Camila POV.
Durante toda a quinta-feira, eu me esforcei para estar ocupada. Mesmo entre um intervalo e outro, eu me certificava de arrumar alguma atividade para fazer, mantendo-me atarefada mesmo enquanto deveria estar descansando. Dinah e Ally, a princípio, estranharam minha atitude proativa e nada condizente comigo mesma. Porém, depois de eu as ter explicado a razão para isso, as duas prontamente me compreenderam e, inclusive, me encheram de afazeres que fizeram com que o tempo passasse mais rápido.
O real motivo para tanta ansiedade?
Após a conversa com Lauren em meio ao corredor na noite de quarta-feira, as coisas entre nós felizmente voltaram ao normal e certos pontos foram finalmente esclarecidos. Saber que o que ocorria entre mim e ela não se tratava apenas de uma simples distração para a mais velha com certeza significava muito para mim. Foi, em verdade, um grande alívio ver algo do gênero saindo da boca dela, visto que eu me sentia em relação à garota da mesma exata maneira.
Assim, na manhã de quinta, Lauren mandou-me uma mensagem convidando-me para passar o fim de semana na casa de Normani, dizendo, ainda, que a morena praticamente exigira a presença de Dinah junto. Eu a questionei sobre o castigo de seus pais, pois lembrava-me muito bem das ordens de Michael para que a mais velha passasse os fins de semana dentro do internato, e esta prontamente me explicou que Normani havia convencido o senhor Jauregui a abrir uma exceção para os próximos dias. Eu não hesitei nem dois minutos para responder-lhe, aceitando o convite e avisando sobre ele para Dinah, que, por sua vez, pareceu amar a ideia de ter que aguentar olhar para cara de Lauren durante todo um fim de semana desde que isto significasse passar a maior parte desse tempo grudada em Normani.
Por isso, todo o esforço para que aquela quinta-feira passasse voando fora necessário e, finalmente, valera a pena, já que em um piscar de olhos eu me via a ponto de deixar o internato naquele fim de tarde de sexta-feira, ao lado de Dinah, a caminho do apartamento de Normani.
- Você realmente acha que essa bagagem toda é necessária? – questionei a garota que praticamente levava o armário nas costas ao sairmos de dentro do dormitório.
- Ora, será um fim de semana inteiro. Só meus sapatos já ocupam um espaço enorme. – Dinah deu de ombros, caminhando com certa dificuldade ao meu lado enquanto arrastava duas grandes malas atrás de si.
- O que te faz pensar que vão existir tantas oportunidades assim pra você conseguir usar todos estes sapatos durante um fim de semana só?
- Por favor, estamos falando de Normani. – a garota revirou os olhos, como se fosse óbvio, e eu sorri em descrença ao ouvi-la. – Ela é das minhas. Sabe como aproveitar um bom fim de semana...
- Ei. – a voz rouca e mais do que conhecida sobressaltou-me assim que alcançamos as escadarias de acesso aos dormitórios.
- Ei! – exclamei num suspiro surpreso, atentando-me a figura da garota.
Lauren vestia calças brancas, infernalmente grudadas às coxas grossas, em conjunto de uma regata cinza e de seus inseparáveis coturnos. Os longos cabelos estavam presos num rabo de cavalo, tais como eu nunca havia os visto até então, e sua expressão sonolenta estava totalmente livre de maquiagem; o que, impressionantemente, apenas ressaltava o verde intenso e, agora, clarinho, de seus olhos. Num dos ombros, ela carregava uma pequena mochila e, em uma das mãos, a chave do carro.
- Bom dia, Jauregui. – Dinah cumprimentou zombeteira, provavelmente percebendo a carinha de sono da mais velha.
- Boa noite, Hansen. – Lauren respondeu no mesmo tom, levando a mão livre aos olhos e esfregando-os de forma preguiçosa. – Ahm. Vocês já estão prontas pra irmos?
- Sim. – eu respondi fracamente, sem conseguir desviar os olhos da morena. Deus, hoje a garota estava infernalmente linda...
- Então, vamos...
Guiando-nos até sua vaga, Lauren rapidamente ajudou Dinah a ajeitar os dois grandes amontoados de roupas dentro de seu porta-malas – sem antes perder a chance de provocá-la pela quantidade absurda de coisas que a garota levava -, e em seguida deixou que minha mochila ficasse ao lado da sua sobre o banco traseiro do veículo. Assim, ajeitamo-nos dentro do carro – eu ao lado de Lauren, e Dinah atrás de nós – e finalmente partimos dali, seguindo para longe daquele internato.
- Ei, Mani. – Lauren atendeu ao celular poucos minutos após deixarmos o colégio. – Ei, não se preocupe, já estamos indo... Não estamos atrasadas, por Deus, ainda são seis horas da tarde! – eu ri baixinho ao praticamente escutar a voz desesperada de Normani do outro lado da linha repreendendo-a. – Sossegue, ok? Nós já estamos chegando... Beijos. – ao desligar, Lauren negou com a cabeça e observou Dinah pelo retrovisor. – Vocês duas realmente se merecem...
- O que ela disse?
- Que estamos atrasadas para “sair”...
