- Parada Respiratória! Aidan rápido! Faça respiração boca a boca! – falou Henrique ao ver Alam.
Eu nem havia notado nada, me assustei bastante quando ele falou rapidamente para eu fazer respiração boca a boca, claro que não demorei nem um pouco e já comecei. Estava difícil cuidar de Alam naquele carro correndo em alta velocidade, mas mesmo assim eu continuei atento e protetor não tirando minha atenção dele em nenhum momento.
- Não precisa ser rápido, o ritmo normal já é o bastante.
Diminui o ritmo da respiração, eu estava um pouco desesperado com medo que Alam morresse, assim fiquei indo rápido e até mesmo quase desmaiando. Foi a primeira vez que fiz, eu não sabia direito, mas sorte que já pesquisei muito sobre isso, só que fazer pela primeira vez estando nervoso foi complicado. Depois de um certo tempo Henrique colocou a mão no meu ombro chamando minha atenção.
- Descanse um pouco, ele já voltou a respirar sozinho.
- Como tu viu que ele parou de respirar? Está de noite e pouco iluminado, sem contar que o carro está em alta velocidade. – falei um pouco espantado enquanto arrumava o lençol em volta de Alam e o abraçava.
- Achou que ele iria fazer som estando desmaiado? Eu vi pelos sintomas quando passamos por uma luz, a caixa torácica dele não se movia sozinha, os lábios estavam ficando roxos também e quando botei minha mão na frente do nariz não senti sua respiração.
- Tu falando tão tranquilamente esse tipo de coisa ainda me assusta e sempre irá.
- Isso porque tu não viu ele explicando tudo quando disseca pessoas. – agora foi Sebastian falando tranquilamente enquanto corria com o carro desviando de tudo.
- Vocês são bizarros... Ah! – gritei quando Sebastian fez uma curva fechada em alta velocidade – Sebastian! Vá devagar, assim tu vai matar a gente!
- Hihi, desculpinha Aidan.
- Que isso, deixa a criança brincar. – falou Henrique examinando Alam.
- Que brinque sem botar a gente em risco de vida!
- Estamos chegando! – afirmou acelerando e entregando o celular para Henrique. – Avise para estarem preparados senão irei mata-los.
Esses dois fala em matar os outros de maneira tão simples e tranquila, tudo bem que eu matei um monte de gente essa noite, mas isso não vem ao caso. Depois de um tempo finalmente conseguimos chegar ao hospital. Sebastian parou o carro abruptamente na frente da entrada e saí depois que Henrique saiu. Fiquei segurando Alam no meu colo o tempo inteiro até chegar perto da maca onde Henrique pediu para que eu o deitasse. Havia algumas enfermeiras, uma trouxe a roupa de trabalho do Henrique e outra trouxe um estetoscópio também, eles começaram a correr para dentro do hospital enquanto ele explicava a situação para elas que já sabiam o que deveriam fazer.
- A pressão dele está cada vez mais baixa, preciso que o entubem porque já teve parada respiratória no carro, é bem possível que tenha outra. Ele está com overdose de drogas, pode ter parada cardíaca a qualquer momento, precisamos ficar alertas igual, deixa a máquina perto para caso aconteça algo.
Henrique dava todas as ordens e explicava toda situação para elas, como sou leigo em questões médicas não entendi quase nada, mas sabia que estava ruim o caso do Alam.
- Precisamos fazer uma transfusão de sangue para limpá-lo, rápido façam o teste para saber qual seu tipo sanguíneo! – gritou quando chegamos na sala e ia botando Alam na cama de lá.
Mesmo quando chegamos ao quarto ele não parava de dar ordens e minha preocupação só aumentava cada vez mais que eu via o que deviam fazer para tratar Alam, mas sinceramente eu estava muito feliz por ser o Henrique que estava cuidando dele.
- Não se preocupe Alam, tu vai ficar bem. – falei segurando sua mão e beijando sua testa.
- Senhor, por favor, você precisa sair por enquanto. – falou uma enfermeira segurando meu ombro. – Iremos começar o tratamento dele e é preciso que fique fora da sala.
- Por quê? Eu quero ficar com ele! – falei não querendo abandoná-lo.
-Vá logo Aidan! Precisamos trabalhar, sua presença irá atrapalhar por causa da correria. – disse Henrique autoritário.
