Lauren POV.
- Pelo amor de Deus, dá pra você parar quieta?! Sua agonia não tá me deixando pensar!
- Eu não consigo! – Camila quase gritou, sem cessar os passos aflitos de um lado a outro.
Eu bufei em impaciência, apoiando a testa contra a mesa em que sentava e fechando os olhos para não ter de ver a garota caminhando feito uma barata tonta à minha frente.
Passara cerca de meia hora desde que o funcionário fechara a biblioteca e nos deixara trancadas ali dentro. Desde então, eu procurava encontrar uma maneira digna e não humilhante de nos tirar dali, sem que a nossa presença pudesse ser notada por alguém indesejado.
O nervoso da mais nova, porém, não vinha ajudando muito na tentativa, já que tudo em que eu conseguia pensar tinha a atenção desviada pelo barulho das botas da garota batendo contra o chão, em conjunto com seus lamentos.
- Eu ainda não consigo acreditar que você simplesmente esqueceu de trancar a maldita porta...
- Como você esperava que eu me lembrasse disso, sabendo o que a gente estava prestes a fazer, Camila?! – ergui a cabeça indignada, fitando-a com os olhos saltados.
- Foi uma idiotice. – a mais nova soltou contrariada, jogando-se sobre uma das cadeiras a minha frente e me levando a revirar os olhos.
- Pare de me culpar.
- Há mais alguém aqui pra culpar por isso, por acaso?
- Foi você quem me pressionou a encontrar uma droga de lugar o mais rápido possível! – rebati, apontando o dedo em sua cara e vendo-a repetir meu gesto de segundos atrás.
- Por Deus, Lauren, que tipo de pessoa larga uma porta aberta com as chaves na fechadura?!
- O tipo de pessoa que está sendo descaradamente assediada por outra. – dei de ombros e cruzei os braços sobre o peito, vendo-a partir os lábios e me encarar com o olhar incrédulo.
- Como é?
- O que você ouviu, Cabello. – respondi com indiferença, vendo-a estreitar os olhos e me fitar com descrença.
- Quer dizer que eu te assediei, huh? – ela questionou após alguns segundos, inclinando o tronco sobre a mesa de forma ameaçadora.
- Sim. Foi exatamente isso o que aconteceu. – confirmei com firmeza, vendo-a apoiar ambas as mãos sobre a superfície de mármore antes de continuar.
- Que dó de você, não é mesmo? – o tom baixo de sua voz agora coberto de cinismo, enquanto ela aproximava-se lentamente. – Monitora Jauregui... A pobre vítima... Assediada por uma aluna... – as últimas palavras proferidas num sussurro me arrepiando dos pés à cabeça.
- Realmente uma pena... – assenti num murmúrio, inclinando-me em sua direção sem desviar os olhos dos seus.
Com nossos rostos agora a centímetros de distância, eu podia sentir a respiração quente e alterada de Camila contra mim; os lábios ainda partidos, tão próximos, me levando a salivar.
Encaramo-nos por sabe-se lá quantos segundos, perdidas em nosso próprio silêncio, até a garota piscar seguidas vezes e afastar-se de súbito.
- Você é ridícula... – ela sussurrou, encostando-se novamente à cadeira e cruzando os próprios braços sobre o peito.
- O que eu fiz? – questionei sem entender.
- Me provocou. – ela disse para dentro e eu ergui as sobrancelhas em surpresa.
- Eu?! Foi você quem começou, sua louca.
- Não fuja do assunto! – ela rapidamente cortou-me, revirando os olhos e apontando em minha direção. – Pode pensando numa solução pra gente sair daqui antes que amanheça e alguém nos encontre aqui dentro.
- Era o que eu estava tentando fazer! – rebati na defensiva, levando uma das mãos aos cabelos e bufando em seguida.
Por mais longos minutos, nos vimos em absoluto silêncio, procurando pensar em alguma saída pra situação infame em que nos encontrávamos, até Camila finalmente se manifestar.
