1
De fato, andar por uma floresta durante a noite apenas com uma lanterninha de bolso — que vez ou outra cismava em falhar — não era lá algo muito agradável. Mas Sugawara não se importava nenhum pouco com isso. Pelo menos não no momento. Sua mente estava ocupada demais com pensamentos de arrependimento e preocupação para se importar com qualquer outra coisa que não fosse sua missão.
Se em um dia qualquer o dissessem para entrar no meio daquela mata às nove da noite, Koushi com toda a certeza do mundo recusaria. Afinal, é naquela escuridão que se escondem as coisas mais temíveis. É possível dar de cara tanto com um fantasma quanto com um bêbado ou um assassino, e Sugawara realmente não queria topar com qualquer um que fosse, a não ser o motivo dele estar ali: seu pequeno gato de pelagem branca e olhinhos pretos chamado Einstein.
O nome Einstein viera pelo motivo de que quando achou aquele felino na sarjeta, levou-o imediatamente para a casa, e o animal acabou por rasgar seu trabalho de história sobre o físico que teria de entregar no dia seguinte. Já que não adiantaria de nada culpar o gato e ficar com raiva, decidiu simplesmente deixar a situação um pouco cômica. Isso fora a mais ou menos seis meses atrás, quando sua mãe ainda tinha o emprego no escritório do centro da cidade e não precisava vender cosméticos baratos para sustentar a casa. Aliás, era por causa dela que Koushi se encontrava ali. Naquela manhã, os dois tiveram uma briga e ela obrigou Sugawara a afugentar Einstein de casa, pelo motivo de que a ração para gatos custava uma fortuna. A verdade é que o garoto nunca teve uma boa convivência com sua mãe, e ao passar dos dias as discussões aumentavam cada vez mais. Na sua opinião, mesmo que ela fosse sua matriarca, por assim dizer, nunca a viu com bons olhos. Para ele, sua mãe era irritante, mesquinha e sem caráter. Tinha certeza de que se vivesse lá pela época medieval — ou até mesmo nos dias de hoje, caso não fosse considerado um crime —, sua mãe não hesitaria em o vender como escravo por alguns trocados.
Caminhou mais um pouco, escutando os galhos e as folhas se partirem sob seus pés. Chamou pela vigésima terceira vez o gato, mas novamente aquilo não adiantou de nada.
Suga se sentia o pior dos monstros por ter abandonado o pequeno animal indefeso, imaginando o quão vulnerável aquela criaturinha devia estar. Miando de fome ou dor.
Fungou baixo, limpando os olhos com a manga do casaco antes que as lágrimas caíssem.
— Eu sou uma pessoa horrível! — balbuciou. — Por que eu tinha que te abandonar, heim? Nós éramos amigos, não é Einstein? — a lanterna piscou e ele decidiu que era hora de voltar para casa e deixar o resgate para o dia seguinte. Esperava que o bichano estivesse vivo até lá.
Virou-se andando lentamente pelo caminho de onde veio com a expressão abatida, quando escutou um barulho alto à sua esquerda. Era como uma explosão e isso já era estranho por si só, não tinha necessidade de ver luzes azuis neons no meio daquela escuridão para aumentar mais ainda o medo que estava sentindo. Suga teria gritado muito alto e começado a correr no mesmo instante, se sua voz não tivesse sumido completamente e suas pernas não estivessem se recusando a dar algum sinal de vida.
Ficou parado ali por alguns longos minutos, totalmente paralisado e com os olhos arregalados, quando finalmente aquela luz cegante se apagou. Ele queria correr o mais rápido que pudesse para casa, se meter debaixo dos cobertores quentinhos e dormir até o dia seguinte, transformando tudo aquilo em um simples sonho. Queria, mas infelizmente não pôde, já que suas pernas se recusaram a acatar suas ordens e começaram a caminhar na direção de onde o barulho e as luzes bizarras vieram.
Engoliu em seco e quando finalmente viu aquilo, o grito antes preso em sua garganta saiu. Alto e áspero. Assustado e incrédulo. Suas pernas falharam e seu corpo se chocou contra o chão, largando a pequena lanterna de bolso que se apagou automaticamente, deixando tudo no mais puro breu.
Só podia ser brincadeira.
Koushi podia mais do que qualquer um, acreditar em fantasmas e contos de fadas, mas se tinha uma coisa que ele não engolia, era alienígenas.
Um monstro dentro de seu armário ou debaixo de sua cama tudo bem, mas vida fora da Terra? Que grande bobagem!