- Eu sabia. – Dinah soltou com um sorriso presunçoso nos lábios, tocando-me num dos ombros. – Normani não nos chamaria para brincar de festinha do pijama durante um fim de semana inteiro, Mila.
- Eu não disse que era isso o que ela ia fazer, ok?! – me defendi, vendo Lauren sorrir com o canto dos lábios enquanto mantinha os olhos fixos à frente. – Só não achei que você fosse conseguir usar tantos pares de sapatos em três dias!
- Bom, um deles, eu já começo usando hoje, não é? – eu bufei, mas assenti contrariada, vendo tanto Lauren quanto Dinah rirem da minha cara.
- Afinal, o que você disse para seus pais...? – a mais velha questionou após alguns segundos num tom baixinho, diretamente a mim, ainda sem me fitar nos olhos.
- Ah. Meio que a verdade. – dei de ombros. – Disse que passaria o fim de semana com Dinah na casa de uma colega do internato.
- Sim. “Meio que a verdade”. – Lauren repetiu, ainda sorrindo, e eu lhe sorri de volta.
- Eu não menti, ora.
- Pois eu sim. – Dinah pronunciou-se, apoiando-se entre os bancos. – Se eu dissesse algo do gênero, minha mãe nunca acreditaria. Pra ela, eu sou grossa demais pra conseguir fazer novas amizades, além de Ally e Camila. Então, pra todos os feitos, eu estou na sua casa, Cabello.
- Eu nem imagino o porquê de sua mãe pensar assim... – Lauren sussurrou com ironia e Dinah deu-lhe um empurrão num dos braços.
- Olhe como fala, Jauregui. Fora do internato, eu não teria medo de lhe dar uns bons tabefes.
Lauren gargalhou alto com o comentário e eu pude ver Dinah abrir um sorriso de canto pelo retrovisor. Não que as duas se gostassem, e Dinah fazia questão de deixar claro que não estávamos nem um pouco perto disso, mas saber que as duas vinham se suportando já me era o suficiente por enquanto.
Após mais alguns minutos de conversas jogadas fora, nós finalmente paramos em frente ao grande prédio de Normani e retiramos toda “bagagem” de dentro do carro. Lauren sinalizou algo para o porteiro e passamos sem problemas para o imenso hall de entrada, onde eu havia estado apenas uma vez na vida.
Em poucos minutos, já subíamos carregadas pelo elevador ao andar de Normani e logo nos víamos paradas em frente à porta já aberta de seu enorme apartamento.
- Deus! Achei que tinham morrido no meio do caminho! – a morena praticamente gritou, ao vir curvada em direção à porta, equilibrando-se num só pé enquanto calçava o outro com um de seus sapatos de salto alto.
- Eu não acredito que você já está pronta desde as seis e meia da tarde, Normani. – Lauren pontuou com uma das sobrancelhas erguidas, passando pela grande porta e sendo seguida de perto por mim e Dinah.
- Pronta?! Você acha que eu sairia de dentro dessa casa neste estado?! – Normani gesticulou para o próprio rosto, ainda desprovido de maquiagem, e eu tive de segurar uma risada.
- Existe uma etapa chamada “experimentação” antes de decidir o que você realmente vai vestir para sair, Jauregui. Pode ser uma novidade pra você, mas as pessoas costumam “experimentar” roupas, sapatos e acessórios antes de começar a se arrumar. É isso que Normani está fazendo e é isso o que você deveria começar a fazer, antes de sair de casa vestida “assim”. – Dinah soltou com ironia, gesticulando na direção de Lauren tal como uma cópia fiel de Normani, o que fez a morena a nossa frente praticamente berrar em excitação e saltar sobre minha amiga.
- Viu?! É por isso que vocês precisavam trazer essa garota! – ela exclamou, agarrando-se ao pescoço de Dinah e praticamente arrastando-a para dentro do apartamento entre gritinhos e risadinhas.
- Pior ideia de todas... – Lauren murmurou com um sorriso assim que as duas sumiram de nossas vistas e eu não pude deixar de gargalhar da sua reação. – Vem. – ela chamou, andando em direção aos corredores.
Eu a segui até um dos quartos, provavelmente o de hóspedes, decorado por uma bela cama de casal ao centro e um banheiro enorme, se comparado ao dos dormitórios do internato.
- Ahm, pode deixar suas coisas aqui. – ela disse parada à porta e eu apenas assenti antes de caminhar à cômoda mais próxima e deixar minha mochila sobre ela.
Voltando ao mesmo lugar, eu pude notar Lauren observando-me atentamente e tive de parar no meio do caminho para fazer o mesmo. A garota me fitava nos olhos, sem exatamente sorrir ou muito menos parecer séria, e eu não soube distinguir sua expressão no momento, a não ser por sentir um baita de um calafrio me percorrer a espinha ao perceber seus olhos tão fortemente vidrados em mim, de forma enigmática.
- O quê...? – questionei pouco abaixo de um sussurro, sem necessidade alguma, visto que estávamos sozinhas e a apenas alguns passos de distância.
- Eu...
- AS DUAS MORRERAM NA SALA?! – a voz de Dinah ecoou por todo o apartamento, seguida pela da morena.
- VENHAM ATÉ AQUI DE UMA VEZ!