- Que tal se a gente pular pela janela?
- Você tá brincando, né? – perguntei em descrença, vendo-a negar.
- Você vai primeiro e eu vou depois. Assim, você me segura lá embaixo.
- E quem você espera que me segure quando eu cair, criatura?! – perguntei incrédula, vendo-a dar de ombros.
- Quem fez a burrada foi você, Jauregui, então você vai primeiro.
- Camila... – suspirei, preferindo ignorá-la.
- Se você tem uma sugestão melhor, então abre essa boca pra falar.
- Eu... – no momento em que a palavra saiu por meus lábios, uma ideia atravessou minha mente de súbito. – Nicolas! – exclamei de repente.
- Nicolas? – Camila questionou sem entender e eu rapidamente saquei meu celular de um dos bolsos. – O que tem ele? – ela insistiu agoniada, enquanto eu digitava uma mensagem ao garoto.
- Ele tem acesso às chaves e pode nos tirar daqui. – expliquei rapidamente, deixando o celular sobre a mesa e observando-o com atenção. – Ele só precisa estar acordado pra isso...
- Oh, Deus, ainda bem. – Camila soltou num tom aliviado, levando uma das mãos aos cabelos e levantando-se. – Eu realmente achei que fosse ter que te empurrar janela à baixo.... – eu a encarei com os olhos semicerrados e ela me sorriu sem dentes.
Nós esperamos por alguns minutos por uma resposta que nunca veio, até Camila sugerir que eu ligasse para o garoto. Após cinco tentativas, dando de cara com sua caixa postal, nós voltamos ao triste início sem rumo.
- Joanna! – Camila exclamou de repente. – Podemos ligar pra ela. Você tem o número, não?
- Ahm. – eu engoli em seco com a ideia de Camila, eu e Joanna no mesmo ambiente, visto os últimos acontecimentos. – Eu não acho que... Seja uma boa... – disse incerta, vendo Camila suavizar sua expressão.
- Lauren, pare com isso... – a mais nova começou num tom ameno.
- Com o quê...? – questionei, de repente dando-me conta do que a garota queria dizer. – Oh, não, eu não estou com... – antes de continuar, a mais nova ergueu uma das sobrancelhas em descrença e eu suspirei em derrota. Se você ao menos soubesse que o meu problema com Joanna agora não tem nada a ver com você, mas sim comigo... – Tudo bem... – assenti, sem querer discutir ou acabar dando a impressão errada à garota. – Eu vou tentar...
Como se o universo fizesse uma verdadeira piada com minha vida, Joanna atendeu à primeira chamada sem grande demora.
- A que devo a honra de uma ligação sua? – a voz da ruiva soou sonolenta.
- Preciso de um favor enorme. – disse sem rodeios, ouvindo sua risadinha abafada do outro lado da linha.
- O que você quiser, meu amor.
- Preciso que você encontre as chaves de acesso à biblioteca e me tire daqui de dentro. – soltei num só fôlego.
- Tirar você daí de dentro? – Joanna questionou num tom mais alerta; o barulho de seus movimentos através da linha denunciando que agora ela havia se levantado.
- É. Eu acabei trancada aqui. – rolei os olhos com impaciência, vendo Camila suspirar a minha frente.
- Como você...?
- Joanna, por favor. – a interrompi em súplica. – Só... Vem logo?
- Jauregui, Jauregui... – a ruiva suspirou após alguns segundos de hesitação, antes de continuar. – O que você não me pede chorando que eu não faço sorrindo, não é mesmo? – eu não pude deixar de sorrir e suspirar aliviada.
- Obrigada.
Sem esperar por resposta, desliguei a chamada e joguei o aparelho novamente sobre a mesa.
- Ela está vindo? – Camila questionou baixinho e eu apenas assenti.
Provavelmente percebendo minha tensão naquele momento, a mais nova não abriu mais a boca para dizer nada. Aguardamos por aproximadamente dez minutos em silêncio, até o rangido das grandes portas sendo abertas nos chamar a atenção para a entrada do lugar.
