Camila POV
O gosto permanentemente ruim em minha boca, e a infinidade de vezes em que eu já escutara a mensagem eletrônica da Caixa Postal do celular de Lauren, é o que me impede de esquecer a sequência de péssimas decisões tomadas por mim na noite anterior – ainda que meu esforço para conseguir apagar absolutamente tudo de minha memória fosse imenso.
Por outro lado, a única parte da qual valeria a pena recordar-me era justamente aquela cujo nem um lapso de lembrança eu possuía: por que eu havia parado na cama de um desconhecido? E o que eu havia feito enquanto estive ali?
Eu sabia que seria incapaz de trair Lauren, não só porque estava comprometida com ela, mas simplesmente porque sequer pensar em qualquer toque íntimo de alguém que não fosse Lauren me causava repulsa, e eu nunca poderia me imaginar sentindo prazer a partir disso. No entanto, tampouco eu de fato estive com alguém além de Lauren em toda a minha vida. E, mais do que isso, eu nunca estivera tão bêbada a ponto de simplesmente me esquecer do que eu fizera e, aparentemente, a ponto de não me importar com quem estive fazendo-o. Logo, eu definitivamente não conseguia ‘colocar minha mão no fogo’ por nada daquilo – o que fazia com que eu me sentisse simplesmente desesperada. E nojenta.
Quando finalmente me recomponho o bastante para encarar alguém conhecido – após tomar um longo e ensaboado banho e trocar as roupas da noite anterior por outras limpas – é que deixo o quarto do hotel, tomando o cuidado de remexer os lençóis da cama antes de sair do cômodo ao encontro de Normani e as meninas.
Para minha surpresa, avisto parte delas já no andar térreo do hotel, o que me faz cerrar os olhos com força e xingar mentalmente o universo que hoje, definitivamente, não está colaborando comigo.
- Talvez você esteja um pouco atrasada, Camila. – Gina é quem se pronuncia primeiro, assim que me aproximo de todas, notando com alívio que Normani não está presente. – Acabamos de voltar.
- E eu achei que eu tivesse bebido muito ontem. – Dinah solta num muxoxo com um sorriso nos lábios, e minha vontade é de questioná-la no mesmo instante quanto ao meu paradeiro na noite anterior. Mas, algo em sua atitude me faz desistir. Dinah não parece fazer a mínima ideia de que eu passara a noite fora, na cama de outra pessoa, ou certamente não estaria reagindo com tamanha naturalidade.
- Onde está Normani? – pergunto então, desviando a atenção de todas ao largo balcão do hotel.
- Nos arrumando uma mesa no restaurante pra almoçarmos. – Ally diz com um sorriso, inclinando o rosto sobre um dos ombros de Dinah. – É por conta dela. Você vem?
É neste momento que me dou conta de que meu estômago, apesar de vazio por muito tempo, não pode sequer ouvir falar em comida. Talvez pela ressaca ridícula, ou pelo nervoso imenso, mas eu simplesmente não sentia fome alguma.
- Eu ainda nem tomei café da manhã. – é o que acaba saindo da minha boca num murmúrio, sob o mesmo gosto ruim que, agora, parece intensificar.
- Camila. – sinto, então, alguém tocar meu braço com delicadeza e só daí me dou conta de que Joanna está presente, tamanho o meu atordoamento. – Você está bem? – ela questiona, e eu me esforço como nunca para tentar responde-la com um sorriso que não transpareça meu desespero.
- Estou, sim.
- Ok. – ela devolve claramente sem acreditar no que digo, antes de continuar num tom mais baixo. A essa altura, o restante das meninas já não presta mais atenção alguma em mim ou em Joanna, conversando todas agora entre si. – Eu achei que tivesse deixado o café pronto sobre a mesa da cozinha. Eu não sabia se você gostava de...
As palavras que deixam sua boca vão simplesmente desvanecendo e é como se eu a escutasse a uma longa distância, de um lugar abafado e, ao mesmo tempo, cheio de ruídos. Enquanto seus lábios se movimentam, meu cérebro custa a, lentamente, fazer sentido do que ouvia, até que por fim eu me dê conta do que acontecia.
- Eu estava com você. – afirmo com incredulidade, passeando meu olhar por todo seu rosto na tentativa de me recordar de algo e, ao mesmo tempo, morrendo de medo de conseguir.
Joanna parece pega de surpresa, com os lábios entreabertos, como se eu a tivesse interrompido.
- Ahm. Sim. Ontem à noite. – responde, com as sobrancelhas franzindo em confusão.
- Aquela cama era sua. – solto outra vez, agora sem conseguir manter o contato visual, levando uma das mãos trêmulas à minha testa.
Meu Deus, o que eu havia feito?
- Você não se lembra? – a ruiva questiona com um riso brincando nos lábios, como se a situação tivesse algo de engraçado. – Ok, você estava bastante bêbada quando eu a-
- Joanna, pelo amor de Deus! – exclamo em desespero, interrompendo-a e falhando miseravelmente em não chamar a atenção das meninas à nossa volta.
A reação faz com que ela permaneça por alguns segundos me encarando, o que somente me deixa ainda mais nervosa e presa aos terríveis pensamentos que, agora, passam incessantemente por minha cabeça. Jesus, o que eu diria a Lauren?!
- Camila, nós não fizemos nada. – ouço-a de repente, e é como se o mundo todo parasse.
Quê?
Quando volto a fita-la, a expressão no rosto da ruiva é neutra, como quem na verdade quer rir de algo, mas está esforçando-se para permanecer sério. Seus olhos agora é que parecem buscar por algo nos meus e demora mais alguns segundos até que ela torne a falar novamente.
- Se aparentemente é isso o que está te fazendo surtar, não aconteceu absolutamente nada. Você e Lauren discutiram e depois disso absolutamente ninguém foi capaz de te impedir que você bebesse mais do que já havia bebido em todo o resto da noite. – apesar do alívio imenso que instantaneamente me toma o corpo, minhas bochechas ardem em vergonha e eu tenho de desviar o olhar mais uma vez para continuar escutando-a. – Como Lauren foi embora do lual logo depois da briga, eu achei melhor ficar com você, pra que nada de trágico acontecesse. No final de tudo, você estava tão fora de si que eu não poderia simplesmente te largar na porta do seu quarto de madrugada e deixar que Lauren cuidasse de você, ainda mais após uma discussão daquelas. – neste momento, eu agradeço internamente pela decisão da ruiva, já que no estado em que eu aparentemente estava eu poderia ter dito um milhão de coisas a Lauren das quais eu certamente me arrependeria depois. – Por isso eu te levei pro meu apartamento e simplesmente te coloquei pra dormir, a muito custo, diga-se de passagem, porque você simplesmente não calava a boca um só segundo sobre Lauren. – ela solta em meio a uma risada, e tudo o que me resta é cobrir o rosto vermelho com as mãos. – E eu imaginei que você pudesse acordar um pouco confusa na manhã seguinte, especialmente se eu já tivesse saído de casa pra encontrar Normani. Por isso, eu deixei um bilhete. Você não viu? Estava sobre a cabeceira.
- Ahm. – digo de forma abafada contra a palma da minha mão, fitando-a somente através do pequeno espaço que abro entre meus dedos para enxerga-la. – Eu saí desesperada demais de lá. Não vi bilhete, nem café da manhã, nem nada.
Joanna solta mais uma risada ao me escutar e nega com a cabeça.
