Claire poderia dizer que estava satisfeita. Mesmo que ainda não tivesse conseguido se aproximar do professor como gostaria do professor, havia passado apenas um mês desde que ele efetivamente voltara. Ela estava mais ciente a cada dia que passava que o momento certo para realmente se aproximar estava chegando, e agora que Harry estava do lado dela naquela situação podia ter ainda mais certeza.
Dos dias que passaram desde que o garoto discutira com Gina, pelo o que ela própria tinha conseguido ouvir na curva da escada, eles ainda passavam certo tempo juntos mesmo que se falassem consideravelmente pouco para um casal de namorados – e Claire não podia reclamar por cada brecha que isso lhe dava. Harry tentava não falar com a jovem Weasley sobre ela, mas mesmo assim não fez questão nenhuma de se afastar.
Não lhe interessava minimamente como ele lidaria com aquilo, já que o problema era totalmente dele, mas ao menos conseguia um tempo a sós com o garoto onde buscava – da forma mais sutil possível, e por isso agradecia o curso de Teatro que fizera nos verões quando menor – recolher o máximo de informações possível sobre como Lilian Potter era, além de histórias que ele soubesse sobre como as coisas eram no tempo de escola. Fazia muitas anotações mentais de uma conversa para outra e, nesse intervalo em que Potter simplesmente fingia se importar com o outro grupo de amigos, ela tinha tempo para formular ainda mais perguntas e ações.
Snape ainda era bem distante, e não se sentia mal por isso ao perceber que ele assim com todos os outros alunos – do Trio d’Ouro, aos queridinhos de Narcisa e até mesmo com Draco. O que ela precisava fazer era encontrar uma maneira de aos poucos romper qualquer que fosse aquela barreira que o professor tinha, para conseguir finalmente puxar um assunto pertinente ou coisa parecida. Precisava de um momento certo.
Harry havia lhe garantido que a ajudaria a pensar em algo, tendo em mente que Claire estava preocupada em conseguir aprender e pôr em prática seus diversos conhecimentos avançados de poções. Por enquanto não havia chegado a conclusão nenhuma, mas ela tinha fé que o garoto – por conhecer o professor a bem mais tempo – em determinado momento fosse conseguir uma saída.
Naquele momento sua maior preocupação era o baile de inverno que aconteceria em pouco mais de dez dias, e por enquanto não tinha ideia alguma de como iria fazer. Era um tempo muito curto para seja lá o que fosse inventar, a julgar que deveria agir sempre de forma sutil. Havia escorregado com Narcisa no início do ano e o seu pequeno deleite em provocar a professora com histórias sobre a Guerra e depois em fazer uma pequena cena para Slughorn quase havia colocado sua imagem de boa menina em xeque.
- No que tanto pensa? – Edward disse.
- Estou pensando no baile de inverno. – ela respondeu, enquanto sentavam-se num dos bancos do jardim. – Essa escola realmente gosta de festas. – resmungou.
- Não fale como se você também não gostasse. – disse. – Comemoramos a entrada do inverno porque em seguida a maioria de nós vai para casa comemorar as festas de final de ano.
Claire deu de ombros. Entendia o fundamento de fazerem o baile, mas ainda assim não estava totalmente satisfeita com a situação.
- Já sabe quem vai convidar? – Ed lhe chamou a atenção de novo. – Estou lhe achando um tanto aérea desde a aula de poções ontem.
A garota estreitou os olhos.
- Estou aérea? – perguntou.
- Sim, está. – disse ácido. – E não queria ser eu a ter que lhe dar essa notícia, mas me parece que o professor Snape já tem companhia para o Baile.
Edward se encolheu enquanto ela lhe acertava o braço com um tapa.
- Você é um idiota. – falou séria.
- Não sou eu que estou devaneando com um cara casado. – respondeu. – E com problema escrito bem grande na minha testa.
- Duas coisas: - usou um tom ainda mais sério, com um vinco formando em sua testa.- Primeiro, o casamento foi apenas uma falha no percurso; segundo, até posso ter problema escrito na minha testa, mas garanto para você que o problema não vai ser para mim.
- Você é doida e eu estou avisando que isso não vai terminar bem, olhe a confusão que já está arrumando e não trocou mais de duas palavras com o Snape sobre o caldeirão que estava limpando.
- E você é metido. – ela deu de ombros. – Eu estava catalogando poções e não limpando caldeirões. Além do mais, não devo satisfações nem aos meus pais não vai ser a você que vou dá-las.