Eu engoli em seco, sorrindo sem jeito, e Lauren apenas me abriu espaço para que eu saísse de dentro do cômodo e partisse com ela para o quarto de Normani. Seja lá o que se passava na cabeça dela durante os instantes em que ela me observara, eu não descobriria tão cedo.
- E então? – Normani questionou assim que passamos pela porta.
Seu quarto era impressionantemente maior que o de hóspedes e bem mais preenchido de móveis, que, agora, viam-se cobertos por roupas e mais roupas viradas do avesso.
- O que acham? – tornou a perguntar e eu me atentei a sua figura parada em frente a um grande espelho, alternando entre poses e ângulos, usando um vestido branco, colado e extremamente curto sobre o corpo perfeito.
- Eu gostei. – disse com sinceridade, vendo-a inclinar a cabeça para um dos lados, observando com insegurança o próprio reflexo.
- Eu não sei... Dinah prefere o preto, não? – ela voltou-se para minha amiga, sentada à sua cama, que prontamente assentiu e ergueu com as duas mãos um vestido preto, aparentemente ainda mais curto do que o que Normani vestia.
- Eu, particularmente, prefiro você de branco. – Lauren falou, encostada contra uma das paredes e observando a amiga com o cenho franzido. – Mas você sabe que vai ficar perfeita se decidir ir com o preto, Mani.
- Bom ponto. – Normani concordou, dando-se por convencida, e rapidamente virou-se para mim, apontando o dedo em minha direção. – O mais importante é tratarmos de você.
- O quê?!
- Oh, sim, Deus, por favor! – Dinah exclamou, jogando os braços para o alto e levantando-se da cama.
Normani veio em minha direção e eu arregalei os olhos sem entender.
- Como tratar de mim?! – questionei perdida, vendo-a me sorrir sem dentes e agarrar em um de meus braços para me arrastar até seu armário. – Eu trouxe minhas próprias rou...
- Não. – Dinah cortou-me, parando ao meu lado. – Ignore-a. – completou para Normani, que sorriu compreensiva antes de começar a procurar sabe-se lá pelo que dentro do grande armário.
- Vejamos... – ela sussurrou assim que escolheu um vestido azul marinho, tão curto quanto eu nunca vira antes e com um decote que poderia chegar aos meus joelhos. – Vista. – ela disse, estendendo-o para mim.
- Eu não...
- Mila. – Dinah repreendeu-me com o olhar, e eu pude escutar Lauren rir baixinho atrás de nós. Pelo reflexo do espelho ao nosso lado, pude vê-la com os lábios presos entre os dentes e a expressão divertida, enquanto permanecia encostada à parede com os braços cruzados sob os seios.
Então ela achava minha situação muito engraçada, não é?
Ótimo.
Dei um passo para trás e sem cerimônias retirei o blusão vermelho que usava, em seguida despindo-me de meus all stars e da calça jeans escura. Ficando apenas de calcinha e sutiã, eu fiz questão de virar-me totalmente de costas para a garota e observar discretamente a sua reação pelo reflexo do espelho. Não que eu precisasse ser realmente discreta, já que os olhos da garota agora pareciam ter literalmente grudado à minha bunda, enquanto seus lábios partiam-se e o risinho presunçoso finalmente deixava seu rosto.
- Aqui. – Dinah passou-me o vestido azul e eu esforcei-me para vesti-lo com a maior lentidão possível, começando a me satisfazer com o olhar perdido de Lauren sobre mim.
O vestido era, em verdade, maravilhoso. O decote enorme que praticamente terminava em meu umbigo deixava que as laterais de meus seios ficassem parcialmente expostas. Menos da metade de minhas coxas viam-se cobertas pelo pano macio e, caso eu andasse, tinha a certeza absoluta de que acabaria mostrando mais do que deveria – isso porque ainda sequer vestia saltos. Porém, num todo, o vestido era lindo.
- Você precisa ir com esse. – Dinah começou com ansiedade, mas Lauren rapidamente a interrompeu.
- Eu não achei que ficou bom, não...
Nós três viramos imediatamente na direção de sua voz e eu lutei para conter um sorrisinho de nascer em meus lábios.
- O que tem de errado no vestido, mulher?! – Normani questionou com inocência, segurando na barra do pano azul e praticamente despindo-me com o simples movimento. – Camila ficou maravilhosa nele!
- É, mas... Não acho que... – Lauren voltou a negar com um sorriso nervoso, sem sequer conseguir argumentar direito, o que só me fez ter ainda mais vontade de rir da sua cara.
Era óbvio que em hipótese alguma eu teria coragem de vestir um vestido daqueles; talvez somente no corpo impecável de Normani uma peça daquelas não ficaria totalmente vulgar. Mas ver a reação de Lauren às duas considerando que eu realmente usasse aquilo estava sendo impagável.
- Eu gostei. – disse de repente, apenas para provocá-la, sem tirar meus olhos dos de Lauren e vendo os dela estreitarem perigosamente. - Acho que vou com este, Normani.
- Camila... – pude ouvi-la retrucar ao fundo, com a voz baixa, mas os gritinhos de comemoração de Normani e Dinah sobrepuseram-na.
