Durante o mês que se passou desde que chegamos em Londres, Damen havia sido meu guia, levando-me para conhecer os locais maravilhosos como o belíssimo Hyde Park e o Museu de arte, além de reservar programas mais agitados como paintball e baladas com uns amigos londrinos. Após muitos dias de passeios agitados na companhia dos amigos dele eu comecei a me cansar de andar tanto e achei também que era melhor controlar os níveis de álcool no organismo. Então decidi conciliar esses passeios com dias para mim apenas. Damen relutou no começo, alegando que deveríamos ficar juntos. Mas tinha tanto tempo que ele não se divertia assim. Seu trabalho na editora da família sugava muito do seu tempo. Essas férias não eram só para nós juntos, mas para cada um. Então combinamos que em um dia da semana faríamos programas diferentes. Até porque ele odiava perder tempo sentado assistindo alguma peça de teatro, filmes ou qualquer coisa em que ficasse muito tempo parado. Já eu amava.
Era em um desses dias que eu havia saído de tarde para caminhar por Hampstead. O tempo estava ótimo, com uma brisa maravilhosa refrescando o calor do sol. Meu vestido cor de ameixa fluía assim como meu cabelo solto. Ajeitei meus óculos de sol e olhei em volta mais atentamente. Se aquele endereço estava certo eu deveria estar próxima ao pub. Andei mais um pouco e o achei. Parei na porta reduzindo o passo e espiando o interior. Parecia cheio. Entrei e bebi uma Coca. Minhas mãos tremiam ao olhar em volta tentando não parecer que procurava alguém. Eu não estava de fato procurando ou perseguindo ninguém. Mal acreditava que iria de fato cruzar com ele. Mas meus olhos estavam treinados para analisar cada pessoa próxima a mim naquele lugar e por onde eu fosse.
Recebi algumas fotos de Damen no paintball e respondi mandando uma foto de mim no pub. Depois liguei para minha irmã e paguei a conta, saindo. Ainda estava cedo para ir embora e eu caminhei mais.
- Como estão as coisas aí? Já achou algum vestido de casamento? - Isabel perguntou.
- Está tudo tranquilo. - comentei com um suspiro - E não....Nem comecei a procurar.
- Você está muito calma pra quem vai casar. Não tem data? Nada?
- Bel, a única estressada aqui é você. - falei enquanto atravessava a rua. - eu não tenho pressa pra essas coisas. Não precisa ser correndo. Não estou grávida.
- Nem diga uma coisa dessas - ouvi ela ralhar comigo e sorri.
- Quando eu começar a planejar tudo, você será a primeira a saber. Vai ser minha madrinha.
- Disso eu já sei. Tô só testando pra ver se você ainda está firme nessa decisão.
- Hm... - resmunguei olhando em volta da rua arborizada onde parei. Diminuí o passo até parar e me recostar em uma árvore. - quanto a isso eu não tenho nada para comentar.
- Não quer conversar a respeito? - ela falou mais séria. - desde que tudo aconteceu você só falou comigo duas vezes. Agora você está aí em Londres, numa casa fodidamente próxima da dele. Corre o risco de encontrá-lo... E não sabe o que dizer sobre?
- Quando eu conseguir falar sobre eu vou... Eu... - Engoli em seco ao me deparar com algo inusitado - Preciso desligar, Bel.
- Hey... - ouvi ela falar. - Tudo bem, não precisa ficar irritada. Não falamos sobre isso então... - ela tentava se justificar achando que me magoou pelo assunto mas eu estava chocada com o que vi estampado em uma parede do outro lado da rua.
- Ele está em cartaz... - comentei pra mim mesma e para ela também. Senti minha voz estranha, entre a confusão e a incredulidade. Olhei novamente para o que havia tirado minha atenção. Era uma propaganda de peça de teatro. Reconheci o rosto estampado assim que meus olhos passaram. Aqueles olhos me prendiam até por fotos. Respirei fundo e fui mais perto, sentindo cada vez mais o quanto estávamos próximos um do outro e nem sabíamos. Mesmo eu sabendo de fato, não sabia onde ele estava.
Mas agora eu sabia onde ele estaria. Teatro Harold Pinter, hoje às 19:30hs.
- Como? - ela perguntou elevando um pouco a voz - Não estou entendendo nada Liana.
- Tom Hiddleston está em cartaz numa peça de teatro. Vi um cartaz aqui na minha frente - dessa vez falei rindo. A coincidência era cômica, para não dizer outra coisa.
