Suspirei e fiz uma careta enquanto me encarava no espelho. Ajeitei meus óculos e abaixei o meu olhar, focando em meu All Star branco nos pés. Arrumei minha postura, desentortando meus pés e mordi o canto do lábio inferior, enrolando uma mecha de meu cabelo no dedo indicador.
- Droga. – murmurei baixo.
Minhas roupas não estavam lá grandes coisas e a insegurança batia à minha porta. Na verdade, eu acho que ela nunca havia me deixado em paz totalmente. Mesmo eu começando a ter um pouquinho de amor próprio e força e determinação para ignorar quaisquer julgamentos a meu respeito, a minha amiga insegurança sempre estaria comigo para dar o ar de sua graça quando eu menos desejava sua presença. Mordi meu lábio inferior por mais uma vez e comecei a andar de um lado a outro pelo quarto, passando as mãos em meus cabelos. Bom, era isso. Eu não vou mais a essa balada. Afinal, eu nunca quis ir mesmo. Só aceitei porque Deborah e Logan ficaram enchendo muito a minha paciência, mas agora vejo que isso não dará certo. A confirmação está aqui a minha frente com a minha indecisão em relação à roupa.
Eu definitivamente não nasci para isso.
Fui surpreendida com a porta sendo aberta. Vi a cabeça de Debbie aparecer e ela deu um mínimo sorriso, entretanto, quando seu olhar desceu por minhas roupas, ela arregalou os olhos e seu sorriso sumiu imediatamente.
- O que é isso? – quase gritou e eu suspirei, derrotada – Espero que não esteja pensando em sair assim.
- E não estou... Só me confundi um pouco aqui...
- Se confundiu muito, você quer dizer.
Minha amiga adentrou o quarto e fechou a porta atrás de si, logo vindo em minha direção.
- Vejo que está precisando de ajuda.
- Muita ajuda. – meu tom saiu sofrido junto a minha expressão de piedade, e Debbie riu alto. – Mas eu acho que nem vou mais. Você sabe, isso é um sinal de que...
- Ah, mas você vai, sim! Nem venha com essa, mocinha. – olhou-me repreensiva, arrancando-me um gemido baixo. – Vamos procurar algo decente para você vestir.
Rolei os olhos e ela me empurrou em direção ao guarda-roupa.
°°°
Deborah me olhou com um sorriso de orelha a orelha e cruzou os braços, balançando a cabeça, orgulhosa por seu feito.
- Você só pode estar querendo me matar me fazendo vestir essa roupa. Isso só falta mostrar o meu útero! – exclamei, encarando-me no espelho do quarto.
O vestido azul marinho trazia consigo um decote um tanto quanto grande demais e as costas ainda eram nuas, deixando minha pele exposta para o frio que fazia lá fora. Só esse pensamento me fez arrepiar e eu fiz uma nota mental de levar um casaco se eu não quisesse morrer congelada. Sem falar do tamanho do vestido, o qual o tecido chegava ao fim no meio de minhas coxas. Eu estava me sentindo ridiculamente exposta vestindo aquilo, pronta para receber várias passadas de mão que eu nem me daria conta de onde viria.
Deborah rolou os olhos quando verbalizei meu pensamento sobre aquele pedaço de pano que não cobria nada.
- Deixa de ser antiquada! Não adianta nada termos comprado aquelas roupas se você não pretende usá-las nunca. Para de caretice, Lizzie.
- Não é questão de caretice. É da minha reputação que estamos falando aqui. E claro, da exposição a qual você me fará passar. – cruzei os braços.
Deborah bufou.
- Okay, okay, chega disso. Agora sacode esse cabelo, empina essa bunda e vai em frente. Não se esquece de rebolar, amiga.
- Deborah! – a repreendi com os olhos arregalados e ela riu.
Dei uma última olhada no espelho, vendo meus cabelos soltos caindo sobre meus ombros. Meus olhos com as lentes e maquiados, e por fim, meus lábios cobertos por um batom vermelho. Entortei os lábios e inclinei a cabeça, analisando minha imagem sendo refletida. Realmente eu estava muito diferente... Até demais. Ouvi um borrifar atrás de mim e me inclinei um pouco, vendo pelo reflexo que Deborah borrifava meu perfume favorito ao meu redor, e em seguida, em meu pescoço e pulsos. Ela sorriu orgulhosa e me olhou da cabeça aos pés antes de se afastar e abrir a porta do quarto.
