Shikamaru fosse inocente” pensou Kakashi. Mas meio que era verdade, foi o Rokudaime que instigou a coisa toda.
Sakura engoliu seco.
- Mas Temari... Isso não faz sentido – falou baixo.
Fazia sentido sim, naquele contexto louco em que se enfiaram. Olhou para o olhar culpado de Kakashi.
- Ficaremos quites, não é? - Temari continuou.
Sakura fechou os olhos e respirou fundo.
- Kakashi tem que concordar, ele não é uma coisa que possa ser oferecida – ela passou a mão na barriga. Estava maior e ela nem pode curtir a gestação ainda – E depois, por favor, voltaremos ao projeto importante de reconstruir Konoha – sentou-se cansada na cadeira ao lado.
Temari olhou para Kakashi com cobiça. Ele estava sem a máscara então todas a suas reações estavam bem visíveis e ele era péssimo em esconder.
Sua expressão entediada agitou mais ainda Temari. Ele apenas concordou com a cabeça, sem olhar para a sua mulher sentada ao lado da cama. Mas sentia o olhar de Sakura em si e sabia, tinha certeza de que seria punido mais tarde por isso.
Mas a vida de um ninja é feita de sacrifícios.
Temari se aproximou dele e encostou os lábios nos de Kakashi, que permaneceu imóvel, sem mover um músculo.
Ela se afastou, decepcionada.
- Nada feito! Voltaremos aqui para nos despedir mais tarde – e deu as costas para sair.
- Temari, espere... - a voz de Kakashi soou como uma ordem que ela prontamente atendeu, virando o corpo para ele – Quero me desculpar e tentar novamente – ele desceu da cama e caminhou devagar até ela.
Sakura se levantou em protesto, mas ele ergueu a mão na direção dela, como se ordenasse que se sentasse novamente, o que ela fez contra a vontade.
Kakashi piscou duas vezes e segurou a face de Temari. Aproximou os lábios dos dela e a beijou ternamente. Aprofundou o beijo enroscando a língua na dela e ela suspirou.
Ao se afastarem, ela olhou triunfante para Sakura.
- Estamos quites! - ela disse – Embora meu marido beije melhor.
E assim, Temari saiu rindo do quarto de hospital, sem olhar para a bomba que largou.
Sakura suspirou e se levantou de repente da cadeira e com as mãos na cintura encarou Kakashi, que voltara a se sentar na cama e colocava a perna machucada para cima com cuidado.
Ela o esperou se acomodar nos travesseiros altos.
- Sakura – ele falou depois de um silêncio grande entre eles - Você também acha que Shikamaru beija melhor que eu?
- É sério que é com isso que você está preocupado agora? A mulher até suspirou!
O tom de voz dela deixava bem claro que ele estava enrascado.
- Mas Sakura, você viu que ela não tinha gostado da primeira vez, eu tinha que fazer melhor... - vendo que ela ainda o fitava com raiva, emendou – Foi pelo bem da Vila.
- Vou pedir para Kimiko liberar você para ir embora – ela se virou para a porta - Está muito bem, não precisa ficar aqui – e saiu batendo a porta com um pouco de força, derrubando algumas coisas apoiadas na parede.
Logo Kimiko veio sorridente.
- E então, vovô? O que o Senhor aprontou dessa vez? A Hachidaime parecia bem furiosa quando disse para liberar o quarto.
- Não é da sua conta! - ele repondeu sorrindo.
Sorrindo, ela desenrolou e trocou as faixas da perna. A ferida estava realmente bem melhor. A pomada de ervas que Samira deu funcionava muito bem. Ela colocou apenas um curativo simples.
- Posso voltar a treinar, a ferida não vai abrir? - ele perguntou.
- Pode sim, Vovô, está cicatrizando bem. Mas precisa se cuidar, se alimentar bem e dormir bem.
Kakashi não sabia para onde ia. Depois que a menina saiu, ele colocou o uniforme que estava limpo e dobrado em cima da cadeira, junto com a máscara e a bandana. O sharingan de Sasuke havia sido retirado e seu olho, que de alguma forma foi conservado, estava de volta. Sakura até explicou o processo, mas ele ainda estava um pouco sedado e não dera muita importância.
Saiu caminhando devagar. Tinham sido muitos dias internado. Soube que Boruto ainda estava em observação, com Sarada e Hinata vigilantes, afinal todos queriam ter certeza de que não haveria mais perigo.
Para onde iria? Havia a casa onde Shikamaru tinha dito que era dele e de Sakura, mas não tinha certeza se ela o queria lá. Um frio no corpo lembrou-lhe do filho que ela carregava. Toda aquela confusão o havia feito esquecer que Sakura estava grávida.
“Por Kami, sou um homem horrível” pensou.
Decidiu que não importava o que Sakura dissesse, ele iria estar ao lado dela. Se ela não o quisesse mais, se sentaria na porta da casa e ficaria lá. Isso.
Caminhou até a casa e viu a luz fraca acesa. Subiu os degraus da entrada e abriu a maçaneta. O cheiro de comida veio junto com o calor do ambiente. A visão de Sakura com o avental sujo e os cabelos amarrados lhe fez engolir seco.
Ela olhou para ele e sorriu. Um sorriso terno.
- Seja bem-vindo! - ela o abraçou e ele a envolveu de volta – Deixei o banheiro pronto e aposto que quer tomar um banho depois de todos esses dias no hospital.
- Quero sim – ele conseguiu responder. Beijou a testa da mulher e se diirigiu ao pequeno banheiro da casa.
Não queria que ela visse as lágrimas.
Desde quando era tão emotivo?
Viu novamente roupas confortáveis limpas dobradas sobre uma cadeira, ao lado banheira. Então era assim que era ter uma mulher?
- O jantar está pronto!
A voz abafada dela o fez rir. Vestiu-se e saiu para a cozinha. Ainda ajeitava os cabelos molhados quando ela falou:
- Então Kakashi Hatake! Precisamos conversar!
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