Endo volta para a escola, totalmente desanimado. Seus amigos o cumprimentam, mas ele apenas acena, andando de cabeça baixa. Tudo o que quer é ir para o seu dormitório, deitar e descansar.
–Ei, não vai treinar hoje? –Ele passa por Kurimatsu, que o para no corredor.
–Não me sinto muito bem. –Endo tenta disfarçar a voz de choro, falhando.
–Capitãozinho, está tudo bem?
Mamoru sorri com o apelido carinhoso do amigo. Desde quando entrou para o time de futebol, o pequenino é extremamente leal e um dos jogadores mais próximos de Endo, chamando-o sempre pelo apelido, como forma de afeto e educação.
–Eu vou apenas... Deitar um pouco.
Assim, o capitão entra no seu atual dormitório partindo para o banho. Seu corpo dói, ele passa a mão na nuca, fitando o teto e pensando em tudo o que está acontecendo.
Inevitavelmente, lágrimas escorrem pelos olhos e ele se sente sem esperança.
Enquanto isso, Goenji acompanha Shirou no hospital. Ele está sentado na mesma cadeira há algum tempo e prometeu pra si mesmo que não sairia dali até que o pequeno acordasse.
Levantou-se, foi até a janela e observou a vista. Estavam em um dos quartos do térreo, mas voltado para o cais, podendo sentir o vento salgado vindo até seu rosto.
–EU NÃO SOU ATSUYA! –De repente, Fubuki grita, dando um sobressalto na maca e atraindo a atenção do colega que estava no quarto.
–Buki. –Shuya vai rapidamente até ele. Ele repara nos olhos cinza-esverdeados ficando úmidos.
Sem titubear, oferece um abraço. Apertado, quente e tão aconchegante quanto a sensação de estar em casa.
–Goenji... –O menor começa a chorar. Ele se recorda lentamente do ocorrido durante a partida e fica transtornado por ter se deixado levar pela personalidade do irmão.
"Mas espera, se eu estou no hospital, então..."
–V-você sabe? –Por conta do choro, sua voz falha. Shirou olha no fundo dos olhos do outro.
–Então, huh... –Goenji desvia o olhar, mas ele sabe que precisa ser franco. Então, apenas concorda levemente com a cabeça.
–Desculpa por isso. –Fubuki abaixa a cabeça, apoiando no peito de Shuya. –Eu ia te contar aquele dia, mas Endo interrompeu.
–Está tudo bem. Eu só fico preocupado com sua saúde. –Fez carinho no cabelo alheio. Um silêncio se instalou, mas Shirou não perdeu a oportunidade de falar:
–Você gosta do meu cabelo, né? –Ajeitou-se na cama, ficando de joelhos para corresponder o abraço.
Ambos se olhavam, sorrindo de lado, analisando os detalhes um do outro. Finalmente se livraram daquela pulguinha atrás da orelha que os incomodava e podiam ser devidamente como eram. Sem restrições pessoais, sem sentir medo ou culpa.
–Sim, ele é macio e fofo. –Goenji desviou o olhar para o topo da cabeça de Fubuki, onde tinham dois fiozinhos de cabelo sempre levantados. Com certo humor, ficou dando leves petelecos com o dedo do meio.
–Ei, por que você está rindo, seu boboca? –Tentou enxergar o que o amigo fazia em seu cabelo, sem sucesso, obviamente. –Você tá zoando meus fiapinhos, né? Seu cabeça de tulipa.
Shuya não aguentou e caiu na risada com a expressão usada. O menor se deleitou com aquela imagem e com o som proveniente daquela gargalhada.
Os olhares voltaram a se encontrar e tudo estava bem novamente. As mãos de Shirou (antes rodeando a cintura de Goenji) passaram a acariciar seu rosto. Eles se aproximavam cada vez mais, os olhos iam fechando, a boca quase se encaixando...
Até que uma enfermeira abriu a porta, fazendo-os se afastar bruscamente. Coraram com aquela intromissão inesperada.
–Com licença, que bom que está acordado, Shirou Fubuki. –Ela disse com uma voz doce. –Vou deixar aqui a receita dos remédios fornecida pelo médico que cuidou de você e já que poderá ir embora.
Ela colocou um papel em cima da escrivaninha ao lado da porta e prosseguiu, apontando para um cabideiro no canto da sala:
–Seu amigo deixou uma roupa aqui para você se trocar, tudo bem? Está ali ao lado, se estiver com alguma tontura, seu amigo pode ajudar a se vestir. –Gentilmente, a moça instruiu o menino acidentado, que ainda tinha o coração batendo pelo ocorrido. –Eu já volto.
Os meninos se encararam, mas ao invés de sentirem vergonha, começaram a rir. Mais uma vez aquilo acontecia, parecia algum tipo de magia negra ou o universo conspirando contra. Vai saber, não é?
–Vem cá, vou ajudar você a se vestir. –Goenji disse, passando o braço direito de Fubuki por sua cabeça e auxiliando o menor a levantar.
–Obrigado, mas estou bem. –Shirou sorriu fofo e foi até suas roupas. Estavam limpinhas, provavelmente haviam sido tiradas da mala há pouco tempo.
–Huh, Goenji, você poderia... –Antes que o menor perguntasse, Shuya já estava virado de costas, como um verdadeiro cavalheiro. –Obrigado.
–Depois que você terminar, nós podemos passar na farmácia e ir comer algo, o quê acha? –Mesmo de costas, o maior perguntou.
–Pode ser, mas não quero demorar muito. Quero ir embora e ver nossos amigos logo.
Após terminar de se aprontar, Shirou encontrou com a enfermeira que o auxiliou sobre alguns cuidados com os machucados e com a pele, lembrando-o também de tomar os remédios para o transtorno de personalidade. Ele agradeceu, pegando sua receita médica e indo até a farmácia com Goenji.
–Mon coeur, se importa se formos direto para a escola? Eu realmente gostaria de descansar. –Fubuki perguntou, revirando a sacola em busca do spray para seus machucados.
–Claro, tudo bem. –O outro não se importou, dando de ombros. –Ei, agora que você disse eu lembrei: Sabia que eu pesquisei o que significa 'mon coeur'?
–Sério? –Shirou arregalou os olhos, levemente envergonhado. –Você... Gostou?
–Claro que sim, mon petit. –Goenji usou outro apelido, fazendo uma voz grave, perto do ouvido do menor.
–Goenji, estamos no meio da rua. –Um pouco desconfortável por sentir estar atraindo a atenção de outras pessoas, Fubuki se afastou um pouco. Ainda não estava acostumado. –Mas gostei do apelido, admito.
–Eu achei no Google quando fui pesquisar a tradução de mon coeur, aí acabei me interessando por francês e...
Com isso, os dois andaram algumas quadras na pequena cidade, chegando até a escola. Era um caminho fácil e, por sorte, a memória fotográfica de Goenji o ajudou a lembrar do percurso feito pela ambulância.
Chegando lá, o time estava reunido no campo. Pareciam perdidos, o treino não estava dando certo, os passes estavam errados e desconectados e alguns estavam alheios.
–Ué, cadê o Endo? O quê está acontecendo? –Shuya perguntou, parando no meio do campinho.
–Ele está sentado lá em cima. –Kabeyama apontou para a sacada do prédio da escola. –Depois do quê aconteceu, ele não quis mais sair de lá. Não quer treinar, não comeu, não tomou banho e não quer falar com ninguém.
–Sem contar que... –Kurimatsu disse, aproximando-se. –A única coisa que ele disse foi que... Kazemaru saiu do time. Isso acabou mexendo com todos aqui e parece que o treino não é mais o mesmo. Está chato e pesado.
Goenji e Fubuki se entreolharam chocados, já os outros dois suspiraram, evidentemente desanimados. Primeiro Someoka, depois Kazemaru... Estavam se perdendo inevitavelmente e isso era triste.
–Nós vamos tentar falar com ele. –Fubuki tomou as rédeas, se mostrando determinado. –Obrigado, meninos, bom treino. Vamos, Shuya.
Shirou puxou Goenji pela mão, deixando-o chocado. Na frente do time inteiro era um tanto audacioso fazer isso, mas ele apenas relevou. As coisas estavam um tanto rápidas, porém eles já tinham perdido tempo demais.