Encarou-me esperando que eu me manifestasse e assim o fiz. Dei alguns passos, começando a me movimentar sobre os sapatos de salto alto. Virei meu pé ao dar o quarto passo e acabei me desequilibrando, segurando-me em seus ombros. Ela me encarou risonha e perguntou:
- Desaprendeu, Lizzie? É isso que dá andar por tanto tempo com tênis por aí.
- Cala a boca, Deborah. – falei séria e me soltei de seus ombros, retomando meu caminho, tentando me equilibrar nos saltos. Coloquei a alça da pequena bolsa em meu ombro e respirei fundo, saindo do quarto. Quando finalmente consegui me equilibrar, dei mais alguns passos em direção à sala, passando pelo corredor.
Olhei para meus próprios pés, colocando um atrás do outro, e assim, conseguindo andar sem tropeçar ou acabar virando os mesmos. Senti Deborah ao meu lado e assim que chegamos à sala, franzi a testa por não ver Logan e Justin.
- Eles já estão lá embaixo nos esperando na garagem. Eu também estava, mas como você demorava demais, resolvi vir e ver o que estava se passando. – ela disse como se lesse meus pensamentos.
Assenti e vi Mike vir correndo até mim, cheirando meus pés. Sorri e me agachei, fazendo carinho em sua cabeça, dando-lhe um beijo em seguida.
- Será que ele vai ficar bem aqui sozinho? – perguntei a Deborah, levantando minha cabeça para olhá-la.
- Sim, ele já está acostumado. Logan e eu sempre o deixamos sozinho quando temos que sair. É só deixar comida, água e algum brinquedo que ele faz a farra e age como se nem existíssemos.
Ri e voltei a acariciá-lo. Ergui meu corpo e Debbie pegou Mike no colo, levando-o até o sofá. Ela colocou o filhote sobre o mesmo, rodeado de brinquedos, e ele se pôs a morder um ursinho, provocando um barulho na sala. Saímos do apartamento e eu tranquei a porta, logo começando a andar com Debbie em direção ao elevador. Assim que chegamos ao térreo, passei por Ezequiel e o cumprimentei, desejando uma boa noite. Ele respondeu com seu jeito simpático de sempre, mas com um olhar questionador ao me ver vestida com roupas tão diferentes das minhas usuais. E eu não podia o culpar por isso, coitado.
Quando chegamos à garagem, eu avistei o carro prateado de Justin – um dos seus três lindíssimos carros – e logo Debbie e eu fomos andando até ele, que estava do lado de fora, apoiado em uma das portas, enquanto Logan estava sentado no banco do motorista, mexendo no volante do carro e falando alguma coisa que fazia Justin rir.
- Chegamos, meninos. – Debbie anunciou nossa presença e no mesmo instante os dois pararam de conversar e nos olharam. Logan sorriu em direção à Debbie e saiu do carro, dando-lhe um selinho, logo envolvendo sua cintura com um dos braços. Justin, bem... Ele estava somente parado. Parado me encarando, como se eu fosse um ser de outro planeta. Senti meu rosto corar com seu olhar fixo em mim, quase sem piscar, e acabei por abaixar meu rosto, encarando meus próprios pés. – Ahn, há algo errado, Justin? – minha amiga perguntou como quem não quer nada.
- Ela está... linda. – diante às suas palavras, eu senti a vergonha me ruborizar ainda mais. Debbie deu uma risada fraca. – É, eu sei. Fiz um ótimo trabalho, huh?
Ele assentiu rapidamente assim que ergui meu rosto, e um sorriso de canto apareceu em seus lábios rosados.
- Bom, acho melhor irmos, não é? – Logan se pronunciou, olhando-me em seguida. – E você está realmente linda, Lizzie.
Meu amigo me deu um beijo na testa e se afastou, ainda envolvendo a cintura de Deborah, abrindo a porta de trás para a mesma.
- Hm, está a fim de dirigir hoje, brother? – Justin perguntou a Logan, que o olhou surpreso. – Acho que o dia de você dirigir um dos meus carros chegou.
