- Sabe que eu muito bem dispensaria a recepção calorosa... demais. – Snape disse.
Ao adentrar o escritório da direção logo atrás de Dumbledore, o ex-professor parou por um instante, sentindo algo estranho com flashs um tanto perturbadores do fatídico começo de maio. Um arrepio estranho lhe subiu as costas.
Tudo estava exatamente como sempre fora com Dumbledore ali, nos devidos lugares que sempre ocupara. Era como se as paredes da sala tivessem conseguido apagar delas que um dia Severo passara por ali.
- Severo? – a atenção foi chamada de volta pelo diretor que já se sentava em sua mesa. Ele indicou a cadeira para o mais jovem.
- O que dizia? – sentou-se.
- Dizia que se você imaginava que chegaria aqui sem se tornar os centro das atenções, enganou-se desde o início. – Alvo o olhou divertido. – Todos os alunos aqui falam sobre você em diversas vezes desde que voltamos para a escola. Aquilo lá foi apenas uma forma deles demostrarem a admiração que tem por você. Para eles é como se fosse um...
- Não termine. – ergueu a mão, interrompendo a fala do outro. – Sei aonde quer chegar, e tanto você quanto eu sabemos que não existe essa história de... – tentou não engolir seco. – Herói. Ou qualquer baboseira assim.
Alvo ficou em silêncio por um instante, erguendo a sobrancelha para observar o outro por cima do óculos.
- Queira admitir ou não. – o diretor voltou a falar. – Sabe que é assim que passaram a ver você depois da Guerra acabar.
- Acha mesmo isso? – Severo já havia esquecido como Dumbledore poderia ser irritante quando queria. – Deve ser por isso então que passei alguns meses preso em minha própria casa, por isso também que perdi o meu título de mestre em poções. Estou me esquecendo de algo? – olhou sugestivo. – Ah sim, precisei trocar favores para poder vir por dois dias a Hogwarts, onde passei 16 anos.
- Se é assim que quer ver as coisas. – provocou.
- Por Merlin, não me tire do sério. Não são nem nove da manhã ainda. – apertou os olhos.
Dumbledore sorriu e levantou, seguindo até uma mesinha mais ao lado, onde havia um par de xícaras e um bule com chá recém feito. Se Severo realmente não estivesse certo, e a situação fora daquela sala não pudesse ser ignorada, e se o ex mestre pocionista precisasse deixar a escola novamente, podiam simplesmente ignorar tudo e ter aquele dia como um dos mais normais e corriqueiros para os mesmo 16 anos que acabara de citar.
- Me conte então. – Alvo voltou para a mesa com as duas xícaras servidas, alcançando a que não estava adoçada para o mais jovem. – Como foram as coisas ontem?
- Bem. – ele deu de ombros, pegando o chá.
- Só isso? Bem? – riu, voltando a sentar-se.
- Em algum momento de todos os anos que trabalhamos juntos eu já falei da minha vida particular? – Severo ergueu uma das sobrancelhas, bebendo um pouco do chá. Viu o outro negar com a cabeça, divertido. – Justamente. E não vai ser agora que vou começar.
- Senti falta desse seu humor cativante. – sorriu. – Sei que deve estar querendo andar pela escola, não quero prender muito seu tempo. Me diga, Narcisa está bem?
- Estava no café também. – Severo estranhou. – Ou melhor, estava na escola com o senhor até agora. Poderia ter perguntado para ela.
- É claro. Tem total razão.
- Porém, há alguma razão específica para estar me perguntando.
- Não, nenhuma. – Alvo deu de ombros.
- Não foi uma pergunta, foi uma constatação. – Snape disse.
Durante o silêncio do diretor, pensou no bilhete de Minerva que havia visto no escritório de Narcisa pela manhã. Conversar sobre o que havia acontecido no sábado. O que havia acontecido?
- Ela andou um tanto cabisbaixa nos últimos dias. Só isso. Imaginei o quanto sua visita faria bem para ela. – o bruxo de barbas brancas respondeu.
Severo assentiu e recostou-se na cadeira, terminando de beber o restante do chá que Dumbledore lhe dera em silêncio. Jogaram mais poucas palavras fora, sobre assuntos diversos – escola, ministério, os demais professores – e então o ex professor despediu-se e resolveu caminhar um pouco pela escola.