O foco agora era ajudar Endo. Ele precisava de suporte mais que qualquer outra pessoa.
Eles iam rapidamente, com passos duros. Fubuki estava determinado a ajudar Endo da melhor maneira possível e mostrar para ele o quão incrível era. Desde os momentos bobinhos, até as partidas mais sérias, ele sempre esteve ali por todos. Era como o sol que iluminava o dia de cada um.
–Tatchimukai. –Shirou encontrou-o no meio do caminho. –Como a gente chega onde o Endo está?
–Ah. –O menino ficou cabisbaixo. –Eu acabei de sair de lá e não deu muito certo, mas se vocês quiserem ir é só subir as escadas no final do corredor.
Agradeceram e seguiram as instruções. Acharam uma pequena porta no fim do corredor que tinha uma escada em caracol, levando até o topo da construção. Extremamente dispostos, os garotos seguiam até o amigo.
Contudo, antes que abrissem a porta para acessar o local, ouviram uma voz conhecida.
–Buki, espera. –Shuya o segurou, sem exercer força, e fez um gesto de silêncio. –É a treinadora, ela tá conversando com ele.
–Endo-kun, eu sei que é complicado. –Numa fresta da porta, conseguiram observar o que se passava. Ela estava de braços cruzados e ele sentado de cabeça abaixada, provavelmente muito abatido para falar alguma coisa.
–Eu tenho irmãos mais novos. Na verdade, não são de sangue. –Ela abaixava a guarda, sentando-se em uma pequena mureta ao lado do garoto. –Eles passaram por muitas coisas e eu sempre fui muito dura com eles.
–Infelizmente, eu sou assim. Eu sou uma pessoa durona até demais, acabo machucando as pessoas. –Ela olhou para Endo. –Mas você não é, Satoru. Você é um líder extremamente exemplar, todos querem ser você ou são inspirados por você. Já parou para reparar como suas palavras animam a moral de qualquer um? Porque você é um garoto com grande potencial.
Ela chegou mais perto, tocando o ombro de Endo. Ele a olhou com os olhos vermelhos, finalmente, parando para pensar delicadamente nas palavras ditas pela treinadora.
–Olhe aquele garoto lá embaixo, Mamoru. Seu nome é Yuki Tatchimukai e ele sonha em ser um goleiro igual a você. –A mulher apontou para onde os meninos treinavam. –Você vê? Ele nunca desiste, a cada bolada, a cada vez que ele não consegue aperfeiçoar a técnica, ele tenta novamente.
Ela agachou na frente do menino, olhando-o nos olhos. Tinha algo doce ali, algo que Endo nunca viu antes naquela moça.
–Não desista, Endo. Não se culpe por coisas que não dependem só de você, porque a maioria das que dependem, você consegue dar conta. –Ela sorriu de lado, mas logo recuperou a postura.
O capitão estava se sentindo pesado com tantas informações de uma vez só. Ele mal conseguia assimilar o modo com que Hitomiko estava sendo gentil e fazendo um esforço para que ele não desistisse. Olhou mais uma vez para Tatchimukai, que estava treinando uma nova técnica. Os olhos estavam determinados, o suor escorria pelo rosto, as pernas tremiam e a luva em suas mãos ficava mais suja a cada chute.
Enquanto Satoru ficava em seus devaneios, Goenji e Fubuki desceram correndo as escadas ao ver a treinadora indo na direção dos dois.
–Ih, ela tá vindo, corre! –Goenji apressou Shirou.
–Sujou.
Conseguiram chegar, ofegantes, ao térreo antes da mulher. Lá de fora, Kidou olhou para os dois desconfiado.
Porém, o que eles não sabiam é que a treinadora havia parado antes de pegar na maçaneta da porta para dar um recado ao capitão da Raimon.
–Como Fubuki saiu do Hospital, nós vamos a Okinawa amanhã. Ouvi falar de um certo Artilheiro das Águas por lá.
Isso chamou a atenção de Endo, que se levantou na hora.
–Someoka...
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–Caramba, tá tão quente aqui. –Shirou comentou com Kidou, que estava ao seu lado.
Estavam todos se dirigindo a ilha de Okinawa, em busca de um suposto jogador que estava sendo comentado por lá. Assemelhando-se os ataques ao amigo que havia saído da Raimon, Someoka, estavam indo investigar.
E até mesmo tirar umas férias, quem sabe? Treinar em um lugar diferente e conhecer outra cultura. Não desviando do foco, obviamente.
–Você tá de cachecol, cara.
Em troca, recebeu um olhar bravo.
–Você usa uma capa bizarra de super herói e eu não tô falando nada. Aliás, como você joga com isso?
–Eu também gostaria muito de saber. –Ichinose chegou para acompanhar os amigos. –Quando eu via a Teikoku jogando e fazendo toda aquela palhaçada a minha vontade era de pisar nessa sua capa e te enforcar no meio do jogo.
Yuto revirou os olhos enquanto os dois meninos gargalhavam.
–Isso é inveja porque eu sou incrivelmente bonito e estiloso. –Resolveu entrar na brincadeira. No entanto, Aki chamou-os para entrar e pegar as coisas, pois daqui a pouco chegariam.
–Goenji, está tudo bem? –O de cabelos cinzas passou na frente do amigo, que estava tão pálido quanto pó de arroz.
–Tô.
–Você tá passando mal, né? –Shirou arqueou uma sobrancelha, caçoando.
–Eu não. –Shuya grudou mais ainda na cadeira onde estava. –Talvez.
–Toma alguma coisa, já que estamos chegando. –Depositou um beijo nos cabelos arrepiados.
–Se eu tomar, coloco pra fora na hora.
Antes que o menor respondesse, um apito foi soado, significando que haviam chego no local. Goenji quase que saiu voando para pegar suas coisas e sair logo daquela máquina de tortura.
O pessoal saiu e foi instruído pela treinadora a se instalarem em uma pequena pousada perto dali, pois poderia ser que passassem uma noite na ilha. Enquanto isso, a caravana também havia sido transportada.
–Então quer dizer que você consegue girar igual uma bailarina no ar com uma bola pegando fogo e não consegue aguentar meia hora de viagem em alto mar? –Shirou resolveu provocar Goenji. Já estavam no pequeno lugar, que era bem rústico e confortável.
–O que você disse, seu baixinho? –Jogou o de cabelos cinzas na cama e começou a fazer cócegas, uma brincadeira bem frequente entre os dois. Pareciam duas crianças se cutucando.
Observando o menor gargalhar, Shuya se distraiu, parando de mover as mãos. Era tão fofo que era impossível não parar para ver como os olhos se fechavam, formando ruguinhas adoráveis. Ele estava deitado de barriga para cima, com uma parte da blusa levantada. Enquanto isso, Goenji se mantinha sentado ao seu lado.
–Ei, para de me olhar. –Com vergonha, escondeu o rosto nas mãos.
–Ah, qual é, você sabe como é fofo.
O menor deu um sobressalto, ficando cara a cara com Goenji.
–Fofo? Que fofo o que?! Eu sou uma máquina mortífera de ursos, esqueceu?
–Uhum, com certeza.
Ficaram se olhando por um tempo, sorrindo como dois bobos. Ah, dois pombinhos apaixonados, é absurdamente lindo vê-los assim. Os rostos, como sempre, iam se aproximando inevitavelmente, os olhos conectados...
–GENTE, VAMOS JOGAR FUTEBOL. –Endo chegou gritando dentro do quarto, afastando-os. –Ok, eu tenho que parar de fazer isso... MAS já que vocês não estão fazendo nada, bota uma roupa e vamos lá.
Os dois acabaram por se encarar e concordar. Colocaram calção e camiseta qualquer para uma pequena partida na areia da praia. Chegando lá, estavam apenas alguns dos meninos treinando: Endo, Tatchimukai, Ichinose e Touko.
–CHUTA! –Tatchimukai gritou para Ichinose, mas a chegada de Shirou tirou sua atenção.
–Espera aí, já volto. –Deixou a bola com a garota e foi até o amigo, rodeando seu pescoço com o braço. –Olha só quem chegou. Você já está bem pra uma partida, gatão?