- É sério? – meu amigo o olhava incrédulo e eu sorri de canto.
- Sim, mas só me faça o favor de não bater em nenhum poste. Você sabe, o prejuízo será um pouco alto.
Bieber jogou a chave do carro em direção a Logan, que a segurou ainda parecendo não acreditar na responsabilidade que era depositada em suas mãos.
- Eu vou atrás com a Elizabeth. – Justin me encarou um tanto quanto sério e eu desviei o olhar de forma tímida.
Logan assentiu na mesma hora e Deborah me olhou, sorrindo maliciosa, enquanto dava a volta no carro e abria a porta da frente do passageiro. Meu amigo se sentou no banco do motorista novamente e Justin se pôs ao meu lado, em frente à porta já aberta da parte de trás.
- As damas primeiro. – ele disse e eu, por um momento, desci meus olhos por sua roupa, vendo o quão bem vestido ele se encontrava. Usava uma camisa com gola em V de cor branca, calças jeans de lavagem escura e um casaco com um tecido similar ao couro. Nos pés, ele calçava um All Star branco. Sorri ligeiramente ao me lembrar do meu tênis favorito semelhante àquele, o qual fui impedida de usar por minha querida amiga.
Balancei a cabeça percebendo que eu ainda o encarava e me aproximei do carro, entrando e me sentando. Justin veio logo atrás, fechando a porta. Assim que Logan ligou o motor do carro, causando aquele barulho, Bieber perguntou:
- Brother, você sabe dirigir, não é?
Logan riu e olhou pelo espelho retrovisor. – É claro que eu sei. Eu só tive que vender o meu carro por motivos financeiros, digamos assim.
- Ah, tudo bem, então. Vá em frente. – Bieber deu de ombros, parecendo bem relaxado em entregar seu carro nas mãos de Logan. E assim, nós saímos da garagem. Justin encostou-se ao banco e de canto de olho, pude ver que ele me encarava enquanto sorria fraco, somente repuxando levemente os lábios.
Virei meu rosto e o olhei. Seus olhos passearam por meu corpo e ele mordeu levemente o lábio.
- O quê? – perguntei, puxando um pouco o tecido do vestido, a fim de tentar cobrir minhas coxas, o que foi em vão.
- Nada. – lançou-me um sorriso antes de virar seu rosto, olhando pela janela ao seu lado.
Dei de ombros e fiz o mesmo, olhando para o meu lado direito, vendo os carros sendo ultrapassados por nós. Soltei metade de um suspiro, já que a outra metade foi impedida de ser liberada assim que senti uma mão apertar a minha coxa. Prendi a respiração e abaixei o olhar, vendo a mão grande de Justin depositada em minha pele, distribuindo apertões suaves, mas ao mesmo tempo, firmes. Engoli em seco e olhei para ele, que ainda tinha seu rosto virado para a janela. Sua mão começou a subir por minha coxa, indo em direção à minha virilha. Arregalei um pouco os olhos e rapidamente coloquei minha mão sobre a sua, impedindo-a de subir.
Lancei um olhar repreensivo para Justin e ele riu nasalado, tirando a mão de minha perna. Respirei aliviada e fiquei em silêncio até chegarmos a um lugar movimentado e aparentemente lotado. Logan estacionou o carro no canto da rua e assim eu abri a porta ao meu lado, impulsionando-me para frente, e saindo do carro. Olhei ao redor e franzi a testa em desgosto ao ver tantas pessoas espalhadas, sendo que ainda estávamos do lado de fora da balada. A música alta já podia ser ouvida a metros de distância e só de lembrar que eu entraria naquele lugar e seria obrigada a ouvir aquilo em um volume bem mais alto, meus ouvidos já reclamavam. Assustei-me ao ser acordada de meu transe com Deborah me cutucando. Forcei um sorriso e ela sorriu de volta, já me conhecendo o suficiente para identificar o meu pequeno teatro. Ela entrelaçou seu braço ao meu e me puxou, arrastando-me em direção à fila. A fila estava pequena e graças aos céus, não tivemos que esperar muito.