Precisava daquilo mais do que imaginou que precisaria e demorou pelos corredores mais do que pensara que iria demorar. As paredes de Hogwarts sempre contaram muitas histórias, fosse pelos quadros falantes e animados que as enfitavam, ou simplesmente pelo silêncio de cada uma daquelas pedras. Parte da história contada agora era a sua.
Ainda que com a escola devidamente reconstruída, ainda era difícil simplesmente apagar as coisas que haviam acontecido ali. Mesmo durante o café no grande salão, um sentimento estranho já o estava rondando. Era curioso ver o abismo que existia em como haviam sido as coisas no ano letivo anterior e em como elas estavam sendo agora. Era impossível comparar, na verdade.
As trevas vagavam longe de Hogwarts agora, longe de quase todo o mundo bruxo e isso já era um passo gigantesco. Era quase impossível imaginar, porém, que ainda houvesse um lugar para ele ali.
~*~
Narcisa havia terminado o café da manhã com o humor mais leve do que nos últimos dias. O brilho nos olhos e o sorriso doce que dificilmente deixaram seu rosto naquele momento deixavam claro o quanto a presença de Severo ali estava lhe fazendo bem. Durante o café, foram diversas as vezes que se pegou apenas olhando para o companheiro, que estava com a cara fechada e uma pequena ruga formada na testa.
A ideia de Dumbledore de lhe apresentar daquela forma, claramente havia fugido do agrado de Snape, mas Cissa havia achado incrível ver a reação de todos a presença dele ali. Sabia que se ela contasse, em algum momento, como os alunos haviam questionado a falta do professor logo no primeiro dia ele nunca viria a acreditar nela. Mas agora havia visto com os próprios olhos, e seria perfeito se isso o impulsionasse a tentar ficar novamente.
Depois de comerem, havia se despedido dele no Grande Salão, o vendo sair por uma das portas laterais junto a Dumbledore. Logo Minerva estava ao seu lado e reiterava o pedido para que as duas conversassem sobre os fatídicos ocorridos de sábado. O sorriso sumira, em um instante. Mas mesmo assim aceitou o pedido da velha professora de transfiguração e juntas seguiram até a sala de Defesa Contra as Artes das Trevas, faltavam ainda alguns minutos para que começasse a aula e os alunos do quarto ano para quem Narcisa lecionaria ainda não haviam sequer começado a ocupar o corredor em frente a sala.
Ao entrar na sala, Cissa tirou a varinha das vestes e espalhou os materiais da aula sobre as mesas enquanto Minerva a observava em silêncio. Quando acabou, colocou novamente as varinhas nas roupas e seguiu até atrás da escrivaninha, cruzando os braços e encarando a mais velha.
- Queria conversar. – ela disse. – Estou ouvindo.
- Eu parei para pensar bem, sobre o que aconteceu com a Srta. Bellamy, e percebi que além de não darmos condições corretas de expressar sua versão do que aconteceu, tanto eu quando Alvo acabamos nos excedendo em algumas falas. – Minerva disse respirando fundo por fim, os olhos se tornaram um tanto cansados quando começou a falar.
- Agiriam da maneira que agiram comigo com qualquer outro professor? Questionariam a madame Sprout, a madame Hooch da maneira que me questionaram? – a voz saiu firme, séria. – Claro que não.
- Por isso estou aqui falando com você. – adiantou-se antes que a outra continuasse. – Agimos de maneira não profissional com você e peço desculpas por isso. Mas sabe que nos preocupamos com você além da escola, minha querida.
- Então deveriam ter me ouvido e não me acusado. – Narcisa a cortou.
- Acho que nos deixamos levar pelo estado que Horácio chegou para conversar. Não pensamos como deveríamos no assunto, e sei que chateamos você com isso.
- Vocês me ofenderam, não me chatearam. – corrigiu.
- Vim até aqui, primeiramente, como vice diretora, para dar a chance correta para que você conte o que houve com a Srta. Bellamy. – Minerva estendeu a mão sobre a mesa e ficou com ela daquela forma por alguns segundos, até Narcisa finalmente segurá-la. – E também, talvez principalmente, para me desculpar como amiga. Não deveria ter insinuado coisas e muito menos permitir que Alvo insinuasse. Estou vendo nos seus olhos que alguma coisa está errada, querida.
Cissa sentiu os olhos marejarem brevemente e desviou o olhar para o lado, engolindo seco.
