Eu continuava olhando para o corpo de Bartô Crouch, sentindo uma onda de desconfiança se misturar ao choque. O vislumbre que tive do Professor Moody entre as árvores ainda pairava na minha mente. Algo parecia errado, mas antes que eu pudesse processar o pensamento por completo, ouvi passos rápidos e pesados atrás de mim.
— Harry! — era a voz de Hagrid, apressado e logo em seguida apareceram Hermione, Gina e Ron, o pânico estampado nos rostos delas ficou claro no momento em que viram o corpo.
— Meu Deus! — Hermione gritou, cobrindo a boca com as mãos.
— Ah, não… — Gina exclamou, o horror claro em seus olhos.
Ron, por sua vez, ficou pálido como nunca o tinha visto antes. Em questão de segundos, ele se dobrou e vomitou no chão, incapaz de suportar a visão de seu primeiro cadáver.
Hagrid me puxou com força pelo braço, trazendo-me de volta à realidade.
— Vamos, Harry, rápido! Todos vocês, voltem para a cabana! — ele ordenou, a voz grave e urgente.
Ainda com o choque me embotando os sentidos, fui conduzido de volta, com os outros nos seguindo de perto. Assim que entramos, Hagrid fechou a porta atrás de nós e, sem perder tempo, começou a preparar mais chá.
— Fiquem aqui, certo? Vou procurar o professor Dumbledore e os outros, não saiam, me ouviram? Principalmente você Harry.
Eu apenas assenti, ainda tentando processar tudo o que tinha acabado de acontecer. Hagrid saiu rapidamente da cabana, deixando-nos sozinhos. O ambiente, que antes parecia acolhedor, agora estava impregnado de uma tensão desconfortável.
Hermione foi a primeira a se aproximar, colocando gentilmente as mãos nos meus ombros. Seu toque me trouxe um mínimo de conforto, mas a preocupação em seus olhos era inconfundível.
— Harry, você está bem? — ela perguntou, a voz cheia de apreensão.
Gina logo se juntou a ela, a expressão em seu rosto tão preocupada quanto a de Hermione.
— Deve ter sido horrível ver aquela cena, Harry.
Ron, ainda pálido e claramente abalado, disse com a voz trêmula:
— Sim… horrível…
Eu olhei para eles, para as minhas namoradas e para Ron, tentando encontrar as palavras certas para explicar o que aconteceu. Sabia que o que tinha visto — ou achado que tinha visto — sobre Moody poderia complicar as coisas ainda mais. Decidi, então, que seria melhor guardar essa parte para mais tarde, quando tivesse a chance de conversar com Sirius e Lupin. Eles entenderiam.
Suspirei antes de falar:
— Sim, foi horrível… mas eu não teria encontrado o Sr. Crouch se não fosse pela minha cicatriz.
Hermione franziu o cenho, agora visivelmente mais preocupada.
— Sua cicatriz doeu de novo?
Assenti silenciosamente, sentindo o peso de suas preocupações recaírem sobre mim. Queria tranquilizá-los, mas não havia como suavizar o que estava acontecendo. Antes que pudéssemos continuar discutindo, a porta da cabana se abriu abruptamente.
Hagrid entrou primeiro, seguido por Dumbledore, Cornélio Fudge, a Professora McGonagall, Snape e, mais atrás, Moody. Meu estômago revirou ao vê-lo e fiz o possível para esconder meu desconforto de estar cara a cara com ele. Algo não estava certo, mas não era o momento de demonstrar isso.
Dumbledore se aproximou, sua expressão séria, mas com um toque de preocupação.
— É verdade, Harry, você encontrou o corpo do Sr. Crouch? — perguntou ele, seus olhos fixos em mim.
— Sim, fui eu, professor. — Respondi, tentando manter a voz firme.
Dumbledore assentiu e se virou para Fudge.
— Cornélio, chame os Aurores e peça para eles fazerem uma varredura na propriedade para encontrar o assassino, tome cuidado para não causar pânico.
Fudge, visivelmente abalado, apenas concordou com a cabeça e saiu da cabana, deixando um rastro de tensão no ar.
Dumbledore, então, se virou para McGonagall e disse em tom firme:
— Minerva, leve Harry e os outros de volta ao castelo e, Harry, quero vê-lo amanhã na minha sala, após as aulas, quero que me conte tudo que sabe.
Eu apenas assenti, ainda tentando evitar o olhar de Moody, que permanecia perto da porta. Quando ele se mexeu, percebi algo estranho... um sorriso quase imperceptível de satisfação em seu rosto. Meu estômago se contraiu de novo, mas desviei o olhar rapidamente antes que ele percebesse que eu tinha notado.
McGonagall se aproximou de nós.
— Vamos, meninos e meninas, vamos tirá-los daqui. — Disse ela, seu tom mais suave do que o habitual.
Saímos da cabana em silêncio, ainda processando tudo o que tinha acontecido. Enquanto passávamos por Moody, tive certeza de que vi aquele sorriso novamente, algo quase sinistro, como se ele soubesse algo que nós não sabíamos. O frio voltou a tomar conta de mim, mas continuei seguindo McGonagall sem olhar para trás.
Enquanto voltávamos para o castelo, meus pensamentos giravam em torno do que eu tinha visto e sentido. A dor na cicatriz, o corpo de Crouch e aquele sorriso de Moody... Eu precisava falar com Sirius e Lupin. Precisava de seus conselhos, da orientação deles. Não podia passar por isso sozinho.