A última coisa que ouvi antes de atravessar a porta e adentrar aquele lugar barulhento foi Logan agradecer a Justin por deixá-lo dirigir seu carro, e em seguida, pedindo permissão para dirigir sua Ferrari da próxima vez. Engoli em seco ao passar por um lugar escuro e logo após por uma cortina, tendo a visão da balada por dentro alguns segundos depois. Meus tímpanos trepidaram com a batida da música eletrônica que ecoava pelo local e eu por instinto, levei minhas mãos aos ouvidos, tentando cobri-los ao máximo que eu podia. Virei meu rosto e vi que Debbie encarava tudo com certa admiração na face e em seguida, seus lábios se movimentaram. Fiz uma careta de que não estava ouvindo e ela revirou os olhos, tirando minhas mãos de minhas orelhas.
- Em primeiro lugar, tira as mãos dos ouvidos para me ouvir! – ela exclamou em voz alta por conta da música. – E em segundo lugar, eu quero que você se divirta essa noite. Nada de ficar com cara de bunda pelos cantos, senhorita Wright. – apontou seu dedo indicador para mim e eu bufei.
- Mas eu mal consigo escutar o que você diz! – quase gritei – Essa música vai acabar queimando os meus neurônios, ou pior, ferrando com a minha audição! Eu quero morrer com meus tímpanos em perfeito estado. Já me imaginou uma velhinha caquética e ainda com problemas de audição? Não mesmo!
Debbie rolou os olhos e riu em seguida, voltando a me puxar pelo pulso. Reclamei algumas vezes enquanto ela me puxava e meu corpo trombava com os inúmeros corpos na pista de dança. Finalmente chegamos ao lugar o qual ela queria tanto ir e assim que observei em volta, vi que se tratava do balcão de bebidas.
- É sério isso? Já vai beber, Deborah Moore? – encostei-me ao balcão e a encarei com seriedade.
- Deixa de ser chata, Elizabeth Wright. – deu-me língua e virou-se para o barman que fazia alguns movimentos com as garrafas de bebida. Os movimentos até que eram legais e me lembravam uma espécie de malabarismo, o que me fez sorrir minimamente. – Ahn, por favor, uma dose de vodca para mim e para a minha amiga aqui.
O rapaz sorriu – e devo admitir que seu sorriso era muito bonito – e assentiu, largando as garrafas por um momento para pegar a vodca e preparar nos copinhos. Assim que a bebida foi colocada a minha frente, eu encarei aquilo com a sobrancelha arqueada.
- Eu não vou beber isso. – afirmei convicta – Por favor, uma água! – pedi ao barman, que riu enquanto franzia a testa para mim.
- Água?! – Debbie me encarou como se eu fosse de outro planeta.
- Uma garrafa d’água, por favor! – especifiquei, ignorando completamente a indignação de minha amiga, fazendo-a bufar ao meu lado. – Obrigada. – agradeci assim que a garrafa me foi estendida. O barman anotou o valor da água num papel em que estava escrito o nome de Deborah e o meu, enquanto eu abria a garrafa e tomava longos goles. Eu estava com muita sede. - Então, Deborah, quais são os seus planos para... – me autointerrompi ao olhar para o lado e ver que minha amiga tinha simplesmente sumido. Olhei em volta e não vi nada além de cabeças tampando minha visão. – Debbie! – chamei enquanto a procurava. – Era só o que me faltava mesmo... Ficar sozinha e ainda perdida numa balada totalmente desconhecida. – eu murmurava enquanto me desvencilhava das pessoas dançando a minha volta. – Você devia ter ficado em casa, Elizabeth Wright. Por que não ouviu sua própria consciência te alertando enquanto ainda dava tempo?
Parei em meio à pista de dança e bufei, olhando para os lados. Certo, nada de Deborah, Logan ou Justin. Fui simplesmente deixada de escanteio. Abri minha garrafinha e voltei a dar um gole. Gole este que quase me fez morrer engasgada quando um filho da mãe apareceu dos infernos, resolvendo se esfregar em mim. O gole chegou a ficar preso em minha garganta quando senti mãos me segurarem pela cintura, colando meu corpo ao de alguém desconhecido. Virei meu corpo num supetão e dei de cara com um homem alto, com o cabelo escuro perfeitamente penteado para trás. Ele sorria e dançava, ainda colocando as mãos em minha cintura, colando nossos corpos ainda mais. Fiz careta de nojo e o empurrei. Ele gargalhou e me puxou novamente, fazendo-me tropeçar nos meus próprios saltos. Bufei de raiva e tentei empurrá-lo novamente, mas o infeliz me apertou ainda mais, impedindo-me de me afastar.