- Não me procure depois para limpar a sua bagunça. – respondeu fechando a cara. Claire sorriu e cruzou as pernas. Não vai ter bagunça para limpar Ed, desde que faça sua parte mesmo sem saber. – E ai, sabe com quem vai?
- Não faço ideia. – deu de ombros. Ele fez menção de começar a falar, mas ela o interrompeu. – Não adianta sugerir que a gente vá junto, é meu primeiro e último ano aqui, não pega bem que eu precise ir com você. Vai ter que se virar sem mim.
Edward riu. E ela sempre acha que absolutamente tudo gira em torno dela, isso ainda vai fazê-la cair de cara no chão. A garota o olhou com a testa franzia, não gostando do tom dele ao dar risada.
- O que é?
- Eu já tenho acompanhante. – ele disse. – Estava preocupado mesmo é que você vai ter que se virar sem mim.
Claire ficou em silêncio, enquanto encarava o amigo um pouco incrédula. Edward já tem companhia e eu estou como uma pateta esperando que as coisas se resolvam.
- Pensei que você poderia chamar o tal John McMiller. – Ed prosseguiu depois de um tempo. – Eu soube que eles está afim de você.
- Nós nos conhecemos a quanto tempo Edward Scott? – ela estreitou os olhos. – Você sabe que eu não saio com... bem, esse tipo de gente.
O jovem corvino ficou um tempo em silêncio, sem entender muito bem a frase da amiga. Logo sua mente lhe lembrou da família de Claire e também da briga que ela tivera um mês antes com Gina.
- McMiller não é nascido trouxa, Claire. – ele disse por fim. – O pai dele é bruxo e a mãe é trouxa. Meu pai trabalhou alguns anos com o Sr. McMiller no Ministério antes que ele fosse transferido para o País de Gales.
- Então ele é mestiço? – ela torceu o nariz.
- Sim. – quase revirou os olhos para cara que ela fez. – Mas acho que não preciso lembrar você quem mais também é mestiço, preciso?
Clair o olhou por um tempo, sabendo certamente de quem estava falando. Harry contara para ela que Snape era filho de uma bruxa – Eileen Prince – e um trouxa qualquer – que o jovem não sabia como se chamava, mesmo que lembrasse de Hermione ler algo a respeito dos dois no sexto ano.
- São situações totalmente diferentes. – ela disse, prática. – Para Severo eu abriria uma exceção.
Edward riu, em alto e bom som, a fazendo assumir um tom rubro nas bochechas. Longe da vergonha, naquele momento ela passava perto da raiva. E, mesmo sob o olhar extremamente irritado da amiga, o outro demorou um tempo até que conseguisse se recuperar.
- Ai... - ele suspirou. – Às vezes eu tenho quase certeza absoluta que você não escuta as coisas que fala.
- Já vai começar de novo? – ela cruzou os braços.
O garoto levantou e ajeitou o casaco, pondo as mãos nos bolsos antes de olhar pra ela. Balançou a cabeça, ainda se divertindo.
- Eu queria saber como vai ser. Se perderia 50 pontos só se o Professor Snape a ouvisse chamá-lo pelo nome, quantos pontos será que vai perder quando ele descobrir as ideias que se passam nessa sua cabeça de vento?
- Quantas vezes já viu alguém me dizer não, Ed? – ela perguntou levantando também.
- A pergunta deveria ser quantas vezes você já parou para ouvir quando alguém fala não. – ele disse. – Claire eu amo você como minha irmã e não quero que acabe arrumando problemas.
- Pode guardar todo esse seu amor, Ed, para alguém que se importe com isso. - ela sorriu de canto e se aproximou, dando um beijo no rosto dele. - E sente-se para ver onde vou chegar.
~*~
Dia 15 de dezembro de 1998
Terça-Feira
Era o primeiro mês em que estava oficialmente trabalhando no Ministério e a primeira de suas condições ao aceitar realizar a tarefa junto aos aurores começava a ser descumprida. O combinado era que visitaria o Ministério da Magia dois sábados por mês, de forma que não acabasse atrapalhando seu desempenho em Hogwarts e que não acabasse ficando exausta também. Iria a cada quinze dias nos meses seguintes, mas dezembro estava sendo excepcional por diversos motivos – primeiro porque havia trabalhado os dois primeiros finais de semana, sem muito problema já que os finais de semana seguinte seriam preenchidos por coisas na escola e pelas festas de final de ano, e agora porque estava indo em sua folga, em plena terça-feira, responder um chamado do Ministro.
