-Aonde nós vamos? - Noah pergunta enquanto aperta o passo a fim de ficar ao lado dele
-Conhecendo meu pai como conheço, à sala do trono. Ele simplesmente adora olhar pra mim de cima
Ela parou de andar pra ter certeza de que havia escutado certo. Teve que correr mais uma vez pra alcançá-lo, se arrependendo por não ter pesquisado mais sobre ele quando teve a chance.
-Sala do trono? Você é da realeza?
Loki abriu um sorriso forçado. Até naquele momento ele não deixava de se impressionar com os modos daquela midgardiana. Realmente havia feito tudo o que fez por ele sem nem ao menos saber quem ele era.
-É o que dizem por aí. Oficialmente, eu sou o príncipe de Asgard - Em outra ocasião ele não teria tanto orgulho de dizer aquilo em voz alta, mas o brilho nos olhos dela renovaram seu sorriso
-Oficialmente?
-É. E também sou o príncipe de Jotunhein, aquele reino frio e distante dos contos de fadas que por acaso existe na vida real - Se Noah havia percebido a amargura no tom de voz dele, não deixou transparecer
-Loki, isso é muito legal. Sério, como isso é possível? Deve ser muito incrível ser o príncipe de dois reinos!
Ele pensou em explicar, mas estavam chegando nos portões. E depois viriam os jardins. Loki parou de andar abruptamente. Agarrou o braço de Noah e a virou de costas pra que ela também parasse e olhasse pra ele.
-O que foi? - Ela perguntou, assustada com o gesto
-A flor - Foi tudo que ele conseguiu dizer antes de sua expressão voltar ao normal - Você vai ver a flor de Asgard e nosso relógio estará estragado. Precisamos checar uma última vez
E ela não teve nem tempo de ligar os pontos. Reconheceu o sentimento de perder a consciência, ou tê-la apagada, e abraçou a escuridão. Quando abriu os olhos, lá estava aquele horizonte artificial de novo. E Loki a andar de um lado para o outro. Pareciam anos desde a última vez que se encontraram ali, mas provavelmente eram apenas dias.
-Isso não é bom, mas não é incrivelmente péssimo
Acostumada com o jeito dele, acompanhou seu olhar em vez de fazer perguntas. A flor erguia-se triunfante no meio daquele lugar. Suas pétalas não mais oscilavam, mas assumiram agora um tom nítido de dourado. Seu talo espesso dava suporte para as folhas aveludadas, tudo perfeitamente estável. Exceto pelo pólen. Tentáculos compridos, ou curtos, talvez até curvados, se estendiam pra fora do miolo. Só lhes restava aquilo agora.
-Quanto tempo? - Ela sussurrou, embora na sua mente o volume da voz fosse sempre o mesmo
-Eu não sei - Ele se aproximou a passos lentos e encaixou a mão no rosto dela - Pouco. E a esse ponto, temo que algumas mudanças sejam irreversíveis. Perdemos tempo demais
Ela teria pedido pra ele explicar, se um terremoto não a tivesse distraído. O lugar inteiro tremeu, e em alguns segundos ela estava acordada, sem ar.
Se sentou e percebeu que ainda estava na Bifrost, a cabeça doendo da queda. Bem que ele poderia ter pedido pra ela se sentar antes de nocauteá-la daquele jeito sem nem pensar duas vezes.
-Você está bem? - Thor, ainda tão confuso quanto possível, pergunta a alguns centímetros de distância
Ele provavelmente não tem muita noção de espaço pessoal, Noah pensou enquanto o empurrava gentilmente pra poder se levantar. Ele apertou o martelo com mais força, mostrando como ainda não confiava totalmente nela. Uma escolha sábia, do ponto de vista dela, mas uma tremenda bobagem do ponto de vista de Loki. O lembrete de que ela conseguia enxergar as duas perspetivas reacendeu seu senso de urgência, o que a fez andar em direção à cidade como se soubesse o caminho. E provavelmente sabia. Não da parte do cérebro dela, mas estava ali em algum lugar.