- Camila, como você pode pensar que fez algo do tipo ontem à noite com quem quer que fosse? Você literalmente acordou com a mesma roupa no corpo. – Huh. De fato, era um bom ponto, eu não havia pensado nisso. À minha falta de resposta, Joanna continua com mais seriedade. – De toda forma, você sabe que eu nunca faria isso com Lauren. Muito menos no estado em que você estava. E, principalmente, você mesma nunca teria traído Lauren, ainda que estivesse com alguém disposto a tentar algo. Acredite em mim quando digo que tudo em que você falava ininterruptamente, era nela.
Às suas palavras, tudo parece melhorar.
O dia fica mais ensolarado, meu estômago fica menos embrulhado e eu finalmente me sinto melhor.
Até que eu me lembre de mais um problema.
- Você disse que Lauren deixou o lual logo após a nossa discussão e que não quis incomodá-la durante a madrugada, certo? – repito, procurando me recordar de tudo que a ruiva acabara de dizer.
- Sim. Por quê?
- Ainda que você me tivesse trazido de volta ao hotel ontem à noite, nós não encontraríamos Lauren em nosso quarto. Ela não passou a noite aqui e até o momento eu não sei onde ela está.
A expressão de Joanna novamente se contorce em confusão e eu rapidamente retiro meu celular do bolso para checar por alguma mensagem ou ligação da garota. Como durante toda a manhã, nada ainda.
- Camila. – a ruiva me chama a atenção novamente, e todo o nervosismo de que achei que havia me livrado volta com força ainda maior. – Você também não está achando que Lauren...?
- Não. – rapidamente a respondo, negando com a cabeça. – Não, eu não desconfio de nada desse tipo. Eu só estou preocupada. Muito. Porque ela não atende às minhas ligações e eu sei que por mais chateada que ela pudesse estar comigo, ela não me evitaria por todo esse tempo, principalmente com toda a minha insistência. Isso não é normal.
- É bastante provável que Lauren esteja com os meninos agora, Camila. – Joanna tenta me tranquilizar, levando-me para perto das meninas novamente. – Você pode não descobrir onde ela passou a noite, mas pelo menos terá a certeza de que ela está bem. Vamos perguntar à Normani, ok?
É justamente neste momento em que a morena se aproxima novamente e, assim que seus olhos encontram os meus, eu posso notar primeiramente a surpresa neles, seguida da decepção e, por fim, uma pontinha de compreensão.
- Você está péssima. – afirma e não é a primeira vez que recebo a mesma reação somente naquele dia. – Está se sentindo melhor? – questiona, e sei que é porque ela sabe, assim como todos que estavam naquela praia na noite anterior, da discussão que eu tivera com Lauren e do que eu fizera logo em seguida.
- Estou. E me perdoe por ter perdido o horário mais uma vez, eu realmente-
- Fique tranquila. Sei que sua noite não foi fácil. – Normani interrompe-me com um sorriso sincero e eu finalmente solto um suspiro que não sabia que estava prendendo desde que começara a falar com a morena.
- Eu ainda não tive a oportunidade de falar com Lauren... – continuo, e sinto Joanna ao meu lado dando-me apoio. – Você sabe se ela está com os meninos ou...?
- Sim, está sim. Eles foram a um bar bem mequetrefe que Nicolas aparentemente achou perfeito pra despedida de solteiro.
- Ah.
À resposta de Normani, ao invés de sentir o alívio pelo qual esperava, sou tomada por um sentimento de decepção ainda maior.
Se Normani tão tranquilamente sabia do paradeiro de Lauren, porque parecia tão difícil que eu, sua namorada, pudesse ter informações suas também? Será que custava tanto à garota encontrar alguma forma de avisar a mim, diretamente, sobre onde ela estava, pra que eu não entrasse num surto nervoso de preocupação por não ter notícias suas?
A verdade era que Lauren realmente estava me evitando.
E ter certeza disso me incomodou ainda mais do que qualquer discussão.
//
Lauren POV
- De novo, obrigada por ter me deixado ficar na sua casa.
- Lauren, pare de me agradecer. Eu já disse. Era o mínimo que eu poderia fazer depois de deixar que Camila escapasse dos meus cuidados daquela maneira.
- A culpa não foi sua, Nicolas. – digo num suspiro cansado, levando uma das mãos aos cabelos e deslizando os dedos entre os fios embaraçados. Apesar de ter passado a noite no sofá do rapaz, eu não pregara os olhos durante a madrugada inteira, nem por um só segundo, e agora me sentia exausta. – Camila teria arrumado uma maneira de falar com Cristóvão e Micaela naquele momento a qualquer custo...
- Falando nele... – Nicolas começa e eu instintivamente desvio meu olhar na direção do baixinho, vendo-o a algumas mesas à nossa frente, sentado ao lado de Homero. – Como estão as coisas entre vocês?
- Ele tentou me convencer de que não poderia negar um pedido daqueles a Camila e que, no final das contas, não achou que aquilo fosse causar uma discussão daquelas. – conto, lembrando-me do momento em que Cristóvão me seguira para longe do lual, quando me dei conta de que simplesmente não suportaria mais continuar ali; não sem sequer conseguir mais olhar para o rosto de Camila. – Eu lhe disse que estava tudo bem, porque, honestamente, eu não aguentaria discutir com mais ninguém àquele ponto. Mas não consigo perdoa-lo totalmente.
Nicolas solta um resmungo em concordância e nós permanecemos pelos próximos cinco minutos em completo silêncio, encostados ao balcão do bar do local que, àquela hora, ainda fechado para o público, estava completamente vazio, com exceção apenas de alguns poucos funcionários, passeando pelas mesas, e outros remexendo em utensílios do lado de dentro da cozinha, quais só conseguíamos escutar.
Era um local, mesmo em meio à luz do meio dia, significativamente escuro, com boa parte de sua área – sobretudo onde as mesas encontravam as paredes nas laterais e especificamente onde nós estávamos, próximos ao balcão – tomada quase que pela penumbra. À nossa frente, onde a luz mais forte – e amarelada – de todo o bar estava, havia um palco estreito, que se estendia de uma parede a outra do local. Um senhor de calças largas, camisa de botão, um relógio dourado três vezes maior do que seu pulso à mostra no braço esquerdo e um boné surrado sobre a cabeça conversava com Gregoire e Bea de forma entusiasmada, num tom alto o suficiente para que eu e Nicolas identificássemos algumas palavras do que ele dizia e entendêssemos que, aparentemente, o palco já não era usado para ‘shows’ há algum tempo, mas que seria possível abrirem uma exceção para uma despedida de solteiro ‘tão especial quanto a de Nicolas’.
Os sorrisos dos dois ao ouvirem-no falar apenas faz com que eu me dê conta do quão desanimada eu estou no momento.
- Me desculpe por não estar ajudando muito. – digo para o moreno ao meu lado sem realmente encontrar o seu olhar.
- Ei, pare com isso. – seu ombro encontra o meu num empurrão, e eu finalmente o encaro com um sorriso envergonhado. – Eu sei o quanto você se importa. E só de estar aqui comigo já é o suficiente.
Por alguma razão, o comentário faz com que eu pense em Camila e meu peito literalmente dói à lembrança. Estava impossível tirar o que havia acontecido na noite anterior da minha cabeça e mais impossível ainda não pensar na garota. Camila havia me machucado. Fora como voltar no tempo, há cinco anos, quando ainda éramos duas idiotas, que duvidavam a toda e qualquer oportunidade do que uma sentia pela outra.