Goenji olhou para o castanho em cima de Fubuki. Algo começou a incomodar... Por que ele estava tão junto assim? Não precisava disso, não... Fechou a cara, fitando o chão e indo até o meio do campo, cumprimentando quem já estava ali.
Shirou e Ichinose foram até um pequeno banco colocado para apoiarem suas coisas no canto do gol de Tatchimukai. O de cabelos cinzas ria a cada palavra do amigo, realmente gostava muito da companhia dele e apreciava seu senso de humor.
–Não vai jogar mesmo? Estamos só ajudando os meninos no gol. –Kazuya perguntou e o menor apenas negou. –Beleza, vou lá. Tem água aí se quiser.
Shirou agradeceu e apenas ficou observando o lugar. Eram aproximadamente 10 horas da manhã, a areia se estendia por uma grande faixa e o mar era agitado, com uma coloração mais clara e límpida. Estava quente, então o suor escorria livremente pelos corpos expostos no sol, fazendo os meninos evitarem ao máximo o contato com as roupas. Tatchimukai, Endo e Ichinose usavam apenas calções, Zaizen estava com a parte de cima de um top esportivo e confortável e um short florido. Goenji, que acabava de chegar, também tirou a camiseta.
Os atacantes tiraram no pedra, papel e tesoura quem começaria com a bola. O jogo seria cada um por si, mas o objetivo era mais ajudar no treino dos goleiros do que realmente uma partida. Todos se divertiam naquele momento e isso era bom. Mesmo naquela temperatura e com aquela areia difícil de dominar a bola, eles continuavam jogando sem preocupações. Sentiam falta de uma partida leve e prazerosa como aquela.
Então, de repente, um garoto surfando chamou a atenção de todos. Tinha uma pele negra, queimada pelo sol, cabelos rosa claro, um óculos nos olhos e usava uma bermuda azul, fazendo manobras em cima das ondas como se flutuasse. Goenji havia acabado de chutar a bola em alta velocidade para o gol de Tatchimukai, porém, devido a distração o mesmo virou o rosto para ver o surfista.
–Tatchimukai! Cuidado! –Touko gritou, tentando alertar o amigo. Ele soltou um grito com o susto, trazendo os olhares sobre si, inclusive do surfista. Por sorte, se abaixou e cobriu o rosto, não sendo atingido.
–Você está bem?! –Endo gritou do outro gol. Yuki se levantou, suado e meio trêmulo pelo susto.
Ele tinha medo de levar uma bolada de Goenji. Todos tinham, na verdade.
–E aí, galera! –O surfista de cabelo rosa saiu da água, a prancha de baixo do braço e as gotículas de água pingando. –Tudo bem com o menor ali? Ouvi o grito e não pude deixar de conferir.
O sotaque na voz era evidente: A palavra "menor" saiu como se não tivesse o 'r' no final, sendo pronunciada como 'menó'.
–Oi oi! Tá tudo bem sim, foi uma quase bolada só. –Endo respondeu o cara. –Sou Satoru Endo e você? Somos da escola Raimon e gostamos de jogar futebol.
–Maneiro, maneiro. –O cara deu um toque com Endo, cumprimentando. Atraídos pela conversa, todos foram se aproximando. –Eu sou Jousuke Tsunami e eu curto surfar. Estranho vocês colarem aqui atrás de futebol, não? Não é o forte da área aqui não, brô.
–Ah, estamos atrás de um amigo nosso por aqui. Aliás, eu sou Touko Zaizen, esse aqui é Shuya Goenji, Kazuya Ichinose e aquele pequenino lá é o Shirou Fubuki.
Com isso, Touko, Endo e Tsunami entraram em uma conversa, apresentando-se entre si. Jousuke disse já estar com 19 anos, trabalhava na loja do pai e pretendia fazer faculdade de Educação Física ao estabelecer um emprego melhor e remunerado. Touko e Endo explicaram sobre a Raimon, os ataques às escolas e tudo mais.
Enquanto isso, Goenji se aproximou de Ichinose, Shirou e Tatchimukai. Os dois primeiros conversavam e o outro tomava água, descansando e se recuperando do susto.
–A gente podia cair no mar, né? Tá tão quente hoje. –Yuki apoiou-se em Shuya, despejando o resto do líquido nos cabelos.
–Claro que sim, mas não podemos esquecer que estamos aqui atrás de Someoka. –Goenji respondeu, brincando com o cordão do short. A ação chamou a atenção de Fubuki, que encarou o corpo alheio.
Aquela pele um pouco corada pelo sol, os músculos levemente definidos, a curva da cintura... O menor descobriu nesse momento que estava apaixonado na cintura de Shuya, era tão bem definida, adorava rodear aquele lugar com seus braços quando se abraçavam. Então, ele desceu o olhar mais para baixo, onde a mão do amigo segurava e soltava a cordinha.
–Shirou, você tá olhando demais, cara. –Ichinose sussurou, fazendo Fubuki corar. –Sorte sua que eles estão distraídos conversando.
–Eu não estava-
–Sim, você estava. –O castanho riu. –Qual será o tamanho, hein?
–ICHINOSE! –Gritou, empurrando o melhor amigo. O garoto gargalhava observando a timidez de Shirou e a confusão no olhar de Goenji e Tatchimukai.
Shuya particularmente olhou desconfiado para a cena. Depois de ter visto os dois se beijando, passou a ter ciúmes de Kazuya perto de Fubuki. Sempre batia uma certa insegurança.
–Ei, olha lá. –Goenji chamou a atenção de todos para mostrar uma bola de futebol que vinha de um local no meio das árvores.
–Uma... bola? –Shirou disse.
–Vamos lá dar uma olhada. –Yuki sugeriu.
Todos concordaram. Era realmente curioso alguém estar jogando futebol por ali, ainda mais no meio do mato. Pegaram suas camisetas e garrafas de água, entre outros pertences.
Seguiram por uma pequena trilha, que não era tão isolada assim e chegaram num local aberto, com a grama devidamente aparada. No fundo, uma casa simples.
–Olha só, são crianças. –Ichinose comentou.
Lá, haviam 5 crianças com idades aparentemente próximas. Elas chutavam a bola desajeitadamente, mas aparentavam estar se divertindo muito.
–O QUÊ ESTÃO FAZENDO? –Assustando todo mundo, Endo apareceu do nada.
–Caramba, você sempre é assim? –Tatchimukai perguntou retoricamente.
–Nós estamos vendo as criancinhas jogar, Mamoru. –Shuya respondeu. –Vimos uma bola de futebol e viemos atrás pra conferir o que era.
–Ah, nossa, e vocês nem estão aproveitando? –O capitão foi até os pequenos. Coincidentemente, a bola foi jogada e parou perto dele. –Olhem isso!
Sem dificuldade, Endo pegou a bola, fazendo embaixadinhas e tentando impressionar as crianças. Estava tudo bem, até uma delas começar a chorar.
–Você pegou nossa bola! –Com a voz melosa, o menino apontou para a esfera.
–Que? Não. –Satoru ficou confuso. Lá no fundo, seus amigos o olhavam negando com a cabeça. –Eu só queria jogar, não chora!
Assim, em coro, as crianças começaram a chorar. Endo, sem saber o que fazer, tentava acalmá-las.
–Isso é hilário. –Ichinose caçoou. –Ih, viado, tem um cara vindo. Eu é que não vou aguentar xingo. Vamos, Tatchimukai.
Dito isso, o menino saiu correndo para a praia. O convidado acabou por ir também, dando de ombros. Shirou e Shuya se entreolharam, como se conversassem mentalmente sobre o que iriam fazer agora.
–Que bagunça é essa aqui? –Um cara chegou, com uma vassoura nas mãos e usando um avental de cozinha.
–Esse cara roubou nossa bola, tito. –Uma das menininhas respondeu.
–Espera, eu não roubei nada. A bola veio pra cá e-
–MENTIRA. –Outra criança gritou
–Deixem o menino falar! –O mais velho esbravejou.
–Nós somos da escola Raimon, moço. Eu não peguei a bola deles, ela veio parar aqui e eu peguei pra fazer graça, só. –Endo explicou a situação.