No fim eu nem discuti, se veio diretamente de Henrique a ordem então eu iria obedecê-la. Mesmo estando fora do quarto eu ainda ficava olhando pelo vidro o que faziam com Alam e isso só me deixava cada vez mais apreensivo. Eu estava inquieto demais, ficava caminhando de um lado para o outro sem tirar os olhos de tudo. Meia hora ou uma hora se passou e eu queria muito invadir aquele quarto para saber como estava indo a situação de Alam, queria muito estar ao lado dele naquela hora.
- Te acalma Aidan. Henrique é que está cuidando dele, não tem porque se preocupar. – fiquei até surpreso de ter o Sebastian tentando me confortar ali, o jeito dele não combina nada com isso. – O máximo que pode acontecer é ele morrer. – disse dando de ombros.
- Nossa, obrigado pelo grande conforto Sebastian. – e mostrei o dedo do meio mandando ele se foder.
- As ordens. – e sorriu.
- O que me deixa um tanto nervoso é de não poder estar ali dentro com ele e o Henrique nem vem dar notícias.
- Bom ele está ocupado agora pelo que dá pra ver. – olhamos para ele que checava uma máquina mostrando os batimentos cardíacos e a pressão de Alam. – E também que ele deve estar te torturando de ansiedade por querer, eu adoro esse jeito dele.
- É, mas eu gosto quando é nos outros e não em mim! – grunhi.
Nesse momento a porta se abriu a saiu as enfermeiras e Henrique agradecendo pela ajuda delas. Ele seguiu na minha direção tirando a máscara e as luvas colocando no bolso do jaleco.
- E então? – perguntei me levantando ansioso.
- Ele ficará bem, ou ao menos assim espero.
- Como assim “assim espero”? Ele vai ficar bem ou não? – comecei a ficar agitado.
- Precisamos ficar de olho ainda para caso aconteça algo, mas eu não posso garantir que ele irá realmente ficar bem ou ao menos acordar.
- Acordar?! – gritei.
- Parece que ele entrou em um estado de coma, não é certo ainda, tudo indica que sim, mas talvez ele só acabe dormindo por um tempo para o corpo se recuperar sozinho aos poucos.
- Só pode ta brincando comigo! – e fui entrando no quarto indo em direção a Alam. – Alam! Hey Alam!
- Aidan! Calma!
- Acorda! Por favor! – fiquei gritando enquanto o chacoalhava, eu realmente fiquei desesperado, ele devia acordar!
- Aidan! Para! – gritou Henrique me puxando para longe dele – Não adianta fazer isso! Acha que coma acaba assim?! Desse jeito vai acabar fazendo algum tubo ou agulha soltar e piorar o caso dele.
- Eu não acredito que ele ficou assim... Foi minha culpa... Se eu tivesse protegido ele direito, se eu chegasse mais cedo ou tivesse conseguido matar Erick antes ele não estaria assim... Foi minha culpa, minha...
Nessa hora levei um tapa de Sebastian.
- Chega de choradeira sem sentido Aidan! A gente fez o que podia, não foi tua culpa ele estar assim, foi culpa do Erick que injetou muitas drogas nele e ele fez isso justamente para te irritar! Sabe o que vai realmente ajudar?! Procurar ele e mata-lo, não ficar aqui choramingando! Ficar assim não fará Alam acordar! – Henrique e eu ficamos um pouco que boquiabertos com o que Sebastian estava falando, pela primeira vez ele parecia menos insano ou louco e falava coisas com sentido e lição de moral.
- Ele em razão Aidan, não adianta nada ficar aqui se culpando enquanto Erick está livre. – disse depois de se livrar do choque.
-... – Eles tem razão, não adianta nada eu ficar me culpando, isso aconteceu porque Erick foi o maior filho da puta que existe e queria me atingir. – Mas... – comecei voltando a olhar para Alam deitado na cama todo entubado. – Eu não posso deixar ele aqui sozinho... E se algo acontecer com ele e eu não estiver perto? Não posso abandoná-lo.
- Não irá abandoná-lo Aidan, só irá deixa-lo um pouquinho para ir matar o Erick, nada irá acontecer com ele. Esse hospital é do pai de Sebastian, podemos pedir reforços no quarto de Alam. – falou Henrique com a mão no meu ombro me olhando com um certo sorriso.
- Mesmo assim. Quero certificar que ele fique bem. Não irei sair do lado dele até que acorde. – falei olhando Henrique diretamente em seus olhos.