Não era como se durante estes anos nós não discutíssemos ou já não tivéssemos ficado magoadas uma com a outra por conta de alguma bobagem. Acontecia com mais frequência do que eu ou até mesmo Camila gostaríamos de admitir. Mas Camila fora infantil como já não era há muito tempo. E demonstrara uma insegurança que simplesmente não tinha razão de existir. Mais do que isso, fizera com que eu mesma reagisse de forma tão infantil quanto ela e era isso o que, junto de todo o resto, deixava-me com ainda mais mágoa da situação.
- Parece que Camila finalmente acordou. – Nicolas torna a dizer e eu o noto mexendo em seu celular. – Normani acabou de avisar que a encontrou no hotel, assim que voltaram. E que ela parecia péssima.
À notícia, a vontade que tenho é de chorar e nem sei exatamente o porquê.
Com meu celular completamente descarregado no bolso desde a noite anterior, quando mexera no aparelho pela última vez no apartamento de Nicolas, eu não me importara em saber sobre o que ela continuara a fazer no lual depois da minha saída, nem dizê-la onde estive durante toda a madrugada.
Sim, eu estava a evitando. Mas pelo olhar da mais nova em minha direção às últimas palavras que a disse na noite anterior, ela certamente não estava se importando muito com isso.
- Afinal, você gostou do lugar? – pergunto, na tentativa de mudar totalmente de assunto e ignorando o que Nicolas havia acabado de dizer por completo, o que o faz me encarar de voltar por uma fração de segundos com seu olhar descrente, antes de continuar.
- Sim. É relativamente pequeno, aconchegante. Não costuma encher, o que significa que a grande maioria presente será de conhecidos. E a bebida é barata. – dá de ombros, guardando o celular em um dos bolsos. – Normani achou uma ‘espelunca’, nas palavras dela, mas-
- Espera. Você contou pra Normani onde será? – o interrompo com incredulidade, vendo-o somente me encarar de volta, com a expressão vazia. Um riso me escapa em descrença antes de continuar. – Nicolas, você definitivamente é um trouxa pela sua noiva... – ele rapidamente rebate com um ‘bem, você tem propriedade pra falar sobre isso...’ num murmúrio enviesado, mas eu somente o ignoro para completar. – Você sabe que Homero e Cristóvão contrataram meia dúzia de mulheres pra se esfregarem em cima de você, não é?
- E daí? – ele finge indiferença, mas eu o conheço bem demais para acreditar no ‘teatrinho’. – Normani sabe que eu nunca faria nada, de qualquer forma. E será apenas por alguns minutos. Durante o resto da noite, será apenas... Nós. Normani não apareceria por aqui no mesmo dia da despedida de solteira dela. Apareceria?
- O que me faz lembrar: ela contou a você onde a festa dela será? – rebato, vendo-o abrir a boca para responder, sem de fato emitir som algum.
Enquanto tento segurar o riso para não envergonhá-lo ou colocar bobagens na sua cabeça, Camila surge absolutamente do nada em nossa frente.
Por um segundo, considero estar alucinando, já que sua figura ali, naquele momento e naquele lugar, parece surreal. Mas a expressão incerta em seu rosto, recordando-me tão vividamente da última conversa que havíamos tido, é o que me comprova que, de fato, ela está ali, em ‘carne e osso’.
Nicolas não diz nada e somente afasta-se em silêncio, acenando brevemente com a cabeça na direção de Camila, antes de nos deixar completamente a sós. À visão da garota com os longos cabelos presos num ‘rabo de cavalo’, os lábios cheios entreabertos, como se não soubesse ao certo o que começar a me dizer, e os dedos finos das mãos entrelaçadas uma a outra em frente ao corpo, faz meu coração involuntariamente saltar dentro do peito.
- Como soube que eu estava aqui? – escolho questionar por fim, e os olhos escuros, pregados nos meus, parecem despertar de um transe ao me ouvirem.
- Normani. – diz simplesmente, hesitando alguns segundos, antes de aproximar-se mais alguns passos e parar onde Nicolas estava há pouco, a apenas alguns centímetros de mim, apoiado ao balcão. – Joanna quem me trouxe. – completa num sussurro, lentamente virando o corpo em minha direção e, assim, obrigando-me a fazer o mesmo, ficando de frente para ela. – Por que não me atendeu? – é sua vez de questionar e, à curta distância, é difícil não me distrair com a proximidade de seu rosto.
- Fiquei sem bateria. – respondo no mesmo tom, sentindo-a vagarosamente relaxar a postura rígida de antes.
- E não poderia ter pedido o celular de Nicolas, ou de qualquer um dos meninos, emprestado pra me dar notícias suas? – seus olhos agora passeiam por todo meu rosto, sem ao menos piscar, e eu me sinto exposta, sem realmente saber o que lhe responder. – Eu fiquei preocupada, Lauren.
- Não me aconteceu nada. – digo de imediato. – Eu estava com Nicolas o tempo todo. – não parece o suficiente para convencê-la; e após longos segundos de um silêncio absoluto, apenas encarando-a tão de perto, com minhas mãos em punho grudadas ao corpo como se não pudesse as controlar, um longo suspiro me toma o peito e, quando o libero, digo o que sei que Camila realmente quer ouvir. – Me desculpe.
Parece finalmente surtir efeito, pois seu olhar suaviza sobre o meu e é quase imperceptível, mas a sinto ainda mais próxima, como se seu corpo, ou o meu corpo, fossem automaticamente trazidos um para ainda mais perto do outro.
- Me desculpa também? – ela pergunta em resposta, erguendo uma das mãos à altura de minha cintura e tocando a barra de meu short jeans com a ponta dos dedos. – Eu não sei o que me deu.
- Eu também não deveria ter reagido daquela maneira. – praticamente a interrompo, descendo o olhar à sua mão para encontrá-la com a minha, acariciando-a com meu polegar e, em seguida, entrelaçando os dedos entre os seus. – Você sabe que... – começo, erguendo os olhos novamente para fita-la no rosto; e eu teria completado com um ‘...eu nunca te trairia’ ou ‘...eu nunca faria isso com você’, mas no momento em que encontro o pequeno sorriso brincando em seus lábios perfeitamente desenhados, sob as bochechas rosadas e a pele tão macia e os olhos grandes e atentos sobre os meus, o raciocínio se transforma. – Eu te desejo demais, Camila. Não existe competição nenhuma pra você.
Seu sorriso se alarga e ela imediatamente revira os olhos para tentar esconder sua alegria. É contagiante e eu sinto minhas bochechas arderem, espremidas pelos cantos da minha boca agora aberta num sorriso igualmente largo.
- Você não sabe o susto que me deu, sua idiota. – diz de repente, empurrando-me sem força contra o peito com a mão livre. – Quando cheguei em nosso quarto e vi que a cama ainda estava do mesmo jeito...
- Você chegou sóbria o suficiente em nosso quarto pra reparar nisso? – questiono em surpresa, com as sobrancelhas erguidas e o sorriso ainda brincando em meus lábios.
- Na verdade eu só cheguei ao hotel hoje de manhã. – ela me responde com seriedade e por um momento me sinto confusa. – Joanna me levou pro seu apartamento ontem à noite. Eu não me lembro de absolutamente nada.