Ajeitou o casaco e o cachecol que estava em volta do pescoço, com o corpo protestando com o frio que estava dentro do longo corredor de entrada. Havia deixado de usar a entrada dos visitantes e agora passava a utilizar as dos funcionários, mas ainda não sabia se conseguiria acostumar-se com a falta de praticidade em chegar ali. Seria muito mais fácil se eu simplesmente pudesse aparatar aqui, tudo isso de privada... Ela arrepiou-se inevitavelmente, enquanto entrava no elevador e indicava para onde deveria ir.
Saiu no corredor da sala em que se encontrava com a equipe – que por enquanto estava sendo composta por Kingsley, Henry Bennett e ela própria, mas que aos poucos começaria a ser preenchida pelas demais pessoas que estavam sendo recrutadas para auxiliar. Por alguns segundos o barulho de seus saltos contra o chão de madeira era o único que ecoava pelo corredor, mas logo o elevador anunciou a chegada de mais alguém e novos passos passaram a acompanhar os seus.
- Então é você a arma secreta de que me falaram. – a voz grossa falou em um tom divertido atrás dela.
Narcisa parou de caminhar e virou o rosto brevemente sobre o ombro, não reconhecendo a voz e por alguns segundos também não reconhecendo o rosto de quem lhe falava. Conforme a figura se aproximava – um homem alto, de cabelos castanhos bem penteados e olhos claros, os ombros largos marcados sob o sobretudo, que não parecia ter mais de 40 anos – ela buscou reconhecer de onde vinha a sensação de semelhança. Conseguiu reconhecer de quem se tratava apenas quando ele já havia chegado a poucos passos dela e lhe dirigiu um sorriso, de fato inconfundível.
- Richard McMiller. – ela disse por fim.
- Narcisa Black. – ele parou em frente a ela. – Já estava quase ofendido por não lembrar-se de mim. – brincou.
- Digamos que vinte anos mudam as pessoas, não reclame. – respondeu bem humorada. – E você tem vantagens em me reconhecer no final das contas. – colocou uma mecha do cabelo para trás. Ele riu. – O que faz aqui?
- Sou o representante da Brigada de Aurores do País de Gales. – disse. – O Ministro Shacklebolt me chamou para auxiliar na nova missão. E acertei, é você a famosa arma secreta do Ministério?
- Famosa eu acho difícil. – disse. – E se sabe sobre mim, diria que também não tão secreta.
Ele assentiu, concordando. Narcisa olhou o relógio no final do corredor e suspirou.
- Ainda temos alguns minutos, vamos indo para sala? – ela indicou a sala no final do corredor.
- Você primeiro. – Richard indicou o corredor.
Narcisa agradeceu com um sorriso de canto e foi em direção a habitual sala, enquanto ele a acompanhava ao lado. Era uma surpresa encontrar alguém da época de escola, principalmente alguém com quem nunca mais tivera contato depois que se formara e isso trazia muitos questionamentos incentivados por sua curiosidade.
Richard apenas apressou o passo ao chegarem perto da porta e a abriu, dando passagem para que Narcisa entrasse primeiro e fez o mesmo logo depois. A sala consistia em um espaço para reuniões, não muito grande, com uma mesa oval e seis cadeiras – quatro laterais e duas nas cabeceiras – e com dois sofás que ficavam embaixo das janelas.
Cissa retirou o casaco e o cachecol, colocando no cabideiro ao lado da porta e deu espaço para que o homem fizesse o mesmo. Ela seguiu até um dos sofás e sentou-se por onde ainda entrava um tímido raio de sol. Também não vou me adaptar a falta de luz natural nesse lugar. Suspirou.
O auror aproximou-se e sentou no sofá ao lado, a observando retirar as luvas escuras e as colocar dentro da bolsa que estava ao lado. Percebeu o brilho da aliança em sua mão esquerda, quando refletiu ao sol, e sorriu.
- Quase esqueci. – ele disse a chamando atenção. – Parabéns pelo casamento, soube que é uma Snape.
Narcisa olhou para as próprias mãos e sorriu, girando a aliança no dedo.
- Não me diga que a edição do sensacionalista de Rita Skeeter sobre meu casamento chegou no País de Gales? – ela voltou-se para ele.
Richard riu fraco e negou com a cabeça.