Eu rapidamente me levantei e vi Camila imitar meu gesto, caminhando ao meu lado em direção à recém-chegada. Joanna espiou por entre a fresta aberta e, assim que pousou o olhar sobre Camila, seu rosto contorceu-se numa expressão confusa para, no instante seguinte, nos fitar de forma sugestiva.
- Eu imagino que seja melhor nem perguntar o que vocês faziam aqui dentro para acabarem presas, certo...? – o tom arrastado quebrando o silêncio da grande sala, enquanto as órbitas azuis me fitavam com intensidade.
- Obrigada, ok? – disse simplesmente, sorrindo-lhe e vendo-a me analisar com os olhos estreitos e um pequeno sorriso crescendo em seus lábios.
- É, eu não sei o que seria da gente sem você agora. – Camila riu sem graça, mas Joanna não desviou o olhar furtivo do meu, praticamente ignorando-a. Eu engoli em seco, pigarreando em seguida, e dei um passo a frente.
- Nós vamos indo agora, então. – sorri mais uma vez, segurando na mão da mais nova e vendo-a franzir o cenho na direção de Joanna. – Mais uma vez, valeu. – disse ao passar pela ruiva, vendo-a me seguir com os olhos mesmo quando atravessamos as grandes portas.
Camila encarou-a quase incrédula, vendo que a mesma não inibiu-se nem por um segundo antes de me secar dos pés à cabeça, e eu praticamente arrastei-a para longe da enfermeira, antes que Joanna fosse ainda mais descarada e Camila acabasse notando algo.
Assim que nos encontramos totalmente sozinhas, alguns corredores à frente, a mais nova agarrou em meu braço e confrontou-me com a expressão dura.
- Que merda foi essa?!
- Ahm. Quê? – perguntei, fingindo-me de desentendida.
- Joanna te comeu com os olhos, Lauren! – a garota exclamou, jogando as mãos ao ar e levando-as à cintura. – Foi como se eu nem existisse!
- Eu não sei do que você tá falando... – murmurei, voltando a andar e sendo seguida imediatamente por ela.
- Não se faça de sonsa, Lauren. Mais um pouco, ela arrancava suas roupas ali mesmo, na minha frente! Eu não sou cega, ok?!
- Se você acha que eu sei o porquê dessa atitude, então está enganada. – esclareci rapidamente, sem fitá-la.
- Você tem certeza? – ela questionou, erguendo uma das sobrancelhas.
- Absoluta.
- Mesmo? – a garota insistiu, me levando a bufar e parar de caminhar para fitá-la de frente.
- Certo. – inspirei fundo antes de continuar. – Joanna é a melhor amiga de Gina, irmã de Gregoire. – a mais nova cruzou os braços sobre o peito e me esperou continuar. – Nós nos conhecemos quando eu comecei a namorar com ele e, desde estão, Joanna se sente... Atraída por mim. – completei num sussurro, vendo os olhos de Camila semicerrarem-se.
- “Desde então”...? – ela questionou para dentro e eu assenti com calma. – Vocês já ficaram?
- Nunca. – respondi prontamente. – Eu não trairia Gregoire, e quando nós terminamos, eu perdi o contato com Joanna.
- Mas você ficaria, então?
- O quê? Não. – minha voz vacilou e Camila ergueu as sobrancelhas mais uma vez.
- Você ficaria. – ela afirmou, e foi minha vez de levar as mãos aos cabelos com impaciência.
- Esta não é a questão. O fato é que, se você queria saber o motivo de Joanna ter agido dessa forma, então aí está ele. Acabei de te dizer o porquê.
Camila me fitou com desconfiança, hesitando alguns segundos antes de finalmente assentir e voltar a caminhar. Eu agradeci por dentro, aliviada, pela mais nova não ter feito mais perguntas, mas no fundo me senti incomodada pelo que ela havia presenciado. Eu não queria que Camila considerasse possível a possibilidade de eu ficar com Joanna, pelo menos não agora que as coisas entre nós vinham, de certa forma, melhorando. Por isso, assim que chegamos aos corredores de acesso aos dormitórios, eu me virei à garota decidida a melhorar o clima estranho que se instalara entre nós naqueles últimos minutos.