- Ah. Por isso não conseguiu encontrar as meninas a tempo hoje... – afirmo baixo em compreensão, imaginando quão mal a garota havia ficado para que Joanna tivesse de leva-la para casa. Como se eu já não estivesse me sentindo culpada o suficiente... – Camila, me desculpe por não-
- Está tudo bem. – ela dá de ombros, levando a mão livre à lateral de meu pescoço, sem largar minha mão com a outra. – Você estava chateada e eu também. Acontece.
- Mas não vai acontecer mais. – digo de forma definitiva, aproximando meu rosto do seu.
Ela assente em silêncio e me beija com delicadeza, por longos segundos, deslizando sua mão à minha nuca e permanecendo com seus lábios firmemente colados aos meus. Quando se afasta, a vejo entreabri-los na intenção de me dizer alguma coisa, mas Homero brota ao nosso lado, falando sobre algo exatamente no mesmo momento.
- A ideia foi de Cristóvão.
- Agora você quer tirar o seu corpo fora?! – o baixinho o questiona de longe quando o escuta falar, mas o loiro simplesmente o ignora.
- O quê foi ideia dele? – Camila pergunta com curiosidade e desde já eu não espero que nada de decente saia da boca de Homero; mas estou tão feliz por estar bem com a garota novamente que simplesmente não me incomodo.
- Você não vai contar à Normani, não é? – ele hesita, direcionando-se à Camila, mas eu não a deixo responder, chamando a atenção do loiro com um tapa em seu braço.
- Responda a pergunta, Homero.
- As garotas que Cristóvão contratou para dançarem. – ele começa, e eu reviro os olhos com sua maneira de falar ao tentar esconder de Camila (e falhar miseravelmente) o fato de que as ‘garotas’, no caso, são todas strippers. – Na verdade, são elas quem nos servirão a noite toda. – diz por fim, com o olhar compenetrado e significativo sobre o meu. O que não me explica absolutamente nada. Até que ele conclua. – Peladas.
Eu continuo encarando-o em silêncio por alguns segundos, sem realmente saber como reagir, quando Camila praticamente me assusta com o tom extremamente fino e indignado de sua voz ao meu lado.
- Me lembrem mais uma vez: exatamente por que eu não posso vir à despedida de solteiro de Nicolas?
- Bem, você po-
- Não. – corto qualquer que seja a grande bobagem que Homero tenha pensado em dizer, e volto minha atenção totalmente à Camila. – Onde será a festa de Normani? – questiono em seguida e a vejo franzir o cenho.
- Eu não cheguei ao local a tempo, lembra? Eu ainda não sei. E o que isso tem a ver?
- Bem, é com isso que você deve se preocupar, não com a minha despedida.
- De Nicolas. – ela me corrige, mas eu finjo não entendê-la.
- O quê?
- A despedida é de Nicolas. Não sua.
- Oh, sim. É verdade. Eu vou continuar solteira. – dou de ombros com um sorriso idiota.
- Se continuar com essas brincadeirinhas, vai mesmo... – ela sussurra contrariada e eu não me contenho; a agarro pela cintura, trazendo-a para perto e tentando lhe beijar. Camila se esquiva, mas eu não me importo e lhe dou um beijo estalado no rosto, envolvendo sua cintura com meus braços e não deixando mais que ela se afaste.
- Só não contem nada a Nicolas, ok? – Homero insiste, com a voz baixa. – Ele acha que-
- O que eu acho? – o moreno aparece às costas de Homero, pegando-o de surpresa e lhe abraçando pelos ombros. A cena é estranhamente engraçada, já que Homero é uma das poucas pessoas que são ainda mais altas do que Nicolas.
- Nada – o loiro imediatamente o responde, sem fazer esforço algum para convencê-lo, o que faz com que o moreno suspire pesadamente e nos encare com a expressão resignada.
- Eu escolhi os piores padrinhos de casamento do mundo, não foi?
- Ei, você diz isso agora! – Cristóvão aparece ao seu lado, seguido por Gregoire e Bea. – Fale comigo de novo quando estiver tomando sua primeira cerveja neste bar, daqui a dois dias.
Nicolas não parece nem um pouco impressionado, apesar de Homero parecer ainda mais branco do que já é e de Bea e Gregoire não conseguirem retirar os sorrisos imensos do rosto. Se a despedida de solteiro de Nicolas, que era organizada por meia dúzia de homens completamente desligados, teria mulheres peladas nos servindo a noite toda, eu me pergunto o que Normani, a maior organizadora que eu já havia conhecido, estaria planejando para a despedida de solteira dela.
Quando Bea e Gregoire começam a nos explicar o que acabaram de conversar com, aparentemente, o dono do local, o celular de Camila vibra em seu bolso e ela pede licença a todos para atendê-lo a alguns passos de nós. Após alguns instantes, ela retorna com um sorriso forçado no rosto, o que não me parece bom sinal.
- Você não vai gostar muito, mas temos um compromisso hoje à noite. – ela anuncia assim que se aproxima e eu imediatamente a arrasto mais uma vez para longe dos outros, para conversarmos com privacidade.
- Quem era no celular?
- Minha mãe. Eles querem que nós jantemos com eles hoje.
- E por que eu não gostaria muito disso? – pergunto sem entender sua primeira colocação, vendo-a morder o lábio inferior em hesitação antes de me responder.
- Porque eles também convidaram os seus pais.
Hm.
Inacreditável.
Minha primeira reação é negar e dizê-la que não vou. De formal alguma. Dizê-la que ela pode ir e visitar seus pais, mas que eu ficarei no quarto do hotel, a esperando. Que não quero sequer conversar sobre isso, nem que ela insista em me convencer.
Mas seu olhar sobre o meu é intenso e a sinto me cobrar, mesmo em silêncio, para tomar uma atitude diferente, pela primeira vez em anos.
- Camila-
- Lauren. – ela interrompe-me com firmeza, cruzando os braços sobre o peito. – Seu pai sente sua falta. – diz por fim e o golpe é baixo; a dor que sinto ao ouvi-la é quase física. – Será apenas um jantar, ok? Meus pais estarão lá o tempo todo. E eu também.
Fazia quase quatro anos que eu não trocava uma única palavra com nenhum dos dois.
Não depois de tudo o que havia acontecido. De como nossas vidas haviam mudado. De como minha percepção sobre tudo havia mudado.
Camila poderia ter perdoado Alejandro por tudo o que ele havia feito, mas eu simplesmente não fora capaz de fazer o mesmo. Pelo menos, não com ela. Não com Clara.
Mas Camila sempre fora melhor do que eu. E eu não a decepcionaria nunca. Nunca mais. Então, eu o faria por ela. E o faria pelo meu pai.
Mas não por Clara. Não pela minha mãe.
- Tudo bem. – respondo, vendo-a piscar algumas vezes em surpresa.
- O quê?
- Eu vou.
- Você vai?
- Sim.
- Ok, você não precisa ir só porque eu estou dizendo, eu não quis te pressionar, você sabe que eu te apoio em tudo o que você quiser fazer, amor, nós nem precisamos ir se você não-
- Camila. – a interrompo com um sorriso, percebendo seu nervosismo. – Eu não estou me sentindo pressionada. Eu vou porque é o certo a se fazer. E porque também sinto falta do meu pai. – confesso por último num sussurro, vendo-a assentir em silêncio. – Além do mais, eu sabia que uma hora ou outra durante essa viagem nós teríamos que encontra-los... O que mais seus pais disseram?
- Que Austin também estará lá.
Meus olhos provavelmente quase saltam de meu rosto de tanto que os arregalo, e é isso o que faz com que Camila comece a gargalhar na minha frente. Meu coração parece estar batendo na garganta quando finalmente me dou conta do que realmente está acontecendo.