- Você e Snape são professores do meu filho. – respondeu e sorriu com a expressão de leve confusão que a mulher ficou.
Precisou de alguns segundos para passar a mente em todos os alunos para quem lecionava. Demorou um breve momento para lembrar de quem era, então, antes mesmo que conseguisse lembrar do menino em sala de aula, lembrou da briga de Gina com Claire um mês antes – e lembrou que, quando estava falando com a jovem Weasley sobre como começou o problema, um nome conhecido havia surgido: McMiller, John McMiller.
- John. – ela disse por fim e ele sorriu de novo. – Por Merlin, ele não se parece nada com você quando era novo.
- E deve ser grato por isso. – riu. Narcisa balançou a cabeça. – De mim deve ter herdado somente a magia, o resto ele é totalmente parecido com a mãe.
- Eu disse que não se parece com você quando era novo. – enfatizou.
Antes que tivesse a oportunidade de dar seguimento ao assunto, a porta da sala tornou a abrir-se e os dois levantaram-se do sofá logo que a figura do Ministro da Magia entrou, sendo seguido por Henry Bennett com uma cara de poucos amigos. Narcisa respirou fundo, só pela a cara do auror poderia imaginar que seria um longo dia e ainda mais a julgar pela quantidade de pastar que ele trazia nas mãos. Lá vamos nós.
Kingsley cumprimentou os dois já estavam ali com um aperto de mão e palavras cordiais e sentou-se em uma das cadeiras de cabeceira, indicando para os demais que sentassem também. Bennett ocupou a cadeira a esquerda da mesa, ao lado o ministro, e Narcisa sentou de frente para ele, como vinham fazendo habitualmente. Richard puxou a cadeira e sentou-se ao lado dela, mantendo-se atento ao que o homem sentado na ponta da mesa começava a falar.
Bennett passou as pastas por cima da mesa e alcançou para Narcisa, que já começou a folhear o primeiro dos arquivos ali. A primeira parte do trabalho era basicamente olhar cada um dos aurores e ver qualquer um deles que conseguisse encaixar na descrição que Lucius havia dado e – principalmente – que pudesse parecer o mais familiar possível a ela. Já havia selecionado, entre todas as pessoas que respondiam ao Ministério da Magia do Reino Unido, cerca de 5 pessoas que correspondiam a todos os requisitos. Quando terminou de olhar a última, das quatro pastas, sob o olhar atento dos três homens que a acompanhavam, suspirou e balançou a cabeça negativamente.
- Terminamos todos os arquivos. – Kingsley disse. – Acho que podemos partir para a segunda parte do que planejamos. Senhor Bennett?
- Vamos montar algumas brigadas e passar a dar informações privilegiadas das missões. – ele disse. – Uma comandada por mim, uma por Arthur Weasley e a outra pelo Sr. McMiller.
Cissa olhou de soslaio para o auror que estava ao lado dela e que estava ainda prestando atenção no chefe da brigada.
- Seguiremos com nossas missões e com as emboscadas. – continuou. – Como todos os aurores estavam cientes da tarefa que a equipe de Arthur iria executar, havia muita gente que poderia ser o responsável por vazar a informação, mas agora que limitamos as formações com esse cincos suspeitos que nos auxiliou, vamos deixar que as informações vaguem apenas por entre os três grupos.
- Dessa forma a emboscada que for comprometida, nos dirá de qual grupo está vazando nossos planos e assim conseguimos afunilar ainda mais o nosso leque de suspeitos. – McMiller se manifestou. – É um bom plano.
- E como entro nisso? – Narcisa cruzou as pernas.
- Passa a analisar as pistas que forem encontradas e nos ajuda a pensar exatamente em como podemos passar as informações para cada um dos grupos. – Kingsley respondeu. – Afinal de contas você é quem melhor conhece esse meio e as pessoas que estamos buscando.
A mulher apenas assentiu, sentindo uma sensação de ansiedade lhe retorcer a boca do estômago. Por mais que estivesse ciente de tudo quando aceitou o trabalho, era inevitável não se sentir nervosa a cada passo que dava em direção os Comensais e aos riscos que significavam chegar cada vez mais perto daquilo. Havia ainda a possibilidade de precisar voltar a falar com Lúcio e não tinha realmente certeza se a conversa seria amigável novamente depois do pequeno impasse que tivera quando o encontrara da última vez.