- A detenção que dei foi por conta de má conduta em sala de aula, atraso e uma imensa insubordinação. – começou, voltando a olhar para outra. – Se eu soubesse que haveria uma reunião do Clube do Slugh, acredite que não haveria problema algum em aplica-la em outro dia. Fale com o aluno que quiser, sou uma das professoras mais flexíveis que há aqui na escola. Na sexta, quando saiu da minha sala, a Srta. Bellamy estava bem o suficiente para continuar com as provocações.
- Provocações? – Minerva a olhou. – Que tipo de provocações?
Narcisa soltou a mão da professora e deu a volta na mesa.
- A garota não gosta de regras, e eu vou continuar cobrando da mesma forma que faço com os demais. – deu de ombros.
Havia claramente fugido da pergunta, mas continuaria fugindo. Não queria sequer lembrar-se das coisas que ouvira na sexta, muito menos envolver Minerva ou qualquer outra pessoa naquilo. Eram problemas pessoais, e teria que lidar sozinha com eles.
- Porém entendo que é minha palavra contra a dela, e contra a do próprio Slughorn. – concluiu.
McGonagall assentiu brevemente. Podia perceber que toda a alegria que Narcisa exalava quando chegara com Severo ou até mesmo o brilho nos olhos que ainda tinha quando chegou até ali havia sumido.
- O que tem acontecido com você nos últimos dias? – a mais velha perguntou.
Cissa não respondeu em primeiro momento, pensando exatamente no que dizer. Desde de sábado poucas vezes realmente saíra de seus aposentos, passando o domingo todo nele e saindo na segunda apenas para suas aulas. Mesmo em seu aniversário não havia dado as caras pela escola. Minnie estava respeitando seu espaço, mas era claro que seria de se estranhar. Mas o que ela responderia? Então, Minerva, deixei uma adolescente de 17 anos me tirar dos eixos e voltei a usar uma poção que se você soubesse acabaria me matando, assim como Severo...
A jovem professora estendeu a mão até tocar a da mais velha e a segurou novamente, dando um sorriso breve e um tanto cansado.
- Nada que deva se preocupar. – respondeu. – Quanto ao o que disse. Como amiga, aceito suas desculpas, mas peço do fundo do meu coração que nunca mais pense que eu seria capaz de prejudicar uma pessoa somente por insegurança.
Minerva assentiu, pouco convencida com a resposta porém feliz o bastante com as desculpas aceitas para poder ignorá-la por hora. Antes de falar qualquer outra coisa, batidas na porta vieram e as duas sorriram uma para a outra, afastando-se um passo, enquanto Cissa retornava para atrás da própria mesa, respondendo um entre.
- Com licença, Sra. Black. – um aluno da lufano colocou a cabeça para dentro. – Podemos entrar?
~*~
O restante do dia foi totalmente feito de encontros e desencontros. Narcisa havia dado os dois períodos de aula antes do almoço com tranquilidade, aceitando que a conversa com Minerva a tinha feito sentir um pouco melhor, mesmo que ainda não o suficiente.
Severo passara o restante da manhã na biblioteca, lendo algumas coisas e evitando chegar em alguns pontos específicos da escola. Sentia-se um pouco desconfortável em andar pela escola com os olhares caindo em si a todo o momento, e até mesmo os quadros sussurrando a todo momento algo sobre seu nome. As opiniões, ainda mesmo naqueles objetos sem consciência própria eram das mais diversas, e isso acabou gerando um desconforto que o ex-professor não saberia explicar.
Achou melhor caminhar em outro momento e gastar o tempo que tinha fazendo qualquer outra coisa. Quando saiu a sessão restrita, já estava via-se novamente uma movimentação nos corredores, quase na mesma intensidade que vira no café da manhã. Não tinha certeza absoluta se teria vontade de almoçar nos salões, mas percebeu que ao caminhar sozinhos os burburinhos diminuíram com intensidade.
Sua postura e figura imponente, além da imagem que conseguira construir em todos aqueles anos dando aula na escola, estavam voltando a fazer o devido efeito sobre os alunos.
No final das contas acabaram, tanto ele quanto Narcisa, almoçando no Grande Salão junto com todos os demais. Conversaram pouco na falta de oportunidade, já que todos os outros professores pareciam ter todo o assunto que nunca tiveram em 16 anos para falar com Severo, além de Dumbledore que seguia com igual animação.
Enquanto comiam, Snape permitiu-se observar Narcisa com certa calma, tentando decifrar o que havia feito ela mudar a expressão daquela forma. Algo parecia claramente incomodá-la, e algo lhe dizia que tinha alguma ligação sobre o tal acontecido de sábado.