–Ah, então vocês estão a procura do amigo de vocês, certo? –Mamoru assentiu –Uns amigos de vocês passaram por aqui, mas não conversamos muito bem. Um de óculos e cabelo liso e um grandão, bem engraçados.
Fez uma pausa e mandou as crianças irem brincar. Satoru devolveu a bola e pediu desculpas, assim como elas também o fizeram isso por terem mentido.
–Ah, sobre os outros garotos, devem ser Megane e Kabeyama. –Chamando os amigos mais pra perto, apresentou-os. –Eu sou Endo, esses são Shirou Fubuki e Shuya Goenji. O quê eles te contaram?
–Sou Raiden Hijikata, muito prazer. –Ele não tinha sotaque tão forte quanto Tsunami, mas ainda era evidente.
–O quê você sabe até agora? –Goenji foi direto, sem rodeios.
Assim, o grandalhão começou a explicar sobre os meninos terem comentado de um suposto goleador, entre outros, perguntando se ele o conhecia.
Nisso, entraram numa conversa sobre futebol, onde Raiden disse que jogava há tempos no time da escola, mas que não tinham tantas oportunidades de crescerem com isso. Sem contar que ele precisava cuidar dos irmãos mais novos pra ajudar os pais e também trabalhar.
–Foi bom te conhecer, mas acho que nós vamos sair para andar um pouco por aqui. –Fubuki aproveitou uma brecha para se retirar com Goenji. –Você se importa, Endo?
–De modo algum. –Sorriu grande, como sempre fazia.
–Então, até mais.
Depois de um aperto de mão de despedida para Hijikata e um high-five com Satoru os dois seguiram na pequena trilha que prosseguia para outros lados da ilha.
As propriedades eram bem simples, mas grandes. Tinham um quintal vasto, às vezes com crianças brincando, animais, pequenas hortas de subsistência. Não era nada esbanjador, apenas o necessário para sobreviver.
–Você sabe onde estamos indo? –Goenji perguntou.
–Não. –O pequeno riu. –Eu só queria andar um pouco com você. Esses dias foram tão doidos que eu senti falta de me distrair um pouco dele.
–Você está tomando os remédios, certo? –A preocupação na voz era evidente. Depois do incidente, sempre que podia, Shuya checava se Fubuki estava tomando seu remédio no horário certo.
–Sim, tá tudo sob controle.
O resto do caminho foi apenas silencioso. Eles observavam a paisagem diferente do quê estavam acostumados, detalhando coisas que se deparavam no caminho.
–Olha lá, parece uma pequena feira. –Shirou olhou para várias barracas montadas, com diversas frutas, legumes, vegetais, peixe entre outras comidas aparentemente deliciosas sendo vendidas.
O ar tinha cheiro de tempero, como Curry. Conforme eles andavam, o cheiro mesclava entre as diferentes comidas: Hora era uma fritura, outra era café, ou então ingredientes de um prato de comida sendo preparado.
–Fubuki, Goenji! –Ouviram a voz de alguém chamando: era Lika, que estava atrás deles. –Não sabia que estavam por aqui, vamos lá comer com a gente!
–Ah, na verdade, precisamos ir embora. Temos que tomar banho, ainda mais nesse calor. –Goenji respondeu pelos dois.
–Sim, nossa. Eu nem tinha reparado, mas já tá na hora do almoço e eu vou comer lá na pousada. –Shirou deu uma breve olhada no celular, que marcava 12:20.
–Poxa, que triste. –Lika tinha expressões bem caricatas e exageradas. –Bom, a gente achou um lugarzinho pra treinar aqui perto, se quiserem ir depois, vamos estar lá a tarde inteira.
–Estaremos lá. –Shirou sorriu fofo.
Lika deixou um beijo de despedida na bochecha de cada um e saiu no meio das pessoas que passeavam por ali.
–Vamos? Tô com fome. –O menor perguntou.
–Sim, eu preciso de um banho.
Dito isso, os dois foram em direção ao local onde estavam instalados.
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No momento, estavam dividindo o dormitório. Goenji estava terminando de se trocar, enquanto Shirou saía do banho.
–Goenji. –Shirou falou pela fresta da porta do banheiro. A voz soou um pouco baixa, até mesmo envergonhada. –Eu esqueci a minha toalha, pega aí pra mim?
Shuya viu aquela figura miúda tentando se esconder atrás da porta. Os olhos desceram do rosto para o peitoral desnudo e molhado, tão branco como a neve. Era tão fofo, sempre que Shirou fazia qualquer coisinha, o coração palpitava.
As borboletas na barriga, voando de um lado para o outro. Estava tão envolvido por aquele menino que até esqueceu o que ele havia pedido.
–Goenji, para de me olhar. –Ele se escondeu mais atrás da porta.
–Desculpe. –Goenji saiu de seus devaneios. –Onde... Onde está mesmo?
–Tá na minha mochila, ali naquela prateleira. –Apontou para o local onde se encontrava.
–Nossa, você alcançou ali? –O maior caçoou, fazendo Fubuki revirar os olhos.
–Pega logo e fica quieto, jogador de basquete.
Goenji foi até a bolsa, ficando de costas para Shirou. Como estava sem blusa, a visão era tão privilegiada que o menor teve que aproveitar.
–Eu adoro sua cintura. –Soltou, mordendo os lábios.
O maior parou, piscando repetidamente com a toalha azul bebê em mãos. Encarou o outro, ainda chocado pelo elogio.
–Quê foi? –Fubuki começou a sentir vergonha pelo que tinha falado, mas não voltou atrás.
–Obrigado, eu acho? Nunca ouvi isso antes. –Levou a toalha até o amigo. –Eu gosto do seu cabelo e da sua bochecha.
Bagunçou o cabelo do outro, fazendo ele se esconder mais ainda. Sentia um pouco de receio de ficar completamente nu na frente das pessoas, ainda mais na frente do menino que estava apaixonado.
Apaixonado. Que palavra forte.
Terminou de se trocar e saiu. Goenji estava esperando ele para almoçarem, já que estava incluso na estadia deles. O maior, que estava colocando uma camiseta, se levantou e foi indo na frente.
–Ei, antes... –Shirou chamou. O coração palpitava e as bochechas queimavam, mas passou o dia inteiro pensando em fazer isso. Agora, não ia voltar atrás.
–O quê?
Fubuki se aproximou e, na hora do finalmente, arregou. Olhar nos olhos de Goenji, depois de tanto pensar acabou o intimidando. Assim, ao invés de beijá-lo, puxou-o para um abraço.
Shuya estava estático ao pensar que o outro teria iniciativa o suficiente para colar seus lábios, mas parece que algo o parou. Por fim, apenas retribuiu o abraço, sem ter atitude o suficiente para o ato.
Naturalmente teria acontecido, mas o problema desses dois era pensar demais. Isso os deixava inseguros e até paranóicos.
–Obrigado. –O menor sussurrou, derretendo por dentro ao ser envolvido pelos braços que tanto gostava.
–Eu faria tudo por você. –Goenji admitiu, com o coração batendo de nervoso. Estava gostando de um garoto, UM GAROTO!
Seu pai ia surtar, certeza.
Mas... Era tão bom sentir aquele garoto em seus braços, era tão bom ouvir a risada dele, era tudo tão colorido.
O afrouxar dos braços de Shirou tirou-o de seus pensamentos. Com isso, teve uma ideia um pouco ousada:
–Vamos? –Ofereceu a mão, como se chamasse Shirou para uma dança.
–Uhum.
Dispostos a enfrentar quaisquer julgamentos, os dois foram de mãos dadas até o refeitório. Os sorrisos não abandonavam seus rostos, assim como a vergonha também não. Sentiam-se como verdadeiros adolescentes apaixonados.
Sentaram e comeram, sempre conversando sobre tudo. O relógio marcava 13:10 e já estava quase na hora de fecharem as portas do lugar onde faziam as refeições da pequena pousada.
–Que sono. –Disse Fubuki, depois de um longo bocejo.
–Você quer descansar? Eu vou jogar com os caras agora a tarde.
–Ah, acho que vou depois, não sei. Ainda não tô muito bem pra jogar, então eu ficaria sentado lá com as meninas no banco. –Se espreguiçou.