- Você se acha hilária.
- Lauren, por favor, eu acordei com uma ressaca desgraçada por causa da sua ex que renasceu das cinzas, eu mereço uma alegria hoje. – a garota diz com uma das mãos erguida em minha direção, e eu a acho tão incrivelmente fofa nesse momento, que aproveito a oportunidade para puxá-la novamente para perto de mim pela cintura fina.
- Às vezes eu tenho vontade sabe de quê?
- De me chupar?
À pergunta repentina, eu quase engasgo com absolutamente nada e a encaro sem saber o que dizer.
Não é nem de perto o que passava em minha cabeça no momento em que a questionara, porém, de um segundo a outro, em que a fito tão de perto com uma das sobrancelhas levemente erguida, aguardando a minha resposta, minha vontade definitivamente muda.
- Nós vamos almoçar. – Bea aparece ao nosso lado antes que eu possa reagir, apontando para o restante do grupo. – Vocês vêm?
- Não.
- Sim.
Bea nos fita confusa pelas respostas divergentes e eu encaro Camila mais uma vez, com a boca entreaberta em indignação por ouvi-la aceitar o convite da garota.
- O que foi? Eu estou com fome, Lauren. – ela dá de ombros, como se não tivesse acabado deliberadamente de me provocar. – Vem. – continua, pegando em minha mão com inocência e puxando-me em direção aos meninos.
Olhando-a contrariada, tudo que posso fazer é acompanha-la, repetindo num murmúrio.
- Você se acha hilária...
//
No começo da noite, após uma longa discussão entre Camila e Alejandro por telefone – onde meu sogro insistia em nos buscar no hotel e sua filha teimava que isso não era necessário –, nós finalmente deixamos o local em um táxi a caminho da casa dos pais da garota.
Sinu e Alejandro não viviam mais no mesmo local desde que Camila e eu deixáramos a cidade. Era justo dizer que a vida financeira de Alejandro havia melhorado significativamente com o passar dos últimos anos, logo, a casa do casal agora era relativamente maior do que a antiga. Havia um pequeno jardim a frente do lugar, mas um imenso quintal aos fundos, onde os dois nos receberam com uma larga mesa posta ao centro. Àquela altura, meu pai e Clara ainda não haviam chegado, o que, ao contrário de me deixar um pouco mais aliviada por não encontra-los, somente me levou a ficar ainda mais ansiosa pelo inevitável.
- Onde está Sofia? – Camila questiona, assim que se desvencilha do abraço de seu pai e segue para cumprimentar Sinu.
- Na casa de uma amiga. – a mulher a responde, tomando a filha com os braços num abraço apertado e significativo. – Mandou um beijo para as duas. – completa num murmúrio, rapidamente lançando-me um olhar carinhoso e beijando Camila no rosto, antes de finalmente deixa-la ir.
- Ela está crescendo rápido. – comento com um sorriso orgulhoso nos lábios, percebendo Alejandro movimentar-se inquieto ao meu lado.
- Mais rápido do que eu gostaria. – ele resmunga baixinho, erguendo uma das sobrancelhas e me encarando. – Daqui a pouco começa a falar sobre garotos. – continua num tom de voz mais alto, aproximando-se de mim e colocando um de seus braços sobre meus ombros, antes de completar. – Ou garotas.
Apesar de revirar os olhos ao fazê-lo, ele tenta conter o sorriso claro que se forma em seu rosto. Eu o abraço pela cintura e deixo que ele beije o topo de minha cabeça num gesto familiar.
- Não se preocupe, mais trabalho que Camila é impossível que ela te dê.
- Começaram cedo hoje, hein? – Camila retruca com a expressão fechada em nossa direção, afastando-se de nós em direção à grande mesa. – Pelo menos me deixe comer e fazer a digestão antes de ter que aguentar vocês dois juntos.
- Querida, espere. – Sinu a chama a atenção, quando Camila faz menção de sentar-se a mesa e começar a se servir. – Vamos aguardar os outros convidados, não?
Como se estes outros adivinhassem, o som da campainha ecoa pela casa sobressaltando a todos – a mim, porque estava em alerta desde o momento em que chegara, e ao restante, por entenderem de que se tratava de um momento tenso.
Alejandro e Sinu os cumprimentam primeiro, com tranquilidade, e Camila o faz em seguida. Eu espero que ambos venham até mim, pois não sou capaz de me mover e permaneço pregada no mesmo local.
- Minha filha. – meu pai imediatamente adianta-se em minha direção, jogando os braços largos sobre mim com tamanha vontade que automaticamente fecho os olhos ao senti-lo me apertar contra seu corpo. – Como você está? Espero que tenham feito uma boa viagem até aqui. Que saudades suas. – diz tudo muito rapidamente, com seu rosto afundado em meus cabelos e a voz embagada. Eu não sou capaz de respondê-lo, pois sei que se abrir minha boca, vou liberar o choro que tento conter.
- Deu tudo certo. Joanna nos recebeu no aeroporto e agora estamos no hotel, com Normani, Nicolas e os outros padrinhos. – Camila é quem resolve dizê-lo por mim, notando meu silêncio.
Após longos segundos, meu pai afasta-se e eu quase o impeço, temendo o momento em que finalmente terei de encará-la. Isso necessariamente não acontece, já que, mal Michael retira seus braços de mim, sinto o corpo da mulher envolver o meu.
- Lauren. – ela sussurra contra a lateral de meu rosto e eu tenho de cerrar os olhos com ainda mais força para esconder ali as lágrimas que apenas crescem por detrás das pálpebras.
Em minha cabeça, passam minutos – ou até mesmo horas – até que nós nos separemos.
E minha vontade neste momento é de gritar. Ofendê-la. Machucá-la com palavras na mesma intensidade com que ela me machucara durante todo o tempo em que eu estive presa às garras dela, dentro daquela casa, sem ter minhas próprias vontades.
Mas sua expressão é serena e esperançosa sobre mim. Assim como a de meu pai.
Portanto, eu não faço nada. Absolutamente nada.
E, a partir daí, tudo corre com normalidade.
Sinu e Camila distraem Clara com assuntos triviais sobre o que comeremos, enquanto Alejandro imediatamente arrasta Michael para perto da mesa, questionando-lhe sobre o internato.
Não demora até que a sonhada sensação de alívio por fim me atinja e eu consiga realmente relaxar durante todo o jantar. Por horas, é como se nada durante todos os últimos anos tivesse acontecido e, àquela altura, em que eu simplesmente já me via farta de discutir, me estressar e entristecer por conta de Clara e suas atitudes, era tudo o que eu poderia pedir a Deus no momento. Se fosse para que tivéssemos uma noite tranquila, eu aceitaria de bom grado fingir que nada de ruim havia ocorrido entre nós, nunca.
É somente quando Sinu reaparece no quintal vindo de dentro da casa – com uma travessa em mãos com o que parece ser a sobremesa do jantar –, e faz um questionamento na maior inocência, que o clima volta a ser esquisito. Pelo menos, em partes.
- Alejandro e eu ficamos muito felizes quando soubéssemos do noivado de Christopher!
- Ah, sim! – Clara imediatamente abre o sorriso mais largo que já vira em seu rosto e se aproxima de Sinu para ajudá-la a colocar o doce sobre a mesa. – Foi uma baita surpresa pra nós dois, se quer saber.