Quando saíram do almoço, Narcisa seguiu para a sala de aula acompanhada pelo ex-professor, conseguindo falar pouco, mas não tendo a chance de aprofundar qualquer assunto, o melhor seria não passar de poucas falas banais sobre como haviam sido suas aulas de manhã e sobre o que ele havia lido na biblioteca enquanto isso.
- Podemos nos encontrar perto do lago para andarmos um pouco. Termino minha última aula as 15h. – ela sugeriu assim que se despediram.
(...)
~*~
Harry sentou com alguns pergaminhos na mesa, perto de onde os outros já estavam esperando. Gina o ajudou a espalhar os pergaminhos para Hermione, sentada ao lado de Rony, Claire, que estava do outro lado e para Luna e Draco, sentados do outro lado da mesa.
O plano que haviam bolado era bem simples na verdade, e talvez nem devesse ser considerado um plano ainda, porque no final das contas ainda precisavam pensar no que fazer depois. Basicamente tinham pensado em recolher o máximo de assinaturas possíveis entre os alunos para saber quem realmente era a favor de Snape voltar e assim poderiam pedir que Dumbledore levasse isso ao conselho de pais e depois ao Ministério.
A ideia era que os pais e o Ministro tivessem uma ideia de como o ex-professor era visto por seus alunos, mudando assim a ideia que eles próprios tinham sobre ele e como consequência, no melhor dos cenários, permitir que voltasse a lecionar na escola.
- Pensamos em falar com alguns professores também. – Hermione disse. – Talvez o apoio deles possa ajudar ainda mais.
- Posso falar com a madame Sprout. – Luna disse. – E com a Professora Vector, e... a professora Sinistra, tenho adivinhação amanhã.
- Falamos com a madame Hooch e com Hagrid. – Harry disse.
- Nos resta a professora McGonagall. – Rony olhou para a namorada. – E aquela de runas. Nunca lembro o nome.
Mione assentiu.
- Podemos falar com o Sr. Binns, mas talvez ele não tenha conhecidos vivos o bastante para apoiar nossa causa. – Gina disse.
- Ele nem conseguiria assinar nosso pergaminho. – Rony riu sozinho.
- Falo com Slughorn. – Draco disse. Ainda achava extremamente estranho ver que os outros paravam para prestar atenção nele. – E com a minha mãe.
- Algo em diz que a Sra. Malfoy não vai precisar de incentivo para participar. – Claire deu de ombros.
Draco, que estava sentando mais virado para Luna que para os demais virou-se para a garota.
- Você insiste em ser inconveniente, não é? – ele disse.
Ela ergueu a sobrancelha. Na verdade era ele quem estava se metendo dentro de um grupo que sequer havia sido convidado a participar.
- Da família que eu venho o casamento é um instituição. – ela disse. – Não somos aptos ao divórcio, então não vejo o que há de ofensa em tratar Narcisa pelo nome que ela teria se não fosse...
- Tome muito... – Draco levantou e Luna agarrou o braço dele no mesmo momento. – Muito cuidado em como pretende terminar essa frase.
Claire sorriu.
- Calma. – ergueu as mãos. – Se não fosse a separação. Era isso que eu ia dizer.
- Claro que sim. – ele respondeu. – Escute, não é da sua conta e muito menos da sua família o que minha mãe fez ou deixou de fazer com a vida dela.
- Isso não importa. – Harry disse, chamando a atenção dos dois. – Claire fala com o professor Flitwick e a professora Trelawney.
Draco pegou o pergaminho que Gina havia lhe dado de sobre a mesa e passou as pernas pelo banco, ajeitando as vestes. Havia visto uma foto de Lilian uma vez nas coisas do padrinho, então sabia o porquê de Potter querer defender a garota de qualquer coisa, porém ele também defenderia Narcisa com mais força do que o garoto que sobreviveu poderia imaginar.
Evitando a discussão, por Luna e somente por ela, ele achou melhor sair dali. Luna olhou para Claire por longos segundos antes de levantar e seguir atrás do namorado. Os cinco grifinórios que restaram na mesa ficaram em silêncio por um bom tempo antes de Hermione levantar para pegar os pergaminhos dela e de Rony sobre a mesa e colocar na mochila.
- Vou procurar o Edward e ir falar com os meus professores. – Claire levantou também. – Vejo se consigo assinaturas no caminho.