- Me solta! – esbravejei, espalmando minha mão livre da garrafinha em seu braço, tentando empurrá-lo.
- Qual é, mocinha? Eu sei que você quer dançar comigo. Não se faça de difícil.
- Não estou me fazendo de difícil merda nenhuma! Eu só não quero dançar com você. Me larga!
Ele balançou negativamente a cabeça enquanto me apertava contra si, obrigando-me a mexer o corpo junto ao dele. Quando ele estava perigosamente perto do meu rosto, uma brilhante ideia se passou pela minha cabeça e eu sorri. Abaixei meu rosto e no instante seguinte, levantei meu pé e o abaixei com toda a força que eu conseguia, quase cravando o salto de meu sapato em seu pé coberto pelo tênis. O homem gritou e me soltou rapidamente, levando suas mãos ao pé.
- Você é louca! – ele gritou me olhando com raiva.
- Quem manda não obedecer ao pedido educado de uma simples mulher? – dei de ombros, mexendo em meu cabelo. – Bem feito, seu idiota! Eu devia ter enfiado meu salto em seu pé! – falei com raiva antes de voltar a andar o mais rápido possível por entre as pessoas, indo em direção ao balcão de bebidas, onde estava mais vazio.
Sentei-me em um dos bancos e coloquei minha pequena bolsa e a garrafinha em cima do balcão. As lentes em meus olhos começaram a me incomodar e assim, acabei por tirá-las, pegando meus óculos na bolsinha e em seguida, colocando-os.
- Parece que você não está muito contente por estar aqui, huh? – vi o barman se dirigir a mim com um sorriso de canto enquanto secava um copo.
Soltei um suspiro. – Não muito.
- Aquela sua amiga te obrigou a vir? – perguntou se aproximando mais do balcão, parando a minha frente.
- Praticamente, sim. Ela e o meu melhor amigo, que por acaso, é o namorado dela.
Ele riu e olhou para a garrafa d’água.
- Vai ficar só na água mesmo?
- É, acho que sim. – dei de ombros.
- Não vai nem uma Blue Lagoon?
Franzi a testa. – Uma Blue o quê?
Ele riu e se virou, pegando um copo. Colocou à minha frente e fez um aceno com a cabeça.
- Isso aqui.
- O que tem nisso? – peguei o copo, observando o líquido azul.
- Vodca.
- Eu queria passar longe disso. – referi-me à vodca e ele riu, apoiando as mãos no balcão extremamente limpo.
- Experimenta. Acho que você vai gostar.
Fiz uma careta de desconfiança, mas dei de ombros, assentindo. É, vamos lá. Assim que dei o primeiro gole, apreciando o sabor da bebida descendo por minha garganta, uma música conhecida por mim começou a tocar.
You shout it loud
(Você grita alto)
But I can't hear a word you say
(Mas eu não consigo ouvir uma palavra do que você diz)
I'm talking loud not saying much
(Estou falando alto sem dizer muito)
I'm criticized but all your bullets ricochet
(Eu fui criticada, mas as suas balas ricocheteiam)
You shoot me down, but I get up
(Você atira em mim, mas eu levanto)
Sorri e fechei os olhos, dando outro gole na bebida que havia me agradado bastante enquanto a música ecoava em meus ouvidos e eu cantava mentalmente.
I'm bulletproof, nothing to lose
(Eu sou à prova de balas, não tenho nada a perder)
Fire away, fire away
(Atire, atire)
Ricochets, you take your aim
(Ricocheteia, mire)
Fire away, fire away
(Atire, atire)
You shoot me down but I won't fall
(Você atira em mim, mas eu não vou cair)
I am titanium
(Eu sou titânio)
You shoot me down but I won't fall
(Você atira em mim, mas eu não vou cair)
I am titanium
(Eu sou titânio)
Sem conseguir me conter, acabei me levantando e me pus a caminhar até a bordinha da pista de dança, começando a dar uns passinhos um pouco desajeitados. Eu não estava acostumada a dançar, ainda mais usando saltos altos, mas aquela música tinha tanto significado para mim que eu simplesmente não podia ignorá-la. Dei mais um gole na bebida e em seguida, pus-me a cantar a música junto à Sia.