–Se quiser podemos ficar um tempo aqui. Vou ligar avisando que vamos mais tarde, o quê acha? –Atencioso, Goenji sugeriu.
–O quê você preferir. –Levantou da cadeira, pegando seu prato. Shuya seguiu o exemplo e ambos foram até a porta da cozinha, onde havia um lugar para deixar pratos e talheres usados.
–Acho que tô ficando com sono também, eu comi muito agora.
–Você? Comer muito? –O menor caçoou. –Você só repetiu DUAS vezes o macarrão, além do prato normal.
–Em minha defesa são os hormônios da adolescência, tá bom? –Deu de ombros.
Andavam brincando um com o outro até o dormitório. A decisão de ficar para uma sesta era unânime. Encostaram a porta e foram até o banheiro, para escovar os dentes.
–Ei. –Goenji abraçou Fubuki por trás no banheiro. O menor terminava de limpar a boca molhada, enquanto sentia o hálito quente do outro batendo em seu pescoço, fazendo cócegas. –Quer deitar comigo?
Corou com o pedido. A posição em que estavam ainda não ajudava em nada, já que Goenji estava de novo sem camiseta.
"Por que homens gostosos gostam de ficar sem camiseta? Oh, céus"
Mas não pense que Shuya ficava para trás. Sua consciência implorava para que ele parasse de sentir o cheiro gostoso que tinha os fios acinzentados, de apertar aquele quadril e de fazer propostas um tanto indecentes.
Shirou virou de frente para Goenji, encarando-o. Colocou seus braços em volta do pescoço dele e ficou brincando com o fecho do colar que o mesmo usava.
–Por que um avião de papel?
Perguntou, tentando tirar um pouco da atmosfera desconfortável daquele banheiro. Às vezes, ainda tinham um pé atrás com tudo aquilo.
–Sei lá, é bonito. –Goenji riu, mas logo ficou sério. –Brincadeira. Na verdade, Yuka me deu na apresentação dela de Dia dos Pais. Como meu pai não pôde ir, eu comprei uma barba sintética, coloquei um terno e fiz papel de pai dela.
–Isso é fofo e triste. –Shirou bocejou.
–Vem, vamos deitar um pouco.
Goenji puxou o pequeno pela mão. Ele não sabia o quê diabos estava acontecendo, mas estava tendo atitude o suficiente pra aproximar os dois mais ainda naquele dia.
Shirou deitou na cama, no cantinho da parede e ficou olhando para o outro, que se ajeitava ao seu lado. Pareciam dois bonecos estáticos olhando para o teto, envergonhados.
–Buki, posso te perguntar uma coisa? –O silêncio foi quebrado.
–Claro.
–Por que... Digo, se não quiser, não precisa responder. –Fez uma pausa, relutante em perguntar. –Por que você beijou Ichinose?
–Como você sabe disso? –Shirou ficou curioso.
–Eu vi vocês pela janela da caravana relâmpago, naquele dia.
Goenji parecia um pouco tímido de perguntar aquilo. Afinal, era algo pessoal, mas ele precisava saber.
–Eu queria ver como era. Beijar um garoto. –Ele foi sincero. –Eu já havia beijado meninas, mas naquele momento... Foi diferente, não sei. Eu senti vontade de tirar a prova.
–Prova? De quê? –Shuya olhou para o outro. –Não me leve a mal, estou apenas curioso.
–Prova de quê eu realmente gostava de meninos. –Fubuki corou ao dizer isso em voz alta. –Eu sempre tive um pouco a dúvida, mas nunca tinha parado pra realmente tirar isso de mim. É estranho, sei lá, eu não me sentia atraído 100% nas garotas. Eu assistia alguns filmes às vezes e eu tinha crush, sei lá, no Jacob de Crepúsculo.
Os dois riram com o comentário, depois voltaram a observar o teto. Já estavam confortáveis o suficiente para comentar sobre esse assunto.
–É tão estranho. –Goenji começou. –Eu não sei, meu pai me ensinou diversas coisas sobre isso ser errado e tal, mas nunca fui nas ideias dele. Minha mãe, às vezes, me explicava que ele era assim porque foi criado assim.
–Como você desconstruiu isso? –Shirou se remexeu na cama, ficando de bruços.
–Minha mãe, claro. Ela sempre explicava que isso era normal, dizendo que até entre animais isso acontecia e dando alguns exemplos mais científicos. –O maior fechou os olhos. –Eu nem sei porquê diabos ela estava com ele. Meu pai era tão errado, de tantas maneiras que eu não vejo um motivo pra ela ter se esforçado tanto.
–Ela teve dois filhos com ele. Eu e minha irmã, isso não é pra qualquer um. –Goenji prosseguia, se sentindo bem em contar com Buki para compartilhar isso. –Eu acho que ela deveria ser uma santa depois de ter passado por tudo aquilo.
Não houve resposta, apenas um pequeno murmurar. Goenji olhou para o lado e viu Fubuki com os olhos fechados, uma mão embaixo do travesseiro, a outra em cima dele e servindo de apoio para a cabeça. A franjinha caía sobre os olhos e a boca estava levemente aberta.
Uma cena tão fofa e agradável. Shuya suspirou em ver o pequeno ser descansando como um anjo.
Levantou-se lentamente, foi até as cortinas e as fechou, para diminuir a iluminação do quarto. Ligou o ventilador de teto para melhor circulação de ar e se deu o trabalho até de retirar a chave da porta que, com o chaveiro, fazia um barulho irritante. Não queria que nada acordasse o pequeno garoto deitado em sua cama.
Olhou para a cama e pensou. Pensou de novo e de novo... Será que deitava lá? Porra, não queria ser invasivo, mas ao mesmo tempo pensava que: se Shirou não quisesse deitar consigo, ele não teria deitado. Simples.
Se aproximou devagar para não fazer barulho. Roboticamente, deitou de costas na cama, parecendo uma múmia, com cuidado para não incomodar ou fazer um toque muito inadequado.
Ouviu mais um suspiro do menino ao seu lado. Sua boca se transformou em um grande sorriso de felicidade. Estava tão desacreditado que estava com ele ali, dormindo ao seu lado adoravelmente
E foi assim que dormiu com um grande sorriso no rosto pelo resto da tarde.
--
–Goenji, Fubuki. –Ouviram uma voz feminina sussurrando. –Acordem, nós vamos pro luau.
Haruna estava no quarto dos dois. Quando chegou lá, bateu na porta três vezes e, sem resposta, entrou devagar.
A cena com que se deparou era a mais adorável possível: Shirou estava com a mão direita apoiada na barriga de Goenji, enquanto este estava com a mão esquerda acima da do outro.
Nesse momento, Ichinose passava pelo corredor e a menina o chamou:
–Ichinose, vem cá ver isso! Que fofo! –Ela dizia baixo, pra não acordar os dois.
Ao se aproximar, o coração do garoto cortou em mil pedaços. Ele apoiava sim as decisões de Shirou, no entanto, seus sentimentos (mesmo que poucos) ainda não tinham se esvaido de seu coração.
Tentou ficar feliz por Fubuki. Por ele ter se acertado com Goenji e por estarem deitados juntos. Mas ao mesmo tempo... Batia ciúme e raiva.
Poderia ser ele ali.
–Dá o celular, deixa eu tirar uma foto deles. –A menina sugeriu e Ichinose apenas entregou o celular. Um barulho de "awww" foi feito após a foto e ela agradeceu.
–Vou acordar eles agora. Se quiser ir se arrumando, temos um luau na praia hoje.
–Beleza, vou indo, então. –E se retirou.
A garota chamou os dois, mas sem resposta. Chamou de novo e deu um cutucão em cada um.
–Gente, vamos. Tsunami nos chamou pra uma pequena festa lá na praia. –Ouviu Goenji murmurar. Ele se virou e abraçou Shirou apertado, que no mesmo instante acordou.
Abriu os olhos devagarinho, tendo consciência da onde estava. Espera... Estava nos braços de Goenji.
–Vejo que já acordaram. Vão se aprontar, okey? Preciso descer, tchauzinho. –Ela zarpou do quarto.