Os outros quatro apenas acenaram para a garota que juntou suas coisas para sair dali.
- Acho que o Malfoy pegou meio pesado. – Harry disse.
Hermione o fuzilou com os olhos. Draco havia pegado pesado? Será que ele simplesmente não havia ouvido nada que Claire havia dito também? Terminou de juntar as coisas sobre a mesa e de por dentro da mochila, puxando Rony para se levantar e sair junto com ela.
~*~
Severo deixou Narcisa na sala e depois de combinarem de se encontrar no final das aulas, seguiu para uma caminhada mais tranquila de que pela manhã. Com menos pessoas, conseguia ouvir melhor seus pensamentos e dessa forma tornava tudo completamente diferente.
Primeiro seguiu para a torre de astronomia. Por um tempo sentiu o vento bater no rosto algumas e conseguiu respirar um pouco melhor, infelizmente não poderia evitar o turbilhão de lembranças que viriam uma hora ou outra, principalmente em um dos lugares que mais teve importância nos desfechos da Guerra.
Ali pensara ter matado Dumbledore por parte do acordo com o diretor e também como forma de proteger Draco, onde fez cumprir o voto perpétuo. Encarou a palma da mãe direita, pela luz da sala, observando a fina linha que a marcava. De todas as suas cicatrizes, talvez aquela fosse a que mais havia parado para pensar ao longo da vida. Aquela mostrava onde todo o desfecho de sua vida havia começado.
- Severo – sussurrou Narcisa, as lágrimas deslizando pelo rosto pálido. – Meu filho... meu único filho...
(...)
- Talvez seja possível... ajudar Draco.
Ela se empertigou, o rosto branco como uma folha de papel, os olhos arregalados.
- Severo... ah, Severo... você o ajudaria? Você o protegeria, cuidaria para que não sofresse nenhum mal?
- Posso tentar.
Ela largou o copo, que deslizou pelo tampo da mesa , ao mesmo tempo que, escorregando do sofá e se ajoelhando aos pés de Snape, segurou suas mãos e levou-as aos lábios.
- Se você estiver lá para protege-lo... Severo, você jura? Você fará o voto perpétuo?
Por dias pensou em como ela havia sido petulante ao tocá-lo daquela forma, e tantas vezes como o tocou e trata-lo pelo primeiro nome como poucas vezes fizera depois de casar com Lúcio. Via agora que naquele momento já existia uma tensão inevitável entre eles e se perguntou o que aconteceria se Bella não tivesse ido até a casa dele com a irmã. Via também que em outras circunstâncias, seria capaz de defender Draco mesmo sem ter feito o voto.
Mas definitivamente deveria admitir que fora naquele momento em que as coisas começaram a mudar de vez e muito provavelmente se não fosse pelo ato de desespero que Narcisa tomara para defender o filho, não teriam chegado até ali, muito menos juntos.
Depois de um tempo que não soube exatamente quanto foi, resolver descer da Torre e novamente caminhar, agora saindo de dentro da escola e seguiu pelos jardins.
Ali as lembranças da guerra pareciam chegar com um pouco mais de força, já que fora de lá que vira a maioria das coisas aconteceram depois que fugira do Salão com Narcisa. Podia ouvir os barulhos, os relances dos feitiços de proteção e a cúpula que se formara ao redor da escola. A floresta negra se erguia não muito ao longe, mas aquele era um caminho que definitivamente não sentia vontade de seguir.
Resolveu que o melhor seria dar a volta no castelo em direção ao lago, onde esperaria Cissa no lugar combinado e depois veriam o que fazer com o tempo que lhes sobravam. Ainda tinham muito o que conversar, não só sobre o que conseguira fazer para ir até ali, mas principalmente o que estava a deixando tão incomodada a ponto de perceber-se de longe.
O vento que começava a soprar, principalmente em torno do lago, começava a ficar frio. Olhou para o relógio que ficava em uma das torres e percebeu que faltavam poucos minutos para que a mulher terminasse sua aula.
Virou-se para observar a água que começava a balançar junto com a brisa e novamente pode sentir sua mente embaçar com lembranças.
- Você foi um grande servo, Severo, mas apenas um de nós pode viver para sempre.
Um arrepio percorreu seu corpo e levou uma das mãos ao pescoço, como se pudesse sentir o ferimento causado por Nagini incomodar-lhe o corpo.