Girou um tanto nervosa a aliança nos dedos, voltando a prestar atenção no que os outros conversavam mesmo que sem dar total importância. Kingsley perguntava para Richard sobre onde ele pretendia ficar agora que estava de volta a Londres e que precisava a sua estadia fosse mantida no máximo sigilo possível principalmente para algumas pessoas. Se toda aquela movimentação do Ministério chegasse aos ouvidos dos jornais poderia ser o fim de algo que sequer havia começado.
- Narcisa. – o Ministro lhe chamou a atenção novamente e mexeu em alguns papéis sobre a mesa, enquanto ela aguardava em silêncio com os olhos atentos ao homem. – Mesmo que isso não faça parte do assunto que tratamos aqui, achei melhor lhe entregar isso hoje para que não precise voltar durante a semana. – lhe passou um envelope pardo por cima da mesa.
Cissa passou os olhos pelas anotações feitas na frente do envelope e franziu a testa ao ver que eram papéis ainda sobre sua separação de Lúcio. Achou estranho receber novos documentos agora, já que o divórcio estava oficialmente resolvido desde antes dela e Snape casarem, tanto que ela carregava oficialmente o sobrenome do marido. Não sabia se havia coisas a resolver quanto a aquilo ainda, mas esperava que – o que quer que fosse que a esperasse ali – não fossem mais problemas.
- Se já estivermos com tudo resolvido, - ela disse suspirando. – tenho diversas coisas para organizar em Hogwarts.
- É claro. – Kin levantou, sendo seguido pelos outros três. – Agradeço mais uma vez por ter vindo em seu dia de folga, e se tudo correr bem, não nos vemos antes do ano novo. – sorriu para ela.
Narcisa sorriu de canto e apertou a mão que o Ministro lhe estendera, e depois repetiu o gesto com Henry – que seguia de cara torcida desde o começo da reunião, a fazendo questionar se por conta da presença dela ou do novo companheiro de serviço que ele teria a partir de agora. Claramente não gosta de dividir a atenção e tem feito bastante isso nos últimos tempos.
Vestiu as luvas novamente e parou perto do cabideiro, para colocar o casaco e o cachecol novamente, enquanto Kingsley e Bennett deixavam a sala e Richard voltava a se aproximar, repetindo os mesmos passos que ela.
Saíram juntos no corredor depois de um tempo se organizando na sala, e caminharam por um tempo em silêncio. Os outros dois homens já não estavam pelos corredores e Narcisa imaginou que deviam ter muito trabalho a fazer, afinal de contas os dois precisavam seguir levando as coisas normalmente e tranquilizar as pessoas quanto a situações dos Comensais que ainda não haviam sido capturados mesmo que meses depois da Segunda Guerra ter fim.
Um suspiro longo lhe escapou os lábios, enquanto esperava o elevador chegar, chamando a atenção de seu acompanhante que também parecia pensativo desde que deixaram a sala de reuniões. Sabia que se o Ministério, principalmente o chefe da brigada dos aurores, tivesse gasto menos tempo atrás de motivos para que ela e Severo acabassem condenados, a resposta aos Comensais da Morte poderia ter sido muito mais rápida e agora ela não precisaria estar se expondo – evitando que de alguma forma seu marido e seu filho, além de seus amigos queridos, continuassem sempre a sombra de um perigo alimentado pelo Lord das Trevas mesmo depois da queda.
Balançou a cabeça negativamente, afastando a onda de pensamentos. Não adiantaria nada agora ficar remoendo aquele tipo de coisa, pelo menos depois de aceitado participar de tudo. Sabia que estava sobrecarregada de coisas na escola – seus planejamentos, suas aulas, os trabalhos extraclasse que os alunos entregavam, o baile de inverno e as festas de final de ano – e ainda precisava lidar com a pressão de precisar apontar as coisas e as pessoas certas para o Ministro, sem margem alguma para erro, e que provavelmente o turbilhão de coisas e sentimentos que lhe incomodavam o peito e a cabeça não passavam disso. Estou apenas sobrecarregada.
- Você e sua esposa já tem onde ficar? – ela perguntou, desviando as ideias do aperto repentino no peito e do formigamento que lhe incomodou a ponta dos dedos.
Richard virou-se para ela novamente, enquanto entravam juntos no elevador.
- Vim sozinho para Londres. – ele respondeu. – Mas sim, vou ficar na casa dos meus sogros por alguns dias.
- Sozinho? – ela franziu a testa. Não conseguia imaginar Severo saindo em uma missão de risco em outro lugar longe de casa e ela não o acompanhando. – Muita intromissão minha perguntar por que ela não o acompanhou?
