Busan, Distrito, Sala do Café, Segunda-feira 11:01h
POV LEE
Que manhã tranquila… para nós, pelo menos. Eu e minha menina estávamos apenas recebendo novos recrutas e os ajudando com as malas, com os quartos e com os primeiros procedimentos. Porém, eu sabia que Mina e Moon estavam andando pelo lugar e iriam aparecer a qualquer momento.
— Cappuccino duplo com uma barrinha de chocolate? — perguntei para Lisa com um sorriso.
— Céus, você me conhece tão bem… — ela riu — Sabe… você é muito cuidadoso, eu acho isso incrível. Detalhista, sabe?
Concordei com um sorriso enquanto eu preparava o café dela.
— Eu gosto de cuidar das pessoas.
— E de filhos? Você gostaria de cuidar dos filhos?
Ouvi passos no corredor e vozes femininas, aquele andar era basicamente formado apenas de homens, então ela supôs que era nosso alvo.
— Sinceramente, Lisa? Eu não gosto de crianças — respondi mais ríspido — Não acho que seja a hora de eu ser pai, e eu nem sei se quero ser, na verdade.
— Você… seria um ótimo pai, Lee — Lisa disse um tanto baixo.
— Eu acho que não. É por isso que a gente se cuida tanto, né? Você, principalmente. Acho que uma criança agora poderia estragar tudo.
Céus… que frase monstruosa de se dizer.
— E-estragar tudo?
— Somos jovens, podemos curtir o mundo e viajar bastante. Você não quer conhecer o mundo comigo?
— Sim… sim, eu quero!
— Então! Uma criança agora estragaria os nossos planos, você não acha? Colocaria tudo a perder. Mas… por que está me fazendo essa pergunta?
— Eu só queria saber.
— Bom… hoje eu não me vejo com filhos, nem agora, nem daqui a alguns anos. Quem sabe depois de mais maduro, mas agora… definitivamente, não.
Entreguei o cappucino para ela, que me indicou a porta com os olhos.
— Eu preciso ir agora, podemos jantar juntos.
— Claro — ela concordou com uma voz meio fraca — Te amo!
— Idem — disse num sorriso e saí dali. Como imaginado, as duas cobras estavam paradas no corredor e, quando me viram, me olharam com desprezo. Eu só continuei meu caminho, não podia ficar ali agora, nem para dar suporte para a minha menina.
Busan, Distrito, Sala do Café, Segunda-feira 11:11h
POV MINA
— Escroto. Aborto da sociedade — reclamei depois que ele já foi embora.
— Sossega — ditou Moon, entrando na sala de café.
A garota parecia chorar baixinho no canto, com a mão sobre a barriga, enquanto tentava fragilmente se esconder atrás do copo de chocolate.
— Oh, meu amor… o que foi?
— E-ele… ele… não quer um filho, Mina — Lisa disse com tanta dor em seu choro que meu coração chegou a pesar.
— É um monstro… isso que ele é — ditei para ela.
— Você está grávida, Lisa? — Moon perguntou só para ter certeza.
— Sim — ela secou as lágrimas — Oito semanas. Céus… logo eu não vou mais conseguir esconder a barriga dele, e o que eu vou fazer? Ele não quer, e se souber que eu vacilei? Foram dois dias sem tomar o anticoncepcional e… aish… agora…
— Calma, querida, calma… — pedi, acariciando seu ombro.
— Eu vou tirar — ela disse mais convicta, limpando as lágrimas.
— Tirar?! — perguntei — Oh, Lisa… isso é muito complicado.
— Sim, tirar. Ele ainda é pequeno, não fez doze semanas, eu posso tirar.
— Lisa, por favor… pensa um pouco mais sobre isso — pediu Moon.
— Você… não quer ter a criança ou não quer por causa dele? — perguntei, tentando entender a situação.
— Eu amo meu namorado… amo ele mais do que tudo. Se ele não quer… — ela respirou fundo, enxugando um pouco mais o rosto — Eu também não quero.
Encarei a moça por alguns segundos, seu semblante triste, sua voz embargada. Tirei de dentro da carteira um cartãozinho rosa e entreguei para ela.
— O que é isso?
— Eu faço parte de uma ONG que visa diminuir casos de aborto e dar todo o suporte para mulheres que escolhem esse caminho tão difícil. Eu já tive um aborto… e isso me marcou muito. É difícil, Lisa… muito difícil. A gente veio se despedir da equipe, estamos de partida, mas essa ONG é uma das melhores do país. Por favor… dê uma chance, converse com elas, são pessoas muito boas e gentis.
— E-eu… não sei.