- Pois é. Eu, particularmente, achei que fossemos ouvir uma notícia dessas vindo primeiro de Lauren. – meu pai comenta e, é tragicamente hilário, mas tanto Alejandro, quanto Camila, engasgam no mesmo momento; o que não impede que meu pai continue sem um pingo de consciência. – Afinal, as duas estão juntas há tanto tempo. Christopher conheceu esta garota recentemente.
- Mas é nítido o quanto os dois se amam! – Clara rapidamente complementa, com a expressão sonhadora. – Acho que quando há amor, não há porque esperar. – conclui e, por alguma razão, o que se segue é um longo silêncio extremamente constrangedor.
Camila é quem o quebra por fim.
- Mamãe, eu quero o maior pedaço desse doce que você puder me servir.
//
Camila POV
- Você viu como sua expressão mudou, não? – Michael questiona com um sorriso satisfeito, observando a esposa de longe, ajudando minha mãe a limpar a mesa do jantar, enquanto conversamos a sós, próximos à entrada do quintal, algumas horas depois. – Faz muito tempo que não a vejo tão feliz quanto ultimamente. Como disse antes, sei que se você e Lauren nos dessem uma notícia dessas seria o suficiente pra que Clara nunca mais se sentisse triste outra vez.
- Eu posso imaginar. – forço um sorriso ao lhe responder, tomando um grande gole do copo que tenho em mãos em seguida para esconder minha expressão de pavor.
- Não têm sido meses fáceis pra ela. Ou anos. – explica, sem nunca tirar os olhos da mulher. – Lauren tem sido bastante dura quanto a não deixar mais que façamos parte de sua vida. – neste momento, Lauren conversa com meu pai a alguns metros de nós, do outro lado do quintal. Eu não sei exatamente o que dizer a Michael após este comentário, mas, de toda forma, antes mesmo que eu possa pensar em algo, o homem de repente torna sua atenção totalmente a mim. – Mas e então, quando você pretende fazer o pedido à Lauren?
- Perdão?!
//
Lauren POV
- Você me ouviu. Você não está pensando em pedir minha filha em casamento, não é? – Alejandro pergunta como se me desafiasse, com seu tom carrancudo de sempre.
- E se eu estiver? Por acaso não posso? – retruco de volta apenas pelo prazer de contrariá-lo, vendo-o me fitar de volta com os olhos semicerrados e o queixo levemente inclinado sobre mim.
- Você não pode pedi-la em casamento porque tem que pedir a mim primeiro pra se casar com ela.
Eu o encaro com a boca entreaberta e um sorriso incrédulo passeando em meus lábios, esperando que ele diga que está brincando. Alejandro apenas dá de ombros, cruzando os braços sobre o peito com a expressão presunçosa.
- Bem, eu achei que meu sogro fosse moderno. – digo por fim com ironia, olhando ao redor. – Mas, aparentemente, ele está ficando cada vez mais velho. – concluo alto o suficiente para que ele escute e vejo-o fazer um gesto exagerado com as mãos, como se eu o tivesse ofendido gravemente.
- Eu sou moderno! Eu sou jovem. – diz com indignação e eu tenho de me esforçar para não soltar uma gargalhada ao ouvi-lo dizer a última palavra. – Só acho que se minha filha tiver de casar, então que faça tudo direito, como deve ser.
- Ah, sim. Então quer que eu peça a mão de Camila a você? – questiono com uma das sobrancelhas erguidas e vejo-o assentir.
- É o mínimo que você me deve, já que a parte do “sexo só depois do casamento”-
A risada me escapa antes que eu possa a controlar, interrompendo-o no mesmo segundo.
- É, não, não. – consigo dizer após alguns instantes, contendo as gargalhadas aos poucos. – Definitivamente é tarde pra isso. Bem tarde. Muito. Nossa, demais. – vou dizendo em pura distração, perdendo-me por um momento em um mar de memórias... Até que volto a encarar Alejandro e o vejo me fitar de volta com a expressão mais fechada e infeliz que já vira em seu rosto em toda minha vida. – Enfim. – termino num murmúrio, agradecendo por ouvi-lo pigarrear em seguida e iniciar um novo assunto.
- Onde é que vocês vão morar, afinal?
- Como assim?
- Depois de casarem. Onde é que vão morar? Naquele mesmo apartamento?
- Ué. Qual o problema do nosso apartamento?
- Eu não sei... – ele começa e o sinto hesitar antes de dizer o que realmente pensa. – Só tem um quarto.
Com seu comentário, algo instantaneamente ‘apita’ em minha cabeça e eu só faço observá-lo por longos segundos em silêncio, procurando em seu rosto alguma pista de que, mais uma vez, ele não falava sério.
- Você estava me questionando sobre pedi-la em casamento há dois minutos... – começo num sussurro, vendo-o assentir. – Agora já está falando em-
//
Camila POV
- ...Filhos?!
- Eu sei, ainda é cedo. Mas Clara ficaria radiante. E eu também.
- Sim. É bem cedo. – respondo num longo suspiro, imediatamente retirando o celular de um dos bolsos e checando a hora. Os números ali não necessariamente importam, pois pelo assunto, definitivamente já é hora de ir.
- A não ser que você não queira. – escuto-o falar de repente e seu tom preocupado me chama a atenção.
- Não! – nego rapidamente, amaldiçoando-me por dentro por ter passado a impressão errada a Michael por minhas reações. – Quer dizer, eu realmente acho que filhos ainda são um assunto prematuro. Mas eu adoraria ter uma família com Lauren quando nós duas estivermos mais maduras.
- E quanto ao casamento...? – Michael insiste e eu vejo em seus olhos que, nesse momento, não é questão do que ele ou Clara querem. O homem parece genuinamente preocupado. – Se não for a sua vontade, eu tenho certeza de que todos entenderiam. Além do mais, é com Lauren que você deve-
- Não, Michael, eu... – o interrompo, respirando fundo antes de seguir o raciocínio. – Eu adoraria pedir sua filha em casamento. Isso não tem saído da minha cabeça já há algum tempo. Na verdade, eu morro de medo de pensar que se eu fizer algo do tipo, Lauren é quem poderia não se sentir à vontade ou pronta para aceitar. – termino num meio sorriso sem graça, levando o copo à boca mais uma vez.
Ao me ouvir, o rosto de Michael instantaneamente se contorce em uma careta.
E permanece da mesma maneira por longos segundos.
Até que ele finalmente volte a reagir.
- Bobagem. – é tudo que sai de sua boca em tom definitivo, antes de aproximar-se e desembestar a falar em sussurros. – Ok, Lauren não costuma gostar de surpresas, mas acredito que esta será uma exceção. Podemos pensar em algo íntimo num primeiro momento, mas Clara com certeza vai querer organizar uma festa de noivado depois. E não leve flores. Minha filha vai achar cafona. Ou carinhoso, vindo de você. Não sei, o amor às vezes emburrece o jovem. Só, definitivamente, faça com as alianças, não deixe para providenciá-las depois. Eu posso ajudá-la na escolha...
//
Lauren POV
- Acha que eu não conseguiria escolher sozinha uma aliança para Camila?
- Sabe que eu não confio no seu gosto. – Alejandro diz, propositalmente apontando o dedo indicador na direção de meu nariz com a intenção de me irritar. – Nós providenciaremos isso, juntos. Isso e as flores.
- Ah. As flores. – repito, vendo-o assentir. – Alejandro, eu nunca dei flores à sua filha.