- Pensando bem... – comecei baixinho, aproximando-me dela e descendo os olhos por seu corpo. – Não teria sido uma má ideia ficar a madrugada inteira trancada com você, sabia...?
- Não mesmo. – ela respondeu de imediato, lançando-me um sorriso cínico. – Inclusive, teria sido perfeito quando alguém nos encontrasse ali dentro na manhã seguinte.
Eu franzi a testa ao escutar sua mudança de tom e levei uma das mãos até a sua, entrelaçando com cuidado os meus dedos aos seus.
- Não vai ficar chateada por causa de Joanna, vai...? – questionei num sussurro, encontrando seus olhos castanhos.
- Eu não estou chateada. – ela defendeu-se. – Só acho estranho que alguém viva dando em cima de mim quando, na verdade, é completamente tarada por você. – eu não consegui conter o riso que me escapou ou ouvi-la falar e a garota emburrou-se na mesma hora.
- Desculpe. – pedi, livrando a mão da sua e colocando-a sobre sua cintura. – Mas... Joanna é assim. É seu jeito e sempre foi... – a mais nova permaneceu em silêncio, sem mudar a expressão e fixando seu olhar em um ponto qualquer do chão. Por um breve momento, a possibilidade de existir outro motivo para a sua chateação me ocorreu, deixando-me ligeiramente desconfortável. – Espera, você... Você está com ciúmes dela?
Os olhos acastanhados subiram aos meus em surpresa, até que a garota sorriu em descrença.
- O quê?
- Ahm. – separei-me dela por alguns centímetros, num reflexo, à medida que certo incômodo me tomava a boca do estômago. – Você acabou de reclamar de como Joanna vivia atrás de você pra, agora, descobrir que ela também me quer. Você queria que ela fosse interessada apenas em você?
- Lauren. – a garota soltou em meio a uma risada, o que me fez frisar os lábios e afastar-me por mais alguns centímetros. – Oh, meu Deus, eu não acredito que você está pensando em...
- Eu não estou pensando em nada. – a cortei rude. – Aliás, se a verdade for essa, então é um problema só seu, não? Nem precisa me responder.
Ela ignorou-me totalmente, dando um passo em minha direção e procurando por meus olhos. Eu evitei sua tentativa de me fitar, olhando um canto qualquer atrás da garota e escutando-a bufar.
- Quer saber? – ela disse finalmente. – Vamos esquecer de Joanna. Ela nos fez um favor e nós já a agradecemos por ele. Podemos seguir em frente, agora?
Eu suspirei pesadamente e, mesmo que a contra gosto, concordei. Tudo o que eu menos queria agora era pensar na possibilidade de Camila ter ciúmes de Joanna. Menos ainda queria ter de pensar no porque disso me incomodar como nunca antes. Por isso, apenas assenti e dei de ombros.
- Vamos dormir... – murmurei, caminhando mais a frente para seguirmos de fato para nossos dormitórios, quando as mãos de Camila grudaram em minha nuca e puxaram-me para ela.
No instante seguinte, seus lábios macios e carnudos pressionavam-se de forma deliciosa contra os meus e o toque da sua boca sobre a minha, mesmo depois de inúmeros beijos, fazia-se ainda indescritivelmente bom. Permanecemos daquela maneira por alguns segundos, até Camila afastar-se lentamente e desgrudar-se de mim.
- Hoje foi tão gostoso... – ela sussurrou com o rosto ainda próximo; seus olhos permanecendo fechados. – Mas tão gostoso... Que eu não vejo a hora de fazermos de novo... – eu tremi dos pés à cabeça com o comentário e deixei que minhas mãos deslizassem quase que autônomas até o quadril de Camila.