- Com licença. – ouviu uma voz feminina atrás de si, totalmente diferente da que estava esperando e virou-se.
Claire aproximava-se do professor, vestindo o uniforme da escola sem sua capa, e com os cabelos cor de fogo soltos sobre os ombros. Não era isso que esperava quando saiu da Biblioteca com Edward, mas talvez fosse ainda melhor. Ela chegou até o imponente homem de vestes negras com um sorriso doce nos lábios.
- Claire Bellamy. – ela estendeu a mão. – Nos conhecemos na estação de Kings Cross.
- Eu me recordo. – ele lhe apertou a mão.
Não haveria, na verdade, como esquecer o encontro com a garota. Havia ficado apavorado no primeiro momento, quando parou para pensar como ela era parecida com Lílian, mas também deveria assumir que teria pensado consideravelmente pouco nos meses que passaram.
- Gostaria de lhe dizer que é um prazer tê-lo na escola novamente. – a menina prosseguiu.
- Uma visita temporária. – ele disse.
- Sei disso... as pessoas falam. – ela sorriu. – Mas gostaria de lhe dizer que no que depender de mim e de minha família, isso deixará de ser algo temporário.
~*~
Narcisa saíra de sua sala de aula e fora até seus aposentos, deixando os materiais que precisaria corrigir sobre a mesa do escritório e pegando um casaco no armário do quarto antes de seguir para os jardins do castelo.
A aula que tivera havia sido tranquila o bastante para deixa-la ainda com uma grande disposição. Ou talvez a disposição viesse apenas da ansiedade de poder estar com Severo por um tempo, sem preocupar-se com interrupções. Quando percebeu já havia chegado até próxima às margens do lago e parou, passando os olhos pela paisagem em busca da figura do companheiro.
Junto ao encontro de seu olhar com a imagem do homem na beira do lago, alguns metros mais a frente, recebeu o balde de água fria em forma de pessoa. Pode ver ao longe, junto com Severo a figura de Claire ao lado dele, tendo quase um flash back de 20 anos antes, onde poderia ver perfeitamente Lílian parada ali.
Engoliu sua empolgação a seco e fechou o casaco em frente ao corpo, para enfim seguir até eles. Não falou nada até chegar perto o suficiente para ter sua presença denunciada pelo barulho de seus passos na grama.
Claire deu um passo para trás e falou um adeus baixo direcionado ao homem, antes de passar por ele para seguir em direção ao castelo. A jovem diminuiu a velocidade dos passos e olhou para Narcisa, dando um sorriu de canto e piscando um dos olhos. a professora sorriu de volta, por mais que ainda pudesse se sentir desestabilizada, jamais daria o braço a torcer para ninguém, muito menos para ela.
Quando a aluna Grifinória já estava longe o suficiente, Cissa virou-se para o companheiro, cruzando os braços em frente ao corpo.
- O que ela queria? – questionou.
Severo deu de ombros.
- Não entendi muito bem. – ele disse. – Algo sobre oferecer o apoio da família dela.
- Oferecer apoio? – Narcisa revirou os olhos. – Para quê?
- Meu retorno. – tornou a dar de ombros. – Mas como eu mesmo disse a você, não entendi muito bem. – concluiu.
Cissa assentiu, olhando mais uma vez na direção do castelo e respirando fundo.
- Vamos caminhar um pouco? – Snape chamou a atenção da mulher de volta para ele.
- Na verdade, acho que eu gostaria de uma banho e descansar um pouco. – ela o olhou.
Severo assentiu, ainda sem entender muito bem e seguiram juntos o caminho para dentro do castelo. Até chegarem nos aposentos de Narcisa, ela não havia falado mais nenhuma palavra, e ele achou por melhor simplesmente aceitar o silêncio.
Quando entraram na antessala, agora bem mais aquecida que o lado de fora do castelo, Cissa retirou o casaco e jogou sobre a guarda do sofá, seguindo até a mesa de centro onde havia um novo envelope fechado. Snape parou e retirou a capa, desabotoando o casaco para retirá-lo, enquanto a observava abrir a correspondência para ler. A testa dela franziu-se um pouco.
- Problemas? – perguntou quando a viu abaixar a carta.
- Kingsley quer uma resposta. – ela disse.
- Você ainda não me contou o que ele quer que você responda. – puxou as mangas da camisa para cima.