- Não me diga? – murmura em resposta com ironia, para continuar. – Você não pense que vai pedir minha filha em casamento sem flores. Este é o mínimo. Camila mereceria muito mais.
- Eu concordo. – digo rapidamente com sinceridade; uma ideia formando-se independente em minha cabeça. – O que acha se-
- Não.
Eu o encaro com a expressão confusa, vendo-o negar com uma das mãos.
- Você nem escutou a minha sugestão.
- Não preciso. Como posso esperar algo decente e romântico de uma pessoa que nunca presenteou minha filha com flores?
- Alejandro. – solto com indignação, apontando agora o meu indicador em sua direção. – Eu sou suficientemente romântica, se quer saber, ok?
- Suficientemente? – ele repete com as sobrancelhas erguidas, fingindo admiração, para então se lamentar num sussurro. – De todas as mulheres do mundo, minha filha não merecia-
- Ei! – o interrompo, cutucando sua barriga com a ponta do dedo. O homem dá um passo para trás com as sobrancelhas franzidas.
- Não me toque. – diz, mas o ignoro.
- Eu sou romântica. Você não sabe, mas fiz várias surpresas românticas à Camila na época da faculdade. – o sorriso que se forma em meus lábios não passa despercebido por Alejandro, que revira os olhos em impaciência.
- Eu acho que temos conceitos bastante distintos do que é ser romântico.
- Por que diz isso?
- Bem, por exemplo, até hoje eu não tive uma resposta decente sobre como foi o seu pedido oficial de namoro à minha filha. – às suas palavras, minhas bochechas simplesmente ardem em meu rosto e eu automaticamente me recordo de quando finalmente conseguira pedir Camila em namoro, com a aliança em mãos; a frase que garota usara para dizer que aceitava fazendo com que eu simplesmente não consiga mais fitar Alejandro nos olhos. – Pois é. As suas reações são sempre estas. O que me faz pensar que o motivo é porque, no mínimo, há algum tipo de perversão no meio.
- Que exagero. Nós já dissemos que havíamos acabado de voltar de uma festa no apartamento de Normani e que eu decidi simplesmente perguntar. Eu me ajoelhei e tudo.
- Urgh, não me fale em ter se ajoelhado em frente a minha filha. – Alejandro sacode a própria cabeça como se esperasse conseguir afastar fisicamente os pensamentos que adentram sua mente, e eu o encaro sem entender. – Não quando sei para o quê realmente você se ajoelhou-
- Alejandro! – o interrompo com os olhos arregalados e um sorriso incrédulo, vendo-o continuar a resmungar para si. – Além do mais, foi você quem disse que queria um pedido de casamento com direito a todas as tradições. Eu não devo me ajoelhar na frente de Camila, então?
- Lembre-se de com quem está fazendo gracinhas, ok? – responde-me contrariado, cruzando os braços sobre o peito mais uma vez. – Sou seu sogro.
- Como se você me deixasse esquecer disso... Podemos voltar ao foco da conversa? – solto num suspiro cansado, vendo-o prontamente concordar em silêncio. – Certo. Alianças. Flores. O que mais você quer?
//
Camila POV
- ...uma chuva de prata! Tenho contatos no internato pra isso, fique tranquila. – Michael conclui após um longo monólogo tão entusiasmado que não tive tempo, nem coragem, de interromper.
- Ah. – é tudo que consigo dizer em resposta, vendo-o finalmente dar de ombros e, de fato, me considerar como parte daquela conversa.
- O que realmente importa é que, no fim, será muito especial. Sei que Lauren ficará encantada de uma forma ou de outra, como já fica com tudo o que vem de você, Camila. – diz com carinho, levando uma das mãos ao meu ombro esquerdo. – Saiba que, acima de tudo, eu ficaria muito honrado de levar minha filha ao altar sabendo que a entregaria a você.
De repente, o comentário me toca de uma forma que eu não imaginaria.
Michael o faz de maneira tão sincera, com os olhos tão cheios de verdade sobre os meus, com tanto amor em seu tom envolvendo a própria filha, que meu coração acelera ao imaginar o cenário a que ele havia acabado de se referir. Observar Lauren, de cima de um altar, caminhando em minha direção com a certeza de que, a partir dali, selaríamos o compromisso oficial de vivermos nossas vidas juntas, uma à outra, para sempre, parecia como um verdadeiro sonho.
- Eu-
- Meu Deus, nem chegamos perto de discutir isso, não é? A cerimônia! – ele exclama e o sentimento de euforia que me tomara por alguns segundos é rapidamente substituído por exaustão. Graças a Deus, Lauren e meu pai surgem ao nosso lado, o interrompendo e cortando o que certamente seria mais uma maratona de sugestões matrimoniais de meu próprio sogro, o que não sei se seria capaz de enfrentar de novo só naquela noite. – Ah, pra variar, estavam discutindo. – Michael afirma sobre os dois, que se aproximam de nós com suas carrancas características.
- Hora de ir embora, certo? – pergunto diretamente a Lauren, vendo-a observar meu pai de esgoela.
- Onde está sua mãe? Faço questão de me despedir dela.
- Isso foi uma indireta? – Alejandro questiona, sem fitar ninguém em particular, mas com toda certeza referindo-se à Lauren. – Porque se for, eu não me importo.
- Meu Deus, larguem de serem duas crianças birrentas. Depois ficam trocando mensagens a noite toda e-
- Ei, ele me envia mensagens e eu simplesmente respondo por educação!
- Eu apenas envio mensagens pra saber de você, Camila, eu sou um pai preocupado!
Ambos respondem ao mesmo tempo; a fala de um sobrepondo-se a do outro, e é inevitável simplesmente revirar os olhos.
- Apenas se despeça de sua nora favorita, ok? Eu vou atrás da mamãe. – digo a ele, ouvindo um “Ela é minha única nora” emburrado, antes de deixa-los para trás e seguir para a casa.
//
- E então? – pergunto à Lauren horas depois, assim que deixo o banheiro do nosso quarto de hotel e a encontro deitada na cama digitando em seu celular, com o aparelho próximo aos olhos em meio à penumbra do cômodo.
- Seu pai quis saber se havíamos chegado bem ao hotel... – murmura de forma distraída, ainda digitando.
- Sei. – a respondo, rapidamente checando o horário em meu próprio celular, antes de me jogar no colchão ao seu lado. – E há quantas horas foi isso?
- Ué, meu amor, não sei... Agora há pouco? – responde no mesmo tom de antes, sem nunca tirar os olhos da pequena tela.
Não era incomum que Lauren e meu pai se comunicassem constantemente. A maioria das mensagens eram piadinhas infames e sem graça que, honestamente, apenas os dois entendiam, e o restante eram provocações como as que os dois já faziam pessoalmente, numa briga de ‘gato e rato’ constante que, quem sabe um dia, eu veria terminar. De toda forma, a relação dos dois fora construída desta maneira e, desde então, vinha funcionando. Até crescendo. Lauren tinha um carinho enorme por meu pai e eu sabia, ainda que ele nunca admitisse abertamente, que meu pai sentia exatamente o mesmo por ela, pois isso ele transmitia e provava em suas atitudes. A este ponto, Lauren era como uma terceira filha para ele. Mas, em favor das aparências, a ‘picuinha’ era diária. E era eu quem, usualmente, acabava no meio dos dois.
- Você não quer dar boa noite ao meu pai e dizer que já iremos dormir? – questiono após alguns segundos, vendo-a dar de ombros e digitar mais algumas mensagens ao homem. – Aliás, sobre o que vocês discutiam mais cedo? – recordo-me de perguntar, observando-a atentamente pausar por um breve segundo, antes de me responder.