O homem deu um sorriso de canto um tanto triste e ficou em silêncio por alguns segundos, antes de retomar a postura ereta dos ombros e por as mãos nos bolsos.
- Sou viúvo. – ele disse.
Narcisa sentiu as bochechas esquentarem e ficou levemente constrangida.
- Eu sinto muito. – disse. – Eu não imaginava, quero dizer...
- Tudo bem. – ele a interrompeu. – Não havia como saber, não tem problema.
- Mesmo assim, sinto muito pela intromissão. – disse.
Devia ter sido melhor ter ficado quieta com minhas paranoias, ao menos evitaria essa situação. Ela ficou em silêncio novamente. Os minutos que antes pareceram rápidos dentro do elevador, quando seguia sozinha para a reunião, dessa vez estavam parecendo infinitos. Talvez por estar parando algumas vezes mais com o entra e sai sutil de funcionários do ministério.
Ajeitou a bolsa que trazia pendurada no braço e abaixou os olhos para o pulso, olhando o horário marcado no relógio. Já eram quase cinco horas e já deveria estar consideravelmente escuro, dado o inverno que estava cada vez mais perto. Havia combinado de caminhar com Snape no final da tarde, para tentar espairecer ao menos um pouco com a confusão que estavam seus horários, já que estavam se vendo pouco também desde que o último mês do ano entrara. Eu tinha deixado absolutamente tudo organizado, mas aparentemente tenho o imã para o caos. Passou os olhos do próprio pulso para o envelope pardo que Kingsley havia lhe dado e que estava enfiado de qualquer forma dentro da bolsa.
Narcisa Black x Lúcio Malfoy
Processo Legal de Divórcio
A respiração saiu tremula e as portas do elevador se abriram no momento certo em que ela precisou de um pouco mais de ar. Quanto tempo tinha passado ali dentro, dois ou três minutos no máximo?
- Está se sentindo bem? – Richard chegou ao lado dela.
- Com a cabeça abarrotada de coisas. – disse. – A vinda repentina acabou atrasando alguns planos que eu tinha para hoje.
- Eu vou usar a saída de visitantes, para ir para mais perto de onde vou aparatar. Quer que eu lhe acompanhe? – perguntou.
- Acho que vou fazer o mesmo que você. – ela disse. – Não sei se vou me habituar a forma oficial de chegar até aqui.
Ele deu uma risada breve, concordando com ela. Passaram a caminhar juntos novamente. Cissa respirou fundo mais uma vez, buscando desocupar a mente de novo – dessa vez com um pouco mais de tato para abordar assuntos que cercavam sua curiosidade.
- E então, como foi depois de Hogwarts? – ela perguntou.
- Uma confusão. – ele sorriu. – Deixei a escola e prestei a prova para a brigada de aurores. Conheci minha esposa, Elisa, em uma banquinha de jornal perto de onde eu aparatava, ela tinha conseguido o primeiro emprego e logo eu virei um assíduo leitor do noticiário trouxa. – Narcisa riu fraco. – Namoramos escondido por um ano e quando fui efetivado no Ministério, a pedi em casamento. Meus pais ficaram furiosos comigo, por ela não ser bruxa, e fiz o que qualquer pessoa sem dinheiro ou casa própria como eu faria...
- Você fugiu. – Cissa completou por ele.
- Claro que fugi. – concordou. – Moramos um ano com os pais dela e consegui alugar uma casa em um bairro bruxo. Em seguida ela ficou grávida e tivemos o John. Em pouco tempo recebi uma promoção e compramos a casa onde estávamos morando. No ano que meu filho entrou em Hogwarts fui transferido para Gales. – ele deixou um suspiro longo lhe escapar os lábios. – Depois disso Elisa adoeceu, não tivemos muito o que fazer.
- Sinto muito. – ela disse novamente, mas o sentimento na voz era genuíno. Não podia imaginar-se sem o marido, e só de lembrar que quase o havia perdido no final da Guerra sentia o corpo todo arrepiar.
Ele sorriu novamente, mas Narcisa percebeu não ser nada direcionado a ela. O olhar do auror era um tanto perdido e ele pareceu imerso nas boa lembranças por alguns breves momentos, antes de piscar algumas vezes e a olhar de relance. Já estavam saindo nas ruas de Londres a àquela altura.
- Me pareceu bem corajoso para um Lufano. – ela disse por fim na tentava de descontrair.
