Nas semanas seguintes à revelação de quem era o prisioneiro fugitivo de Azkaban e ao ataque ao retrato da Mulher Gorda, comecei a perceber uma mudança no comportamento dos professores. Não importava para onde eu ia ou o que fazia, sempre parecia haver alguém me observando. Nas aulas, os professores trocavam olhares entre si e às vezes até apareciam nas aulas dos outros.
Era estranho ver a Professora Sprout em uma aula de Defesa Contra as Artes das Trevas ou o Professor Flitwick na aula de Transfiguração. Mas o que mais me incomodava era a Professora McGonagall observando de perto os treinos do time de Quadribol da Grifinória. Ela sempre foi nossa maior torcedora, mas agora parecia estar ali por outro motivo, como se estivesse me monitorando e não apenas assistindo aos treinos.
Eu entendia por que tanta vigilância. Depois de ouvir a conversa entre Dumbledore e Snape, sabia que algo maior estava acontecendo, algo que me envolvia diretamente. Isso não tornava a situação menos irritante, no entanto. Era difícil me concentrar quando parecia que todos ao meu redor estavam me vigiando o tempo todo.
Para piorar, percebi que até Hermione, Gina e Daphne estavam diferentes. Elas estavam sempre por perto, me observando de maneira sutil, como se tivessem medo de me deixar sozinho por muito tempo. Eu tentava não me irritar, mas era impossível ignorar o fato de que elas estavam claramente preocupadas comigo e isso só aumentava minha frustração.
- Não precisam me tratar como se eu fosse de vidro. - Eu disse uma vez, quando Hermione insistiu em me acompanhar de volta ao Salão Comunal.
- Não é isso, Harry. - Ela respondeu, com uma expressão de desconforto. - Só estamos preocupadas.
Eu suspirei, sabendo que não adiantava discutir, mas começava a suspeitar que tudo isso estava diretamente ligado ao prisioneiro fugitivo. Mas por que ele estaria atrás de mim? Essa era a pergunta que me incomodava.
As coisas ficaram ainda mais sérias quando fui chamado à sala de Dumbledore. Quando entrei, o diretor me recebeu com sua habitual calma, mas o clima era tenso.
- Harry - Dumbledore começou, com uma expressão séria -, devido às recentes circunstâncias, suas visitas a Hogsmeade estão temporariamente revogadas.
- Mas... por quê? - perguntei, sabendo a resposta, mas incapaz de conter meu protesto.
- Enquanto o prisioneiro não for encontrado, é perigoso demais para você sair dos limites de Hogwarts sem proteção. - Ele explicou com sua típica tranquilidade.
Senti um aperto no estômago. Eu entendia a preocupação deles, mas isso era demais. Primeiro os olhares constantes e agora isso? Eu não era uma criança indefesa. Eu sabia me cuidar. E além disso, o que esse Pettigrew poderia querer comigo?
Dumbledore parecia ler meus pensamentos.
- Harry, sei que isso é difícil de aceitar, mas por favor, confie que estamos fazendo o melhor para garantir sua segurança.
À contragosto, assenti. Sabia que Dumbledore e os professores estavam tentando me proteger, mas isso não tornava a sensação de ser vigiado o tempo todo mais fácil de suportar.
Quando voltei ao Salão Comunal da Grifinória, fui recebido por Hermione, Ron e Gina. Eles pareciam um pouco incertos, como se estivessem tentando descobrir a melhor maneira de falar comigo sobre algo delicado.
- Harry... nós vamos para Hogsmeade amanhã. - Começou Ron, coçando a nuca nervosamente. - Mas... você sabe, com essa coisa de você não poder sair do castelo...
- Pedimos desculpas por ir sem você. - Completou Gina, visivelmente desconfortável.
- Esperamos que você entenda. - Disse Hermione, tentando suavizar a situação.
Tentei forçar um sorriso, mesmo me sentindo irritado por dentro.
- Tudo bem, não se preocupem, apenas divirtam-se por mim, certo?
