Enquanto caminhava pela fazenda, Charlotte foi conhecendo a planta do casarão, a cada 200 metros podia encontrar alguém ou algum animal e ela até parou para falar ou fazer carinho neles, mas parecia que ninguém queria lhe ser amigável.
- Sério que aquele caipira meia boca fez a minha caveira para todos nessa fazenda?! - Charlotte resmungou lembrando que Grey havia dito que Yami falou mal dela.
Mas nem os porquinhos do rancho queriam contato com a loira e isso a deixou, de fato, indignada.
Parecia que seria mais difícil do que ela esperava fazer com que confiassem nela.
Charlotte deu a volta pela casa principal e quando já havia gravado o lugar, desceu pela pequena trilha de flores atrás da casa para ver onde iria dar, até ver uma gigantesca hortaliça, bem cuidada e tão próspera que parecia de mentira.
Puxando sua câmera fotográfica sem pensar, ela tirou sua primeira foto e depois mais e mais até notar que não estava sozinha.
- Gostaste de vê? - Quem perguntara foi Charmy, a cozinheira que foi apresentada à Charlotte por Finral horas mais cedo, quando ela entrou na cozinha.
Ela estava agachada de costas para a loira, então tudo o que a Roselei via era seu chapéu e seu cabelo preto, solto pelos ombros.
Charmy era baixinha, então facilmente poderia ser confundida com uma criança.
- É… surpreendentemente… parece de mentira, de tão bonito que é… - Charlotte foi sincera, guardando a câmera e esperando não ter sido flagrada, já que a morena não se virou para olhá-la.
- Sim. Eu chamar de minhas tesouro verde… - Charmy também tinha sotaque estrangeiro, embora tentasse sempre falar certo.
Charlotte se agachou ao lado dela e passou a observar o que a morena fazia, em silêncio, para não atrapalhar.
Charmy colhia algumas verduras, e no lugar dava um breve trato na terra para logo plantar outra semente ou raíz.
O vestido branquinho da morena sujava na barra por conta da lama, mas ela não parecia se importar, ela era uma só com a natureza.
Após um longo tempo observando o trabalho de Charmy e vendo que a mesma não se importava de ser observada e muito menos tentava puxar assunto, Charlotte se levantou, voltando a caminhar pela fazenda, atrás de novos caminhos.
O cheiro de terra molhada era forte e a grama estava bem verdinha e aparada abaixo dos pés da loira, que procurava algo que pudesse fazer.
Até que a mesma chegou aos estábulos e avistou Finral.
- Oi! - Ela cumprimentou com um sorriso, mas o mesmo parecia estar mal-humorado e nem sequer lhe respondeu.
Mesmo assim, Charlotte não desistiu e entrou no recinto, se aproximando do loiro, que escovava um cavalo de raça concentrado.
- Olá…
- Não deveria estar aqui. - Finral foi direto e pela falta de sutileza, o sorriso de Charlotte também morreu.
- O que houve? Eu te fiz alguma coisa?
- … você não é bem-vinda aqui, o que significa que enquanto estiver presente, devemos te tratar com hostilidade. Desculpa, senhorita Charlotte, mas poderia se retirar? Tenho trabalho a fazer… - Finral pediu e mais uma vez Charlotte compreendeu que não era culpa dele, mas de Yami, então ela resolveu pensar em alguma atitude para tomar.
Pegando uma escova extra no balde ao pé da entrada do estábulo, depois de observar como Finral fazia, Charlotte se aproximou de outro cavalo e lhe fez um carinho para ganhar a confiança do animal.
Quando Finral finalmente reparou no que ela fazia, a loira já penteava gentilmente a crina de um cavalo todo negro, que apesar de parecer indomável, estava todo manso e receptivo nas mãos da Roselei.
- Como fez isso?! - Finral perguntou chocado.
- Isso o quê? - Charlotte perguntou, ainda escovando os cabelos do cavalo, tranquilamente.
- Já teve contato com cavalos antes, Cha-Cha? - O loiro perguntou voltando a sorrir.
- Não desta forma. - Ela respondeu sem desviar o olhar do animal e fazendo carinho no mesmo.
- Ele gostou de você então… - As palavras de Finral morreram no ar e após isso, nenhum dos dois trocaram muitas palavras, já que haviam muitos cavalos ali para cuidar.
Charlotte continuou ajudando por horas, até sua barriga roncar e, parecendo ter escutado, Finral lhe arrastar com ele para almoçarem.
Ninguém tratara ela de forma ruim desde o início, mas havia uma rejeição quase palpável entre os moradores da fazenda e Charlotte, sabendo disso, dificilmente se sentia confortável, mas não podia voltar atrás na sua decisão.
Em algum momento, após o almoço, enquanto descansavam sentados na varanda do casarão, Finral deitado na rede e Charlotte sentada num branquinho de madeira perto do murinho da varanda, ela sentiu falta de algo.
Sua câmera fotográfica!
- O que foi? - Finral perguntou ao reparar que Charlotte se levantou alarmada.
- Eu perdi uma coisa… - Ela tateou seu próprio corpo por cima da roupa, como se fosse possível manter uma câmera escondida ali sem deixá-la cair.
- O que era? Se quiser, posso te ajudar a encontrar… - Ele se ofereceu e Charlotte gelou.
Ela não podia contar para ele e nem ninguém ali que estava tirando fotos, iriam contar para Yami e ele com certeza não ia entender de uma forma muito boa.
- Tudo bem, não era… - Ela se interrompeu.
Seu olhar se fixou na figura masculina que caminhava a passos largos até a varanda, mais especificamente na mão direita dele, que carregava uma máquina fotográfica levianamente.
"Tarde demais…" - A loira pensou desesperada.
Yami havia voltado, não só por causa da hora do almoço, mas seu olhar bruto mirava o rosto de Charlotte que caiu sentada em seu banquinho se xingando mentalmente por ter relaxado tanto.
- Patrão. - Finral ficou rígido de imediato, a presença do chefe causava esse efeito em muitas pessoas e com ele não era diferente.
Mas naquele instante, Yami estava especialmente ameaçador. Até Charlotte quis se encolher quando ouviu o tom grave da voz dele.
- Já terminou no estábulo? - Yami perguntou direto e recebeu um aceno de cabeça positivo.
Finral olhou para Charlotte de soslaio, sabendo que não poderia dizer que ela lhe ajudou, mas ele não gostava de mentir, então foi Charlotte quem negou com a cabeça para que só o loiro visse.
- Ótimo.
- Veio só para almoçar? - O loiro tentou soar naturalmente calmo.
- Não. Já acabamos com o trabalho pesado hoje, agora tenho que resolver outro problema. - O moreno falou seguindo o olhar de Finral até Charlotte, que desviou o olhar para outro lugar além de sua câmera na mão do brutamontes.
- É algo sério? - Finral se preocupou.
- Leve a senhora ambientalista até meu quarto após o meu almoço. Tenho uma conversa séria com ela. - Yami respondeu sem dar detalhes e fazendo a loira praguejar mentalmente mais uma vez, antes do moreno entrar dentro da casa e sumir de vista.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.