- Pensando agora, talvez seja por isso que meus pais tenham me expulsado de casa. – ele franziu a testa. Narcisa riu novamente. – E você, finalmente conseguiu dobrar Severo Snape.
Foi a vez dela sorrir de maneira boba antes de suspirar.
- Com um casamento infeliz, um divórcio e uma guerra no caminho, mas aparentemente sim. – disse. – É engraçado pensar que o que na verdade acabou nos aproximando depois da escola foi o fato de eu estar casada com Lúcio. Severo é o padrinho de Draco, e mesmo que esquivo como sempre foi, esteve extremamente presente. Fui apaixonada por um menino, mas com toda certeza aprendi a amá-lo como homem. – suspirou. – Bom, quando comecei a lecionar em Hogwarts as coisas acabaram realmente acontecendo.
- Talvez a sua tática do baile só tenha demorado algum tempo para surtir efeito. – ele disse.
Ela deu de ombros.
- O que são vinte anos quando agora temos a vida inteira? – sorriu.
- Pela forma que seus olhos brilham a falar dele, acredito que têm muita sorte em terem um ao outro. – ele disse.
Narcisa sorriu novamente, parando de caminhar e olhando em volta. Havia chegado em um ponto bom suficiente para aparatar e a conversa já havia lhe deixado mais calma, poderia aparatar em Hogsmeade e seguir tranquila até Hogwarts.
- Acho que não nos vemos antes da virada de ano. – ela disse, ajeitando o cachecol para proteger-se do vento frio. – Tenham um bom Natal e um bom Ano Novo.
Richard agradeceu com um sorriso e deu um passo para trás, dando espaço para que ela conseguisse aparatar.
- Mande lembranças minhas ao seu marido, Sra. Snape. – ele disse.
A mulher sorriu para ele e assentiu, olhando em volta antes de finalmente aparatar. Quando finalmente sentiu novamente seus pés no chão, a noite já tomava conta do vilarejo e de todo o caminho até a escola. Caminhou rapidamente para Hogwarts, impulsionada pelo frio e com medo que a sensação de nervosismo voltasse a lhe assolar enquanto estava sozinha na rua.
Chegou nos aposentos nas masmorras, com as mãos frias mesmo dentro das grossas luvas. Passou as mãos pelos braços, assim que fechou a porta, e olhou em volta, percebendo a porta do laboratório de poções aberta e que alguns barulhos vinham lá de dentro.
Havia chegado horas depois do horário que ela e Severo haviam combinado de sair para caminhar, já que as aulas dele terminavam as 15h e já passava das seis da tarde. Quis ajeitar-se antes de encontrar com ele, afinal deveria estar com uma aparência exausta e estava com frio. Então a melhor pedida no momento seria um banho quente, roupas limpas e mais confortáveis e o cabelo totalmente solto.
Deixou duas coisas sobre a escrivaninha e observou sua pilha de afazeres que acumulava no canto esquerdo da mesa de madeira. Não quero pensar nisso agora. Tirou o envelope que trazia dentro da bolsa e jogou com os outros papéis, se descalçando e seguindo para o quarto em seguida.
Como no sábado interior, Severo ouviu a esposa chegar e seguir para o quarto. Imaginou que deveria estar cansada e não cogitou por um momento se ela realmente voltaria para vê-lo pelo menos antes do horário do jantar. Estava usando a escrivaninha que havia dentro do laboratório para fazer suas anotações e corrigir seus trabalhos, de forma que não bagunçasse as coisas que Narcisa havia deixado na outra mesa.
Fechou o livro de poções em que fazia anotações sobre sua experiência, que ainda cozinhava em fogo baixo em um caldeirão no canto, e colocou na gaveta, largando a pena que segurava com a outra mão. Mexeu os dedos, um tanto desconfortável, lembrando do formigamento que havia tomado conta das mãos um pouco tempo antes.
Minutos depois, a porta de acesso para o quarto se abriu e Narcisa passou para dentro do cômodo aquecido, olhando para ele com um sorriso de canto.
- Sinto muito pelo atraso. – ela disse enquanto se aproximava.
Snape se recostou na cadeira e a olhou alguns segundos. Cissa chegou até ele e lhe deu um selinho, sentando sobre a mesa em seguida.
- Deveria estar ocupada. – respondeu. – E agora deve estar cansada. Por que não descansa até o horário do jantar?
- Estou bem, não se preocupe. – ela sorriu.
