- Vai embora.
O encarei sem entender. Kuina estava parado na porta do corredor.
- Está surdo? Quero que vá embora. E se abrir a boca pra alguém sobre o que aconteceu aqui, vai se arrepender amargamente.
Engoli seco. Eu jamais duvidaria das palavras dele. Me levantei e peguei minhas roupas espalhadas no chão.
- Tchau. – Disse após me vestir.
Kuina não respondeu, continuou me encarando com um olhar gélido que me cobria de medo. Suspirei e lhe dei as costas, saindo daquela casa que cheirava à morte.
Cheguei em casa de táxi novamente, meus pais pareciam não ter chego ainda, o que me deixou aliviado. Fui direto ao banheiro, estava me sentindo sujo... E dolorido... Maldito Kuina! Ele me fodeu... Literalmente. Ainda me sentia melado por dentro...
Nojo... Era tudo que eu sentia, além da dor, no momento.
Estava um pouco cedo ainda, mas me deitei na cama desejando que aquele dia não houvesse passado de um terrível pesadelo.
- Subaru! Subaru!
Abri os olhos lentamente e vi minha mãe me encarando com uma expressão não muito agradável.
- Subaru! Não acredito que está dormindo ainda!
Sentei na cama e esfreguei os olhos.
- Sabe que horas são? Era pra você já estar na faculdade!
Tentei ver os ponteiros do relógio na parede... Realmente... Eu havia perdido hora.
- Você é um irresponsável! – Disse antes de sair e bater a porta do quarto.
Suspirei e me levantei, eu já havia perdido a primeira aula na faculdade e não conseguiria chegar à tempo da segunda, liguei para Kazuki e o avisei, ele novamente me chamou de safado perguntando inúmeras vezes sobre a noite anterior.
- Vem aqui em casa após a faculdade que eu vou te contar tudo. – Falei e encerrei a ligação.
Kazuki realmente veio em casa após sair da faculdade.
- Estou sozinho em casa. – Falei – Meus pais estão trabalhando e a empregada está de folga.
- Por isso perdeu hora? O bebê precisa que alguém o acorde?
- Eu me esqueci de ativar o despertador.
Kazuki riu.
- Não foi pra isso que te chamei aqui. O menino que invadiu minha casa aquele dia, quando eu era criança, e-
- Você ainda insisti nisso? – Ele me interrompeu.
- Não foi sonho ou alucinação, já disse! Aconteceu! E agora ele voltou! Kazuki, você precisa acreditar em mim, pelo menos você...
- Subaru... Eu não sei... Sua mãe é psicóloga, ela te avaliou, tanto que você ainda faz terapia por causa disso...
- Me chateia você acreditar na minha mãe e não em mim.
- Ela é profissional...
- Kazuki! Me escuta... Ele voltou, e apesar de eu nunca tê-lo esquecido, ter pensado nele toda minha infância, eu jamais imaginei que seria tão estranho tê-lo por perto.
- Estranho? Por quê?
- Ele é louco... – Encarei o chão.
- Subaru... Ele fugiu de um hospital psiquiátrico, esqueceu?
- É que... Ao mesmo tempo em que ele me atrai e me faz ter vontade de ficar com ele, eu também tenho medo e vontade de fugir.
- Ficar com ele? – Kazuki deu um sorriso malicioso – Safado...
Me sentei com Kazuki no sofá e lhe contei tudo. Tudo mesmo, e ele ouviu sem comentar nada, apenas escutou atentamente. Assim que acabei de contar, suspirei e encarei o chão, senti que havia tirado um peso das minhas costas por ter desabafado.
- Você tem noção da gravidade disso, né? – Falou Kazuki.
- É, acho que sim...
- Acha? Subaru, você foi estuprado e ameaçado! E se tinha tanto sangue por lá, como você falou, ele deve estar matando! Você precisa ir à policia!
- Não! E você não vai abrir essa boca! Eu só precisava desabafar...
- Você nem o conhece direito, como pode ficar tranquilo estando nas mãos dele? – Kazuki parecia preocupado.
- Acha que estou tranquilo?