- O sapato precisa ser perfeito, Mila, venha. – Dinah agarrou em um de meus braços, sentando-me sobre a cama e indo com Normani em direção ao amontoado de sapatos que Normani possuía.
Eu pude ouvir Lauren bufar audivelmente e observei-a pelo canto dos olhos, notando a carranca que ela fazia sem, no entanto, conseguir tirar os olhos de cima de mim. Propositalmente, eu tratei de cruzar minhas pernas e, com o movimento, ambas ficaram ainda mais expostas do que já estavam. O misto de desejo e frustração que surgiu em seus olhos foi o suficiente para me fazer sorrir abertamente, sem conseguir mais controlar. Somente de imaginar a luta interna que acontecia neste exato momento dentro da mente da garota, já me dava uma vontade insana de gargalhar.
Afinal, quem estava rindo agora, não é mesmo?
- Este! – Normani e Dinah gritaram ao mesmo tempo, o que as fizera lançarem olhares significativos uma à outra. – Tente este aqui, Camila. – Normani estendeu-me o sapato mais alto que eu já vira na vida, preto e lindo.
Hesitando alguns segundos, eu os vesti, um de cada vez, e então me levantei, parando em frente ao grande espelho para me olhar.
- Puta merda, Mila... – Dinah sussurrou para meu reflexo com um sorriso orgulhoso no rosto, olhando-me dos pés à cabeça, assim como Normani.
Eu estaria mentindo se não concordasse com o que Dinah dizia através daquele comentário. Não poderia afirmar, também, que fazia meu estilo. Mas seria impossível negar que eu havia ficado linda. E bem gostosa.
- Você vai assim, não é? – Normani questionou com um sorriso imenso no rosto e eu não pude deixar de fitar Lauren antes de respondê-la.
Ela ainda mantinha os braços fortemente cruzados sobre o peito e os olhos pregados em mim. A expressão era de puro desconforto e, ao mesmo tempo, agonia. Era nítido o quanto a garota me queria e o quanto isso a preocupava, pois sabia que se ela me desejava daquela forma pelo que eu estava vestindo, então outros me desejariam da mesma maneira, com a mesma intensidade... O que era perfeito no momento.
- É claro que vou. – respondi confiante, sorrindo para Normani e vendo-a praticamente pular de alegria.
- Ótimo. Agora corram! Se não daqui a pouco nós nos atrasamos pra sair, e eu ainda pretendo continuar a noite depois dessa saída!
Com a última chamada da morena, nós quatro tratamos de nos arrumar para ir sabe-se lá Deus onde. Eu, é claro, acabei sendo uma das primeiras a ficar totalmente pronta, já que somente me ocupei de fazer uma maquiagem decente e arrumar meu cabelo da melhor maneira possível, deixando-o cair simplesmente solto sobre meus ombros.
Duas longas horas depois, Dinah, Normani e Lauren finalmente encontraram-me na grande sala do apartamento, já devidamente prontas. Normani trajava o mesmo vestido branco de antes, que lhe caía impecavelmente bem, enquanto Dinah optou por um conjunto de saia e blusa vermelhas, quais eu sabia que já eram dela e que, assim como Normani, deixavam-na linda.
Apesar da beleza de ambas, nada me chamou mais a atenção do que o vestido preto de Lauren, agarrado em seu corpo e marcando suas curvas. Os cabelos, agora soltos e totalmente lisos, caiam em cascata por seus ombros, os olhos especialmente verdes esta noite eram fortemente marcados pela maquiagem negra e os lábios carnudos estavam pintados pelo batom vermelho mais do que conhecido por mim. Eu tive uma dificuldade enorme em, de fato, lembrar-me de onde eu estava e conseguir simplesmente parar de encarar a garota.
Finalmente deixando o apartamento, Normani nos guiou com seu carro até o que parecia um clube, não muito afastado do prédio da morena, porém numa região a qual eu nunca havia ido antes. Sem grandes dificuldades – o que dizia muito sobre a relação que Normani possuía com os seguranças dali – nós quatro entramos no lugar que, para a minha total surpresa, não estava tão lotado quanto aparentava.
Era, em verdade, um lugar enorme, com diversos ambientes que pareciam distribuir melhor a quantidade de pessoas que entrava ali. A grande maioria delas dançava em meio à grande pista e, a outra grande maioria, via-se aglomerada em torno do bar. As luzes eram baixas, trazendo todo um clima ao lugar, e a música alta praticamente impedia qualquer tipo de conversa de ser mantida por duas pessoas a mais de dois centímetros de distância.
- Eu preciso dançar! – Normani gritou perto o suficiente e, sem que nos desse tempo de responder, arrastou Dinah com ela diretamente para o meio da pista.
Como se já esperasse por fazer isso há um bom tempo, Lauren imediatamente segurou-me por uma das mãos e me guiou até um dos cantos mais próximo, escorando-me contra uma das paredes e colando o corpo ao meu antes de falar com certa raiva.
- Por que raio de motivo você aceitou vir com esse vestido, Camila?!
- O quê?! – eu questionei incrédula, soltando um riso involuntário e encarando-a com uma das sobrancelhas erguidas.
- Você escutou da primeira vez. – ela retrucou com grosseira, revirando os olhos.
