"A maldade tem apenas uma motivação: a busca insana pela superioridade"
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Por mais que para mim fosse motivo o suficiente parece que, para minha mãe, ter um coração partido não era o suficiente pra me fazer faltar uma semana na escola.
Mesmo chateada, eu sei que ela tá certa, então nem argumento. Não tem o mínimo de ânimo pra isso, mas não posso ficar fugindo pra sempre. Natsu é meu vizinho, de toda forma. Uma hora ou outra eu vou acabar vendo ele.
Hoje era sexta-feira. Domingo meu irmão viria para casa pra finalmente dizer seja lá o que for. Ele não sabe de nada que aconteceu. Se soubesse, duvido que Natsu estaria vivo agora. Já conversamos entre nós e fizemos Sting prometer que não diria nada. Mesmo a contragosto ele aceitou, certeza que queria que Laxus terminasse o que ele começou.
Me sinto péssima por tudo isso que aconteceu com o Natsu, não queria que ele apanhasse. Sting foi muito bruto e passou dos limites, então mamãe deu uma bronca daquelas e o deixou de castigo. Ele já tá subindo pelas paredes por não poder usar o celular e fica dizendo que só fez o que era certo. Ninguém aguenta mais ouvir essa ladainha pela casa.
— Já tá pronta? - Minha mãe abre uma fresta da porta e coloca a cabeça.
— Estou prontíssima para o corredor da morte, carcereira! - Ela revira os olhos pelo meu drama.
— Você sabe que não pode ficar faltando, senhorita. E se esconder não vai resolver seus problemas. - Ela colocou as mãos em minha bochechas e ficou me encarando antes de suspirar. — Vamos, eu vou te levar. - Sigo ela em direção a saída de casa. Parece que ela não ia levar apenas eu, mas também a trupe toda. Michelle e Sting já estavam no banco de trás do carro. Michelle com seu sorriso animado de sempre e Sting com a mesma cara que vinha fazendo nos últimos dias.
— Animada pra voltar pra escola, Lu? - Minha irmã pergunta sorridente.
— Nem um pouco. - Sorrio forçado.
— Não tem com o que se preocupar. Ele não tá indo. Acho que tem medo de apanhar. - Ele que Sting diz é o Natsu. Ele deve estar todo acabado, a surra que levou não foi pouca.
Subitamente me lembro que estamos em época de treino. Tanto para nós líderes de torcida quanto para os jogadores. Natsu era da titular e não estava indo, ele ia ter sérios problemas com meu irmão. Talvez, destituído da equipe e virar reserva ou até pior. E eu? Minha nossa a Minerva podia chutar minha bunda e me tirar de vez da torcida. Ela era paciente, mas aquela equipe é importante pra ela e eu não tô colaborando. Além de que a essa altura ela já sabia que eu tinha "ajudado" a fazer ela de corna. Que droga! Tudo ta uma merda esses dias, não sei nem o que fazer.
Quando chegamos na escola, todos os olhares se voltaram pra mim. Eu tava me sentindo um animal em um zoológico. Cochichos e tudo mais. Eu não faço ideia de como esse abutres descobriram essa história - talvez, porque algumas pessoas daqui moram perto de casa e devem ter escutado o fuzuê - e fico mais impressionada ainda que Laxus não esteja sabendo. Tenho certeza que ele não sabe, porque se soubesse já tinha vindo tirar satisfação comigo.
Vou caminhando pelos corredores com a cabeça baixa, tentando evitar qualquer contato visual que seja. Sting estava do meu lado e tenho certeza que mandava olhares raivosos para todos os que ficavam, claramente, falando sobre o assunto.
Decido que eu não devia ficar de cabeça baixa. Quem não deve, não teme. Eu não fiz nada… Só fui uma tola apaixonada.
Assim que levanto o olhar vejo Minerva na minha frente. Ela desvia o olhar quando me vê e acelerou o passo pra passar o mais rápido possível por mim. Ela tava tão cabisbaixa. Nunca a vi assim.
Na sala eu me sento no meu lugar tentando, falsamente, me manter alheia a tudo. Eu conseguia ouvir alguns dos comentários maldosos feitos e eles machucavam.