Até aquele momento Suga imaginava que toda aquela história sobre naves e criaturas de outro planeta não passavam de uma gigantesca mentira criada por Hollywood. Até aquele momento, pois agora ele acreditava mais do que qualquer cientista da NASA. Tanto que não conseguia parar de tremer, chorar e implorar a Deus pela sua vida.
Seu coração estava tão acelerado que ele podia ter um piripaque a qualquer momento. A situação não melhorou nenhum pouco, ao contrário, piorou ainda mais, quando as luzes azuis neon, que saiam de alguns círculos ao redor do OVNI, se fizeram presentes de novo e a gigantesca porta da nave começou a se abrir lentamente.
Suga nunca fora alguém religioso, mas aquele momento pedia por orações. Cada vez que aquela porta se abria ainda mais, revelando uma silhueta, ele chorava com ainda mais força, não conseguindo se levantar do chão para correr ou sequer desmaiar. Estava completamente em pânico.
Fechou os olhos enquanto escutava as folhas e os galhos se partirem, anunciando a aproximação da criatura que ele jurava ser como o bicho do filme E.T - O Extraterrestre, só que maior, mais feio e o contrário de sonso e bonzinho.
O corpo perto de si parou de se mover, fazendo com que Koushi abrisse lentamente seus olhos que continuavam derrubando lágrimas. Olhou para cima com certa hesitação, se surpreendendo com a criatura em frente a si. Não era enrugado, marrom e muito menos feio. Ao contrário, era bem bonitão. Sua aparência não era a de alguém para lá das estrelas; era a de um humano. Um humano com uma sobrancelha arqueada extremamente confuso.
Apesar de sua aparência não-assustadora, Sugawara não se acalmou nenhum pouco.
— ‘MoçoextraterrestrepeloamordeDeusnãomecome — a voz embargada pelo choro fazia com que fosse impossível de se entender o que dizia, mesmo que seu ouvinte não fosse da Terra.
— Como? — o outro perguntou calmamente. — Não entendi.
— ‘Porfavornãomemataeusounovodemaispramorrer — novamente impossível de entender aquela frase.
— Hãn? Pensei que vocês terráqueos falavam a mesma língua que nós. Isso é estranho… — o alienígena-de-aparência-não-tão-alienígena-assim suspirou cansado. — Gostaria de saber se tem alguém aqui que possa consertar minha nave.
Suga o encarou, fungando e tentando controlar o choro.
— Você — a voz estava trêmula e rouca. —, Você não vai me matar e me devorar?
— Oh, você fala minha língua! — encarou-o entusiasmado e franziu o cenho. — Te matar e devorar? Que história é essa?
Koushi o observou em silêncio. Ele não ia fazer nada consigo? Não era um alien cruel como naqueles filmes de Hollywood?
— Você é ruim? — perguntou levantando-se lentamente.
— Sou um karasuniano. Karasunianos não são ruins.
— Entendo — na verdade não entendia. O que diabos era um karasuniano? — Sinto muito — limpou os olhos com a manga do casaco. —, mas acho que não tenha ninguém aqui na Terra que possa consertar seu OVNI.
— Ninguém?
— Digamos que não temos muita experiência com visitações.
— Entendo, mas acho que mesmo assim, vou procurar alguém que possa me ajudar, por aí — encarou bem o menor em frente a si. — Você se importaria de me hospedar em seu lar até que eu encontre alguém? Meio que estou à alguns anos luz longe de minha terra natal, Karasuno, na galáxia de Haikyuu54.
Suga engoliu em seco. Ele deveria manter um alienígena que acabou de conhecer em sua casa? Mordeu os lábios pensando na rua sem saída onde tinha se metido. Fazer aquilo devia ser perigoso, ainda mais com os rumores sobre a área 51 correndo soltos e sua casa não sendo muito grande. Se as forças armadas e a NASA batessem em sua casa seria um gigantesco problema. Sua mãe também dificultaria, e muito, aquilo. Onde iria o esconder por tempo indeterminado? Balançou a cabeça e olhou novamente para o outro. Ele podia até ser bem gato para um alienígena, mas aquilo estava fora de cogitação.
Respirou fundo.
— Não fazendo muito barulho, tudo bem!
Oh, merda. Sua boca falou sozinha. Seu corpo amava se descontrolar em situações bizarras e por culpa disso ele teria de hospedar um extraterrestre em sua casa.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.