— Por favor, fica com o cartão. E… — tirei outro cartão do bolso, com meu numero pessoal — E se você quiser desabafar sobre isso, sobre essa… dor, pode me ligar ou mandar mensagem. Lisa… por favor, pensa com carinho.
— Você é uma mulher tão gentil — ela disse baixinho — Obrigada, Mina. Obrigada com todo o meu coração.
— Eu só quero o seu bem, querida. Então… até mais. E me ligue.
— Eu vou — ela deu um sorriso fraco, muito fraco, mas foi o suficiente naquele momento. Desamparada… ela precisava de pessoas para ajudar a passar por isso. Pobre Lisa… preferindo homem ao invés do seu próprio filho.
Saímos da sala de café e andamos pelos corredores vazios, os saltos fazendo um suave barulho.
— A gente vai embora, então?
— As investigações foram inconclusivas e estão procurando cabelo em ovo. Obviamente não conseguiram nada contra a gente, podemos sair do país o mais rápido possível.
— E quanto à Lisa? — perguntou Moon.
— Ah… a Lisa… ela precisa de ajuda pra entender que um filho é mais importante do que qualquer macho escroto. E nós, querida Moon… vamos ajudar nisso. Do nosso jeitinho.
Busan, Distrito, Sala Trinta , Segunda-feira 14:13h
Uma semana depois
POV LISA
Almocei tranquilamente, sozinha para não dar tanto na cara, também fiquei com meu melhor semblante chateadíssimo e sem saber o que fazer da minha vida, caso eu estivesse sendo vigiada. Juntei papéis completamente aleatórios em pastas que nem eram daquele setor e levei para a sala Trinta, onde os rapazes estavam tentando encontrar mais qualquer pista que seja, porém, não tinham mais sucesso.
— Uh, quanto homem bonito — entrei na sala, sorrindo para eles.
— Ah, é o meu cabelo, eu lavei — riu Yoongi.
— Maravilhoso como sempre! Bambam, nunca foi tão bom te ver — abri um sorriso para ele — Oh! Namjoonie! Horas iguais, faça um pedido!
— Eu quero… uma pista para o caso.
— Nada nesta mão, nada nesta… mas OH, o que é isso?
Levei minha mão para a orelha de Jimin que estava sentado mais próximo de mim e mostrei um cartãozinho para eles.
— O que é isso? — perguntou o Park.
— Isso, querido, é um cartão de uma clínica de amparo a mulheres que querem abortar. É uma das poucas em Busan, a ONG é antiga, eu chequei.
— Oh, eu posso adivinhar quem lhe deu! — riu Bambam.
— Meu truque impressionou mais do que o seu hoje, Bamie! — disse rindo — Eu estou de oito semanas, desesperada, Lee odeia a ideia de ser pai e eu amo mais do que tudo nesse mundo, então…
— Então você escolheu o namorado ao filho — Jin ponderou, completando a minha frase.
— Você é genial, Lisa! — elogiou Namjoon.
— Ah, eu sou! E eu tenho mais uma informação pra vocês, meus amores, mas eu quero ganhar um chocolate por isso — brinquei, já que tinha barrinhas de chocolate dentro de uma cestinha sobre a mesa.
Jimin apenas pegou a cestinha toda e me entregou, me fazendo rir. Eu peguei apenas uma barrinha e devolvi o restante.
— Eu não sei se vocês sabem… mas a Mina e a Moon vão sair do país.
— Elas podem fazer isso, certo? Não pegamos nada inconclusivo e elas não se opuseram a nenhuma ajuda — comentou Yoongi.
— Exatamente — eu disse num sorriso — Mas… ela comentou com alguém que estava de malas prontas pra ir embora?
— Não, com a gente, não — garantiu Namjoon.
— Nem com a Chaerin noona, ou mesmo com qualquer um da gerência — garantiu Bambam.
— Maravilhoso!! E o que a gente faz agora?
— Checamos todos as passagens de vôos saindo de Busan ou Seoul pela próxima semana, procurando qualquer uma que tenha o nome da Mina ou da Moon — disse Jin, já se levantando,
— Vou dar uma olhada nessa ONG e ver se a Mina ou a Moon tem alguma relação de longo prazo com ela ou se foi apenas agora — indicou Jimin.
— Eu vou esperar até amanhã pra ligar na ONG e pegar os horários, vou me fazer de difícil.
— A partir de agora, temos que tomar muito, muito cuidado — indicou Bambam que logo se colocou em pé — Bom, eu vou falar com algumas pessoas.
— Pessoas? — perguntei.