Eles variavam entre "Eu sempre soube que essa aí não valia nada" e "Ouvi dizer que o Natsu não foi o único namorado que ela roubou. Toma cuidado."
Por que diabos eu tava levando a culpa daquilo?! Isso é um inferno.
— Silêncio! Todos em seus lugares. - A chegada do professor na sala fez tudo aquilo parar. Nem ao menos ouvi quando o sinal tocou, mas isso era o de menos.
Na hora do intervalo eu decidi passar no banheiro antes, péssima ideia.
Por mais que eu odeie admitir, tem muitas pessoas maldosas nessa escola e eu dei a sorte de bater de cara justamente com algumas delas.
— Fiquei sabendo que agora você também é fura-olho, Heartfilia. Como você é terrível! Além de medrosa é talarica… que horror! - Ikaruga. Minha maldição. Ela me importuna desde os momentos que coloquei o pé neste lugar. Quando cheguei aqui eu era uma garotinha traumatizada pela morte prematura do pai, tinha medo de tudo e todos. Essa fulaninha quando percebeu, não pôde deixar de destilar seu veneno pra cima de mim. Ela armava as piores situações possíveis para me assustar e o pior é que conseguia. Nunca entendi o que a levava a fazer isso. Eu nunca fiz nada contra ela, mas parece que isso não a impedia de me odiar. Claro, depois de um tempo e muita terapia, ela já não conseguia me atingir e parece que isso tornou seu desprezo por mim 10 vezes pior do que já era. — Você é uma garota muito má, Lucyzinha. - Me enojava quando ela falava assim comigo. Apesar de parecer inofensivo, eu sentia o repúdio na voz dela.
— Não enche, Ikaruga. Tô sem ânimo pra isso.
— Olha como ela ficou respondona! Tá precisando de educação, viu? Seus pais não te dão isso em casa? - Eu queria tanto bater nela. — Ah, é! Você não tem pai! Deve ser por isso que é tão malcriada! - Ela ainda teve a coragem de dizer isso como se fosse algo tão simples. Eu odeio ela. Eu nunca achei que houvesse espaço pra esse sentimento aqui no meu peito, mas essa maldita conseguiu!
— Cala a boca! Qual o seu problema?! Por que não me deixa em paz?! Eu nunca te fiz nada!! - Naquela hora as lágrimas já desciam pelo meu rosto. Esse dia tava sendo o pior possível.
— Tsc. Como eu dizia, malcriada. Talvez eu devesse te dar uma lição, não é, garotas? - Ela se vira para sua trupe que a seguia de um lado para outro como cachorrinhos abanando o rabo.
— É? E você teria essa coragem com a gente aqui? - Escuto a voz de Erza e consigo me acalmar. Mais uma vez ela vem me salvar.
— Ninguém te chamou aqui, Scarlet. - Ela com toda certeza não gostou da interferência.
— Se você tá enchendo o saco da minha amiga, eu não preciso ser chamada pra quebrar a sua cara.
— Tanto faz. Não vou perder tempo com essa inútil. - E sai com suas fiéis seguidoras.
— Vagabunda! Odeio essa garota. - Levy pragueja.
— Você tá bem, Lu? - Escuto a voz de Juvia e em seguida sinto ela me abraçar.
— Por que essas coisas tem que tá acontecendo? Eu sou uma azarada do caralho! Devo ter nascido com a bunda virada pro inferno! - As lágrimas já desciam pelo meu rosto.
— Não fala assim, meu bem. Isso não é azar, você não é azarada. Isso é maldade. Tudo que aconteceu é a maldade das pessoas. - Logo sinto o abraço de todas elas ao meu redor. Ficamos um tempo em silêncio enquanto eu tentava me acalmar. O choro rapidamente cessou. Fico feliz de não ter tido uma crise. Antigamente num momento desses eu teria passado mal, mas graças aos anos de terapia eu consigo me controlar melhor. E acho que a presença das meninas também causa isso em mim. Mesmo que a maldita tenha tocado numa ferida tão profunda, eu consegui ficar bem.