- Quem é vivo sempre aparece - ela riu. - Você vai assistir, né?
- Não sei. - mordi o canto da boca - o que você acha?
- Se fosse eu já teria encontrado o teatro e ido o mais rápido possível.
- Não acho uma boa idéia. - ponderei.
- Faça-me o favor! - Isabel riu outra vez - você foi pra Londres! De todos os lugares do mundo que poderia ter escolhido, esse foi o único e não foi só pelo charme local e o chá das cinco. Você sabe muito bem o motivo de estar aí. Quer que eu diga o nome desse motivo?
Sua pausa foi proposital para eu digerir sua fala, que atingiu diretamente o ponto, deixando meu rosto quente e corado.
- Não precisa dizer mais nada. Eu vou.- Falei baixinho.
- Aproveite o show. E se não quiser contato, apenas não deixe ele ver você. Vá embora antes da peça terminar.
- Boa ideia - pontuei.
- Ótimo. Se divirta. - ela desejou. Pude ouvir o sorriso oculto que ela deu enquanto falava. Antes que eu respondesse ela desligou.
Fiquei uns minutos olhando para o cartaz até tomar a iniciativa.
A peça estava em cartaz até o final do próximo mês.
Abri a bolsa e chequei minha quantia em dinheiro, depois abri o aplicativo de ingressos e consegui encontrar uma poltrona disponível.
Meus dedos tremiam pela possibilidade de vê-lo. Mesmo sabendo que não seria boa idéia. Eu precisava testar meus próprios sentimentos. Talvez eu apenas não conseguia superar. Talvez o que eu sentia era uma euforia por ele ser famoso e, pelo tempo que nos conhecíamos o laço criado ainda deixava afeições. Saudades apenas? Eu precisava sentir na pele.
Dei a volta e busquei pelo táxi que me levaria até lá.
No caminho eu lutava para não ficar batendo os pés ou roendo as unhas toda a vez que o veículo parava no sinal. Olhei o relógio. Eu estava adiantada. Chegaria lá bem antes da peça.
-X-
Sentei-me na poltrona aveludada vermelha e quase me afundei ali. Era extremamente confortável, isso eu consegui captar. O que foi surpreendente pois meus nervos alterados me deixavam aflita. A pulsação do meu sangue correndo nas veias em alta velocidade fazia minha pele suar e minha garganta secar, desidratada.
A luz foi diminuindo após um tempo curto, mas relativamente longo para mim, que estava contando os segundos. O palco foi iluminado por luzes azuis e amarelas, acentuando por onde os artistas entrariam na cena.
Na minha cabeça seria melhor ele entrar depois, não de cara. Para que de alguma forma eu fosse me acostumando com sua entrada, mas o primeiro ato foi encenado por ele mesmo.
Tom Hiddleston não entrou na cena. Ele já estava no cenário, de costas para o público em uma cadeira giratória. Sua voz foi o primeiro som que ouvi, além da sutil música que tocava baixinho nas caixas de som ao redor do teatro e assim que me atingiu, prendi a respiração. Meus olhos se fecharam e eu absorvi o som mais potente e poderoso que já ouvi em toda minha vida. Era como se ele estivesse ao meu lado recitando suas primeiras e introdutórias falas.
Aos poucos fui abrindo os olhos, minimamente, um por um... E então eu abri de vez. Era ele.
Tom Hiddleston sorria!
E eu...
Não consegui entender o que eu estava sentindo. Toda a minha atenção ficou nele e eu mal sabia sobre o que era a peça, sobre o que contava a história. Apenas ouvia a platéia rir hora ou outra, via ele falar animadamente, ou em outros momentos, normal, triste e apaixonado. Tom contracenava com outros atores que eu não conhecia. Em algumas falas se declarou para uma amiga que não o amava de fato. Desde então a peça e ele assumiram o tom de drama, mas ainda tinha uma pitada de comédia. Passado muito tempo eu comecei a me acostumar, ou achar que havia. Eu acalmei meu coração, que no primeiro momento decidiu que sairia de mim pela boca, e depois sangrou, deixando-me bem dolorida. Não contive o choro, que nada tinha a ver com a peça, e sim com ele!
Limpei meu rosto para conseguir vê-lo melhor. E pisquei algumas vezes, dispersando as lágrimas.