- Qual o problema do vestido, Lauren? – questionei num tom de voz inocente, aproximando meu rosto do seu. – Tanto Normani, quanto Dinah, acharam o vestido lindo. E aposto como várias outras pessoas aqui dentro também concordam com elas...
Seus olhos semicerraram-se mais uma vez e eu não pude deixar de sorrir.
- Eu já entendi... – ela sussurrou após alguns segundos, ainda me encarando com a mesma expressão. – Você tá fazendo de propósito.
- Por favor, Lauren. – rolei os olhos, segurando-me para parecer séria. – Você realmente acha que isso se trata de você?
A morena permaneceu me observando de perto, em completo silêncio, até negar com a cabeça e desviar o olhar para os próprios pés.
- Não me provoque, Camila... – pude ouvi-la murmurar, enquanto uma de suas mãos veio diretamente à minha cintura.
- Você está se sentindo provocada agora? – questionei no mesmo tom, fazendo-a erguer o rosto novamente para me fitar nos olhos. Mordendo o lábio inferior, eu me aproximei de sua orelha e sussurrei contra seu ouvido da forma mais provocando que conseguia. – Mas eu ainda nem comecei...
Desvencilhando-me dela, e sem esperar por sua reação, eu me afastei da parede e fui rapidamente em direção à pista de dança, procurando encontrar com Dinah e Normani. Graças a Deus isso não foi difícil e eu logo me via ao lado das duas, radiante por dentro por saber o estado em que tinha largado Lauren.
Provocá-la daquela maneira era certamente uma das coisas que mais me satisfazia. Pensar em quão louca eu podia deixá-la me trouxe ainda mais animação para dançar e aproveitar aquela noite com Dinah e Normani. Definitivamente, aquele não era o meu tipo preferido de saída. Mas hoje, seria, pois, por mais que eu tentasse negar, tudo girava em torno de certa morena de olhos verdes, que agora me observava ao longe.
Normani ofereceu-me um pouco de sua bebida e eu não hesitei antes de tomar um grande gole de seu copo. Seja lá o que fosse aquilo, o líquido era forte pra caramba e eu já podia notar os seus efeitos na garota. Ela e Dinah dançavam em meio à pista com toda habilidade natural que as mesmas já possuíam para isso, enquanto todos nos observavam à nossa volta. Eu pude notar até mesmo alguns olhares recaindo sobre mim e, entre eles, é claro, estava o de Lauren.
Sentada agora sobre um dos estofados dispostos aos cantos do lugar, eu podia enxergá-la parcialmente com os olhos presos em mim, segurando uma garrafa em uma das mãos.
Aproveitando da atenção, eu me deixei levar pelos movimentos de Dinah e Normani, que dançavam sem preocupação alguma ao ritmo intenso da música alta. Enquanto as acompanhava, me permiti fechar os olhos e simplesmente me entreguei à batida, movendo meus quadris de forma lenta, ritmada, tal como eu sabia que provocaria a garota.
Após duas ou três músicas, eu finalmente senti duas mãos envolverem minha cintura por trás e não precisei sequer abrir os olhos ou me virar para saber de quem se tratava.
- Por que tá fazendo isso? – ela sussurrou contra minha nuca num tom frustrado, apertando os dedos finos contra minha pele.
Eu não me dei ao trabalho de responder e simplesmente sorri, sem interromper meus movimentos e rebolando sensualmente contra seu quadril.
- Me deixa te levar daqui... – ela continuou, agora roçando os lábios contra minha orelha. – Esquece essa de provocar e passa o resto da noite comigo...
Todos os pelos do meu corpo se eriçaram com a proposta e eu tive de me controlar para não acabar cedendo na mesma hora.
Virando-me lentamente de frente para a garota, e encontrando seu par de olhos verdes, escuros, sedentos, eu posicionei meus braços ao redor de seu pescoço e deixei que meus lábios parassem a milímetros dos seus, para sussurrar.
- Qual seria a graça disso?
Lauren olhou-me sem entender e eu apenas lhe sorri, retirando meus braços de cima dela e me afastando vagarosamente conforme o ritmo da música, juntando-me outra vez à Normani e Dinah que, a esta altura, já estavam completamente fora de si.
Eu não vi quando aconteceu, mas em alguns minutos, Lauren já não estava mais ao nosso lado. Com um sorriso triunfante no rosto, eu me servi de mais um grande gole do copo de Normani e pude sentir o líquido descer rasgando por minha garganta. Ao começo de uma nova música, desta vez ainda mais animada, eu me pus a praticamente pular ao lado das duas, dançando completamente despreocupada.
Por longos minutos, talvez uma hora inteira, eu me esqueci do mundo ao redor. Bebendo de pouco em pouco do copo de Normani, eu já não me via mais no mesmo estado sóbrio de antes; aliás, nem perto disso. Minha visão levemente turva já não me ajudava mais a enxergar com exatidão sob a luz fraca do local e, por isso, quando me pus a observar o canto em que Lauren sentara anteriormente, eu tive grande dificuldade em, de fato, achá-la ali.