— Por que vieram atrás de mim?
— Você estava demorando e ficamos preocupadas. Ainda bem que viemos. - Lisanna fala pela primeira vez desde que entrou ali. Ela não é muito de falar ou dar apoio moral, porque, como ela mesma diz, ela não é boa nessas coisas. Mas só sua presença é o suficiente pra me deixar calma. — Eu juro pra vocês que eu vou quebrar a cara daquela bruaca! Vocês vão ver! Vou dar um soco de direita bem no queixo dela! - Ela ficava pulando de um lado para o outro e fazia movimento como se estivesse dando socos. Aquilo foi o suficiente para que eu desse uma risada. Acho que eu consideraria esse o seu "apoio moral". Sendo ruim com as palavras, ela compensa levantando meu ânimo e me fazendo rir.
— Então vamos todas! Tirar aquela arrogância dela na porrada! - Juvia se levanta subitamente animada.
— Eu topo! - Digo um pouco mais animada.
— Não preciso nem dizer. - Não mesmo, Erza. Sei o quanto você adoraria quebrar ela no meio.
— Eu sou contra a violência, mas pacifismo nenhum me impediria de quebrar a cara dela! - Até Levy entrou nessa.
— Eu amo vocês. De verdade. - Digo entre gargalhadas.
— Nós também te amamos. - Erza diz e então suspira. — Mas eu tô falando sério. Eu vou quebrar a cara daquela mulher. Nunca entendi tanta implicância com você. Você não faz mal nem pra uma mosca.
— Também nunca entendi. Mas não dá pra saber o que se passa na mente das pessoas, né?
— Acho melhor a gente ir logo, sabe? Eu tô com fome e o sinal vai tocar em uns 8 minutos. - Concordo com a albina. Eu também estava com fome e não queria ter que passar as próximas 2 horas de barriga vazia.
— Esse povo olhando tanto me incomoda. - Digo baixinho enquanto caminhava em direção ao refeitório.
— Vou arrancar os olhos deles, aí quero ver ficarem olhando o que não é da conta deles. - Minha ruivinha, sempre tão carinhosa.
Quando chegamos na cantina para poder comprar algo, vimos que só sobrou 2 míseros enroladinhos que provavelmente nem de hoje eram, mas mesmo assim decidimos arriscar. O que não mata não engorda, né? Compramos os dois e dividimos entre nós cinco, até que o gosto tava aceitável. Deve ter menos de uma semana, acredito que não vamos ter uma intoxicação alimentar por conta desse enroladinho. Bem, eu espero.
O sinal tocou e logo fomos para a sala. O resto das aulas passou de forma tão tediosa que eu quase dormi lá.
Quando estávamos arrumando os materiais para sairmos eu decido tirar uma dúvida que tá martelando faz um bom tempo.
— Não tá tendo treino?
— Não. O diretor deu a semana de folga pra gente quando a Minerva decidiu que ia sair da equipe.
— O QUE?! - Gritei tão alto que até algumas pessoas que estavam no corredor pararam para ver o que estava acontecendo. Diminui minha voz e continuei. — Mas, como assim? Ela ama aquela equipe.
— Sim. E todo mundo sabe disso, por isso a folga. O diretor sabe que ela ta com a cabeça quente e tava tomando a decisão por impulso. As notícias nessa escola correm na velocidade da luz. Sinceramente, como que seu irmão não disse nada ainda? - Lisanna fala algo que eu também não estou sabendo.
— Não tenho a mínima ideia. Mas é melhor assim. - Dou de ombros. — E… - Exito antes de falar — E os treinos dos meninos? - Elas entendem onde eu quero chegar e fazem uma cara triste.
— Eles não tiveram folga, Lu. Eu sinto que mesmo sendo o capitão e uma peça importante do time, tantas faltas assim vão acabar tirando ele da equipe. Sabe que seu irmão não é tão paciente. - Eu não conseguia deixar de me sentir culpada por algo que o Sting fez. Natsu sempre me disse o quanto ele amava jogar e eu podia ver isso no brilho em seus olhos.
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