Tom falava de frente para o palco. Sua angústia pela rejeição de sua amada foi encenada com perfeição. Ele falava com o público agora, agindo como um narrador. Ele elevou os olhos, olhou a platéia...
E olhou para mim.
Seus olhos iam passando direto, mas voltaram para os meus. Todo o resto deixou de existir. Eu sentia minhas mãos esmagando os braços da poltrona. Naquele momento havia só ele e eu. Soltei o ar que nem sabia que estava prendendo.
Quando seus olhos se fixaram nos meus eu soube, lá no fundo do meu âmago que tudo mudaria, daquele momento em diante eu não seria mais a mesma. Era quase palpável a minha reação.
Eu o amava demais.
Estava claro para mim como se sempre estivesse bem na minha cara e eu nunca tivesse visto.
Me permiti sair daquela linha de raciocínio que só poderia ser pensada quando eu estivesse a sós comigo mesma. Ele havia se perdido por alguns segundos na fala e eu assenti erguendo as sobrancelhas, incentivando que ele voltasse para o personagem. Vi Tom analisar meu rosto com um vinco na testa, depois ele sacudiu a cabeça minimamente como que para organizar os pensamentos e no segundo seguinte ele já havia voltado como se nada tivesse acontecido. Pareceu, para quem viu de fora, que era parte da cena. E eu, que notei a mudança, dei um sorrisinho. Meu orgulho feminino se deliciava pelo fato de presenciar Hiddleston perder um pouco da compostura. E se alegrava da possibilidade de eu ter feito aquilo. De eu ter provocado aquela reação nele. Suspirei e tentei desviar o olhar dele. Tentando agora organizar minha própria mente.
O que eu estava fazendo era errado. Eu não devia ter vindo procurar por ele. Me senti mal, como se estivesse traindo Damen. Eu odiei aquela sensação. Meus pés estavam agitados. Eu deveria sair dali naquele momento, mas não consegui. Assisti a peça até o fim, tentando não arfar toda vez que ele olhava para mim. E ele olhou bastante, parecendo que queria se comunicar. Me mantive atenta aos atores e ao decorrer das cenas. Após o último ato minhas mãos já estavam preparadas para me apoiar na poltrona e sair dali bem rápido.
Quando terminou ele olhou mais uma vez, franzindo a testa. As luzes se apagaram e depois todo o salão se iluminou completamente. A platéia se ergueu e aplaudiu. Senti meu corpo se mover em uma imitação do que devia ser eu agindo com normalidade. Tom pareceu fazer o mesmo e sorriu, fazendo a famosa reverência de agradecimento. As pessoas começavam a descer, indo para a saída. Os acompanhei, agora olhando por onde ia ou cairia de cara no chão. Minhas pernas estavam bambas. Enfim consegui chegar ao corredor de saída e andei mais depressa. Tive a impressão de ouvir alguém chamar atrás de mim, mas podia ser coisa da minha cabeça. Então continuei seguindo, passando depressa pelas pessoas, esbarrando, repetindo "desculpe" e "com licença" até meu braço ser agarrado, fazendo eu recuar e girar.
- Liana! - Ele falou mais baixo, como se reclamasse e estivesse irritado por eu não ter atendido antes. Tom tentou não ser notado. Algo que não fez muito efeito, já que seus fãs paravam ali para dar parabéns pela atuação. Tom não pareceu muito à vontade. Ele sorriu quando olhamos em volta, agradeceu as felicitações e assentiu educadamente enquanto ainda segurava meu braço com uma suave pressão. Eu iria tentar dar uma desculpa de ir embora e falar mais alto do que o som das meninas e dos repórteres ali, mas seu rosto virou para mim e ele sorriu. Qualquer idéia que tive para me afastar se perdeu naquele olhar.
- Por que está fugindo de mim? Por que não disse que estava aqui?
- Eu...vim assistir a peça mas... Na verdade estou atrasada para...
- Não. Você não vai fugir. - ele olhou outra vez ao redor e viu o mesmo que eu. Câmeras. Meus olhos se abriram mais e eu fiquei aflita. O burburinho em volta fazia minha mente já lotada, ficar agitada. Olhei para ele que pareceu notar meu nervosismo. - venha.