Eles pareceram aliviados ao ouvir minha resposta, mas a frustração continuava crescendo dentro de mim. Quando todos se retiraram para seus quartos, eu fiquei no Salão Comunal, sozinho, pensando no quão injusto aquilo tudo parecia.
No dia seguinte, fiquei no pátio, observando meus amigos partirem para Hogsmeade. Mesmo sabendo que era para a minha segurança, não conseguia deixar de me sentir deixado para trás, como se estivesse preso enquanto todo mundo seguia com suas vidas.
Assim que vi os últimos alunos desaparecerem pelos portões, voltei correndo para a Torre da Grifinória. Entrei no dormitório, fechei a porta e fui direto à minha mala. Lá, escondida debaixo das minhas vestes, estava a minha nova companheira: a Capa da Invisibilidade.
Segurei a capa nas mãos, sentindo o tecido suave. Se os professores achavam que podiam me prender no castelo, estavam muito enganados. Eu iria para Hogsmeade de qualquer jeito, com ou sem a permissão deles.
Com a Capa da Invisibilidade sobre mim, saí do dormitório, desci cuidadosamente os degraus para não tropeçar. O Salão Comunal da Grifinória estava silencioso, as chamas da lareira dançando suavemente, enquanto os retratos cochilavam em suas molduras. Passei pela Mulher Gorda, que continuava a resmungar sobre o ataque que havia sofrido e abri a passagem com cuidado, sem fazer barulho.
O corredor estava vazio, mas eu sabia que o Sr. Filch ou algum professor poderia aparecer a qualquer momento. Segui em silêncio, mantendo-me próximo às paredes. Quando me aproximei de uma esquina, ouvi passos. Segurei a respiração e fiquei parado, observando Filch se aproximar, com Madame Norra ao seu lado, seus olhos brilhando. Esperei até que eles passassem, depois segui em frente, tomando cuidado para evitar qualquer outro encontro indesejado.
Finalmente, cheguei ao pátio. O vento estava frio e o sol brilhava entre as nuvens. Tudo estava pronto para eu sair em direção à ponte suspensa e, de lá, ir até Hogsmeade. Atravessar os portões de Hogwarts não seria tão difícil com a capa. Ou, pelo menos, era o que eu pensava.
- Ei, Harry! - alguém sussurrou atrás de mim.
Virei-me de repente, apenas para ver Fred e Jorge Weasley parados ali, sorrindo.
- Achou que ia pra Hogsmeade sem a gente perceber? - disse Fred, com um sorriso maroto.
Eu tentei me desvencilhar.
- Tenho que ir.
Jorge, no entanto, sussurrou:
- Relaxa, Harry, nós vamos deixar você ir, mas temos um jeito muito melhor.
Antes que eu pudesse protestar mais, os dois me puxaram para um canto discreto do pátio. Tirei a Capa da Invisibilidade, olhando para os dois com desconfiança.
- Como é que vocês vão me ajudar? - perguntei.
Jorge tirou de dentro das vestes um pergaminho em branco e o entregou para mim. Eu o segurei, confuso.
- O que é isso? - questionei.
Fred, com um sorriso maroto, tocou a ponta da varinha no pergaminho e murmurou:
- Eu juro que não vou fazer nada de bom.
De repente, palavras começaram a aparecer no pergaminho, como se estivessem sendo escritas por mãos invisíveis:
Os senhores Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas apresentam o Mapa do Maroto.
Fiquei admirado.
- Como vocês conseguiram isso?
- Roubamos da sala do Filch no nosso segundo ano. - Respondeu Fred com orgulho. - Ele tem um monte de coisas confiscadas, mas esse mapa... Bem, vamos dizer que foi o nosso maior achado.
- Usamos isso pra pregar peças sem sermos pegos. - Explicou Jorge. - Mas achamos que você vai fazer um uso ainda melhor do que nós.
- Isso vai te mostrar Hogwarts inteira e tem algumas passagens secretas para Hogsmeade que ninguém mais conhece. - Acrescentou Fred.
Os gêmeos me mostraram no mapa a passagem secreta que levava ao porão da Dedosdemel em Hogsmeade. Era o caminho perfeito. Perguntei por que estavam me ajudando a sair, mesmo sabendo dos perigos.