Ele e Sebastian se entreolharam e suspiraram, não tinha como eu mudar de ideia. No fim eu pedi que os dois saíssem um pouco, eles nem hesitaram e me deixaram a sós naquele quarto. Cheguei perto da cama de Alam e segurei sua mão. Lembrei de uma música do Linkin Park, uma parte dela veio a minha cabeça e eu acabei começando a cantar, afinal, eu sei que Alam também gosta dessa banda.
- “Waiting for the end to come / Esperando o fim chegar
Wishing I had strength to stand / Desejando que eu tivesse força para suportar
This is not what I had planned / Não é isso que eu tinha planejado
It's out of my control / Isto saiu do meu controle”
Lágrimas começaram a surgir nos meus olhos. Eu não conseguia suportar ver o Alam naquele estado, como eu desejava que ele acordasse agora e sorrisse para mim dizendo que estava bem. Esse pensamento ficou rondando minha cabeça, fiquei desejando ao máximo e pedindo para que ele acordasse, que seus olhos se abrissem e me mostrasse suas lindas íris verdes claro.
- “Flying at the speed of light / Voando à velocidade da luz
Thoughts were spinning in my head / Pensamentos giravam na minha cabeça
So many things were left unsaid / Tantas coisas que não foram ditas
It's hard to let you go / É difícil deixar você partir”
Não consegui resistir e caí de joelhos no chão encostando meu rosto em sua mão. Não consegui mais cantar, minha voz estava falha, eu soluçava como uma criança. Henrique disse que talvez Alam não acorde, mas eu estou com certas esperanças, ele irá acordar, eu sei que irá.
- Não me abandona... Alam... – falei entre soluços.
Fiquei ali de joelhos ao lado de Alam o tempo inteiro chorando como uma criança sem parar de imaginar que logo ele poderia acordar dizendo meu nome, com esses pensamentos eu adormeci. No dia seguinte fui acordado por Henrique que me chamou colocando a mão em meu ombro.
- Aidan, descanse direito numa cama. Irei fazer alguns exames no Alam para ver como está indo o tratamento. Ah, já que ficará aqui cuidando dele então posso te pedir para ir fazendo fisioterapia nele enquanto isso?
- Hã? Como assim?
- Bom, ele ficará por um tempo parado deitado, seus músculos não irão se exercitar, seria bom se fizesse exercício neles.
- Ah sim, claro. Farei com certeza.
Assim alguns dias se passaram sem que eu saísse do lado do Alam em quase momento algum. Fazia os exercícios nele e ainda dava banho de esponja mesmo que bem mal feito. Eu tomava banhos rápidos, dormia no sofá do quarto e ficava sempre alerta a qualquer coisa que acontecesse. Por sorte eu comia direito porque Henrique e Sebastian me traziam comida boa de fora do hospital.
- Se passaram alguns dias e tu nem ao menos mostrou mexer alguma vez os olhos. Vamos, acorde logo Alam. – falei mexendo em seu cabelo.
Fiquei acariciando seu rosto, tão sereno e tranquilo, fez me lembrar de todas caretas, sorrisos e expressões irritadas que eu tanto gostava dele. Sorri com aquilo, eu irei vê-las de novo, com certeza irei. Fiquei ali cuidando de Alam por um bom tempo sentado em uma cadeira ao lado de sua cama. Apoiei minha cabeça na cama e acabei adormecendo, afinal, já era bem de noite.
- Aidan. – escutei a voz de Henrique e sua costumeira mão em meu ombro para me acordar. – Já disse pra tu dormir no sofá, assim tu não descansa direito.
- Tudo bem, ao menos estou perto dele.
- Hum, vim trazer teu almoço. Alguma mudança? – perguntou examinando o corpo de Alam e as máquinas.
- Ainda não, não tem nada de novo faz dias. – falei bocejando. – Acho melhor eu tomar um banho.
- Paciência, logo ele irá acordar. E vai mesmo, tu ta precisando urgente de um banho.
- He. – ri. - Ainda bem que tu está cuidando de tudo, senão eu ficaria bem inseguro. – sorri enquanto pegava algumas roupas que havia numa mala que Sebastian me trouxe com minhas roupas.
Me dirigi para o banheiro do quarto. Não quis perder muito tempo na verdade, mas ao também eu precisava relaxar um pouco. Todos os dias eu ficava tenso por causa da situação de Alam e não conseguia descansar direito. Fiquei me olhando no espelho tentando me acalmar.
“Ele irá acordar, paciência e calma é o que eu preciso agora.”