- Você sabe. O de sempre. Seu pai e eu não concordamos em várias coisas... – diz de forma vaga e, apesar da falta de detalhes, é algo com o que posso ‘dormir em paz’. Lauren e meu pai nunca precisaram de motivos reais pra discutir e não seria justamente hoje que eu me preocuparia com isso.
- Entendi. Você pode desligar agora, então? – insisto mais uma vez, vendo-a assentir de forma distraída sem, no entanto, parar de digitar. Eu aguardo apenas mais dois segundos para então tirar o celular de suas mãos, encontrar no visor a conversa com meu pai aberta e, sem realmente me importar em ler o conteúdo, gravar um áudio para enviá-lo. – Oi papai, tudo bem? Por aqui não. Porque minha namorada não para de conversar com o sogro chato dela. E eu estou muito afim de dormir. Com ela. Nos dois sentidos, se possível. Primeiro um. Depois o outro. Então, boa noite. Te amo!
Ao largar o celular de volta sobre a cama, Lauren me encara com os lábios entreabertos por longos segundos antes de finalmente falar.
- Sabe, o seu pai já anda levemente paranoico com essa teoria de que tudo o que fazemos tem a ver com sexo.
- Bem que eu queria. – solto baixinho, ajeitando-me sobre as cobertas e procurando encontrar a posição mais confortável possível. Quando percebo que Lauren não reage de nenhuma maneira por alguns instantes, aperto os olhos novamente para fita-la no escuro e a vejo parada com a mesma expressão de antes; os lábios entreabertos encarando-me calada.
- O que quer dizer com isso?
- Quero dizer que bem que eu queria que tudo o que fizéssemos fosse sexo, mas aparentemente faz três dias que eu estou nesta suíte maravilhosa de hotel com a minha namorada sem ninguém pra perturbar e, ainda assim, conseguimos a proeza de nos embebedar na primeira noite e brigar na segunda.
- E na terceira? – questiona; sua silhueta agora aproximando-se vagarosamente sob o edredom.
- Na terceira, eu tive de tirar o celular de suas mãos porque você simplesmente não podia parar de falar com meu próprio pai.
- Se quer saber, eu não estava falando só com Alejandro, ok? – responde num tom gutural, de repente muito mais próxima, o que de um segundo a outro afeta-me diretamente os pelos da nuca. – Normani está extremamente estressada e queria alguém para conversar.
- Acho que é normal, não? – manejo dizer num sussurro, primeiramente pensando no casamento da morena, mas, no instante seguinte, me distraindo por completo com uma das mãos de Lauren subindo por meu corpo sob a camisola.
- Pelo casamento? Sim, seria normal, se fosse este o caso. Mas Normani anda sem paciência com Dinah, especificamente. Acredita nisso? – sussurra a última parte com os lábios colados em meu ouvido direito, sem hesitar ao levar sua mão diretamente ao meu seio. Assim que a ponta de seus dedos encontra o mamilo já rígido, todo meu corpo relaxa na cama e parece afundar um pouco mais sobre o colchão.
- Sim. – solto num arfar, afundando as mãos entre os seus cabelos soltos e a trazendo em minha direção. – Vejo as duas discutindo desde o dia em que chegamos aqui. Algo a ver com a despedida de solteira, eu acho...
Perco o fio do raciocínio quando sinto os lábios quentes tocarem a curva de meu pescoço num beijo molhado. A ponta de sua língua passeia sobre a pele de forma lenta – como se me provasse aos poucos e tivesse o dia todo pra isso – e a sensação é tão gostosa, mas tão gostosa, que enlaço meus braços sobre seus ombros, minhas pernas às suas e trago todo o seu corpo para cima de mim, desejando estar o mais próxima possível.
- Eu senti falta disso... – Lauren diz contra meu pescoço, levando as mãos às minhas coxas e erguendo-as a cada lado de seu quadril, encaixando-se ainda melhor sobre mim.
É assim que, com um largo sorriso, mesmo à escuridão do cômodo, ergo seu rosto pelo queixo e a questiono sobre o que acabara de me dar conta.
- Você estava sem calcinha esse tempo todo?
Sua intimidade contra a malha fina da camisola é nitidamente tão úmida que tenho de engolir em seco enquanto a espero responder. Quando Lauren quase que imperceptivelmente se move entre minhas pernas, meu sorriso se desmancha para que eu morda meu lábio inferior com força, contendo um gemido.
- Foi como eu disse... – ela começa, encostando minha testa à sua e cerrando os olhos. Uma de suas mãos apoia o peso de seu corpo sobre o colchão e a outra desce ao meio de nossas pernas, segurando na barra da camisola e a erguendo lentamente sobre minhas coxas. Quando chega a altura de meu ventre, seu indicador desliza sobre o tecido macio de minha própria calcinha e, a partir daí, já não sou capaz de elaborar mais um só pensamento coerente. – Eu senti falta disso.
//
Apesar de não saber da existência de nenhum compromisso iminente da agenda maluca de Normani na manhã daquele dia, o universo parece simplesmente não querer nos dar um só despertar tranquilo em nossa estadia naquela cidade, já que, às cinco e meia da manhã, me vejo cutucando Lauren sobre a cama com a ponta dos pés para que ela atenda a quem quer que esteja do lado de fora de nosso quarto batendo incessantemente à porta.
- Vá você. – a garota me resmunga diversas vezes, com metade de seu rosto amassado contra um dos travesseiros.
Na vigésima tentativa – ao perceber que tanto Lauren, quanto a pessoa do lado de fora aparentemente não desistiriam do que queriam naquele momento por nada na vida – eu mesma salto da cama com um bufo forte e um mau humor infernal. Minha camisola está jogada em algum canto do quarto e, honestamente, é pedir muito de mim, a esta hora da manhã, que eu a procure para atender uma porta. Por sorte – de quem quer que esteja lá fora, porque eu, sinceramente, não me importo –, uma toalha está jogada sobre uma das poltronas do cômodo e eu a visto rapidamente antes de seguir para a porta.
- Eu acho bom valer a pena. – resmungo no mesmo segundo em que a abro, dando de cara com Dinah Jane.
- E vai. – a garota me responde de imediato, trombando em mim à medida em que se adianta para dentro do quarto e segue em direção à cama. – Acorde sua namorada. Preciso falar com as duas.
Seu tom sério me leva de mal humorada a preocupada em uma fração de segundos. Fechando a porta atrás de mim, eu a sigo até a cama e hesito alguns instantes antes de chamar Lauren. Dinah parece em puro alerta e, para as cinco horas da manhã, relativamente bem vestida; o que me faz questionar onde ela esteve durante as últimas horas.
- O que aconteceu, Dinah?
Ela parece hesitar por horas, alternando o olhar agitado, e confuso ao mesmo tempo, entre mim e uma Lauren desmaiada ao nosso lado – até, por fim, abrir a boca.
- Normani me beijou.
Lauren parece despertar como um verdadeiro zumbi dos mortos, erguendo o tronco sobre a cama e encarando Dinah com os olhos arregalados. Eu imagino que não esteja com uma expressão muito diferente e é provavelmente por isso que Dinah continua.
- Normani me beijou e depois... – hesita mais uma vez, vendo Lauren agora esfregar as mãos sobre o rosto para despertar totalmente. – Bem, depois nós fizemos algumas outras coisas.
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