- Sabemos que você pode se cuidar sozinho, Harry. - Disse Jorge com um sorriso de confiança.
Eu agradeci, guardando o mapa e vestindo a Capa da Invisibilidade. Depois de me despedir dos dois, segui as instruções do mapa. Encontrar a passagem secreta não foi difícil e logo eu estava nos túneis, caminhando em direção a Hogsmeade.
Saí no porão da Dedosdemel e, ainda invisível, subi para o vilarejo, procurando por Ron, Hermione, Gina e Daphne. Os encontrei perto da famosa Casa dos Gritos, observando-a enquanto Draco, Crabbe e Goyle os amolavam. Draco, claro, estava sendo insuportável como sempre.
Sorri por baixo da capa, pensando em como poderia me divertir um pouco. Peguei um punhado de neve, moldei algumas bolas e, com um feitiço simples, Wingardium Leviosa, as fiz voar na direção de Draco e seus amigos. As bolas de neve atingiram Draco bem no rosto, uma após a outra. Ele olhou ao redor, assustado.
- O que... o que está acontecendo? - Draco gaguejou, com a neve escorrendo pelo pescoço, Crabbe e Goyle pareciam igualmente confusos.
- Acho que é um fantasma! - exclamou Goyle, apavorado.
Os três saíram correndo, deixando meus amigos em paz. Me aproximei de Ron, Hermione, Gina e Daphne, ainda sob a Capa da Invisibilidade. Brinquei com os cabelos de Hermione, Gina e Daphne e puxei as pontas do gorro de Ron. Hermione foi a primeira a perceber.
- Harry! - ela disse, rindo, eu tirei a capa e todos nós rimos juntos.
- Boa, Harry! - disse Ron, ainda rindo da cena de Draco fugindo apavorado.
Nós cinco voltamos para Hogsmeade, conversando e rindo. Estávamos caminhando em direção ao Três Vassouras, quando vi Cornélio Fudge, o Ministro da Magia, entrando na taverna, acompanhado pela Professora McGonagall. Eles estavam conversando com Madame Rosmerta e de repente ouvi meu nome.
- Harry Potter? - disse Madame Rosmerta, surpresa. - Claro, podemos arranjar uma sala privada.
Sabendo que estavam falando de mim, olhei para meus amigos. Hermione tentou me impedir, mas eu já estava determinado. Coloquei a Capa da Invisibilidade novamente e segui Fudge e McGonagall até uma sala nos fundos do Três Vassouras.
Dentro da sala, eles começaram a conversar. E logo percebi o verdadeiro motivo da fuga do prisioneiro. Eles mencionaram que ele havia sido um servo de Voldemort. E o pior de tudo: ele havia traído meus pais, entregando sua localização para Voldemort. Esse prisioneiro, Pettigrew, estava diretamente ligado à morte dos meus pais.
Saí da sala rapidamente, com o coração acelerado e um nó na garganta. Corri para longe, esbarrando nos meus amigos no caminho, mas continuei até estar bem distante de Hogsmeade. Sentei-me em uma pedra, ainda coberto pela Capa da Invisibilidade, tentando conter as lágrimas que escorriam pelo meu rosto.
Logo, Hermione, Ron, Gina e Daphne me encontraram. Hermione se aproximou e, com cuidado, tirou a capa de cima de mim.
- Harry... o que foi? - perguntou, com a voz suave.
Não consegui segurar. Com raiva e dor, contei a eles tudo o que ouvi. Sobre como Pettigrew havia traído meus pais. Sobre como ele os entregou para Voldemort.
- Eu juro... quando eu encontrar Pettigrew... eu vou matá-lo. - Disse, a raiva crescendo em minha voz.
Hermione, Gina e Daphne me abraçaram imediatamente, tentando me confortar, enquanto Ron ficou ao meu lado, dando tapinhas gentis no meu ombro. Mas mesmo cercado pelos meus amigos, a dor e a raiva dentro de mim eram quase insuportáveis.
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