Fiquei motivado com isso, tirei minha camisa e então me dirigi para o chuveiro para já liga-lo, mas parei quando escutei Henrique gritar alto.
- Aidan! Aidan venha ca! – essa não, o que aconteceu agora?! Saí correndo para a porta a abrindo rapidamente.
- O que foi?!
- Ele acordou! – disse entusiasmado ao lado dele enquanto checava as máquinas.
- Alam! – saí correndo para o seu lado. – Eu não acredito! Finalmente tu abriu os olhos. – algumas lágrimas de felicidade começaram a se formar em meus olhos, mas eu segurava para não deixa-las caírem pelo meu rosto.
- Ai...dan? O que... Aconteceu? – sua voz era falha, ele parecia estar super cansado e fraco.
- Tu acabou tendo uma overdose por causa de Erick, graças ao Henrique tu não morreu, mas estava desacordado por dias.
- Eu...
- Aidan, vá chamar o Sebastian, ele ficará feliz em saber que ele acordou.
- Claro! Precisamos comemorar isso! – saí do quarto em direção ao corredor onde Sebastian normalmente ficava conversando com as enfermeiras. – Hey! Ele acordou! O Alam acordou! – gritei feliz e entusiasmado chamando sua atenção.
- Caralho! Finalmente! Ah, eu já volto ladies. – e piscou para elas que sorriram.
Voltamos para o quarto, mas nessa hora as máquinas começaram a apitar drasticamente. Meu coração acelerou, o que estava acontecendo agora?! Avistei Alam respirando pesadamente, senti que meu mundo estava prestes a desmoronar.
- O que está acontecendo!? – gritei. – Henrique, o que houve?!
- Não estou entendo também! – disse Henrique. – Ele estava bem agora a pouco! – e foi correndo preparar algum medicamente para trata-lo.
- Aidan... – ouvi sua voz fraca me chamando enquanto levantava sua mão que não parava de tremer.
- Alam! Aguenta firme, eu estou aqui, ok? Não durma! Fica comigo! – disse enquanto segurava sua mão e depositei um beijo nela.
- Aidan... Me desculpe...
- Shh, não é culpa sua. Não precisa se desculpar por nada... – coloquei minha mão em seu rosto o acariciando, vi lágrimas formarem em seus olhos e começarem a rolar pelas suas bochechas.
- Eu vou... Morrer? Estou com medo, eu não quero morrer... – e começou a chorar – Quero ficar contigo...
- Tu não vai morrer Alam! Eu estou aqui!
- Estou... Cansado...
- Droga! Não está funcionando! – gritou Henrique. – Sebastian, chame as enfermeiras! – ordenou preocupado.
- Fica comigo Alam! Ok?! Estamos juntos agora, tudo acabará bem, vai ver...– ao menos era isso o que eu esperava. Não conseguia mais segurar minhas lágrimas, apoiei minha testa em sua mão. – Eu te amo Alam, não vou te abandonar jamais. – falei firme olhando em seus olhos que não paravam de derramar lágrimas.
- Aidan...
As máquinas começaram a apitar mostrando que o coração de Alam estava quase parando de bater. Sua mão quase não conseguia ficar levantada e seus olhos quase fechavam. Meu coração falhou uma batida ao ver aquela cena.
- Eu... te... amo...– falou pausadamente quase nem conseguindo, sorriu fracamente e assim fechou os olhos. Sua mão perdeu as forças, só não caiu porque eu estava segurando ela, comecei a sentir seu calor ir embora e sua pele começou a ficar completamente pálida rapidamente.
- Alam...? Não... Não, não, NÃO! ALAM! ACORDE! POR FAVOR! ABRE OS OLHOS! – gritava enquanto segurava seu rosto e sua mão ao mesmo tempo. Não queria acreditar no que estava acontecendo, Alam havia finalmente acordado e agora... Morreu? Sebastian chegou com as enfermeiras quando comecei a gritar.
- Rápido, tire o Aidan daqui, irei tentar ressuscitar o Alam! – gritou Henrique preparando a máquina que nunca saiu dali de perto.
Sebastian começou a me puxar para fora do quarto junto das enfermeiras, eu resistia ao máximo, não queria sair do lado dele em nenhum momento. Eu gritava um monte, não queria acreditar no que estava acontecendo. Depois de me tirar para fora da sala ele entrou, fechou a porta trancando-a e fechou as cortinas para que eu não visse eles dando choques no corpo do Alam. As enfermeiras tentavam me fazer ter calma, fiquei andando de um lado para o outro naquele corredor. Tentava me acalmar, mas estava muito difícil.