Caminhando naquela direção, afastando-me minimamente das meninas, eu apertei meus olhos para buscar algo ali que fosse semelhante à figura da garota. Seja por outro motivo, seja realmente pela minha visão deturpada, eu já não via mais Lauren por ali.
Checando ao redor, já estranhando o sumiço da garota por todo aquele tempo, eu finalmente a encontrei. Eu poderia ter ficado em dúvida, caso tivesse achado que a tinha visto, já que a bebida vinha minimizando meus sentidos. Mas eu com certeza sabia quem era a garota com quem ela falava no momento e, por conta disso, aquela só poderia ser Lauren.
Próximas do que eu reconheci como sendo o banheiro feminino, estavam ela e a garota loira com quem ela ficara conversando por horas na casa de Gregoire. A menina não parecia no seu estado normal e se jogava descaradamente para cima de Lauren enquanto dizia algo que com certeza a fazia rir.
Por alguns minutos, eu considerei simplesmente ir correndo até lá. Mas e depois? O que eu faria? Afastaria Lauren dali? Diria que ela não poderia conversar com a garota? Faria um escândalo desnecessário?!
Provavelmente Lauren havia ficado de saco cheio com toda a minha provocação e achado diversão em outro lugar...
Já não mais tão animada quanto antes, eu voltei para a pista de dança e busquei por Dinah ou Normani. As duas, ao que pareciam, faziam o mesmo e, por isso, comemoraram ao me achar.
- Onde você estava?! Achei que tivéssemos te perdido. Vem, vamos achar Lauren e sair daqui. – Normani disse tudo rapidamente, enquanto agarrava em meu braço e me arrastava junto de Dinah pelo clube.
Eu não me preocupei em dizer onde a garota estava, mas também não fora necessário. Logo, esbarramos com a mais velha, agora sozinha, e Normani tratou de arrastá-la para fora do lugar também.
De repente, toda a atmosfera descontraída, junto da sensação de controle que eu achei que possuía, sumiram de um segundo a outro. Um nó se formou na boca de meu estômago e eu já não mais soube como agir perto de Lauren. Tudo o que eu queria, nesse momento, era simplesmente voltar para casa e dormir, até que aquela noite confusa terminasse. Entretanto, não era bem isso o que parecia estar nos planos de Normani...
Lauren POV.
Neste momento, o apartamento de Normani parecia estar ainda mais cheio do que o clube em que nós estávamos, há algumas horas atrás. Ter Dinah grudada à morena parecia intensificar a energia de ambas, já que as duas pareciam ter pique para aproveitarem mais uma madrugada inteira de farra juntas. Eu devia ter desconfiado das intenções das duas quando a morena veio me buscar pelos braços para irmos embora, num horário ainda relativamente cedo.
Agora, eu me via em meio a um aglomerado de pessoas, que bebiam e conversavam alto, espalhadas por todo canto do apartamento que, apesar de grande, agora parecia minúsculo. Eu não sabia dizer se a capacidade das duas de organizar uma verdadeira festa como aquela, com a quantidade de pessoas que havia ali, em tão pouco tempo, era impressionante ou se era, então, assustadora.
De toda forma, eu já não me via no clima de festejar desde o momento em que entramos naquele clube. Mais precisamente, minha agonia começara desde o instante em que Camila decidiu experimentar o bendito vestido que Normani a sugeriu. Ali, sim, o meu inferno no dia de fato começara. Quando a garota cismou de me provocar durante toda a noite, então, a agonia somente aumentou. Vê-la dançar tão livremente ao lado de Dinah e Normani não ajudou em absolutamente nada e, por fim, tê-la me esnobando no meio da pista de dança, só piorou o que já era um verdadeiro desastre. Meu autocontrole, a essa altura do campeonato, já não representava nada, e o fato de Camila ter irritantemente optado por grudar em Kim desde o momento em que pisamos de volta ao apartamento, até então, só me deixava ainda mais perturbada.
Afinal, por que raio de motivo esse garoto tinha que estar em todos os lugares?!
- Jauregui. – Christóvão me surpreendeu de repente, aproximando-se de mim. Ele cumprimentou-me com seu característico sorriso presunçoso, de orelha a orelha, e estendeu-me um copo de bebida.
- Valeu. – respondi fracamente, aceitando o copo e dando-lhe um grande gole sem nem ao menos saber seu conteúdo.
- Posso dizer que ter ganhado este apartamento foi a segunda melhor coisa que Normani já fez na vida, depois de ter ficado comigo. – ele disse, encostando-se a parede atrás de nós, enquanto observava as pessoas ao nosso redor. Eu sorri em descrença, ao ouvir o que ele havia acabado de falar, e neguei com a cabeça.
- Você nunca ficou com Normani, Christóvão.
- Ainda. – ele deu de ombros, tomando um gole de sua própria bebida e piscando sugestivamente para mim. – A propósito, fiquei sabendo que tá trabalhando com Joanna. – eu lhe fitei com uma das sobrancelhas erguidas e este sorriu. – O quê? Nosso círculo de amizade é minúsculo, ora. É verdade? – eu lhe sorri de volta e assenti.
- Sim, é verdade...
- Sei... – ele respondeu com o tom de voz arrastado. – Você diz como se ela não viesse te dando muito sossego. – completou, me observando de perto, e eu suspirei em meio a um sorriso.