— É, uns amigos aí de longa data! Temos que garantir que você não vai ficar machucada, certo? — ele me olhou com um belo sorriso e por algum motivo… eu soube com quem ele iria falar.
Busan, Distrito, Terça-feira 09:02h
POV HOSEOK
Renovado, eu diria. Todos os meus machucados estavam completamente cicatrizados, eu já tinha parado de tomar os remédios e finalmente podia voltar para a minha rotina, agora que as férias tinham acabado. Com isso, Jungkook e Taehyung também puderam voltar.
Quando entrei na sala, Chaerin já estava com a sua caixinha pronta para liberar a minha mesa, o que me fez rir e isso me fez ser notado.
— Você chegou — ela sorriu — Bem-vindo de volta!
— Obrigado por ter cuidado tão bem das coisas enquanto eu estava fora.
— Ah, que isso! De verdade? Eu amei isso aqui. Hope… você conseguiu reunir pessoas maravilhosas trabalhando com você. Gente tão… querida! E tão talentosa naquilo que faz.
— Eu escolhi os melhores mesmo — disse num sorriso — E eu acho que você se enquadra perfeitamente aqui.
— Ah, nem me diga, eu daria tudo pra ter trabalhado anos em um lugar tão maravilhoso.
Ela deixou a caixa sobre a minha mesa, deu a volta e me abraçou com força, aquele abraço que dizia muito mais sobre ela do que as palavras ou atitudes poderiam.
— Vou sentir falta daqui — ela disse baixinho.
— Eu acho que não.
Quando ela me soltou, ouvimos batidinhas na porta e a habitual cabeleira do Taehyung, agora novamente castanha, entrou na sala. Ele trazia uma pasta em suas mãos e um sorriso retangular no rosto.
— Chaerin noona? O Trigésimo Distrito tem uma proposta para fazer.
— Proposta?
— Sabemos das suas habilidades e do seu currículo impecável. Recentemente, eu deixei o meu posto de chefe de perfilação, para me dedicar ao posto de secretário geral do Distrito. O cargo de chefe de perfilação, porém, não pode ficar com o Bambam por causa da sua idade.
— Então… você…
— Sim — eu concordei — Estamos oferecendo o posto de chefe do setor de perfilação, local que Bambam foi acolhido e cuida praticamente sozinho. Ele precisa de direcionamento, apesar de estar terminando o mestrado, ele ainda é uma criança superdotada que precisa de alguém íntegro e justo para lhe mostrar o caminho.
— E você quer que eu seja essa pessoa?
— Eu não vejo uma pessoa melhor — concordei num sorriso.
Chaerin me encarava com os olhos amendoados, como se esperasse que eu estivesse brincando, mas não estava. Notando isso, seus olhos se encheram de lágrimas e ela me abraçou novamente com muito carinho.
— Eu não tenho como agradecer.
— E você acha que eu tenho como agradecer tudo que você já fez por mim? — perguntei com os olhos marejados também.
— Aish, vou borrar toda a maquiagem.
— Tem um espelho bonito na sua nova sala — Taehyung indicou com um sorriso — É toda sua.
— Ah, céus, como eu sou mimada nesse lugar! Nem parece que eu não tenho um dia de paz nessa caralha de delegacia.
Rindo, Taehyung entregou a pasta para ela.
— Olha com calma, veja os valores, quando assinar, o seu novo secretário vai poder levar pro RH.
— Eu tenho um secretário?
A porta se abriu com um estrondo e por ela entraram dois rapazes discutindo.
— É impossível você saber que eu transei só porque a musculatura do meu pescoço está relaxado, Bambam, qual é?
— Sehun hyung, você está de bom humor, sabe quando foi a última vez que isso aconteceu? Pois é, eu também não, porque desde que a gente se conhece, você não transa!
— Senhores? — Taehyung segurou o riso ao chamar os dois
— Oh, sim, sim. Oh Sehun se apresentando para o cargo de secretário da chefa de perfilação, Lee Chaerin!
— É sério isso? — ela perguntou.
— Ele que quis — garantiu Taehyung.
— Eu pedi pelo cargo porque quero, muito, continuar trabalhando com você, Chaerin.
— Eu também quero, Sehun. Será um prazer trabalhar com vocês.
— Bom, já que estamos em casa… que tal uma história nova, Hope hyung? — perguntou Bambam.
— Eu já estava com saudade das suas histórias, Bambam. O que vamos ouvir hoje?
— Vamos falar sobre… o caso literário, o que acha?
— Parece ser uma história incrível.
Então, novamente, nos sentamos nos sofás da sala para ouvir, atenta e paciente, mais uma história do Bambam.
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