Escutei o som do choque, mas a máquina continuava apitando por causa do coração estar parado.
- Me deixem entrar! – gritei batendo no vidro.
Escutei mais uma vez o som e nada, comecei a bater mais forte ainda fazendo o vidro começar a trincar. Nessa hora escutei o som de novo.
- ALAAAM! – bati mais uma vez e acabei quebrando o vidro com meu punho cortando-o completamente, entrei no quarto rasgando a cortina para conseguir ver o que estava acontecendo.
No mesmo instante que entrei, avistei que Henrique já estava desligando as máquinas mostrando que não havia funcionado. Sebastian parecia decepcionado e triste encarando o corpo de Alam completamente branco dando contraste ao seu cabelo preto. Eu fiquei em choque parado por um tempo vendo aquela cena, Henrique estava agora tirando os tubos de Alam e as agulhas.
- Não... Não me diga que...
- Aidan... Infelizmente – não deixei Henrique terminar sua frase.
- Não minta pra mim! – gritei começando a me aproximar a passos mais lentos do corpo dele. – Ele está cansado apenas, precisa descansar... – cheguei perto do corpo dele e o acariciei sentindo sua pele completamente fria.
Henrique e Sebastian se entreolharam sem entender nada do que eu estava fazendo. Minha reação não era a esperada, eu simplesmente não quis acreditar e fiz de tudo para me enganar que na verdade Alam não estava morto.
- Aidan... – começou Henrique. – Precisamos enterrá-lo Aidan, irei cuidar dos preparativos, pode deixar que eu mesmo peço o caixão.
- Enterrar? Não, ele irá morrer sufocado. Por acaso quer matar ele Henrique?! – falei irritado. - Alam... Ele está frio, tragam um cobertor! Rápido! Está tão gelado! – peguei o lençol e o enrolei, segurei ele no colo o abraçando enquanto sentava na cama. – Eu irei cuidar de ti, não se preocupe. – coloquei a mão em seu rosto o acariciando.
- Chega Aidan! – gritou Sebastian dando um forte tapa no meu rosto, de novo. – O Alam morreu! Não tem o que fazer! Nada irá trazê-lo de volta! Entenda! – Sebastian me deu dois tapas cara, um foi fisicamente e o outro verbalmente que acabou doendo igual.
Sim, Alam estava morto nos meus braços, quando isso finalmente caiu na minha cabeça as lágrimas começaram a rolar completamente pelo meu rosto. Eu soluçava como uma criança, eu gritava também. Aquela era simplesmente a pior dor que poderia existir, sentir a pessoa que tu mais ama morta em seus braços e vê-la morrer na sua frente sem que tu possa impedir, ele estava ali recebendo meu calor, mas não adiantava em nada, não estava deixando-o mais quente. Meu corpo tremia, minhas forças estavam indo embora. Eu apenas queria gritar o mais alto que conseguia enquanto abraçava Alam o mais forte possível.
- AAAAAAHH! – gritei o mais alto possível enquanto abraçava fortemente seu corpo, eu chorava como uma criança, minhas lágrimas caíam em cima de seu rosto já sem vida – Por quê? Por que isso aconteceu...?
- Aidan, por favor, se acalme. – disse Henrique.
- Não tem como eu me acalmar! O Alam morreu! A única pessoa importante para mim se foi! E ainda foi quando finalmente disse que me amava! – abracei o corpo dele mais forte. – Alam, volta pra mim...
Demorou muito tempo para conseguirem me acalmar, não inteiramente, mas o bastante para me fazer soltar o corpo de Alam para que pudessem levar na funerária. Já estava marcada a hora do enterro para daqui a algumas horas. Sinceramente eu não queria ir, me levaram de volta para minha casa para que eu pudesse me arrumar, mas acabei me trancando completamente no quarto de Alam sentado ao canto sem querer sair dali de maneira nenhuma. Henrique chegou no quarto com um terno preto, Sebastian estava junto dele.
- Aidan, está na hora. – falou, suas palavras vieram como facas em meu coração.
-... – não conseguia dizer nada, meu olhar estava fixo em qualquer canto sem vida.
- Aidan, será a última vez que tu irá vê-lo, precisa ir. – Henrique se abaixou para olhar nos meus olhos, mas eu nem ao menos via ele. – Trouxemos o seu terno.