–Eu não quero ir. –Goenji voltou a sua antiga posição. No entanto, Fubuki se aproximou deitando a cabeça em seu peito. –Você é um fofinho.
Então, abraçou o pequeno novamente, apertando-o em seus braços.
–Goenji... A gente precisa ir. –Shirou disse baixinho, embora também estivesse se deleitando com os braços do amigo.
Depois de uns 5 minutos tentando convencer o loiro, Shirou conseguiu fazer ele ir se arrumar. Tomaram um banho gelado novamente devido a temperatura elevada (mesmo a noite) e colocaram roupas com estampas de flores, devido ao evento.
Shuya estava com uma calça jeans preta, uma blusa preta com estampa florida e um vans vermelho. Já Shirou usava algo mais reservado, apenas um short preto e blusa branca.
Se trocaram de costas um para o outro, ainda um pouco envergonhados. Sem dar uma palavra sobre terem dormido juntos, apenas ignoraram ter que falar sobre aquilo.
Desceram para a recepção, onde todos esperavam por quem faltava terminar de se trocar.
–Goenji, você está de calça? –Endo se aproximou dos amigos, fazendo uma gesto de 'abanar' o pescoço. –Tá tão quente que eu poderia derreter aqui mesmo.
–O Kido tá de calça e camisa de botão. –Shirou comentou, reparando no colega que descia as escadas indo em direção a eles.
–Vocês estão doidos, certeza. Até o Fubuki que vive de cachecol tá de short.
A conversa fora interrompida pela gerentes da equipe avisando que fariam chamada. Era necessário ter consciência de não voltar sozinho ou tarde para a pousada. Por fim, decidiram ir a pé mesmo.
–Por que vocês não foram treinar com a gente hoje? –Kido perguntou para o casal, que automaticamente se entreolhou.
–É que nós dormimos a tarde.
Não era de total mentira a resposta de Shirou, apenas ocultou a parte de dormir na mesma cama.
–Dormir, sei. –Endo os olhou com malícia.
Kidou, Endo, Goenji e Shirou andavam uma ao lado do outro, conversando sobre diversas coisas. Yuto estava com uma camisa de botão com rosas brancas, calça jeans preta e um suspensório. Satoru estava com uma bermuda de elástico com flores roxas e uma blusa branca. Todos entrando no clima do luau de hoje.
–Vocês já participaram de um luau? –O de olhos vermelhos perguntou. –Quando eu era pequeno achava que luau era algum culto pra ficar saudando a lua e fazendo oferendas.
Todos riram com o comentário.
–Nunca participei, espero que seja legal. –De repente, a animação do capitão do time se transformou em tristeza. –Só queria que ele estivesse aqui.
–Não fique assim, cara. Estamos aqui pra distrair você disso. –Kido tentou uma consolação momentânea.
–Espera, quê houve? –Shirou perguntou.
–Kaze e eu terminamos, Fubukinho. –Tentou soar humorístico com o apelido, mas não deu. –Mudando de assunto, hoje a tarde conhecemos mais um alienígena, vocês acreditam?
–Você tá brincando, né? –Goenji disse incrédulo.
–Não, pergunta pro Kido. Nós estávamos jogando no campinho, aí fizemos uma pausa e um garoto de cabelo vermelho espetado apareceu por lá. –Satoru dizia, atraindo a atenção dos amigos.
Já estavam na praia. Pararam na trilha que dava acesso a pequena festa para ouvir o relato.
–Ele ficou dizendo que gostaria de nos desafiar, pra ver se éramos bons mesmo, que era um menino da ilha e ouviu falar sobre nossos "dons" depois de ter enfrentado várias equipes no torneio. Nós aceitamos, achávamos que era apenas brincadeira. –Os 4 estavam parados olhando para as mesas, cadeiras e decorações dispostas na areia da praia. No fundo, o mar agitado e uma lua minguante linda de tirar o fôlego.
–Então, ele começou a driblar quase todo mundo que estava em campo. Quando ele foi fazer gol... Adivinha quem apareceu?
–Não sei? –Shirou disse confuso.
–Gran, ou melhor, Hiroto. Ele impediu o gol com um chute e disse que queria falar de capitão pra capitão comigo.
–Espera, esse é o cara que fez você e Kazemaru brigar, não é? –Goenji perguntou. Ele e Shirou estavam um pouco confusos e até mesmo desatualizados.
–Resumindo: Ele beijou Endo na frente do Kazemaru no dia do jogo. Isso e outros motivos fez os dois brigarem e pronto, término. –Kido interviu, sendo objetivo. Isso clareou a mente do casal confuso.
–Isso, valeu. Continuando: Ele conversou comigo e disse que estava se sentindo confuso quanto a mim mesmo sem termos conversado por bastante tempo. Aí ele pediu desculpas e ficou inventando historinhas e eu fiquei bravo e mandei ele se foder. –Endo disse na tranquilidade.
–Isso é tanto pra engolir. –Shuya piscou repetidamente, assimilando. –Podemos conversar sobre isso depois se quiser. Peço apenas que tente se divertir e esquecer um pouco de tudo isso, tudo bem?
O loiro bateu na costas do amigo, sorrindo e Endo tentou um sorriso de agradecimento.
–Eu acho que deveríamos comer, que tal? –Fubuki sorriu meigamente.
Todos concordaram com a cabeça e foram observar mais de perto o lugar. A decoração era voltada para plantas típicas da ilha, com luzes brancas para iluminar o lugar e artesanatos bem simples feitos com as folhas das palmeiras. Haviam algumas comidas feitas com peixe sendo vendidas e vários cestos de lixo distribuídos pelo local para as pessoas não jogarem lixo na areia ou no mar.
–Salve, rapaziada! –Tsunami, que usava um brinco argola de coração, blusa e short ambos largos e estampados, cumprimentou os meninos. –Fiquei feliz que vocês vieram, podem ficar a vontade, comer o que quiser, têm várias paradas por aí, música e até joguinhos. Só não joguem lixo no chão e sem tretas, belê?
–Obrigado, cara. Se divirta também. –Endo disse.
Assim, os 4 arrumaram uma mesa mais próxima das luzes e dos quiosques de comida que ficavam em cima de uma base de concreto. Estavam jogando conversa fora depois de fazerem os pedidos ao garçom que passava por ali.
–Mas enfim, esqueci de comentar. –Satoru relembrou o assunto. –O ruivo que a gente viu chamava Nagumo Haruna, algo assim, mas pediu pra chamarmos ele de Burn, Capitão da Prominence. Não acham estranho que eles tenham meio que dois nomes?
–Sim, é um pouco suspeito. Talvez seja para se enturmar, não sei. –Goenji deu de ombros. Antes de começar o assunto, Shirou deu um murmúrio feliz.
–A comida! –Ele olhava com os olhos brilhando para a porção de peixe frito.
–Você está com tanta fome assim? –Satoru brincou. O pequeno negou.
–É que faz tanto tempo que não como isso. Onde moro os peixes ficam congelados boa parte do tempo e, por ser muito frio, são poucas empresas que entregam peixes lá, fazendo ser bem caro. –Ele dizia pegando o peixinho com o hashi.
O papo voltava a rolar entre eles. Shirou e Endo falavam até pelos cotovelos, enquanto Shuya fazia alguns comentários no meio e Kido menos ainda.
O local era agradável e característico, com algumas pessoas dançando numa pista de dança improvisada feita de madeira. Algumas luzes coloridas passeavam por ali e Tsunami estava lá no meio com um óculos da Oakley que o fazia parecer uma mosca varejeira.
–Vamos jogar alguma coisa? –Shuya sugeriu.
Kido negou dizendo que estava bem ali e Endo disse que tinha muito o que comer ainda.
–Eu vou com você. –Fubuki se prontificou, levantando-se. –Já que voltamos.
Inevitavelmente, a mão de Shirou procurou a de Goenji. O maior olhou para as mãos juntas e depois para o menino ao seu lado.
–Você se importa? –Os olhinhos do menor mostravam relutância.
–De modo algum.
Ambos abriram sorrisos ao mesmo tempo, compartilhando do mesmo sentimento de não se importar com o quê os outros pensavam naquele momento. Estavam entre amigos, não é como se a festa fosse aberta para o mundo.