Ele assentiu pra ela e puxou algumas folhas de trabalho para perto, estendendo a mão para puxar a pena. Olhou os próprios dedos um instante e franziu a testa, olhando para ela em seguida.
- Senti um formigamento estranho nas mãos mais cedo. – disse. – Sentiu algo estranho hoje?
Narcisa quase engoliu seco. Estivera assim mais cedo quando ficara ansiosa. Mas no fim, apenas negou com a cabeça, fazendo com que o marido apenas desse de ombros.
- Deve ser porque tem usado muito sua magia nos últimos dias. – sugeriu. Severo ergueu a sobrancelha e pareceu cogitar a possibilidade. – Sabe, encontrei um velho conhecido hoje no Ministério. – completou antes que ele conseguisse continuar com o assunto.
- Encontrou?
- Sim. – respondeu. – Ele vai fazer parte do trabalho que venho fazendo, liderar uma das equipes.
- E eu posso saber conhecido de onde? – molhou a pena no tinteiro fingindo estar minimamente interessado.
- De Hogwarts. – disse. – Era um colega nosso, do mesmo ano que nós. E agora é pai de um de nossos alunos.
Ele parou de escrever um instante e ergueu os olhos para ela.
- De que aluno? – perguntou.
- John McMiller, aluno do sétimo ano. – ela sorriu.
Um pequeno vinco se formou na testa do professor de poções e ele abaixou os olhos novamente para as folhas. McMiller, sabia que reconhecia esse sobrenome, mas não conseguia lembrar de onde. Recordou-se, depois de não pensar muito, que McMiller havia sido o lufano petulante que havia levado Narcisa ao baile de primavera do sétimo ano. Claro que, como ela mesma havia dito, neste dia ele preferira ficar bebendo sozinho a convidá-la, mas tudo por ser um grande idiota e cego demais para ver o que estava desenhado em sua frente. Agora, consciente das coisas, a ideia de Cissa ter reencontrado com McMiller lhe parecera brevemente... incomoda?!
- Não sei de quem está falando. – deu de ombros.
A mulher quase sorriu de canto, identificando um tom breve de incomodo na voz do marido. Perderia a oportunidade de provocá-lo? Possivelmente não.
- Não sabe quem é o aluno ou o pai? – ela perguntou. – McMiller está na sua classe de poções de quinta-feira de manhã, já Richard foi o garoto que me levou ao baile de primavera no nosso sétimo ano. Recorda-se?
- Argh. Lufanos. – ele resmungou. Narcisa riu.
- Pelo visto sim. – manteve um sorriso de canto. – Você já foi melhor em encontrar semelhanças entre pai e filho. – provocou.
Severo parou de escrever e largou a pena sobre a mesa, erguendo os olhos estreitos para ela. Cissa ergueu a sobrancelha sugestiva.
- Se bem que eu diria que nosso aluno é muito mais parecido com como o pai é agora. – ela continuou.
- Estou trabalhando, sabia? – ele disse.
Ela deu de ombros, descendo da mesa.
- E eu estou lhe atrapalhando? – perguntou.
- Vê uma graça enorme em ser petulante, não vê? – afastou a cadeira da mesa e levantou-se, parando com o corpo próximo ao dela.
- Pensei que gostasse de quando sou petulante. – manteve o olhar firme no dele.
- Você me tira do sério quando quer. – passou um braço pelas costas dela a puxando mais para perto.
- E você gosta. – ela riu dando um beijo nos lábios dele.
Severo levou a mão livre aos cabelos dela e antes que conseguisse aprofundar o beijo, foram interrompidos por batidas fortes e insistentes na porta dos aposentos. Narcisa desviou brevemente o rosto, mas ficaram na posição em que estavam por mais alguns segundos – ou tentando identificar quem era na porta ou simplesmente esperando que quem quer que fosse desistisse.
Mas as batidas tornaram e os dois precisaram se desvencilhar, seguindo juntos para os aposentos. Cissa seguiu até a porta enquanto Snape esperava perto dos sofás, com a testa franzida e nada satisfeito pela interrupção. Assim que a mulher girou a maçaneta e um clic foi ouvido, a porta foi empurrada com violência e ela deu dois passos para trás desequilibrando.
Snape enrijeceu a postura, enquanto os olhos iam da esposa que se recompunha para o casal de cabelos grisalhos que adentravam o cômodo sem serem convidados.
- Malfoy. – o professor disse assim que o bruxo de cabelos brancos o encarou de cima.
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