Sua mão deslizou de meu braço para minha mão e ele me puxou para dentro. Passamos por trás do palco e por muitas salas que eu nem fazia idéia onde daria. Seus passos eram apressados e certeiros. Eu apenas seguia, sem conseguir pensar. Eu precisava pensar! As pessoas ali dentro vestiam o uniforme do teatro e sorriam para Tom, mas olhavam para mim com curiosidade. Ele apenas continuou andando. Conforme avançava o número de pessoas nos corredores diminuía. Ele abriu uma porta dupla. Estava vazio ali.
- Tom, espera... - ele não pareceu me ouvir, parou de frente para uma porta e olhou o corredor.
Vazio.
Sua mão livre girou a maçaneta e ele me colocou para dentro. A única coisa que consegui captar foi o nome dele estampado na porta. Era seu camarim. Ouvi a porta sendo trancada e tive um déjà vu. Engoli em seco e saltei assustada. Me virei para ele e fui em direção a porta.
- Lia... - ele murmurou, segurando meus braços, sentindo minha pele. - É você mesmo...
Limpei a garganta que se fechava. Eu estava perto demais. Tudo aconteceu bem rápido e eu me sentia tonta. Seus olhos estavam em meu rosto e a expressão era de...
Carinho.
- Sou eu. - minha voz saiu baixa e estranha. Droga. Eu não queria chorar. Meus olhos ardiam.
As mãos dele subiram, ele se aproximava mais e eu tentava recuar. Paramos no meio da sala. Tom acariciou meu rosto com as mãos, olhando onde tocava, como se não acreditasse no que via. Eu o assistia, atenta ao que fazia e igualmente incrédula. Seu rosto estava mais maduro, com uma barba bem curta. Os olhos tinham o mesmo brilho magnífico de sempre. Porém ele parecia triste, ao mesmo tempo que parecia contente. Ele estava mais lindo do que nunca.
- Não sei porque você fugiu de mim... - ele murmurou alisando minhas bochechas. Eu não sabia se ele estava falando de agora ou de antes. Apenas continuei olhando para ele. Mal percebi que minhas mãos tocavam em seus braços.
- Eu precisava ir...- sussurrei.
Era doloroso demais segurar o choro.
- Liana? - ele me chamou, mesmo eu estando em sua frente. Olhei mais atenta em seus olhos e levantei uma sobrancelha sugerindo que estava escutando. Tom olhou para mim, depois desceu os olhos para meus lábios. - eu vou beijar você.
Ele avisou, mas já estava avançando.
Assim que seus lábios tocaram nos meus minhas mãos subiram para seu pescoço e cabelo. Eu o segurei ali bem firme.
Não foi um beijo lento e cuidadoso. Bem... assim começou, até sua língua adentrar minha boca procurando avidamente a minha. Foi um beijo carnal, bruto até. Sua boca pressionava a minha com vontade. O arrastar de nosso rosto fez sua barba arranhar minha pele. Eu suspirava alto e fundo tentando manter o cérebro trabalhando, ou desmaiaria.
O ruído do beijo era alto e eu o apertava, assim como ele, com uma mão em meu cabelo me mantendo presa ali, e outra em minha cintura, colando meu corpo no dele. Passei as mãos em seus cabelos sentindo a textura sedosa. Seu cheiro se misturou com o meu e era tão bom. Sua boca era muito macia e eu amava o toque na minha. Senti enfim meus olhos pararem de doer, quando as lágrimas escaparam, mesmo meus olhos estando fechados. Deslizei meus toques para baixo, abraçando sua cintura. Tom ofegou afastando o rosto para beijar meu rosto, meu queixo e meu pescoço. Revirei os olhos com a sensação, apertei as laterais de sua cintura e aproveitei para engolir em seco e o afastar.
- Espera... - Ofeguei, mantendo o corpo dele longe. - Tom, eu não posso.
- Achei que tivesse vindo me ver. - Ele recuou e olhou pra mim. Limpei meu rosto com rapidez mas ele viu. Ergueu um dedo e limpou uma lágrima. Seu olhar se voltou ao meu e eu me afastei. Tom deu um passo para trás passando uma mão nos cabelos, tentando se ajeitar. Foi até a mesa de bebidas e se serviu de água. - Quer beber alguma coisa?
Eu quase ri de sua naturalidade. Ele agia como se o tempo não tivesse passado. E foi assim que eu havia me sentido.
- Água... Por favor - aceitei.
Bebi a água toda em quase um gole. Ela ajudou a me acalmar, tipo 1%. Minhas mãos ainda tremiam. Entreguei o copo para ele, que me olhava esperando a resposta.