–Tiro ao alvo! –O de cabelos cinzas puxou o loiro. –Moça, licença, quero 4 fichas!
A mulher atendeu o menino de prontidão. Era uma moça alta, negra, com cabelos crespos e usava um vestido que ia até os pés, todo cheio de flores vermelhas. Era gentil e sorridente.
–Aqui, tenta você primeiro. –Shirou pagou e entregou uma ficha a Goenji.
–Hm, o que acha de competir quem acerta mais prêmios? –Desafiou.
–Você vai se ver comigo, Lavagirl. –Olhou no fundo dos olhos do outro, como se estivessem com raiva e depois riram.
Escolheram suas espingardas e ficaram de frente para a parede de prendas. Haviam de caixas de bombom até grandes garrafas de Whisky. Algumas caixinhas estavam apenas com o nome do prêmio para ser retirado depois (como os ursos de pelúcia).
–Vamos tentar a caixa de bombom vermelha que está ali no meio, pode ser? –O loiro sugeriu e Shirou concordou.
Eram 3 tiros cada ficha. O primeiro foi disparado por Goenji e foi parar lá no teto.
–Você é muito ruim. –O menor riu alto, batendo na coxa. –Deixa que eu te ensino como faz.
No primeiro, Shirou acertou a caixa, mas ela apenas balançou.
–Quase foi! –A moça da barraca olhava a brincadeira e torcia por eles, divertida.
–Eu deixo você tentar, Lavagirl, vai lá. –Shirou disse convencido.
Shuya revirou os olhos. Tentou mais duas vezes, sendo as duas falhas. O primeiro tiro acertou em 2 fileiras antes da caixa marcada e o segundo em um prêmio ao lado, sem derrubar nada.
–Agora minha hora de buscar minha caixinha de chocolate. –No segundo tiro, Shirou acertou novamente, fazendo com que a caixa arrastasse para trás.
No terceiro, ela caiu. Fazendo o pequeno comemorar e Shuya aplaudir se dando por vencido. A mulher sorriu gentilmente e foi até a prateleira, pegando a caixa caída no pano que havia atrás das prateleiras.
–Parabéns! –O sotaque na voz dela lembrava o de Tsunami, onde o som do 'S' era trocado pelo 'X'
Eles trocaram a segunda ficha que Fubuki havia comprado. Mais 3 tiros pra cada um.
–Hm, vamos tentar o que está escrito 'pelúcia'? Você leva pra Yuka se conseguirmos. –O menor sugeriu e Goenji concordou.
Infelizmente, não foi dessa vez que Shirou conseguiu derrubar. Ele acertou os tiros, mas a caixinha apenas ia se arrastando para trás ao invés de cair no pano atrás das prateleiras com prêmios.
–Meu último tiro e a caixa tá na pontinha... –Goenji se vangloriou. Finalmente, ele havia pegado a manha de mirar corretamente nas coisas e não no teto.
–Isso é injusto! Eu que joguei ela pra trás. –Ele cruzou os braços, mas a birra não passava de brincadeira.
–E... Bang. –Shuya imitou o tiro quando puxou o gatilho. A pequena caixa caiu e a moça bateu palmas, parabenizando o 'menino do cabelo platinado'.
–Pode escolher um. –Ela apontou para várias pelúcias de diversos tamanhos empilhadas no canto da barraca.
–Quero a tartaruga, por favor. –Pediu educadamente. A mulher o entregou e ele sorriu agradecendo.
–Ah, e eu gostaria de mais 1 ficha, por favor. –Ele retirou dinheiro do bolso.
–O que está fazendo, Goenji? –Fubuki perguntou confuso.
–Apenas olhe. –Confiante, ele pegou a espingarda mais uma vez. Colocou a tartaruga no balcão e respirou fundo.
Mirou numa caixinha. Os músculos levemente definidos ficavam um pouco evidentes na blusa e isso tirava o fôlego de Shirou. Goenji podia ir de fofo a um homem tão atraente.
Deu um tiro certeiro. Respirou de novo, deu outro que derrubou a caixinha. Respirou e olhou para Shirou.
–Por que tá me olhando? Quer ajuda moral? –Brincou o menor. –Vai time! Você consegue!
Goenji riu. O motivo de querer outra ficha era aquele baixinho a sua frente. Assim, respirou fundo de novo e, na cagada, acertou o último tiro. Ouviu a mulher e Fubuki batendo palmas.
–Até que enfim ele aprendeu! E o aluno supera o mestre. –O menor brincou. Assim, ele apoiou os cotovelos na bancada, olhando de volta para a festa e entretido com a música "Falling For Ya" que tocava, ao menos dando atenção para o prêmio de Goenji.
–Ei. –Ouviu a voz grave do loiro e o olhou. –Pra você.
O maior retirou um Olaf de pelúcia de trás das costas, oferecendo com um sorriso gentil, fazendo o menor rir e achar aquilo adorável.
–Aw, obrigado! –Ele se jogou num abraço. –Vou te dar uma lavagirl, prometo.
Eles se olharam, com os rostos próximos. A música romântica ainda tocava ao fundo e o Olaf se tornou apenas um detalhe.
Eles estavam caídos um pelo outro, pelos olhos, pelo jeitos e trejeitos, pela cor da pele, dos olhos, do cabelo, pelo sorriso, pela cara de sono, pelas piadas, pela sensibilidade de cada um durante as conversas e por tudo mais que pudessem citar. Nada passava em branco.
Uma música tirou a atenção de Goenji. Ele ouvia ela desde pequeno por conta de seus pais e era simplesmente viciado na dancinha que fez sucesso e viralizou. Ele vivia dançando essa música com Yuka no quarto.
–A gente precisa dançar essa música! –Sem se importar com nada, puxou Shirou, a tartaruga e o Olaf de pelúcia todos para da pista de dança. Lá, as pessoas também pareciam gostar muito da música, compartilhando a coreografia de (no máximo) 5 passos fáceis.
–Acho que conheço essa música... –Shirou tentava lembrar. –É "What I Like About You", não é?
Goenji assentiu, sorrindo largo. Ele se sentia tão realizado de estar se divertindo depois de um tempo conturbado. Ao chegar no refrão, todos na pista de dança faziam os passinhos, como numa antiga discoteca.
Shirou e Goenji se divertiam, cantando a música um para o outro, talvez até com um fundo de verdade com a letra. Eles não paravam de cantar e dançar, sem se importar com o mundo a sua volta.
No final, com o 'HEY!' que o cantor grita, riram juntos sem motivo algum. O Olaf de Shirou estava embaixo de seus braços e a tartaruga estava nas costas de Goenji, sendo segurada pelas nadadeiras da frente.
–Preciso tomar algo, tô com sede. –Goenji brincava com a pelúcia.
–Eu também. Vamos lá.
E seguiram para um dos quiosques que vendiam bebidas. Se sentaram ofegantes em uma das mesas mais afastadas, para ter mais privacidade.
–Não consigo acreditar que você era um verdadeiro pé de valsa, Shuya Goenji.
–Ah, foram longos treinos com Yuka. Ela gostava de karaokê e de dançar, então, sempre acompanhei ela. –O loiro respondeu depois de um longo gole de água. –Tô suando demais.
Abriu os botões da blusa, deixando o peitoral exposto. O menor olhou descaradamente, um pouco acanhado por não estar esperando por aquilo.
–Você tá secando tanto o loirinho que acho que deveria pagar uma garrafa de água pra ele! –Tsunami apareceu gritando, assustando até a garçonete que observava o casal discretamente.
Ele segurava duas pranchas e usava um calção de banho. Aparentava estar meio alterado, rindo da reação dos garotos.
–É brincadeira, baixinho. –Ele puxou uma cadeira. –O quê vocês tão esperando? Vamos cair dentro! Já chamei todo mundo.
Ele apontou para a água do mar. Lá todos acabaram se soltando e molhando pelo menos os pés. Alguns estavam alterados por bebidas alcoólicas, outros apenas estavam querendo se divertir e uns ainda estavam lá provavelmente porque foram obrigados.
–Estamos sem roupa de banho. –Shirou disse um pouco desanimado.
–Cara, metade daqueles manos estão com a roupa que vieram pra cá. A outra metade... Também. –Ele riu. –Ah, qualé, vamos lá! É só por hoje.