- Por mim, nós entramos dentro desse quarto e repetimos tudo agora mesmo... – a mais nova sorriu minimamente, abrindo os olhos e me fitando.
- Por mais tentador que seja... Você sabe que seria uma péssima ideia...
Eu dei de ombros e aproximei-me de seu rosto ainda mais, colando minha testa a sua.
- Desde que eu possa...
- Camila! – uma voz atrás de nós soou aflita e eu rapidamente me separei da garota para ver Allyson debruçada contra uma das portas do corredor à dentro. – São duas horas da manhã, meu Deus do céu! – a baixinha exclamou e eu mordi os lábios para prender o riso.
Camila fitou a amiga e, em seguida, voltou o olhar a mim. Eu assenti rapidamente, entendendo a urgência da garota em finalmente ir para seu dormitório, e despedi-me dela apenas com um aceno.
Sem dizer mais nenhuma palavra, a mais nova correu em direção à porta de seu quarto e lançou-me um último olhar significativo antes que Allyson fechasse-a num baque surdo.
Eu suspirei, encontrando-me novamente sozinha no corredor e, quando estava prestes a dar meia volta em direção a meu próprio dormitório, o velho aparelho vibrou em meu bolso. Tirando-o dali, todo meu corpo reagiu em antecipação ao ler o nome de Joanna no visor.
Por mais estranho que pareça, saber das loucuras em que você se mete com Camila apenas aflora minha imaginação ainda mais para o que poderíamos fazer juntas... Mas estou cansada de só imaginar, Lauren... E você sabe o que isso significa, não é?
Oh, sim. Eu sabia. E não era nada bom...
Camila POV.
- Isto se chama “namoro”. – Allyson afirmou pelo que parecia ser a décima vez somente nos últimos dez minutos.
- Ally! – exclamei duramente, repreendendo-a com o olhar. – Quantas vezes mais eu preciso repetir que...
- Que vocês apenas se pegam? Que apenas não conseguem viver sem enfiar as mãos dentro da calça uma da outra? Por favor, Camila. – Dinah zombou, revirando os olhos em minha direção. – Vocês sentem ciúmes uma da outra. Se a questão fosse apenas carnal, isso com certeza não aconteceria.
- Eu nunca disse que sentia ciúmes. – a corrigi rapidamente, vendo-a soltar uma risada abafada. – O que eu disse é que era meio... Incômodo vê-la com outras pessoas. Numa noite, a garota fica comigo, e na seguinte, está pegando outra? É... Estranho.
- “Estranho”. – Allyson repetiu, de forma cínica. – É claro...
- Olha aqui, dá para as duas não encherem o meu saco logo de manhã? Hoje vocês decidiram começar cedo... – falei contrariada, levando uma das mãos ao rosto e coçando os olhos de forma preguiçosa.
- É o mínimo que você merece por ter sumido durante horas, ontem à noite, e só voltado ao dormitório de madrugada. – Dinah reclamou.
- Eu já expliquei o que aconteceu, meu Deus!
- Nós sabemos, nós sabemos. – Ally me cortou, fazendo-me bufar. – Vamos deixar a coitada em paz agora, vai, DJ.
Com a graça de Deus, as duas finalmente pararam de cismar com o assunto “Lauren” e voltaram à rotina normal do dia, vestindo seus uniformes para as aulas daquela terça-feira. Eu já começava a me arrepender de contar absolutamente tudo o que ocorria entre mim e a monitora para as duas, visto que Dinah aproveitava qualquer brecha para encrencar com a garota e, Ally, por sua vez, cismava que dividíamos um compromisso.
O começo da manhã foi tranquilo e por um momento eu me peguei pensando em desculpas para escapar até a biblioteca, até me lembrar de que agora Lauren não trabalhava mais lá. Agora, caminhávamos distraídas, já a caminho do segundo período de aulas do dia, quando o inesperado aconteceu.
- Oh, merda! – fora o que escutei antes de sentir meu corpo ser praticamente atropelado por algo e ter de me segurar em Dinah a tempo de não cair.