- Tipo isso.
- Isso não era pra ser bom...? – ele questionou com o mesmo sorriso no canto dos lábios e eu optei por simplesmente levar o copo à boca e tomar mais um grande gole da minha bebida. – Não. – ele respondeu a própria pergunta após algum tempo, voltando a olhar para frente. – Até porque, a aluna latina já te toma tempo o bastante, certo?
Eu quase cuspi todo o líquido ao escutá-lo e me virei incrédula para fitá-lo de frente.
- Como é?
- Qual é, Lauren? – ele sorriu, me olhando de volta. – O único idiota que ainda não percebeu que você praticamente come Camila com os olhos, é Kim.
Eu revirei os olhos ao escutar tal nome e Christóvão praticamente gargalhou com minha expressão.
- Não que eu seja tão especializado em mulheres quanto você... – ele começou após algum tempo, apontando na direção em que Kim e Camila conversavam, próximos à varanda. – Mas a garota parece estar bem mais na dele do que na sua hoje.
- Oh, sim. – concordei com ironia, rindo sem humor algum.
- O quê? É o que eu to vendo, Jauregui. – Christóvão insistiu. – Ou vai dizer que ela parece estar sentindo sua falta aqui?
Como vocês bem puderam perceber, Christóvão é um fofoqueiro de primeira. É meu amigo. Mas, um fofoqueiro de primeira. Inclusive, adora uma confusão e, sempre que encontra a oportunidade de armar uma, ele o faz. Era o que acontecia no momento, e eu juro que não estava disposta a dar-lhe este prazer, mas eu não poderia negar que ele estava certo em suas palavras.
Observando Camila e Kim de longe, o que aparentava era justamente que a mais nova vinha tendo uma ótima noite ao lado do garoto, regada de risadas e piadinhas sem graça. Por nenhum momento, durante todo o tempo em que passei os observando no canto da sala, Camila se preocupara em me procurar ou sequer desviar a atenção de Kim.
Num primeiro momento, eu achei que aquilo tudo fazia parte do joguinho besta que a garota vinha armando para me provocar naquela noite. Agora, olhando por outro lado, talvez a mais nova tivesse realmente me evitando e rejeitando-me desde o princípio e, se fosse este o caso, eu descobriria agora mesmo.
- Segura essa merda. – disse já irritada, praticamente largando o copo cheio de bebida nas mãos de Christóvão e seguindo decidida na direção de Kim e Camila. Atrás de mim, tudo o que pude escutar foi a risadinha sacana do rapaz, antes que eu finalmente atravessasse o mar de gente que se formava naquela sala e alcançasse os dois.
- Ei, Lauren! – Kim foi o primeiro a me cumprimentar, irritantemente animado, assim que me viu chegando perto.
- Ei. – respondi secamente, virando-me no mesmo momento para Camila. – Posso conversar com você?
A mais nova demorou alguns segundos para reagir, até que sorriu com o canto dos lábios e assentiu brevemente.
- Eu já volto. – ela disse para o garoto antes de sair ao meu lado e eu tive de me controlar para não revirar os olhos.
Eu a guiei até o quarto de hóspedes em que havia a levado mais cedo e nos tranquei ali dentro para total privacidade.
- O que você tá fazendo? – questionei sem hesitar, assim que me virei de frente para ela.
- O que eu estou fazendo...? – ela perguntou de volta, parecendo confusa. Eu bufei em impaciência e passei por ela, sentando-me sobre a cama.
- De novo grudada com Kim, Camila? – soltei num fio de voz, vendo-a franzir o cenho e rir com incredulidade.
- É sério?
- Eu pareço estar brincando? – rebati, fitando-a nos olhos. Dentro do meu peito, meu coração batia acelerado em ansiedade e eu sentia cada nervo do meu corpo controlando-se para não explodir com a garota.
- Até onde eu sei, nós estávamos apenas conversando, Lauren.
- Até não estarem mais. – soltei outra vez, sem conseguir prender as palavras dentro da boca.
- Por quê? É o que eu deveria pensar sobre você estar conversando com outra pessoa? Que você acabaria ficando com ela, mais cedo ou mais tarde?! – ela revidou, de repente muito mais nervosa, me levando a suspirar e levar as duas mãos aos rosto.
- Esqueça Kim, ele não é o problema...
- É sobre ele que você tá falando! – ela exclamou me cortando, gesticulando com os braços.
- Eu estou falando de tudo, Camila! – gritei, levantando-me da cama e dando um passo em sua direção; minha voz falhando e denunciando meu nervosismo. – Eu estou falando de você me provocando desde o início da noite, e pra quê? Pra passar o resto da madrugada com outro?! O que você quer de mim, afinal?!
Sua boca abriu algumas vezes para me responder, mas nada saiu por ela. Eu senti que a garota queria me dizer algo, mas que não era capaz, ou não queria. Eu estreitei os olhos, aproximando-me ainda mais dela e esperei por uma resposta, sem tirar meus olhos dos seus.
- Diz. – pedi com firmeza, após algum tempo.
- Eu quero voltar pra sala, Lauren...
- Camila, diz! – gritei assim que a garota ameaçou ir embora e esta virou-se para mim novamente com a expressão furiosa.