Fubuki olhou pra Goenji que deu de ombros, como se dissesse "A resposta é sua". O menor mordeu a bochecha como sempre fazia quando pensava e deu sua resposta.
–Okey, nós vamos. –O surfista gritou comemorando. –Tem uma prancha ali, se vocês quiserem tentar fazer uma cena tipo Rose e Jack em cima dela.
Então, ele se levantou rindo e saiu fora sem nem esperar uma resposta. Levou consigo uma prancha amarela e atrás dela, havia uma marrom, com detalhes vermelhos e uma flor de lótus bem detalhada.
–Você vem? –Shuya chamou o menor. Estava em pé, sem camisa e com a tartaruga nos braços.
–Senhor, com licença, se quiserem deixar seus pertences naquele armário. É reservado para os clientes e tem uma chave que serve para colocar no pescoço. –A garçonete que observava os dois se aproximou. Ela falava com a cabeça baixa, mas ainda era muito atenciosa.
Os meninos agradeceram e deixaram as pelúcias, celulares e entre outros no cofre. Era bem reforçado, então não precisavam se preocupar com problemas de furto.
Shirou acabou tirando a blusa também, expondo seu corpo extremamente branco. O maior até brincou dizendo que ele poderia brilhar como o Edward de Crepúsculo, recebendo um cutucão na barriga em troca.
Seguiram para a praia com a prancha, se perguntando como diabos usariam aquilo. No entanto, não era tão difícil para Fubuki com o seu histórico no Snowboard e outros. Não era nem um 'surfar' propriamente dito, era mais o equilíbrio em cima da prancha.
–Vem, Goenji! Não é tão difícil! –Ele chamou o maior, pulando da prancha, mas não a perdendo de vista.
–Vou tentar só um vez, Buki. –Ele disse um pouco desanimado. Esses esportes radicais não eram muito 'sua praia'.
–É só... Equilibrar. –O menor tentou ajudar. Foi dando dicas de como subir e como tentar se manter.
–Tenta, vai. –Ele olhava carinhoso. –Você tá parecendo uma lagartixa apoiado desse jeito.
–Não tá ajudando, Elsa. –Esbravejou. Ainda bem que estavam um pouco afastados da muvuca para não atrapalhar os banhistas, não suportaria passar aquela vergonha. Estava com os braços e pernas agarrados na prancha, com receio de se colocar em pé.
–Você consegue, você é o destemido Shuya Goenji! –O menor brincava, mas ainda tentando ajudar.
O loiro foi se soltando, até que ficou com as mãos e os joelhos apoiados na prancha.
–Agora você tá parecendo um cachorro. –Pôs-se a rir. –Tenta firmar os pés agora, sério.
Goenji tremia, era um pouco difícil de manter o equilíbrio, mesmo com o amigo segurando a prancha, as marolas não ajudavam.
–Que tipo de animal aquático é esse? O que comem? Onde vivem? –A nova posição do maior causava risos e piadas de Fubuki. –Agora você levanta, aproveita que não tá vindo onda.
Pobre dos dois, nem viram a grande onda que se formava. Após 10 segundos ela já os atingia fazendo Goenji desequilibrar e cair. A água também cobriu o menor, que mergulhou.
No fim, os dois emergiram rindo. Foi extremamente vergonhoso e engraçado. Tentaram outras vezes, mas sempre acontecia algo para o loiro cair na prancha.
O último motivo foi Shirou pregando uma peça e puxando a prancha de propósito mesmo, o quê resultou um Goenji perseguindo o outro para 'lhe dar um cascudo'.
Não deu muito certo, então ele apenas desistiu.
O menor acabou por ir para uma parte mais calma do mar e Goenji evitava que a prancha saísse do lugar, já que alcançava o pé no chão. Estavam um ao lado do outro, apoiados na prancha, olhavam para o céu.
–Sabe qual é aquela estrela? –O maior apontou para uma em específico, próxima da lua.
–Júpiter.
–Oh, você sabe. –Disse impressionado, fazendo o outro rir leve. –Adoro sua risada.
O olhou, apaixonado. Não esperava receber um olhar na mesma intensidade, mas recebeu. E de bônus, um repuxar de lábios e ruguinhas fofas abaixo dos olhos.
–Eu gosto dos seus olhos. –Não se rendendo totalmente ao romantismo, completou. –Parecem que eles vão penetrar na minha alma e me matar.
–Seu senso de humor também é incrível. E eu gosto muito dos seus olhos também. –Ele falava aquilo com naturalidade, sem medo.
–Gosto muito da sua gentileza. Você é sempre muito educado e eu adoro isso. –Shirou ficou virado para Goenji, apoiando apenas um braço na prancha. –Gosto do seu abraço e do seu cheiro.
Seus músculos, articulações e tendões se moviam de acordo com os impulsos enviados pelo cérebro. Ele chegava mais perto, rodeando o pescoço do loiro com os braços.
–Gosto de como você me olha. Eu me sinto importante. –Shirou desviou o olhar após a confissão.
–Eu gosto de quando você me toca. Mesmo que só com um carinho no braço ou no cabelo, eu gosto. –Goenji disse e Fubuki se surpreendeu. –Eu reparo em todas as suas pequenas ações, não pense que não. Em tudo que você faz ou deixa de fazer.
–Goenji... –Ambos os corações batiam em sincronia com aquela série de confissões. Em voz alta, acabava sendo diferente. –Eu gosto de você.
Admitiu, colando suas testas. Os olhos nunca estiveram tão próximos e tão conectados como naquele momento.
–Eu também gosto de você. –O loiro fechou os olhos.
Não havia mais ninguém. Além da paisagem, nada mais importava para os dois se não a grande libertação de paradigmas internos e externos impostos durante seu crescimento.
A lua era testemunha, como um padre numa cerimônia de casamento. O som das marolas se transformando em ondas e se quebrando, era como o melhor timbre para preencher o ar. A brisa que batia, balançando levemente os cabelos e arrepiando os pelos da pele, não se comparavam ao fervor de dois corações jovens encontrando a paixão. O movimento da água não era nada perto das borboletas que sobrevoavam dentro da barriga do casal.
–Eu quero dizer que... Eu estou apaixonado por você. –As palavras saíram lentas, num sussurro. Não por vergonha, mas sim porque ninguém precisava ouvir aquilo. Apenas ele.
–Eu também estou apaixonado por você, Buki. –Também ditas num sussurro. Ninguém precisava saber ou testemunhar, era algo inteiramente dos dois.
Muitos chamariam de clichê, outros de o momento perfeito. Para os dois, qualquer momento na companhia um do outro já era de bom grado.
As respirações estavam próximas; quentes. O cheiro salgado, o toque das peles um do outro só os deixava mais ansioso para o que vinha.
Shirou levou suas mãos até as bochechas de Goenji, acariciando e trazendo os belos lábios vermelhos mais perto de si.
Era agora ou nunca.
Os lábios finalmente foram selados e um suspiro foi deixado por ambos. As bocas aveludadas se permitiram apenas ficarem abraçadas por um tempo. O movimento era leve e lento, como se provassem do fruto proibido, desgustando.
O toques eram como explosões de hormônios e sentimentos reprimidos. As mãos de Goenji na cintura de Fubuki e a mãos de Fubuki acariciando o belo rosto de Goenji. As bocas dançavam, tirando leves suspiros e ofegos de cada um. Era um alívio e era viciante.
Em sincronia, as línguas se encontraram, fazendo parte do beijo. A mão na cintura alheia trouxe o garoto mais para perto, enquanto a mão na bochecha mantinha o ritmo.
Não havia dominação ou submissão. Havia tanta paixão que os dois sentiam choques correndo pelo corpo, cócegas no ventre e se deleitavam com o gosto da boca um do outro.
O ar faltou nos pulmões e eles se separaram. Ficaram minutos e minutos apenas recuperando o fôlego, os olhos fechados e a mente vagando pelos resquícios de beijo.
Esse definitivamente seria um grande passo para uma futura relação e uma auto aceitação. Difícil mesmo seria enfrentar o que viesse pela frente para atrapalhar o mais novo casal da escola Raimon
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