A minha frente, parecendo completamente atordoada, estava uma Ellen abaixada, recolhendo objetos pelo chão que, com o baque, haviam caído de sua bolsa.
- Me desculpe, ok? – ela pediu num tom de voz alterado, com a cabeça ainda baixa. Dinah e Ally, ao meu lado, entreolharam-se e eu fiz menção de abaixar-me à frente dela quando a garota voltou a se erguer.
- Não tem proble... – eu comecei, mas interrompi minha própria fala quando dei de cara com os olhos inchados e vermelhos da garota; a expressão evidentemente infeliz me levando a engolir em seco. – Ellen, você...
- Desculpe, mesmo. – ela tornou a dizer de forma dura, colocando a bolsa sobre um dos ombros e sumindo de nossa frente num piscar de olhos.
Por alguns segundos, eu fiquei sem reação alguma, apenas recordando do semblante miserável da garota.
- Credo. – o comentário de Dinah despertou-me, fazendo-me olhar as duas. – Você sabe que não gosto dessa garota, não é?
- E de quem é que você gosta, Dinah? – questionei-a com um rolar de olhos, ainda sem conseguir tirar da mente a imagem triste de Ellen. – Você não a conhece, sabe?
- E você acha que a conhece só porque fez uma atividade com ela? Camila, por favor, essa garota é estranha. – Dinah insistiu, e eu pude ver Ally concordando com um aceno de cabeça ao seu lado.
- Todo mundo sabe que Ellen não se socializa com ninguém. – a baixinha completou. – Inclusive, achei um milagre que ela tenha aberto a boca pra falar com você.
- Só eu percebi quão péssima ela tava agora?! – questionei indignada, enquanto voltávamos a andar.
- Você parou pra notar a garota agora, Camila. – Dinah tornou a dizer. – Se você nunca reparou, ela vive desse jeito pelos cantos, sempre carrancuda e afastando qualquer um que chegue perto, como fez agora mesmo com você.
Ouvir Dinah falar, tendo a imagem da tristeza evidente nos olhos da garota, só me fizera sentir um incômodo ainda maior. O que será, afinal, que acontecia com ela? Que tipo de problemas ela tinha?
- Ei. – Dinah chamou-me a atenção, estalando os dedos a minha frente. – Eu conheço esse teu olhar, Cabello. E como sua melhor amiga, te aconselho a esquecer disso. A garota é naturalmente estranha e você não deve se envolver nos problemas dela, entendeu?
Eu assenti a contra gosto, vendo o olhar não só de Dinah, como também de Ally, sobre mim, e seguimos até a sala de aula em completo silêncio.
Por todo o resto da tarde fora impossível esquecer do que havia acontecido. Dinah e Ally me conheciam como ninguém e estavam certas de pensar que eu me sentia, de alguma forma, responsável por ajudar a garota. Não que eu fosse, pois eu tinha a certeza de que não era. Mas algo em meu íntimo gritava amparo sempre que era exposto a uma situação como essa; clamava por ajudar a quem evidentemente estava precisando.
Por isso, assim que finalmente pude ouvir o sinal da última aula antes do segundo intervalo tocar, levantei-me às pressas da mesa e sinalizei rapidamente às meninas que estava indo encontrar com Lauren – o que, evidentemente, era mentira.
Afinal de contas, naquele momento, eu estava focada em uma única coisa: achar Ellen e ajudá-la.
Lauren POV.
Eu aguardava pela presença de Normani no internato havia cerca de vinte minutos.
O ambiente silencioso e infernalmente solitário do escritório já me fazia sentir saudades da rotina na biblioteca. Nada ali parecia acontecer, como se aquele lugar fosse uma verdadeira estufa, blindada a qualquer tipo de distração. Em apenas um dia, o castigo cruel de meu pai já conseguira me tirar do sério, obrigando-me a pedir pela visita da morena antes que eu acabasse enlouquecendo dentro daquela sala fechada.