- Bem, - caminhou pelo cômodo. – Parece que a única pessoa que no momento tem informações relevantes sobre os comensais e sobre quem armou para Arthur... é o Lúcio. E parece também que a condição que ele colocou para dar essas informações é se negociais comigo.
O homem manteve-se em silêncio por dois segundos e depois riu, fraco, com a voz saindo rouca.
- Isso é patético. – ele disse ficando série em seguida e foi até o sofá.
Narcisa trocou um longo olhar com ele, entendo bem o que se passava pela cabeça do companheiro.
- Não me olhe assim. – ela disse, seguindo até o bar. – Não. Não faça essa cara.
- Que cara?
- Essa! – apontou para ele, pegando a garrafa de firewhisky. – Como se esse assunto estivesse acabado e como se sua palavra fosse a última.
- Mas esse assunto está acabado. Eu não vou deixar que vá falar com o Malfoy. – ele respondeu.
- Não é você que decide isso. – ela abriu a garrafa e serviu uma dose no copo, tomando-a em um gole só. Sentiu o corpo arrepiar-se com o gosto amargo. – É a única possibilidade que temos no momento de saber quem fez isso com Arthur e ajudar. Não vou simplesmente me omitir.
- Isso não é um problema seu... – ele levantou.
- E também não era um problema seu! – o cortou. – Mas mesmo assim foi até lá e desafiou as ordens do ministério para ajudar um amigo.
- É diferente. – seguiu até onde ela estava.
- Me olha como se eu não fosse capaz. – disse. – Como se eu não soubesse o que preciso fazer. Não quero que me trate como um bibelô, Severo... como alguém que pode simplesmente quebrar por ser fraca.
- Não penso que você não seja capaz. – Severo a segurou pelos braços. Talvez viesse a ser a primeira, e quem sabe a última vez que viria a admitir algo como o que estava prestes a falar. – Eu tenho medo.
- Medo? – a palavra saiu vacilante entre os lábios dela. Estava quase baixando a guarda, e isso era um passo para fazer o que ele queria, e no momento não acreditava que isso seria o certo. – Então vai ter que confiar em mim. Eu sei o que estou fazendo.
Não era totalmente mentira.
- Vocês ainda tem o vínculo mágico, Narcisa. – Severo protestou quando ela se afastou um passo para serviu mais uma dose de whisky.
- Pegue sua varinha. – Cissa virou novamente a bebida em um gole só.
Dessa vez foi ele que quase se perdeu. Precisou focar para não deixar-se levar pelo quanto achava sexy aquele gesto simples que ela tinha feito.
- Minha varinha? – ele voltou a si.
- Você é um bruxo talentoso. – caminhou para o centro da sala. – Sei que você sabe desfazer a vinculação mágica.
- Quer fazer isso agora? – levou a mão até a varinha, ainda incerto.
- Uma hora ou outra precisaríamos disso, afinal, vamos nos casar. – ela deu de ombros, as bochechas já estavam vermelhas por causa da bebida.
Ela estava certa em duas coisas: o primeiro fato era que definitivamente eles precisariam em algum momento desfazer o vincula mágico dela e de Lúcio se pretendiam se casar, o segundo era que ele sabia desfazer. E agora que ele dera aquele como o motivo de sua insegurança e como o porquê de não querer que ela fosse fazer a negociação, Narcisa não descansaria enquanto ele não fizesse o que estava lhe pedindo.
Ele suspirou, alongando os ombros para se aproximar dela, ainda um tanto de má vontade e realmente tirar a varinha para realizar os encantamentos. Narcisa chegou até ele e o olhou, erguendo a sobrancelha um tanto desafiadora para ele. Era aquele olhar que faria ele cometer as loucuras que vinha cometendo por ela há alguns tempos, aquele olhar que conseguira ver por detrás das lágrimas no dia em que lhe propôs o Voto Perpétuo.
Severo ergueu a varinha entre os dois e a aproximou de Narcisa, movimentando-a primeiro ao redor da cabeça dela, começando a recitar o encantamento. Em seguida, desceu a varinha para próximo do peito dela, trocando as palavras para as próximas dentro do encanto.
Alguns fios de magia dourada saíram pelo peito de Narcisa e seguindo para a varinha do bruxo. Por alguns instantes ela fechou os olhos, precisando prestar atenção na respiração para manter-se bem. A sensação não era dolorida, porém era extremamente incomoda, como se alguém puxasse cada um daqueles fios de dentro dela.
- Me dê sua mão esquerda. – Snape pediu.