- Ugh... – gemi tentando segurar mais lágrimas que queriam rolar pelo meu rosto. - Eu... Vou tomar um banho antes... – falei me levantando com a ajuda de Sebastian.
Segui para o banheiro quieto. Liguei o chuveiro e entrei com roupa e tudo debaixo dele, fiquei um tempo ali embaixo até começar a me vir na cabeça onde eu teria que ir logo depois de acabar. Imagens de momentos felizes nossos se passaram pela minha cabeça, seu sorriso, sua cara de espanto e felicidade em restaurantes que eu o levava, sua expressão irritada que eu tanto gostava... Mais lágrimas, que eu pensei nem ter mais, voltaram a sair e foram levadas pela água do chuveiro.
- Por que isso está acontecendo... ? – me perguntei, eu realmente queria saber por que Deus fez uma piada de muito mal gosto com a gente. – Por que logo ele que foi morrer...?
Demorei muito tempo para terminar o banho, eu nem ao menos queria terminar. Ao sair dali minha toalha já estava a minha espera. Me sequei e saí para pegar minha roupa com os guris que me esperavam no quarto. Me vesti na frente deles mesmo, não me importava com mais nada agora.
- Pronto? – perguntou Henrique.
- Não... – falei sem ânimo.
Sebastian colocou a mão no meu ombro e logo depois Henrique também, os dois sorriram para mim. Acabei sorrindo mesmo que fracamente de volta.
- Obrigado caras, se não fosse vocês eu já estaria louco.
- Mais que eu não pode ficar. – disse Sebastian sorrindo e dando um soco fraco no meu braço, sorri de volta.
Saímos para o carro de Henrique para ir em direção ao cemitério. Eu olhava pela janela, via as pessoas felizes, aquilo me dava certa inveja, eu queria estar feliz com quem amo também. Calma Aidan! Não volte a chorar mais. Alam não iria gostar de te ver assim. Avistei o cemitério logo a frente, ele era bem bonito, grande e cheio de túmulos bonitos. Falei para não ter aquelas missas que nunca gostei demoradas então fomos direto para o enterro, afinal, seria mais a gente mesmo, não é como se Alam ou eu tivéssemos muitos amigos.
- Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Estamos aqui reunidos hoje para nos despedirmos de Alam Ryth, uma pessoa bondosa e um amigo fiel. – mal ele sabia que na verdade ele era muito mais que um amigo para mim. – Que ele fique bem agora ao lado de Deus por toda eternidade. Oramos agora pela sua alma e que ele cuide de seus parentes e amigos em terra ao lado do Senhor. Amém.
O padre terminou suas preces depois de um tempo, com isso cheguei perto do caixão avistando o rosto sereno de Alam. Lágrimas voltaram a brotar em meus olhos, sua expressão era tranquila, parecia que estava apenas dormindo, como eu gostaria que realmente fosse apenas dormindo. Aproveitei que ainda estava conseguindo formar frases direito e comecei a cantar.
- “I have died every day waiting for you / Eu morri todos os dias esperando você
Darling, don't be afraid, I have loved you / Querido, não tenha medo, eu amei você
For a thousand years / Por mil anos
I'll love you for a thousand more / Eu amarei você por mais mil”
Acariciei seu rosto, sua pele fria e pálida, peguei uma rosa que estava em um vaso ao meu lado e a beijei para logo depois coloca-la ao lado de seu rosto.
- “And all along I believed I would find you / E o tempo todo eu acreditei que encontraria você
Time has brought your heart to me / O tempo trouxe o seu coração para mim
I have loved you for a thousand years / Eu amei você por mil anos
I'll love you for a thousand more / Eu vou amar você por mais mil”
Depois de terminar cheguei perto de seu corpo e dei um beijo em sua testa e depois em seus lábios como sendo um último beijo.
- Uma linda rosa para a pessoa... mais importante... da minha vida... – falei entre soluços, eu quase não conseguia me manter calmo, meu corpo tremia, as lágrimas rolavam sem parar, mas eu nem tentava segurá-las mais. – Tu foi e ainda é a pessoa mais importante que apareceu para mim... Eu nunca irei esquecê-lo... Eu te amo Alam, sempre irei amá-lo... – e assim me afastei do caixão para que pudessem fechá-lo.
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- Por que matou o Alam, Henrique? – sussurrou Sebastian bem baixinho para que apenas os dois ouvissem. Assim Henrique sorriu com um toque de travessura.
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