-Prólogo -
A chuva caia sem cessar , parecia até que o os céus choravam compartilhando a mesma dor que os meros humanos abaixo dele. O cheiro de terra subia enquanto o caixão descia para o fundo e os choros se tornaram mais alto até que os trovões que brilhavam entre as nuvens carregadas . Entre tantos que gritavam ou imploravam por misericórdia, estava a pequena criança em silêncio segurando uma flor já murcha e sem cor. Seus olhos opacos pareciam distantes , mantinha o queixo erguido apesar da dor e a vontade de abaixar a cabeça , um nó estava em sua garganta e seu peito subia com força antes de descer em um sopro de ar . Não tinha forças para se manter em pé, ainda assim , continuava ali parado ouvindo os murmúrios a sua volta enquanto sentia o toque frio em seu ombro esquerdo.
_ não chore - a ordem o fez suspirar e concordar.
Mesmo que quisesse muito jamais conseguiria derramar uma lágrima . Sentia inveja daqueles que ao seu redor não tinham o peso ou dificuldade em expressar a dor que estavam sentindo , sentia o amargo no fundo por não estar podemos fazer o mesmo que eles . Será que ele o amaria menos se chorasse ? Temia ser fraco ao olhar dos homens e só por isso se manteve segurando a dor sozinho.
....
Balançava sua perna enquanto observava o desenho em seu tênis . A cor vermelha do seu sapato nada parecia casar com sua calça preta de alfaiataria, porém , ele gostava de como aquele pequeno detalhe parecia fazer parte de si . Buscando qualquer coisa que o fizesse se sentir menos vazio e solitário, se escondeu dos olhares e das palavras repetidas de todos que se aproximavam buscando tentar compensar a sua dor , mas que no fundo de nada sabia sobre si ou sobre o que de fato estava sentindo. Não os culpava por não o compreender , muito menos os julgava por suas palavras e ações de empatia , no fim das contas as pessoas só são capazes de oferecer aquilo que tem ; só era uma pena que ele não precisasse de suas empatias.
_ olhe os patinhos - o murmúrio baixo fez com que se assustasse. Seu olhar melancólico se voltando para a figura que ocupava seu lado
Quando foi que ela apareceu ali ?
_ você acha que eles estão com fome ? - piscou ainda a observando sem conseguir formular uma resposta ao questionamento.
A garota que deveria ter quase sua idade se virou para encara-lo no rosto e o dar assim a chance de lhe reconhecer. O sorriso banguela contornado pelos lábios rosados e as bochechas quase do mesmo tom encantou o garoto, o fazendo suspirar quando constatou que seu rosto parecia se igualar ao tom da pequena fita que prendia seus fios em uma trança para trás . O vermelho parecia ter sido feito para sua bochechas assim como para o detalhe em seu cabelo , era encantador e assustador.
_ acha que eles estão com fome ? - repetiu a pergunta o fazendo franzir a testa e resmungar
_ o que ? - sussurrou repleto de dúvidas . A garota não pareceu se importar, não quando riu e manteve seu semblante tranquilo
_ os patinhos...acha que eles estão com fome ? - seus olhares voltando ao mesmo tempo para o pequeno lago distante. As pequenas aves nadavam e se molhavam como quem não tem nada a perder , o garotinho os invejou.
_ quem se importa ? São só aves estúpidas - os repudiou por pura raiva de suas liberdades .
_ não fale assim ! - ela o reprendeu - qualquer animal merece que nós importamos com ele , é igual com os seres humanos. Devemos ajudar a todos para que tenhamos uma vida longa.
Riu puxando o nariz perante a voz doce e fala da sua companheira de banco. A achava estúpida , uma tola por acreditar em promessas e palavras jogadas ao vento . Se ser bom trouxesse vida longa então não estariam ali naquela tarde , seu irmão não estaria agradecendo a presença de todos e sua tia não estaria adormecida após ser médicada , ele não estaria sozinho..
_ isso é mentira - apertou as mãos e os olhos inconformado.
_ o padre não mente - ela o corrigiu mais uma vez . Suspirando frustrado pela tolice dela , o pequeno garoto a encarou de braços cruzados
_ você mente ! - seu tom agora foi o que a atraiu para si. Diferente de sua expressão ela manteve o semblante calmo e radiante
_ acho que você só não quer acreditar porque tem medo - abriu os lábios e os fechou - tudo bem , eu também tenho medo as vezes. Mas fique tranquilo ; seu titio está no céu , ele não era ruim e você também não é.
_ você não me conhece e nem conhece meu tio ! - estava se irritando. Quem era aquela garota que tanto os defendia ? Não queria suas palavras gentis ou seu sorriso com tons vermelhos.
_ mas eu posso te conhecer - sorriu antes de erguer sua pequena mão direita - sou Sn , é um prazer Jungkook. Você está com fome ?
O garoto piscou encarando os dedos gordinhos que lhe era oferecido. A tentação de aceitar o toque foi afastada , ele a encarou nos olhos e suspirou.
_ não sou como os patos - resmungou a fazendo rir . Sua risada soando e o abraçando quase como se o aquecesse de dentro para fora , se sentiu entrando no limbo.
_ eu sei que não - ela não se afastou mesmo perante sua hostilidade - mas eu posso ser boa para você também, se quiser..
_ não preciso de sua pena estúpida - cruzou os braços e ergueu o queixo, achou que isso a afastaria e pelo contrário só a fez se arrastar mais até que estivessem com seus joelhos colados.
_ você pode chorar se quiser , eu vou vigiar para que ninguém veja - ela sussurrou como se contasse um segredo.
Engoliu as palavras de repúdio quando ela sorriu . Aquilo era muito mais do que lhe foi oferecido durante todo o dia , significava muito mais que " eu sinto muito" ou abraços vazios , ela estava lhe dando muito mais do que qualquer pessoa o daria por toda sua vida. E Jungkook não soube o que fazer ou dizer , porque nunca ninguém prometeu tanto por tão pouco a si. E tocando as mãos gordinhas , aceitando ficar ali observando os patos , o pequeno Jeon que nada tinha permitiu-se chorar e ter algo da pequena de bochechas e fita vermelha.
Sn poderia nunca se lembrar daquele seu pequeno ato , mas Jungkook lembraria eternamente o quanto sua ação mudou em si . Porque desde aquele seu toque e sorriso , Jungkook nunca esqueceu da garotinha que o fez amar vermelho.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.