Muito ao contrário do que eu pensava, e para a minha grande surpresa, quem acabou entrando pela porta de madeira de repente fora, não minha grande amiga, mas sim Dinah Jane, a sombra de Camila.
- Filha da puta... – a garota exclamou de repente, passando os olhos por todo o cômodo e levando uma das mãos aos cabelos, sem sequer me fitar. Eu ergui minhas sobrancelhas, completamente indignada com o que acabara de ouvir, e levantei-me da cadeira para andar em sua direção.
- É o quê, Hansen?
- Não você. – ela rapidamente corrigiu-se, parecendo agora me notar pela primeira vez e soando extremamente nervosa. – Estou falando da sua namoradinha. Camila disse que vinha te ver, mas claramente me fez de idiota, porque não tá aqui.
- Eu... Nem falei com Camila hoje. – disse incerta, sem entender ainda exatamente o que acontecia. – Ela te disse que vinha me ver?
- Disse. – ela bufou, estapeando o ar e me fitando com os olhos estreitos. – E agora eu entendo exatamente o porquê disso. Eu aposto que ela foi atrás da problemática... – Dinah foi falando quase que para si mesma, enquanto saía andando para fora do escritório. Eu rapidamente a segui, tentando entender o que ela dizia, e deixei o lugar sem sequer me preocupar em fechá-lo.
- Do que você tá falando?! – questionei em seu encalço, seguindo-a a passos rápidos enquanto a garota resmungava coisas inaudíveis a si mesma.
- Estou falando dessa mania estúpida que Camila tem de querer salvar os oprimidos.
- Você não está sendo muito clara, Hansen. – retruquei, ainda seguindo-a com velocidade para algum lugar.
- Apenas me siga, ok? Se minha intuição está certa, então Camila sumiu com alguém nada confiável e pode estar correndo perigo. Precisamos achar essa idiota...
Ok. Agora todos os meus sentidos haviam sido totalmente aguçados.
A possibilidade de Camila estar correndo perigo me atingiu de uma maneira inimaginável. O mero pensamento da garota sendo, de alguma forma, maltratada por alguém, fizera meu sangue ferver de um segundo a outro. Num instante, eu andava ao lado de Dinah tão determinada a achar a garota quanto sua própria melhor amiga.
Os corredores àquele começo de noite já se viam relativamente vazios. Algumas turmas ainda assistiam à última aula do dia e, portanto, os poucos alunos que zanzavam pelo caminho eram aqueles que seguiam aos seus dormitórios.
Passamos por cada corredor, sala, canto dos jardins, estacionamentos e quadras de esportes. Em nenhum deles era possível enxergar a figura de Camila ou sequer da tal de Ellen, qual Dinah havia citado. A cada novo lugar vasculhado, eu podia sentir meu pulso dobrar de velocidade. O ritmo descompassado de meu coração já não acompanhava a minha respiração alterada, enquanto eu praticamente corria atrás de Camila em qualquer direção incerta.
Dinah resmungava a meu lado, completamente possessa, mas eu já não a escutava com clareza. Minha visão começara a ficar turva, conforme a ideia de Camila estar em algum canto daquele lugar, sofrendo qualquer tipo de agressão ou perigo, apenas crescia dentro da minha cabeça.
Cerca de meia hora ou mais – quem sabe uma vida, já que a impressão que me dava era esta – passara desde que eu deixara o escritório com Dinah e, até então, nem um sinal da mais nova. Numa tentativa tresloucada e já quase sem esperanças, eu sugeri que subíssemos à antiga piscina de competições apenas a desencargo de consciência.
Como se eu pressentisse o que estava por vir, subi os degraus de acesso ao local à frente de Dinah com receio, sentindo minhas pernas bambearem a cada lance. Chegando ao topo da escada e apertando meus olhos para enxergar melhor em meio a penumbra, eu finalmente a vi.
De fato, eu havia encontrado Camila.
Mas, ao contrário do que eu esperava, a cena que presenciei ao fazê-lo não fora nada agradável...
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.