Cissa ergueu a mão, colocando-a sobre a mão que Severo a estendia. Ele fez um movimento circular sobre a mão dela e a tocou na palma com a ponta da varinha. Ela quase puxou a mão de volta, sentindo uma queimação momentânea.
Quando Snape afastou a varinha, fechando o feitiço com uma última palavra, a mulher sentiu as pernas vacilarem um pouco e se segurou-se nos ombros dele, sentindo-o a segurar pela cintura com um dos braços, enquanto jogava a varinha no sofá com a mão livre.
- Não acredito que me convenceu a fazer isso. – ele sussurrou no ouvido dela.
Narcisa sorriu, encostando a cabeça no peito dele para recuperar a respiração, subindo o rosto para olhá-lo em seguida. Severo a olhava com os olhos intensos, a testa levemente franzida.
- Não me olhe assim. – ele disse baixo.
- Assim como? – ela deu um sorriso de canto.
- Como se tivesse resolvido todos os problemas do mundo. – respondeu no mesmo tom.
Ela aproximou o rosto para o dele e o acariciou de leve com uma das mãos antes de ficar levemente na ponta dos pés para beijá-lo.
- Me dei conta de que agora estou totalmente livre. – sussurrou, beijando-o de novo. – Agora posso ser totalmente sua.
E lá estava novamente aquele olhar.
Ele a ergueu no colo pela cintura fazendo-a prender as pernas na volta de sua cintura. Seguiu com Narcisa no colo até o quarto e fechou a porta do quarto com um dos pés, para poder larga-la na cama.
A mulher passou as mãos pelo peito dele, abrindo os botões da camisa para descê-la pelos ombros dele com certa urgência. Ela deixou-se envolver totalmente nos beijos e nos toques dele e quando se deu por conta os dois já estavam totalmente despidos.
Severo abaixou os lábios pelo corpo dela, depositando beijos pelo pescoço e pelo colo dela, chegando com a boca nos seios para sugar um deles, enquanto manipulava o outro com as mãos. Narcisa segurou a cabeça do companheiro ali por alguns instantes, mas já remexia-se embaixo dele, ansiosa por tê-lo dentro dela de uma vez.
O ex-professor subiu novamente os lábios para beijá-la nos lábios, enquanto se posicionava entre as pernas para penetrá-la. Cissa arqueou as costas, o sentindo entrar nela devagar, para enfim começar a mexer com o quadril em um movimento lento de vai e vem que quase a torturava. Ela apertou os ombros do companheiro, marcando levemente o lugar com as unhas, e o empurrou para o lado para poder ficar por cima dele.
Ela gemeu, ajeitando-se novamente sobre o membro dele para enfim recomeçar a remexer o quadril, enquanto firmava as mãos no peito dele para sustentar-se. Snape fechou os olhos por alguns segundos, recostando a cabeça nos travesseiros. Arfando quando sentiu Narcisa parar de se mexer.
- Olhe para mim. – ela pediu, ofegante.
Ele voltou a abrir os olhos e ela inclinou o corpo para frente para poder beijá-lo. Severo subiu a mão e a segurou pelo pescoço, mordendo o lábio dela em seguida. Narcisa jogou um pouco a cabeça para trás, mantendo as mãos firmes no peito dele para mover-se, sentindo o corpo esquentar com a sensação nova – e extremamente prazerosa – da pressão que a mão do companheiro causava em seu pescoço. Em seguida ele buscou sentar-se na cama, apertando a coxa dela com certa força com a mão livre.
O gemido dela saiu alto novamente e tentou beijá-lo, mas ele a manteve longe ainda pelo aperto no pescoço e depois roçou os lábios no dela de um jeito provocante. Ela sorriu de canto, aumentando o ritmo dos quadris e inclinou o corpo para trás, firmando as mãos para trás e aumentando sua exposição. Severo sentiu o corpo dela começar a contrair-se em seu membro, e levou a mão do pescoço dela para seus cabelos e a puxou de volta para si, para beijá-la em seguida.
O corpo dela tremeu e ele sentiu o próprio corpo aquecer para derramar-se nela.
Narcisa sustentou os lábios nos dele por alguns segundos depois de atingir seu ápice até que finalmente afastou-se o suficiente para olhá-lo, afastando os fios de cabelo do rosto suado. Snape a olhou, dando-lhe um beijo rápido e se aproximando do ouvido dela.
- Totalmente minha? – ele perguntou.
- Sempre.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.