-Onde está Loki? - Thor não faz esforço algum para caminhar ao seu lado
-Aqui dentro - Ela aponta pra própria cabeça - Nós precisamos ir rápido, o máximo possível
O loiro assente, e Noah espera que ele a deixe em paz com as próprias preocupações por alguns instantes. Mas no próximo segundo, de novo sem aviso, ele agarra o braço dela e sai voando pela ponte. Deve ser de família esse hábito de assumir que a outra pessoa está pronta pra o que quer que aconteça o tempo todo.
Dessa vez ela fechou os olhos. Abriu por um segundo e viu todas aquelas construções abaixo dela e então fechou de novo. Não se sentia assim tão corajosa.
-Estamos quase lá
A voz a acalmou um pouco, mas estava ficando de saco cheio de Loki a mandando por aí. Só havia aturado tudo aquilo pelo bem do seu espírito aventureiro - como ela tentou se convencer. Mas esse espírito já estava pra lá de cansado.
-Bem vinda aos salões reais de Asgard! - Thor anuncia com orgulho assim que seus pés tocam o chão
E ela esquece da raiva assim que se depara com paredes douradas da altura de prédios, pilastras e escadas polidas, lustres reluzindo como estrelas e tapetes vermelhos como vinho. Deixa escapar um suspiro de admiração, que se mistura com o suspiro de cansaço de Loki.
Thor finge não se assustar com a súbita aparição do irmão e mostra o caminho novamente. Noah arruma o cabelo e se sente decepcionada com a escolha desleixada de roupas ao perceber que todos os servos se vestem melhor do que ela.
-É uma pena mesmo - Loki sussurra pra ela - Meu pai sempre se importou tanto com as aparências
Ela não perguntou o que ele quis dizer com aquilo, em partes porque sabia que ele não responderia e sentiu o ressentimento vindo dele. Mas também havia a enorme porta que eles haviam alcançado, atrás das quais Thor parou de andar e se posicionou.
-Por favor, Irmão, sem cerimônias. Ninguém deve se lembrar de que eu estava acorrentado da última vez que passei por aqui - Destilou sarcasmo e abriu as portas com o rosto fechado
Se o salão de entrada conseguiu impressionar a pequena humana, a sala do trono literalmente a deixou boquiaberta. Grandes colunas adornavam o ambiente, e delicados desenhos cobriam um caminho pelo chão até o trono. Este erguia-se acima do nível do piso, cercado por estruturas circulares que refletiam a luz saída das janelas ao fundo. Noah se obrigou a fechar a boca quando seu olhar parou no homem que repousava no trono.
-Pai de todos, é sempre uma honra indescritível estar em sua companhia - Loki pronuncia cada palavra com elegância e faz uma graciosa reverência, que Noah acompanha desajeitada e alguns segundos atrasada
-Pai - Thor fala de forma simples e coloca o punho direito no ombro esquerdo com um leve aceno de cabeça
-Você só traz calamidades para casa, Loki. Quando vou parar de me decepcionar com você? - O homem de idade se reclinou pra frente ao falar essas palavras, a barba branca dando-lhe um ar de sabedoria
-É uma boa pergunta. Quando é que você vai parar de criar expectativas? - Ele responde de bom humor, sorrindo de uma forma que teria enganado até mesmo Noah se ela não estivesse sentindo a solidão dele
-Não tenho mais por quê insistir nessa conversa - E voltou a se recostar, aparentemente cansado - Vá resolver seu problema com a sua mãe, que te espera. Vejo que não mudou seus modos no tempo que passou em Midgard, como fez o seu irmão
Loki estava fazendo um ótimo trabalho escondendo as emoções com um semblante orgulhoso. Mas engasgou no próprio sorriso ao escutar as últimas palavras, e lhe demoraram alguns segundos pra retomar a bela pose de antes.
-Como quiser - E fez mais uma reverencia antes de sair
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