- Eu te vi conversando com aquela loira no clube, ok?! – meu coração deu um solavanco e por um momento eu realmente me vi pega de surpresa. – Nem por isso fiz um escândalo ou te interroguei dessa forma!
- “Nem por isso fez um escândalo”?! – ri em descrença, sem acreditar no que ouvia. – Realmente, foi muito mais “maduro” da sua parte simplesmente me ignorar o resto da noite e ficar de conversinha com Kim!
- Eu não sei se você quis ficar com aquela garota, Lauren! – ela praticamente berrou na minha cara; as pupilas dilatadas de nervoso a centímetros dos meus olhos.
- O que isso importa, meu Deus?! É o que você pretendia fazer com Kim hoje, por acaso?! – questionei com o tom de voz ainda mais alto, sentindo minha cabeça explodir a cada palavra dita.
- Meu Deus, você está distorcendo tudo!
- É você quem tá complicando essa merda...!
- EU NÃO SEI O QUE PENSAR, LAUREN! – ela soltou a plenos pulmões contra o meu rosto de repente, me calando no mesmo momento.
Eu permaneci com os lábios entreabertos e com os olhos saltados observando-a em pura surpresa. Dentro de mim, a sensação era a de que meu coração estava prestes a saltar pela boca e de que meu peito ardia pela dificuldade de manter minha respiração calma.
- Eu não sei o que pensar de você, ok?! – ela repetiu com os lábios trêmulos e os olhos castanhos quase marejados. – Se uma droga de uma loira surgir se jogando pra cima de você, ou se qualquer outro ser humano brotar te querendo, eu não sei qual vai ser a sua reação. – ela continuou, arriando os ombros e me fitando com pesar nos olhos. – Eu não sei se em uma noite, nós vamos estar juntas, e se na seguinte, você vai querer estar com outra pessoa. Eu não sei o que pensar quando te vejo conversando com outra garota, porque no fundo não tenho a certeza de que aquilo pode se tratar apenas de uma conversa. Eu não sei como reagir quando eu percebo que alguém se interessou por mim, porque eu não sei como você vai reagir a isso ou sequer se eu devo me preocupar com como você irá reagir... Eu não sei como você irá reagir a nenhuma dessas coisas e, por causa disso, eu também não sei como eu mesma devo reagir a elas... – ela praticamente vomitou todas as palavras de uma vez só e só então fez uma pausa, respirando fundo antes de completar num sussurro. – Quando se trata de você, eu não sei de nada, Lauren...
Eu não soube como respondê-la de imediato.
Minha boca, agora seca, ainda permanecia do mesmo jeito e a impressão que eu tinha era a de que eu mal piscava. A expressão frustrada e exausta de Camila a minha frente, despejando aquela imensidão de coisas em cima de mim, me esvaziara a mente por completo. Por longos e intermináveis minutos ou não soube o que dizer, até finalmente conseguir abrir a boca.
- Eu di... – um grande bolo formou-se em minha garganta assim que comecei a falar e eu tive de engolir em seco antes de continuar roucamente. – Eu disse que você não é apenas uma distração pra mim, Camila...
- Não é mais o suficiente, Lauren. – ela respondeu de imediato, num tom de voz extremamente grave.
No fundo, eu sabia que tipo de resposta Camila esperava de mim naquela hora, mas, por alguma razão, eu simplesmente não conseguia formular as palavras em minha garganta.
- Eu preciso de mais do que isso... – ela completou num sussurro quase inaudível e aí sim eu tive a certeza de que meu coração explodiria a qualquer momento de nervoso.
Eu fiquei simplesmente encarando-a por sabe-se lá quantos segundos, sem força alguma para dizer algo ou sequer para raciocinar. De repente, minha mente era um tremendo campo branco e até mesmo as razões de estarmos ali dentro, discutindo sobre aquilo, haviam desparecido de minha cabeça no momento.
Mordendo o lábio inferior fortemente e desviando o olhar do meu, Camila de repente virou-se de costas e caminhou para fora do quarto, simplesmente fechando a porta num grande baque e me deixando sozinha num vazio imenso.
Se fosse possível, eu poderia jurar que meu peito se apertara até doer dentro de mim, numa sensação inimaginavelmente dolorosa.
Dando passos curtos numa velocidade quase irrelevante, eu me dirigi a mesma porta e saí de dentro do quarto. O barulho ensurdecedor do lado de fora chegou a me enlouquecer por alguns segundos. De um segundo a outro, meus sentidos estavam todos aguçados e uma onda de frustração enorme pairou sobre mim.
Caminhando de volta a sala, por sorte do destino, ou não, a primeira pessoa em quem trombei foi Christóvão, qual convenientemente segurava uma garrafa em uma das mãos. Sem questionar ou dizer absolutamente nada ao rapaz, eu simplesmente roubei-lhe a bebida bruscamente e levei seu gargalo à minha boca.
Seu comentário sarcástico fora a última coisa que eu escutei antes de sentir a bebida queimar e rasgar minha garganta de forma insana, subindo à minha cabeça de maneira quase instantânea.
- Agora sim podemos começar esta festa de verdade, Jauregui.
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