Eu realmente precisava conversar com meus pais de criação.
Ao chegarmos no Salão Comunal da Grifinória, senti os olhares dos outros alunos se voltando para nós. Nossas expressões provavelmente diziam muito sobre o que tínhamos acabado de vivenciar. A tensão ainda pairava sobre mim e eu sabia que não ia desaparecer tão cedo.
— Para os dormitórios, todos vocês. — Ordenou McGonagall, em seu tom firme e incontestável, em poucos minutos, o salão estava vazio, deixando apenas nós quatro ali.
Ela nos observou por um momento, a preocupação visível em seus olhos.
— Fiquem bem, por favor. — Disse ela, suavemente, antes de sair pelo retrato da Mulher Gorda.
Assim que ela se foi, me sentei no chão, de frente para a lareira. As chamas lançavam sombras pelo salão vazio, o crepitar da madeira queimando era a única coisa que quebrava o silêncio desconfortável. Hermione e Gina sentaram-se ao meu lado, cada uma segurando uma das minhas mãos, oferecendo o conforto que eu tanto precisava naquele momento.
Ron, ainda um pouco pálido e claramente abalado, disse com a voz cansada:
— Acho que vou subir e tentar dormir, boa noite, pessoal, Gina... — ele lançou um olhar preocupado para a irmã.
— Boa noite, Ron. — Respondi por todos, sabendo que ele precisava de um tempo para processar tudo o que tinha visto.
Assim que ele desapareceu pela escada que levava ao dormitório dos meninos, fiquei sozinho com Hermione e Gina. As duas estavam quietas, mas senti que queriam me ajudar, que estavam esperando o momento certo para perguntar o que realmente estava me incomodando. Não demorou muito para Hermione romper o silêncio.
— Harry, o que exatamente aconteceu? — a voz dela era calma, mas preocupada, como sempre.
Eu olhei primeiro para Hermione e depois para Gina. Pensei por um momento se deveria dividir todas as minhas preocupações com elas. Não queria que se preocupassem mais do que já estavam, mas também não queria lidar com isso sozinho. Antes que eu pudesse responder, Gina apertou minha mão e falou suavemente:
— Harry, tudo bem, pode dizer, não lide com isso sozinho, somos suas namoradas e você pode dividir suas preocupações conosco.
O sorriso sincero de Gina fez com que uma parte da tensão em meu peito se aliviasse. Eu estava agradecido por tê-las ao meu lado, por não ter que carregar tudo isso sozinho.
— Como vocês sabem — comecei, respirando fundo —, fui levar Canino para fazer as necessidades dele e então minha cicatriz começou a doer, depois que ele terminou, decidi seguir a sensação, algo estava me atraindo pela dor na cicatriz, foi assim que encontrei o corpo do Sr. Crouch, chamei por Hagrid e depois... — hesitei.
Hermione me observava atentamente, encorajando-me com um olhar preocupado.
— Pode falar, Harry. — Ela disse, sua mão apertando a minha com mais força.
Respirando fundo novamente, continuei:
— Eu vi o Professor Moody entre as árvores, depois, quando estávamos na cabana, eu o vi sorrir, sorrir como se estivesse satisfeito com o que aconteceu e, no caminho de volta para cá, vi de novo aquele mesmo sorriso.
Hermione ficou pensativa, ponderando sobre o que eu tinha acabado de dizer.
— Você acha que o Moody é o assassino, Harry? — perguntou ela, cuidadosamente.
Eu fiquei em silêncio por um momento, antes de finalmente responder:
— Na verdade... sim, acho.
O pensamento era perturbador, mas não conseguia ignorá-lo. Havia algo estranho no comportamento de Moody. Gina também estava pensativa, o olhar dela se fixando nas chamas da lareira enquanto processava a idéia.
— Você devia contar isso para Sirius e Lupin antes de falar para o Professor Dumbledore amanhã. — Sugeriu Gina, voltando-se para mim com um olhar sério.
Hermione concordou imediatamente, balançando a cabeça.
— Ela tem razão, vá até eles hoje à noite, mas vá com a Capa da Invisibilidade, com certeza o Professor Dumbledore mandou que Fudge colocasse Aurores para patrulhar a escola e ainda temos o Filch e a Madame Norra rondando.
Era um bom conselho. Eu precisava de orientação e Sirius e Lupin eram as pessoas certas para me ajudar a entender o que estava acontecendo e como lidar com isso. Acenei com a cabeça, concordando.
— Obrigado, meninas, não sei o que eu faria sem vocês, amo vocês duas.
Hermione e Gina coraram levemente, seus rostos suavizando-se com sorrisos tímidos. Inclinei-me e beijei Hermione primeiro, sentindo o conforto do carinho dela me acalmar e depois beijei Gina, que retribuiu com a mesma ternura.
Depois disso, ficamos em silêncio, cada um mergulhado em seus próprios pensamentos. Hermione e Gina se acomodaram ao meu lado, com as cabeças apoiadas nos meus ombros. O calor da lareira e o toque delas traziam uma sensação de calma que, por um momento, afastou as preocupações.
Mas minha mente ainda voltava para as crescentes suspeitas sobre Moody. Como eu abordaria isso com Sirius e Lupin? Eles precisavam saber da minha desconfiança, mas como exatamente explicar tudo o que eu tinha visto sem soar paranoico? Sabia que confiar neles era a minha melhor chance de entender o que realmente estava acontecendo.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.