Cut me down
(Pode acabar comigo)
But it's you who'll have further to fall
(Mas é você quem terá mais a sofrer)
Ghost town, haunted love
(Cidade fantasma, amor mal-assombrado)
Raise your voice, sticks and stones may break my bones
(Erga sua voz, paus e pedras podem quebrar meus ossos)
I'm talking loud not saying much
(Estou falando alto sem dizer muito)
Ao chegar novamente ao refrão, eu abri meus olhos e sorri cantando junto. Meu sorriso, entretanto, durou pouco, pois no segundo seguinte eu finalmente encontrei Justin e ele não estava sozinho. Parei de dançar no mesmo instante e continuei a encará-lo, observando o sorriso que se formava em seus lábios conforme uma mulher estava quase colada ao seu corpo, sussurrando algo em seu ouvido. Ele balançou a cabeça afirmativamente assim que ela se afastou um pouco e logo se aproximou dela, sussurrando em seu ouvido uma resposta, provavelmente. Levei meu olhar ao corpo da mulher, vendo que ela usava um vestido um tanto curto, talvez até mais curto do que o meu. O decote era maior e seu corpo estava bem mais à mostra. Estreitei meus olhos ao ver Bieber passar sua mão por sua cintura, segurando-a contra seu corpo.
Minha mão acabou por se fechar ainda mais ao redor do copo de bebida e eu o levei à boca, dando mais um gole longo. Quando abaixei minha cabeça e voltei a olhar aquela cena, meu estômago se revirou, já que dessa vez, Justin tinha seu olhar em minha direção. Eu ainda não sabia ao certo como ele havia me visto em meio a tantas pessoas distribuídas pela pista, mas sim, ele conseguiu tal proeza. Ergui o copo em sua direção e lhe lancei um sorriso debochado, voltando a dar mais um gole, deixando a bebida tomar minhas bochechas antes de finalmente engoli-la, deliciando-me com seu gosto. Direcionei um olhar significativo a Justin e voltei a dar pequenos passos de um lado a outro, conforme a batida da música.
Stone hard, machine gun
(Dura como pedra, metralhadora)
Firing at the ones who rise
(Atirando naqueles que se erguem)
Stone hard, as bulletproof glass
(Dura como pedra, como vidro à prova de balas)
Cantei o trecho da música com certa convicção e intensidade enquanto sustentava meu olhar em direção a Justin. Percebi que ele fazia o mesmo, embora a mulher ainda sussurrasse em seu ouvido. Ele sorriu de canto e abaixou a cabeça por um momento, colocando uma das mãos no bolso da calça, logo erguendo o olhar até mim novamente. Fechei os olhos e suspirei antes de ouvir os últimos versos da música.
You shoot me down but I won't fall
(Você atira em mim, mas eu não vou cair)
I am titanium
(Eu sou titânio)
You shoot me down but I won't fall
(Você atira em mim, mas eu não vou cair)
I am titanium
(Eu sou titânio)
Abri os olhos e vi que Justin ainda me encarava, mas ao perceber que eu o olhava de volta, ele voltou sua atenção para a morena que estava ao seu lado e não parava de tagarelar. Ele me lançou um olhar provocativo conforme se aproximava da mulher e apertava sua cintura com possessividade. Estreitei os olhos ao ver o sorriso malicioso se apossar de seus lábios e em seguida, o inevitável e talvez esperado por mim, aconteceu. Justin beijou a mulher.
As mãos dela foram parar em seu pescoço e ele envolveu sua cintura com ambos os braços, colando seus corpos. Ajeitei meus óculos e suspirei, abaixando a cabeça. Dei meia volta e fui até o balcão, colocando o copo de bebida já vazio sobre o mesmo.
- Mais uma, por favor. – pedi ao barman, que sorriu animado.
- Vejo que gostou da Blue Lagoon. – comentou enquanto preparava outro copo.
- É, pode ser que sim. – dei de ombros, indiferente.
Pelo andar da carruagem, a Blue Lagoon vai ser a minha melhor amiga por essa noite.
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