A madrugada fria e calma era admirada por Katara, que olhava para as estrelas atentamente de sua janela, enquanto seus cabelos castanhos dançavam junto a brisa constante.
Desejava passar a maior parte do tempo no seu aposento, a espera de que algo acontecesse, mas não é assim que a vida funciona. Ela sabia que em ambientes fechados, as coisas apenas se repetem, ou não acontecem.
Independente de seu cansaco, tanto físico quanto mental, não existia qualquer resquício de sono. O vestido branco com várias camadas de ceda que envolvia seu corpo, impedia que o frio intenso fosse sentido, afinal, já havia se acostumado com o clima.
Assim como as íris azuis encaravam o jardim abaixo de sua janela, mesmo não sendo as flores merecedoras de sua atenção.
Com os braços cruzados em cima do parapeito, cada movimento realizado pelo príncipe do Reino do Fogo era vigiado pela mulher.
Não fazia muito tempo que o mesmo havia chegado no jardim, encarando a fonte de água por um longo espaço de tempo. A princesa se perguntava o porque do mesmo estar acordado tão tarde? Assim como, se perguntava o que se passava em sua mente.
Seria inconveniente atrapalhar seu momento sozinho e dar um pequeno susto?
Katara riu baixo com a ideia.
Ainda na mesma posição, ergue sem esforço a água da fonte, podendo ver o olhar assustado de Zuko, assim como sua expressão de alívio ao olhar pra cima e ver a princesa que sorria de forma divertida.
一 Não achava que o água iria lhe machucar, certo? - Katara diz, em um tom audível o suficiente para o homem que encarava, desta vez, com uma expressão neutra no rosto.
一 Isto deveria ter sido uma piada? - Zuko pende para trás, podendo sentir em sua pele descoberta pelos trajes reais a grama gélida. Encarando fixamente a princesa, relaxando o pescoço.
一 Sinto muito, não faço piadas tão boas quanto as do meu irmão. - Katara se inclina mais um pouco, segurando a sua coroa que ameaçava cair. 一 Deseja companhia?
一 Começamos com o pé esquerdo, não acha? - Zuko não pôde ver seu rosto, afinal estava deitado e apenas as costas da mulher a sua frente estavam em seu campo de visão. Mas pode ouvir claramente seu tom baixo e infeliz. 一 Não consegue dormir?
一 Pode-se dizer que sim. - tentava não reparar muito nos detalhes de Katara, não queria fixá-los em sua memória, mas inconsequentemente já estava o fazendo. E se amaldiçoou mentalmente por isso.
"Somos jogadores, Zuko. Não precisamos de um tabuleiro para jogar. Precisamos pensar alto."
一 Como é o Reino do Fogo? - o príncipe escuta a pergunta atento e não demora a começar a falar.
一 Confesso que você irá se assustar um pouco. - Katara olha para o homem com os olhos assustados, que percebe o que fez e imediatamente tenta corrigir a fala. 一 Digo, sobre nossa cultura. Não preciso de mais alguns dias aqui para afirmar que nosso povo é muito diferente.
一 Imagino. - Katara dobra novamente a água, ato notado por Zuko, que passa a encarar o líquido que se move lentamente.
一 Lutou na guerra?
一 Aos dezoitoanos fui direcionado a linha de frente. - Katara não possuia nenhuma reação em seu rosto, agora, estava de costas para a água e com os olhos fixos no rapaz que tinha olhos fechados. 一 Ordens superiores, encorajar os nossos dobradores era minha função, era inverno. Terceiro mês do inverno.
一 Por que você abriu a boca, Katara? - a mulher fala com indignação para si mesma enquanto se levanta e arruma o vestido de ceda. 一 Parabéns.
[...]
一 Assim está bom, vossa alteza? - Zuko abre os olhos, assumindo um semblante triste ao ver as mãos trêmulas das mulheres a sua frente.
一 Está sim, muito obrigado. - ri para as mesmas que riem tentando esconder o alívio no rosto. 一 Não se preocupem, vou gostar de qualquer coisa que vocês fizerem. São muito talentosas.
一 Muita gentileza sua, vossa alteza. - Zuko acente com um riso baixo, ato retribuído pelas mulheres que continuaram o trabalho com os longos tecidos. 一 Se vossa alteza, me permite, és muito diferente de seu pai.
一 Isso é ótimo, não acham? - ri nervoso ao lembrar do pai saindo em chamas da cômodo reclamando algo inaudível.
一 Princesa Katara. - Zuko faz um reverência. Katara retribui com as sobrancelhas erguidas.
一 Príncipe Zuko. - silêncio, um desconfortável silêncio. Katara se perguntava como tudo parecia ser tão estranho ao lado do homem a sua frente, o modo como agem estranho cada vez que se encontram é incompreensível, mas sua mente ainda estava na conversa da noite passada e seus olhos teimavam a encarar a cicatriz, e se perguntar o que poderia ter acontecido. Não se sentia bem com isso, estava curiosa demais, e o fato de se casar com ele não significa total confiança e lealdade. 一 Creio que está procurando Fire Lord Ozai.
一 De maneira alguma. - Katara pode ouvir desespero em sua voz. 一 Apenas tentando me localizar neste castelo enorme.
一 Posso lhe ajudar se desejar. É normal se perder por esta ala. - solta um riso reconfortante. 一 Quer ir para onde?
一 Não há lugar específico. - fala de maneira indiferente. 一 Estava indo a algum lugar?
一 Biblioteca. Quer me acompanhar?
一 Seria uma honra.
一 Azula vai adorar lhe conhecer. - Zuko se aproxima de uma estante, pegando um livro qualquer e o folheando.
一 Perdão. Quem?
一 Tenho uma irmã mais nova. - Katara encara o semblante de Zuko. 一 Ela não era muito fã de livros, mas agora por algum motivo que não sei, frequenta a biblioteca todos os dias.
一 Interessante. - íris azuis nas íris âmbares, e mais uma vez Zuko se amaldiçoa mentalmente por admirar a mulher. 一 Ela deve ser legal.
一 Lhe asseguro que ela é legal, mas não se assuste com algumas, digamos, brigas e brincadeiras..... arriscadas demais?
一 Não irei me surpreender, Sokka e eu brigamos constantemente. - Katara ri, mas logo para ao perceber o olhar do homem a sua frente. 一 Em uma escala, quanto seria essas....arriscadas demais?
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