Kazuki bufou, ficamos em silêncio por um tempo até que ele o quebrou.
- Eu acho que conheço alguém que pode nos contar um pouco mais sobre esse Kuina...
- Como?!
- Conheço alguém que mora na mesma rua onde os pais desse Kuina moravam e foram assassinados...
Estranhei. Como Kazuki estava bem informado desse jeito?
- Sério?
- Era sobre quem eu ia falar pra você, mas você abandonou eu e o Koudai, e justo por quem, por um maníaco psicótico estuprador!
Revirei os olhos.
- Sobre quem você ia me falar?
- Sobre Tomoya.
- Quem é Tomoya? – Perguntei.
- Meu namorado.
Hã?
- Namorado?
- É. Faz uma semana que começamos a namorar.
- E você nunca me falou sobre ele...
E eu o considerava meu melhor amigo.
- Não tive oportunidade e quando fui falar, você me trocou. – Deu um sorriso irônico.
Apenas suspirei.
- Mas então, vai querer conhecer o Tomoya?
Kazuki me levou até a casa desse tal de Tomoya, era um rapaz de cabelos dourados que iam até o ombro, e tinha uma mecha laranja na parte de baixo. Fiquei um pouco constrangido ao vê-los se abraçarem e se cumprimentarem com um selinho.
- Subaru, esse é o Tomoya. E Tomoya, esse é meu amigo Subaru.
- Prazer em conhece-lo, Subaru!
O cumprimentei com um aperto de mão.
- Tomoya, - Falou Kazuki assim que entramos na sala – Subaru conhece o Kuina.
Notei que a feição do rapaz de cabelos dourados mudou, ele me olhou de uma forma estranha, não consegui dizer o que era aquele olhar.
- Você sabe onde ele está?
Não respondi.
- Me fala! – Tomoya alterou seu tom de voz – Sabe onde aquele maldito está?
- Não... – Respondeu Kazuki – Ele não sabe... Tomoyan, se acalme...
- Desculpe. – Falei em tom baixo.
- Tomoyan... O Subaru quer saber o que você sabe sobre o Kuina... – Kazuki segurava a mão do namorado.
- E o que eu ganho falando? – Seu olhar estava em mim.
- Eu posso tentar descobrir onde o Kuina mora, se é o que você quer. – Tentei parecer convincente.
Kazuki me encarou receoso. Tomoya apenas riu baixo e se sentou no sofá, puxando Kazuki para o seu lado, eu me sentei no sofá de frente à eles.
- Conheço Kuina desde que éramos crianças, - Tomoya começou a contar – Eu não me lembro bem daquela época, porém, minha mãe dizia que ele era uma criança estranha, que não brincava e não convivia muito com as outras da vizinhança. Meus pais eram super amigos dos pais dele, viviam fazendo jantares juntos e festas. Eu só me lembro de que quando Kuina foi internado pela primeira vez, minha mãe me disse que ele estava doente. Quando ele fugiu e depois veio pra casa se vingar, foi um choque, apesar de todos da vizinhança já saberem que ele era doente, ninguém esperava que ele pudesse fazer o que fez.
- Foi ele mesmo quem matou os pais? – Perguntei, com medo da resposta.
Tomoya riu baixo.
- Claro que foi. Era o que ele mais desejava fazer... Alguns anos depois ele foi internado novamente e em uma sala de isolamento, com camisa de força... Kuina foi diagnosticado como insano, porém, não acredito que ele seja.
Eu não sabia o que dizer.
- E ele escapou ou teve alta do hospital? - Kazuki perguntou.
- Escapou há umas três semanas atrás.
Respirei fundo e encarei o chão.
- Subaru... – Tomoya me chamou – Eu não sei que tipo de relação você tem com Kuina, mas eu entrei para trabalhar como enfermeiro no hospital do qual o Kuina foi paciente e só te digo uma coisa: Tome cuidado. Kuina não é uma pessoa comum como nós, ele realmente é doente.
Apenas balancei a cabeça de forma afirmativa.
- O Kuina sofre de Distúrbio de Personalidade Dissocial.
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