- Eu vim ver você, mas com o horário apertado. Preciso ir encontrar uma amiga... - menti sobre a amiga e o horário.
- Então você tirou suas férias prolongadas - ele assentiu e sorriu. - está aqui há muito tempo?
- Vai fazer um mês, acho.
- Que bom. Pretendia me contar sobre estar aqui?
-Ainda estava pensando sobre isso - comentei.
Não consegui falar mais nada. Eu não devia ter vindo!
- Eu... Preciso mesmo ir. - falei ajeitando a alça da bolsa e o olhando.
- Tudo bem - Tom chegou primeiro na porta e a abriu me esperando passar. Saí e o olhei.
- Adorei a peça. Você estava ótimo. - comentei constrangida pelo que havia acontecido ali.
- Obrigado. Fico feliz que tenha gostado. - Tom também parecia não saber o que fazer.
- Bom eu... - dei um passo e o abracei rapidamente. - Vou indo.
Ele me acompanhou com os olhos e uma expressão magoada.
Comecei a me afastar.
- Hey... - ele chamou. Me virei pra ele, esperando. - Foi bom ver você novamente.
Assenti.
Droga! A ardência nos olhos de novo.
- Digo o mesmo - respondi sorrindo.
- Eu não entendi muito bem o que aconteceu aqui dentro e peço desculpas se fiz algo que você não gostou, mas você não acha que a gente precisa conversar? - Tom me olhou mais sério.
- Não precisa se desculpar. Também estou confusa. - comentei lentamente e fiquei em silêncio pensando no que dizer. - Você acha que a gente deve conversar?
- Eu tenho certeza que sim. Estamos tanto tempo sem nos ver. Aconteceu tanta coisa. Mas eu...
Sua fala se perdeu. Olhar para ele era difícil. Eu via sua aflição e sentia a minha própria.
- Tom...
- Venha me ver amanhã - ele pediu. - Vamos jantar depois daqui.
- Eu não sei se...
- Por favor - senti ele segurar minha mão. - Preciso ver você, falar com você.
Lembrei do acordo que fiz com Damen e lembrar dele fez meu sangue gelar. Mas mesmo assim eu respondi.
- Amanhã eu não posso... - O olhei, retribuindo de leve sua carícia em minha mão - mas talvez semana que vem.
- Sério? - ele sorriu parecendo aliviado- Ótimo.
- Será um encontro? - comentei tentando descontrair. Ele pareceu lembrar de sua fala, anos atrás. E riu. Meu sorriso se iluminou ao ver o dele.
- Será o que você quiser - ele falou firmemente. E depois deu de ombros.
- Que dia é melhor pra você? - perguntei.
- Quarta-feira - ele pensou um pouco e depois confirmou - Isso, não tenho nada depois daqui na quarta.
- Certo. - falei. Apertei sua mão e a soltei para ir embora.
- Espere... - ele sumiu para dentro da sala e depois voltou com um ingresso.- Primeira fila.
- Ah, não precisa. Eu compro o meu.
- Aceite - ele colocou o ingresso na minha frente - eu ia dar para um amigo, mas ele não poderá vir. O ingresso ia ficar sobrando.
- Nesse caso, obrigada. - peguei o ingresso e o guardei na bolsa. Depois sorri para ele.
Tom voltou a pegar minha mão e a levou até os lábios beijando, delicadamente. Meu coração vibrou e recomeçou a bater forte. Toquei gentilmente em sua bochecha e afaguei. Me aproximei e depositei um beijo em seu rosto. Tom suspirou e não largou minha mão. Deixou ali, em seu rosto. Eu quis me mover até encontrar sua boca, estava bem próxima por sinal. Sua outra bochecha alisava a minha em uma posição igual a que estávamos quando nos despedimos. Fechei bem os olhos e me afastei com um sorriso.
- Até quarta-feira - sussurrei perto de seu rosto.
- Mal posso esperar - ele respondeu, soltando minha mão e me dando o sorriso mais lindo do mundo. Prendi a respiração e me virei meio tonta, andando depressa de volta para a realidade, que me esperava logo ali. Sufocante e angustiante. O ar foi saindo entre soluços e arfadas, enquanto eu me encolhia no canto do táxi, minutos depois. O taxista olhava preocupado pelo retrovisor, toda hora conferindo se eu estava bem. Me passou um lenço e eu agradeci baixinho, voltando ao canto do carro e chorando.
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